A
porta-voz do BE acusou hoje o governo alemão de querer uma "segunda
volta" das eleições gregas ao sugerir um referendo, e sublinhou que as
instituições europeias estão a falhar o pagamento de 7 mil milhões de euros.
"O
que a Alemanha quer dizer é que não gostou do resultado das eleições e quer uma
segunda volta para impor a austeridade que já foi recusada nas urnas na
Grécia", afirmou Catarina Martins aos jornalistas.
A
porta-voz bloquista falava na Assembleia da República, após receber a
presidente do parlamento da Grécia, Zoe Konstantopoulou, e referiu-se às
declarações do ministro das Finanças alemão, que admitiu, na segunda-feira, a
necessidade de o Governo grego convocar um referendo sobre as medidas a adotar
para promover as reformas exigidas pelos credores e garantir uma última e vital
parcela do empréstimo internacional.
"Na
Grécia, como em Portugal, a austeridade não é um efeito secundário abstrato na
vida das pessoas. Não cura nada porque as dívidas públicas só aumentaram, não
cura nada porque as economias ficaram mais fragilizadas, com menos emprego e
capacidade de produção, e os efeitos secundários não são abstratos", disse
Catarina Martins.
A
porta-voz bloquista referia-se às declarações do primeiro-ministro português,
que comparou a sua governação a um processo de cura de uma doença em que esteve
determinado em aplicar a terapêutica apesar dos efeitos secundários.
"O
efeito secundário de que falava Passos Coelho são vidas concretas das pessoas,
são pessoas que perderam o emprego e que não voltaram a encontrar, são famílias
separadas pela emigração, são pessoas que precisam de cuidados de saúde e não
os têm", disse.
Ainda
sobre a Grécia, Catarina Martins declarou que se há "quem tem sido
intransigente" e "radical" neste processo e "falhado ao
compromisso, não tem sido o governo grego, tem sido sim a Comissão Europeia e o
BCE".
"A
União Europeia tem-se recusado a transferir para a Grécia as verbas que estavam
acordadas. Estão neste momento em falta mais de 7 mil milhões de euros em
pagamentos devidos à Grécia e que não estão a ser feitos por pura chantagem do
radicalismo ideológico da austeridade", sustentou.
Em
contraste, apontou, o governo e o parlamento têm aprovado legislação que faz
parte do compromisso eleitoral estabelecido, "que tem a ver com questões
tão básicas como não cortar mais nas pensões ou reintegrar os funcionários
públicos que foram ilegalmente despedidos".
"Simultaneamente,
tem estado a cumprir todos os seus compromissos com os credores e a pagar todas
as tranches que estavam acertadas", frisou.
A
presidente do parlamento da Grécia considerou em entrevista à Lusa que existem
instituições e responsáveis europeus que não respeitam o mandato concedido ao
novo Governo da Grécia após as eleições de janeiro.
"Fico
muito surpreendida quando responsáveis oficiais de outros países comentam as
decisões democráticas em outros países. A convocação ou não de um referendo
cabe às autoridades da Grécia", assinalou, ao pronunciar-se sobre as
declarações do ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schauble.
"Diria
que quando se deteta esta espécie de intervencionismo nas decisões internas de
outro Estado, isso não contribuiu para o avanço das negociações e para a
confiança mútua entre governos", referiu Zoe Konstantopoulou.
A
presidente do parlamento grego participou em Lisboa na II Cimeira de
presidentes da Assembleia Parlamentar da União para o Mediterrâneo (UpM)
dedicada à Imigração, Asilo e Direitos Humanos na Região Euro-Mediterrânica.
Lusa,
em Notícias ao Minuto
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