sábado, 16 de maio de 2015

VAROUFAKIS RECUSA PLANO QUE PONHA GRÉCIA NUMA “ESPIRAL DE MORTE”




Tsipras multiplica contactos para conseguir acordo até ao final do mês. Atenas recusa baixar mais pensões ou facilitar despedimentos.

Fontes do Governo grego dizem que o primeiro-ministro, Alexis Tsipras, tomou o controlo directo das negociações entre a Grécia e os seus credores, depois de o ministro das Finanças, Yanis Varufakis, ter recusado de novo aceitar um acordo que deixe a Grécia numa “espiral de morte”.

Depois de uma semana com três reuniões do Governo em que tentou aplacar a oposição interna às cedências aos credores, Tsipras irá intensificar contactos com os credores da Grécia, disse fonte do executivo de Atenas à emissora norte-americana CNBC. O primeiro-ministro espera que o seu envolvimento pessoal mostre o empenho em encontrar uma solução, quando Atenas continua a ser acusada pelos seus parceiros de não ser suficientemente rápida nas reformas.

Ainda esta semana, no entanto, o Governo avançou no processo de privatização do porto do Pireu – as privatizações eram uma das exigências dos credores que o Governo de Tsipras começou por recusar mas que entretanto aceitou.

Já os cortes nos valores das reformas e mudanças na lei que permitam despedimentos mais fáceis têm sido mantidas como “linhas vermelhas” do executivo de Tsipras. O Governo argumenta que já cedeu em algumas questões e que espera agora ver alguma flexibilidade do outro lado.

O Financial Times dá um exemplo para mostrar como mais cortes seriam problemáticos: Michalis Akritakis, um funcionário público de 72 anos na reforma, teve o seu vencimento cortado oito vezes nos últimos cinco anos, cortes que retiraram uma fatia de 45% do seu rendimento no total. E 40% dos reformados gregos têm já uma pensão de menos de 665 euros por mês.

O ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, veio novamente sublinhar as linhas vermelhas e recusar um acordo que deixe o país sem espaço para recuperação e em que “os números não batam certo”, quando indicadores mostram que a economia voltou a entrar em recessão.

Varoufakis lançou-se ainda num desabafo: “Gostava muito que tivéssemos a dracma, gostava que nunca tivéssemos entrado nesta união monetária”, declarou. “E acho que, no fundo, todos os membros da zona euro concordariam comigo agora. Porque foi muito mal construída. Mas, uma vez dentro, não se pode sair sem provocar uma catástrofe”, disse.

Varoufakis acrescentou que gostaria de propor uma troca de dívida com o Banco Central Europeu para ajudar na falta de liquidez do país, mas que esta ideia seria certamente recusada, porque traz “medo à alma” do presidente do BCE, Mario Draghi.

Responsáveis gregos vieram entretanto negar planos para um referendo, a que Tsipras aludira indirectamente numa entrevista e que o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, sugeriu. “Estamos a trabalhar para um compromisso”, disse o ministro do Interior, Nikos Voutsis, à Mega TV. “Um recurso imediato a um referendo ou eleições não está nos nossos planos.”

“Estamos a acelerar, estamos a fazer tudo o que foi acordado”, garantiu Nikos Pappas, um responsável próximo de Tsipras, à rádio Kokkino (vermelho), pró-Syriza. “Vamos trabalhar com a mesma determinação para completar este acordo, apesar dos que o querem impedir.”

O Governo grego quer um acordo até ao final do mês, e que se não houver um entendimento na cimeira de líderes da UE em Riga na próxima semana, poderá pedir um encontro de emergência do Eurogrupo, o conjunto de ministros das Finanças dos países da zona euro.

A última prestação entregue pela Grécia ao FMI foi já paga com um fundo de emergência que todos os países do FMI são obrigados a ter e aproxima-se a data de pagamento dos salários e pensões. Ninguém sabe quanto dinheiro tem a Grécia – que já não recebe qualquer empréstimo da troika desde Agosto do ano passado –, mas estes indicadores parecem mostrar que as reservas estão perigosamente baixas.

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