domingo, 1 de março de 2015

RELES SABUJICE




Deus os fez, Deus os juntou, provavelmente tomou de ponta a Península Ibérica não se sabe bem porquê e entregou-nos nas mãos destes trastes, os quais, quando se pensa que já tudo usaram do arsenal de indignidades, conseguem, ainda e sempre, superar-se a si próprios.

Desta feita, poucas horas de terem levado um puxão de orelhas de Bruxelas porque nem o trabalho encomendado e muito bem explicadinho conseguem fazer com um mínimo de competência, os chefes dos governos de Espanha e Portugal enviaram à Comissão Europeia uma carta de queixinhas. E contra quem? Como já adivinharam, contra o primeiro-ministro grego, culpado de vir sobressaltar esta paz podre europeia que ia tão bem encaminhada para o abismo e para o fabrico de multimilionários por atacado, à custa da desgraça de dezenas de milhões de seres humanos.

Qual é a razão que os dois governos – já sem qualquer legitimidade e apenas empenhados o mais possível em prolongar a agonia dos seus povos – invocam contra Atenas? A de, com o seu exemplo, andar a meter más ideias nas cabeças dos outros europeus, fazendo-lhes ver que há mais caminhos políticos para além da austeridade.

Os governos de Portugal e de Espanha acham que o facto de o primeiro-ministro grego ter explicado o que na verdade se passou até que fosse alcançado o recente acordo entre a Grécia e a União Europeia é um mau comportamento, logo passível de queixa. Esclarecer os povos é mau; o melhor, o essencial, aliás, é mantê-los na ignorância do que se passou para que as suas versões falsas dos acontecimentos não sejam desmontadas como aquilo que são: mentiras.

Coelho e Rajoy queixam-se à Comissão Europeia, que aliás não tem qualquer competência nesta matéria, de que Tsipras os acusou de terem bloqueado o citado acordo, para que não resultasse aí um mau exemplo inspirador para os povos ibéricos. Os dois desqualificados políticos acham-nos a todos suficientemente estúpidos para acreditarmos que eles não tentaram bloquear esse acordo. Tentaram sim senhor, e disso não há quaisquer dúvidas, basta repescar os discursos que fizeram, discursos mais alemães que o do Kommandant Scheible, quando o governo da Grécia se ergueu e disse que não estava para aceitar ordens, queria negociar.

O problema de Coelho e Rajoy é esse. O mau exemplo não é o acordo, é o facto de haver o chefe de um governo que não se limita a aceitar ordens, precisamente a única coisa que eles sabem fazer e a que têm o despudor de chamar política, democracia e representação dos interesses dos seus povos.

Pensando bem, receber e aceitar ordens não é a única coisa que Coelho e Rajoy sabem fazer. Agora também providenciam queixinhas, iniciativa que, para que conste, sem surpresa, partiu de Lisboa. Na escola diziam-nos que isso era feio, e com toda a razão; na fase da vida em que ambos estão não é apenas muito feio, é reles sabujice.


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