sexta-feira, 27 de setembro de 2024

REFORMAS E ESCRITA AUTOMÁTICA -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O Conselho de Segurança da ONU tem que ser reformado, diz o Presidente João Lourenço. Joe Biden também gaguejou isso no seu “último discurso” na ONU antes de ir para a cova. O primeiro-ministro português também quer a reforma, se possível por inteiro e sem impostos. Vários líderes africanos fazem a mesma exigência, Lula da Silva igualmente. E este tem o peso de liderar um país do tamanho de um continente. Andam há anos com esta conversa mas até hoje ninguém apresentou sequer um esboço das reformas necessárias no Conselho de Segurança.

Já sei. A reforma que eles querem é muito simples. Retirar a Federação Russa e a República Popular da China do Conselho de Segurança da ONU. Os dois países são substituídos por quem lhes dê a garantia de não fazer ondas. Todos com o estado terrorista mais perigoso do mundo! E aí já não precisam do direito de veto. 

A ONU está a caminho do fim. A reforma que eles querem é o fecho de portas. Depois entregam o palácio de vidro ao senhor Trump para el e fazer um bom negócio imobiliário. Lula da Silva está a posicionar-se no lugar certo. Numa entrevista recente afirmou que foi sindicalista mas nunca foi marxista. A sua ideologia é a de Henry Ford, aquele senhor do Michigan, que fazia carros em série. Está aprovado.

O Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB) fez correr muita tinta e deu grandes makas quando Robert Williams recebeu de mão beijada e à borla, a concessão e todas as facilidades. As obras arrancaram no dia 1 de março de 1903 no meio de um grande alarido em Lisboa: Venderam Angola aos ingleses! Abaixo a monarquia! 

No parlamento, deputados da oposição acusaram o governo e o rei Carlos de alta traição. Circularam panfletos e brochuras contra o negócio de Robert Williams. A contestação continuou até 1 de Fevereiro de 1929, já com o ditador Salazar no comando. Os comboios já circulavam. Os contestatários calaram-se voluntariamente ou foram presos.

No ano de 2024, mais de 100 anos depois do início da construção do CFB, começa a ser claríssimo que o “Corredor do Lobito” é um negócio muito estranho. Em condições normais dava uma maka mundial. Até a USAID, instituição ao serviço da dominação do estado terrorista mais perigoso do mundo, está metida na negociata! O embaixador Tulinabo aparece todos os dias na TPA a falar do “corridor” do Lobito. Já é tudo dos gringos. Na Ucrânia as terras aráveis são todas de “investidores” dos EUA. Em Angola vamos pelo mesmo caminho à boleia do “Corredor do Lobito”.

Bem vistas as coisas, o Presidente das República e Titular do Poder Executivo, João Manuel Gonçalves Lourenço, está a oferecer ao estado terrorista mais perigoso do mundo as províncias de Benguela, Huambo, Bié e Moxico. Meia Angola no saco da Casa dos Brancos! De borla. Sem darem um tiro. Não conseguiram com a guerra, conseguem com a paz podre num país em morte social e política.

Hoje anunciaram a oferta da seguradora ENSA. Vamos ver quem são os amigalhaços que ficam com o bocado na “privatização”. Mais difícil está roubar as acções do Standard Bank. Uma fonte do Tribunal da Comarca de Luanda garantiu-me que a negociata está muito embrulhada. A empresa AAA Activos Lda, que não é arguida em nenhum processo judicial nem foi condenada, de repente mudou de nome para AAA Activos Sociedade Unipessoal Lda sem autorização dos seus proprietários e a “nova” empresa informou que desiste de um processo que corre seus termos, para facilitar o roubo das acções do Standard Bank. 

João Lourenço lamentou na ONU que alguns países ponham em causa as decisões dos Tribunais Angolanos no “combate à corrupção”. Isso acontece porque num regime presidencialista, o Presidente da República promulgou uma Lei que era inconstitucional. Facilitava o esbulho de bens privados em processos de “recuperação de activos”. Os Acórdãos do Tribunal Constitucional não são respeitados pelo Tribunal Supremo. Quem confia num país onde estas barbaridades acontecem? Só a Casa dos Brancos e a múmia gaguejante Biden.

Esta declaração vai arranjar-me mais uma mão cheia de inimigos e a ira dos bêbados da valeta que fazem do Jornalismo uma fábrica de kapuka e kapassarinho. Em Angola não falta Liberdade de Imprensa, faltam jornalistas. E sem jornalistas não há notícias, reportagens e entrevistas. Apenas recados e malfeitorias a mando dos donos. Tenho imensa pena. Comecei há 60 anos na palavra falada, num barracão de zinco ao lado dos Correios da Cuca. Aprendi, com grandes mestres do som, a construir edifícios sonoros que dão uma dimensão plástica à notícia. Trabalhei com as e os melhores da Rádio Angolana.

A Imprensa é a minha paixão. Comecei com mestres da dimensão de Bobela Mota e Acácio Barradas. Fui companheiro de Redacção de jornalistas cotados entre os melhores do mundo: Ernesto Lara Filho, Rola da Silva, Luciano Rocha, Raimundo Souto Maior, dos antigos. E os mais novos com quem trabalhei no Jornal de Angola: José Ribeiro, Manuel Feio, Caetano Júnior, Honorato Silva, Luísa Rogério, Pereira Dinis, Guilhermino Alberto, Cândido Bessa, Bernardino Fançony, Bernardino Manje, Sérgio Chivaca e outros que não chegam à memória e à ponta dos dedos no teclado. Mas incluo todas e todos da fabulosa equipa da Reportagem!

Acácio Barradas deu-me uma lição: Só é jornalista quem escrever todos os dias nem que seja cartas à namorada. Se deixamos enferrujar o circuito que liga o cérebro à ponta dos dedos, não prestamos para nada.

Aprendi a lição e escrevo todos os dias uma crónica que envio por correio electrónico a amigas e amigos. Poucos destinatários. Escrevo diariamente textos em modo automático, um tanto surrealistas. Acabam todos com mulheres bonitas matando milionários na cama. O Musk vai à vida frequentemente. Elas cortam-lhe o sexo e deixam-no esvaindo-se em sangue. Todas as semanas apago esses delírios para o meu computador não ficar lento. No recato da noite escrevo cartas de amor a todas as mulheres que me ensinaram a gostar de viver. Todos os dias! De vez em quando aventuro-me a escrever poemas. Raramente. 

Jamais direi, seja onde for, que não escrevo há dez anos. No dia em que deixar de escrever estou morto ou igual a Joe Biden. Tenham paciência, vão ter de me aturar apesar das patifarias que me fazem. Em Angola há Liberdade de Imprensa. Mas infelizmente há poucos jornalistas. E ainda menos que saibam o que é isso de ética e deontologia.

* Jornalista

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