sexta-feira, 24 de abril de 2015

Portugal. E que tal uma lei para se impedir os deputados de fazerem leis estúpidas?




Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Martim Silva, editor-executivo - Expresso

E que tal uma lei para se impedir os deputados de fazerem leis estúpidas?

Bom dia,

Vamos ter eleições legislativas já no final do verão, mas tal como as coisas estão arriscamo-nos a não ter campanha. Ou melhor, a não ter campanha nos media. Que é mais ou menos o mesmo que dizer: a não ter campanha.

A proeza tem três nomes. PSD, CDS e PS. Ou, se preferir, Carlos Abreu Amorim, Telmo Correia e Inês Medeiros. Estes três partidos, estes três deputados, desenharam (e escreveram) um projeto-lei que visa alterar as regras de cobertura das campanhas eleitorais pelos órgãos de comunicação social. Nele se inclui a peregrina ideia da criação de uma comissão (ah, como nós adoramos criar comissões) para avaliar os planos de cobertura das campanhas - que têm de ser entregues antecipadamente - e a sua aplicação diária.

O tema foi ontem manchete do Expresso Diário. O assunto literalmente incendiou as redes sociais (quem está no Twitter percebe o que quero dizer).

Hoje volta a ser notícia. O Público faz manchete com o assunto. Osmeios privados de comunicação social, agregados na Plataforma de Media Privados, ameaçam pura e simplesmente não fazer a cobertura da campanha. Terça-feira, vão a Belém apresentar a sua posição ao Presidente da República.

Veja-se o paradoxo. Nunca houve tantos partidos (já vamos em 24 a postos para as legislativas) e tantos candidatos (nas presidenciais temos já anunciados Paulo Freitas do Amaral, Castanheira Barros, Henrique Neto, Paulo Morais, Sampaio da Nóvoa, Manuel João Vieira, Manuel Almeida, Orlando Cruz e Cândido Ferreira – refiro todos sob pena de ser penalizado pela nova comissãozinha do lápis azul). Mas pode haver menos notícias que nunca.

Eu, que não sou muito dado a apostas, arrisco uma com o leitor: este projeto de lei não vai para a frente. Quer apostar? Aliás, por esta altura (leia-se o que diz o Observador) já devem ter chovido oportunos telefonemas nos partidos para se encontrar uma forma mais ou menos airosa de meter o papelinho na gaveta e por lá ficar guardado.

Na Europa, a crise do Mediterrâneo continua a dominar as atenções. Ontem foi dia de Cimeira Europeia a 28. Decidiu-se colocar mais dinheiro e mais meios para ajudar a resolver o problema. Vamos passar dos cerca de três para nove milhões de euros mensais para o programa Tritão. Mas quanto a acolhimento dos que buscam uma vida melhor (ou simplesmente buscam viver) a Europa fortaleza parece manter-se.

Portugal está disponível para aumentar a sua contribuição e participação no esforço europeu, afirmou o primeiro-ministro Passos Coelho.

Se o resultado da Cimeira foi este, o que importa agora é sobretudo a análise do que se passou em Bruxelas. Recorro aos “clássicos”, ou seja, a Teresa de Sousa, uma das jornalistas portuguesas que mais percebe de temas europeus. Eis o que ela escreve hoje:

- “A questão fundamental é que nenhum país quer abrir mão do controlo das suas políticas de imigração”;

-“As medidas adotadas ontem podem tentar responder a uma situação de emergência, mas o espírito dominante manter-se-á: cada país quer ter a sua própria política, para que tudo fique mais ou menos na mesma”;

-“Não é evidente como é que a Europa vai pôr em prática uma missão militar para a destruição dos barcos utilizados pelas máfia na costa líbia”;

-“A medida mais radical da Comissão, criar um sistema de quotas que distribua os imigrantes e refugiados, não terá sido aprovada”;

Ainda a propósito deste tema, é provável que recorde a foto impressionante de emigrantes que deram à costa de Rhodes no início da semana. Aqui tem a história de Wegasi. Ela é da Eritreia e o seu rosto correu mundo. Para chegar à Europa teve de pagar 10 mil dólares.


OUTRAS NOTÍCIAS

Por cá,

Amanhã, sábado, é 25 de abril. E é também 25 de Abril. Assinalam-se os 40 anos das primeiras eleições livres em Portugal, para a Assembleia Constituinte (não perca o conjunto de trabalhos que temos na Revista E amanhã para si), e os 41 anos da Revolução dos Cravos. O Parlamento vai assinalar a data com uma sessão comemorativa, como todos os anos. E como todos os anos (desde há quatro), Mário Soares vai faltar. 
Ontem confirmou ao Expresso que não está para ouvir discursos de Cavaco Silva. By the way, a intervenção do Presidente será a 10ª e última na ARem sessões do 25 de Abril. Para o ano o inquilino de Belém será já outro.

Notícia de hoje será a decisão quanto às medidas de coação ao vice-presidente do Grupo Lena, ouvido ontem (e que ficou detido durante a noite) no âmbito do processo em que Sócrates e Carlos Santos Silva são arguidos. O i afirma que a detenção deste administrador reforça a tese de que o Grupo Lena terá dado dinheiro a Sócrates, ou seja, o terá corrompido. O assunto é manchete do Jornal de Notícias e do Correio da Manhã.

Notícia ainda é o facto de começarem a somar-se as vozes críticas dentro do PS ao documento apresentado esta semana. Silva Pereira, Pedro Nuno Santos ou Sérgio Sousa Pinto criticam as mudanças na TSU. Outro alerta vem de Paulo Trigo Pereira, um dos economistas que fez o estudo, e que diz que ou o PS muda ou o documento não vai servir para nada.

O DN dá destaque hoje à proibição das empresas vigiarem ou controlarem o Facebook dos seus trabalhadores. Like...

Vem aí, noticia o DN, mais uma biografia de Passos Coelho. Chama-se “Somos o que Escolhemos ser” e é da autoria de Sofia Aureliano, assessora do grupo parlamentar do PSD. E não, isto não é uma sugestão de leitura.

Lá fora, 

A China está a apertar o cerco à corrupção e divulgou uma lista de 100 fugitivos acusados de crimes económicos.

A Uber prepara-se para entrar na China e soma aos seus serviços alternativos de táxi o transporte por… helicóptero e barco, conta o FT .

Nos EUA , foi escolhida a nova ministra da Justiça, e pela primeira vez o cargo vai ser ocupado por uma mulher negra, de nome Loretta Lynch.

Se há invenção que no último quarto de século mudou a forma como olhamos para o universo… e aquilo que dele conseguimos ver, ela tem um nome: Hubble. E hoje está de parabéns, faz 25 anos.

Correm mundo as impressionantes imagens do vulcão chileno que entrou em erupção.

Em Espanha
, um novo livro faz revelações escaldantes sobre a família real: Juan Carlos pensou divorciar-se de Sofia para casar com uma empresária alemã.

Finalmente, quer saber quais os países mais felizes do mundo? Nos dez primeiros , há sete europeus com a Suíça à cabeça. Não, não estamos lá. No fundo da tabela, muitos países da África sub-sahariana.

NÚMEROS

(hoje é só desporto)

300 
milhões de dólares é quanto se espera que o aguardado combate de boxe (falta pouco mais de uma semana) entre Mayweather e Paquiao se espera que gere. Os bilhetes para assistir já começaram a ser vendidos (e chegam a custar 10 mil dólares).

1/2
Meias finais. Hoje é o dia do sorteio das meias-finais das competições europeias de futebol. Na Liga dos Campeões temos o Real Madrid, o Barcelona, o Bayern de Munique e os italianos da Juventus.

4
No futebol ainda, mas por cá, este fim de semana é de final four da liga europeia de futsal, e o Sporting está na luta.


Luta pelo primeiro lugar no campeonato nacional é o que vão protagonizar Benfica e Porto este domingo.

FRASES

“Sampaio da Nóvoa pode ajudar a acabar com o pantanal em que estamos submersos”, Vasco Lourenço, capitão de Abril, ao i, anunciando o apoio ao candidato presidencial (que vai formalizar a candidatura a meio da semana que vem). Os dois vão estar lado a lado amanha no desfile da Av da Liberdade.

“O maior erro é achar que isto é culpa do Ricardo Salgado”, afirmaMariana Mortágua, deputada do BE, em entrevista que faz capa da edição de hoje do Jornal de Negócios.

“Portas teve a flexibilidade de voltar com a palavra atrás”,Assunção Cristas, ministra da Agricultura, em entrevista ao Sol, dando todo um novo significado à expressão dar o dito pelo não dito.

“Qualquer ordem constitucional só é suscetível de ser alterada nos momentos heroicos, e nós manifestamente não estamos num momento heroico, quando até os candidatos que se confinam para o mais alto mandato do sufrágio popular nacional, em matéria de Constituição, não querem jurar a Constituição existente e fazer disso um princípio, mas como boa conduta cívica também não gostam de trazer neste momento o problema ao debate público”, Jaime Gama, ex-possível candidato presidencial, numa crítica aos candidatos a Belém, feita num debate na Faculdade de Direito de Lisboa.

O QUE ANDO A LER

Não, descanse que não lhe vou recomendar que passe os olhos pelas 95 páginas do quadro macro-económico apresentado pelos socialistas esta semana, embora esse tenha sido seguramente o documento mais importante dos últimos tempos, e que ainda vai dar muito,  muito que falar.

A minha sugestão de hoje mete guerra fria. E espiões. Mas a sério. Trata-se da biografia do mais célebre (vá lá, um dos mais célebres, seguramente) agente duplo da história: o britânico Kim Philby: “A Spy Among Friends”. Agente do MI6 (a secreta britânica) que durante 29 anos foi espião soviético. Pelo retrato da densidade psicológica da situação, destaco esta passagem (a tradução é livre e é minha) da obra de Ben Macintyre: “Philby vivia uma situação verdadeiramente bizarra: dizia a Moscovo a verdade, mas desconfiavam dele ao mesmo tempo que o faziam acreditar que acreditavam nele. Ele enganava os ingleses para ajudar os soviéticos, que suspeitavam estar a ser enganados e assim o enganavam a ele. Umas vezes Moscovo acreditava nele outras não acreditava e às vezes pensava as duas coisas ao mesmo tempo”. Se é fã de policiais e histórias de espiões, esta vale mesmo a pena ler.

Sugestão ainda para o fim de semana é o Courier Internacional, cujo novo número chega hoje às bancas. “Ameaças à Democracia” é o título do dossier central deste mês.

Fico por aqui.

E os Expressos Curtos desta semana também.

Ao longo do dia vamos atualizando a informação em expresso.pt , pelas seis da tarde servimos-lhe o Expresso Diário e amanhã tem a pièce de résistance, a edição semanal do Expresso.

Tenha um grande fim de semana. Faltam 251 dias para acabar o ano.

Viva o 25 de Abril!

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