Depois
das apostas na banca, nas telecomunicações e na comunicação social, a
empresária angolana tem agora a firme pretensão de entrar na indústria
portuguesa. O preço: 200 milhões de euros.
A
empresária Isabel dos Santos voltou a aparecer nas manchetes da imprensa
portuguesa pelo manifesto interesse em ter uma participação maioritária no
capital da Efacec Power Solutions. A filha primogénita do Presidente de Angola
ofereceu cerca de 200 milhões de euros por esta sociedade do grupo Efacec,
criada para reunir os ativos mais rentáveis da Efacec Portugal.
Ao
que tudo indica as negociações estão numa fase adiantada, envolvendo a família
Mello e os bancos credores da referida sociedade, prevendo-se que a operação
fique concluída em breve, o que, a acontecer, poderá deixar de fora os
concorrentes chineses da State Grid, acionistas maioritários da REN, empresa
portuguesa que gere a rede de distribuição de energia elétrica.
"A
Efacec é uma empresa com muito 'know-how' em áreas ligadas à energia. O
desenvolvimento do setor energético em Angola é decisivo para o futuro do país.
Portanto, do ponto de vista teórico, faz todo o sentido que Isabel dos Santos
olhe para a Efacec, para ir buscar essas competências e poder transportá-las
para Angola", diz Celso Filipe, um analista económico que segue de perto
as pisadas do capital angolano em Portugal.
Energia
é motor da indústria
A
Efacec é, por outro lado, uma empresa com vasta experiência internacional,
atuando nas áreas da energia, engenharia, ambiente, serviços e transportes, com
operações nas Américas, na Europa, Ásia e África.
O
grupo é visto como um bom parceiro para a pretensão de diversificar os
investimentos de Isabel dos Santos. O interesse da empresária africana na
Efacec difere dos seus interesses nas telecomunicações e na banca, áreas em que
aposta em criar uma malha internacional, argumenta Celso Filipe, autor do livro
"O Poder Angolano em Portugal", publicado em 2013.
"Parece-me
que o foco está diretamente relacionado com Angola", diz. "Havia um
plano de desenvolvimento do setor energético angolano, em parte já
desatualizado, mas, entre 2013 e 2017, previam-se investimentos de 15 mil
milhões de dólares. Há a convicção generalizada dos governantes angolanos de
que, no mínimo, é preciso duplicar a capacidade de produção de energia elétrica
para que Angola possa desenvolver o setor industrial e agro-industrial. Nesse
sentido, a Efacec encaixa que nem uma luva."
A
concretizar-se, a participação maioritária de Isabel dos Santos na Efacec Power
Solutions far-se-á, por hipótese, através de um aumento de capital. Segundo
Celso Filipe, 200 milhões de euros dariam, neste momento, muito jeito à
multinacional portuguesa. "A situação da Efacec é periclitante, há alguma
instabilidade laboral na empresa. Haverá, porventura, dificuldades de acesso a
financiamento, o que limita a atividade da empresa, que necessita, julgo eu,
tão rapidamente quanto possível de encontrar um sócio que lhe permita relançar
a atividade e ter acesso a crédito bancário."
O
jornalista considera que este interesse de há oito meses e que agora voltou a
ser falado, depois da falhada OPA (Oferta Pública de Aquisição) que Isabel dos
Santos recentemente lançou à PT, é revelador de que há mais espaço para a
entrada do capital angolano em Portugal.
Os
investimentos em território português encabeçados pela filha do Presidente de
Angola já ascendem a três mil milhões de euros, destacando-se as participações
influentes que ela tem na banca (BPI, BCP e BIC) e na área das telecomunicações
(ZOPT, resultante da fusão entre a ZON e a SONAE), além de ativos no setor
imobiliário e da comunicação social. Como sócia da petrolífera angolana
Sonangol, a empresária tem também uma participação na energética portuguesa
Galp através do Grupo Amorim.
João
Carlos (Lisboa) – Deutsche Welle
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