Procuradoria-geral
norte-americana diz que FIFA “aceitou subornos para Mundial de 2010” e pede
extradição de 15 suspeitos, incluindo sete membros do organismo.
São
duas as investigações em curso que conduziram à megaoperação contra a federação
internacional de futebol, iniciada ontem com as detenções de sete membros de
federações de futebol e da FIFA em Zurique.
Uma delas está a cargo das autoridades suíças e diz respeito aos sorteios dos Mundiais de 2018 e 2022, respectivamente atribuídos à Rússia e ao Qatar. A segunda é liderada pelo Departamento de Estado norte-americano por suspeitas de extorsão, lavagem de dinheiro, subornos e fraude na atribuição de contratos de marketing e de direitos de transmissão, que pendem sobre pelo menos 14 responsáveis, cerca de metade deles altos cargos da FIFA – e que os Estados Unidos querem que sejam extraditados para solo americano.
A
grande surpresa com as detenções não foi tanto o facto de haver corrupção no
futebol mundial sob a liderança de Sepp Blatter, o presidente do organismo,
ontem classificado num artigo do “Guardian”como “o ditador não homicida de
maior sucesso no último século”, numa alusão às condições desumanas na
organização do Mundial-2022, no Qatar.
Uma
das grandes questões debatidas nos sites e redes sociais era porque é que só
agora houve uma operação para travar a “corrupção endémica” da mais poderosa
organização de futebol. E a resposta parece simples: porque só agora é que os
suspeitos estavam todos juntos no mesmo sítio à mesma hora.
Amanhã há congresso anual da FIFA e eleições para a presidência, o que está a concentrar as autoridades futebolísticas em hotéis de cinco estrelas no centro de Zurique. Foi aí que, numa operação conjunta entre as autoridades suíças e norte-americanas, sete homens foram detidos durante a manhã, num “dia muito sério para a liderança da FIFA”, disse Greg Dyke, presidente da Associação de Futebol inglesa.
As
detenções, noticiou o “New York Times”, aconteceram de “forma pacífica”. Não
houve algemas, os funcionários do hotel encarregaram-se de esconder os
suspeitos com lençóis brancos à saída do edifício e alguns dos detidos, como
Eduardo Li, da Costa Rica, puderam levar consigo as malas de viagem, cobertas
de logótipos da FIFA.
Da
lista de pessoas já levadas para interrogatório (e depois banidas pela Comissão
de Ética) não consta Blatter, o suíço que preside ao organismo, com poderes e
mordomias iguais às de um qualquer chefe de Estado e provável sucessor de si
próprio na eleição de amanhã.
A
juntar a Eduardo Li, a lista de detidos inclui Jeffrey Webb, o presidente da
Confederação do Futebol da América do Norte, Central e Caribe (Concacaf);
Eugenio Figueiredo, antigo futebolista da federação uruguaia; Julio Rocha, um
alto cargo da FIFA; Rafael Esquivel, o presidente da federação venezuelana;
José Maria Marin, ex-presidente da confederação de futebol do Brasil; e Nicolás
Leoz, antigo presidente da associação futebolística da América do Sul.
O
“NYT” avançou ainda um oitavo, o antecessor de Webb à frente da Concacaf, Jack
Warner, detido na Suécia. A estes junta-se mais um punhado de suspeitos, no
total 15, que os EUA querem julgar nos seus tribunais, entre eles pelo menos
sete membros da FIFA.
“No
decurso dos procedimentos [das detenções]”, disseram as autoridades suíças em
comunicado, “dados electrónicos e documentos foram confiscados hoje na sede da
FIFA,em Zurique.”
Horas depois, o Departamento de Estado norte-americano também
levou a cabo buscas na sede da Concacaf em Miami, na Florida. “Como é explicado
na acusação, os arguidos desenvolveram uma cultura de corrupção e ganância que
criou um campo de jogo desigual para o maior desporto do mundo”, disse o
director do FBI, James Comey. “Pagamentos ilegais não divulgados e subornos
tornaram-se a forma por defeito para fazer negócios na FIFA.”
A
meio da tarde, hora de Lisboa, a procuradora-geral dos EUA, Loretta Lynch, dava
uma conferência de imprensa a acusar a FIFA de ter recebido subornos para o
Mundial-2010, na África doSul. Ao longo do dia, as notícias com pormenores das
várias suspeitas criminosas foram enchendo os media, a começar por um artigo do
“Daily Beast” que denunciava as ligações dos corruptos do organismo mundial de
futebol à fundação Clinton e a forma como o Qatar pagou milhões à FIFA para
garantir a organização do Mundial-2022.
No
meio disto tudo, há quem esteja satisfeito por parte da FIFA. É ele Walter de
Gregorio, director de comunicação. “Este é um bom dia para a FIFA. Não é bom
para a imagem, para a reputação, mas é um bom dia porque é uma limpeza. Estamos
ansiosos pelas conclusões, porque enquanto não houver conclusões haverá todo o
tipo de especulações. O timing pode não ser o melhor, mas a FIFA agradece este
processo e colaborará totalmente com o procurador-geral suíço em todas as
solicitações de informação.” Bravo.
Nas
eleições de amanhã (a UEFA já pediu o adiamento, mas não foi bem-sucedida), é
esperado que Blatter seja reeleito para um quinto mandato consecutivo. O rival
do suíço é o príncipe jordano Ali bin-Al Hussein, um homem que nada tem a ver
com o futebol. Como, aliás, o próprio Blatter.
Joana
Azevedo Viana – Miguel Tovar - jornal i
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