Três
activistas dos direitos humanos foram hoje detidos em Cabinda, antes da
anunciada manifestação que visava precisamente exigir a libertação de outros
dois elementos, detidos há quase um mês e que se encontram muito doentes.
Mais
uma vez verificou-se a presença de um forte dispositivo policial, com apoio
militar, nas ruas de Cabinda relacionado com o anúncio desta manifestação por
um grupo de membros da sociedade civil local.
“Muita
polícia, como era de esperar, na cidade. Como alguém dizia há pouco, o céu de
Cabinda está todo nebuloso”, revelou o também activista dos direitos humanos
Raul Tati que, como outros, também já sentiu no corpo a prisão por tentar
alertar o regime de Eduardo dos Santos para os problemas de Cabinda.
Os
promotores do protesto pretendiam exigir a libertação do activista dos direitos
humanos José Marcos Mavungo e do advogado Arão Bula Tempo, presidente do
Conselho Provincial de Cabinda da Ordem dos Advogados de Angola, ambos detidos
em Cabinda e indiciados, mas ainda sem acusação formal, por alegados crimes
contra a segurança do Estado.
Para
o dia em que foram detidos, 14 de Março, estava convocada uma outra marcha de
protesto contra a má governação de Cabinda e a violação dos direitos humanos na
província.
À
semelhança dessa tentativa, a manifestação de hoje acabou por não se realizar.
Não tinha sido autorizada pelo Governo de Cabinda o que levou a organização a
suspender a mesma para “evitar novas detenções”. Refira-se que manifestações
autorizadas só são as que se destinam a apoiar o regime, sempre patrocinadas
pelo MPLA.
“Isso
não foi suficiente porque à noite [sexta-feira] a polícia foi à casa destes
três activistas e levou-os, ainda não sabemos porquê. Um deles foi solto
entretanto, os outros dois só deverão ser ouvidos pelo procurador na
segunda-feira”, conta Raul Tati.
Também
a partir de Cabinda, Adolfina Mavungo, mulher do activista José Marcos Mavungo,
conta o que se passou: “Muita polícia na rua, com barreiras na estrada, e muito
medo. Prenderam três pessoas e a manifestação não saiu, também não havia muita
gente”, disse, reafirmando a “preocupação” com o estado de saúde do marido.
José
Marcos Mavungo está indiciado do crime de rebelião e o advogado Arão Tempo é
suspeito de colaboração com um estrangeiro (também detido) contra o Estado
angolano.
Ambos
já apresentam vários problemas de saúde, com José Marcos Mavungo, de 56 anos,
internado desde esta semana mas ainda sob detenção, na unidade de cuidados intensivos
do hospital de Cabinda, com problemas cardíacos, de acordo com informação
confirmada pela mulher.
Arão
Tempo, de 52 anos e que, além de advogado, é activista dos direitos humanos,
foi assistido na quinta-feira no hospital local, devido a problemas de
hipertensão, e regressou ao estabelecimento prisional, aguardando igualmente
julgamento.
A
situação em Cabinda, território anexado em 1975 por Angola, continua grave.
Hoje, repetindo a estratégia usada sempre que alguém se quer manifestar, as
Forças Armadas, a Policia Nacional e os Serviços de Inteligência, foram
mobilizados para mostrar que, afinal, todos são culpados até prova em contrário. Num Estado
de Direito, que Angola não é, seria exactamente o contrário.
Mais
uma vez o Governo de Angola entendeu que uma manifestação para denunciar o que
se passa em Cabinda se enquadra nos crimes contra a segurança do Estado.
Os
polícias não exibem nenhum mandato judicial e alegam que os activistas não
estão detidos. O que é certo é que estão privados de liberdade.
Privados
da liberdade não significa presos. Significa, na terminologia ditatorial do
regime, estarem em retiro de educação patriótica.
Note-se
que outros cidadãos de Cabinda estão a ser pressionados pelas autoridades: o
jornalista José Manuel, é um deles. O correspondente da Voz da América em
Cabinda foi intimado e intimidado ao telefone pelas autoridades a comparecer na
sede da investigação criminal, mas o jornalista recusou-se, alegando
”inexistência de notificação por escrito”.
A
situação é de extrema gravidade pois, cada vez mais, Cabinda vive num estado de
neocolonialismo. Os cabindas não têm direito de expressão. Para sobreviver têm
de estar caladinhos e nem pecar em pensamento.
Folha
8 (ao)
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