Rui
Sá – Jornal de Notícias, opinião
Uma
das imagens emblemáticas do 25 de Abril no Porto é aquela em que se vê Virgínia
Moura com o braço direito levantado e a mão aberta, tendo por trás a placa
toponímica da Rua do Heroísmo - precisamente a rua onde se situavam a sede e os
calabouços da PIDE no Porto. Fotografia tirada a 26 de abril de 1974, quando a
sede da PIDE foi ocupada pelos militares do MFA e onde Virgínia Moura entrou,
pela primeira vez, sem ser presa ou para visitar presos políticos.
É
uma imagem forte, pelo simbolismo captado pelo fotógrafo, de uma das heroínas
da resistência ao fascismo ter, a encimá-la, o nome de rua do Heroísmo, e onde
regista a imagem de marca de Virgínia Moura: o seu sorriso!
Não
resisto a reproduzir o testemunho de Virgínia Moura sobre esses momentos
exaltantes. "No dia 26 de manhã ao aproximarmo-nos da sede da PIDE ouvi
então o capitão Carlos Azeredo gritar pelo meu nome para o acompanhar na
libertação dos presos. Saí aos ombros dos camaradas. Pedi a companhia do Óscar
Lopes para um ato que considerava histórico. O meu marido [António Lobão Vital]
teve de ficar no carro por razões de saúde. O carro até parecia andar no ar,
com tantos amigos a confraternizar com aquele homem doente. À entrada na sede
da PIDE, Carlos Azeredo mostrou o compartimento que estava armadilhado para ir
pelos ares. Uns agentes apavorados queimaram todos os papéis que podiam. Ainda
pudemos fotografar as queimadas. Chegam os presos. Nada entendem quando nos
veem. Um tem um ataque de epilepsia, abraça-me, e foi preciso pedir um médico
da assistência que estava na rua para nos separar. Foi o médico Strecht
Monteiro com grande esforço que nos separou. Carlos Azeredo pergunta como
resolver. Milhares de pessoas na rua e, na PIDE, os presos e os agentes.
Sugerimos que soltasse os presos e prendesse os agentes. Assim fez, embora uns
quilómetros adiante os pides fossem libertados".
E
evoco Virgínia Moura porque em 2015 faria 100 anos. Virgínia com quem tive o
prazer de conviver e lutar e de quem retenho, para além daquele terno sorriso,
o otimismo permanente e a corporização do verdadeiro significado da
fraternidade.
Para
lá da inabalável coragem e coerência que fez com que Teixeira de Pascoaes a
definisse como "uma força da natureza".
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