MARIA JOÃO GUIMARÃES - Público
Tsipras
multiplica contactos para conseguir acordo até ao final do mês. Atenas recusa
baixar mais pensões ou facilitar despedimentos.
Fontes
do Governo grego dizem que o primeiro-ministro, Alexis Tsipras, tomou o
controlo directo das negociações entre a Grécia e os seus credores, depois de o
ministro das Finanças, Yanis Varufakis, ter recusado de novo aceitar um acordo
que deixe a Grécia numa “espiral de morte”.
Depois
de uma semana com três reuniões do Governo em que tentou aplacar a oposição
interna às cedências aos credores, Tsipras irá intensificar contactos com os
credores da Grécia, disse fonte do executivo de Atenas à emissora norte-americana
CNBC. O primeiro-ministro espera que o seu envolvimento pessoal mostre o
empenho em encontrar uma solução, quando Atenas continua a ser acusada pelos
seus parceiros de não ser suficientemente rápida nas reformas.
Ainda
esta semana, no entanto, o Governo avançou no processo de privatização do porto
do Pireu – as privatizações eram uma das exigências dos credores que o Governo
de Tsipras começou por recusar mas que entretanto aceitou.
Já
os cortes nos valores das reformas e mudanças na lei que permitam despedimentos
mais fáceis têm sido mantidas como “linhas vermelhas” do executivo de Tsipras.
O Governo argumenta que já cedeu em algumas questões e que espera agora ver
alguma flexibilidade do outro lado.
O Financial
Times dá um exemplo para mostrar como mais cortes seriam problemáticos:
Michalis Akritakis, um funcionário público de 72 anos na reforma, teve o seu
vencimento cortado oito vezes nos últimos cinco anos, cortes que retiraram uma
fatia de 45% do seu rendimento no total. E 40% dos reformados gregos têm já uma
pensão de menos de 665 euros por mês.
O
ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, veio novamente sublinhar as linhas
vermelhas e recusar um acordo que deixe o país sem espaço para recuperação e em
que “os números não batam certo”, quando indicadores mostram que a economia
voltou a entrar em recessão.
Varoufakis
lançou-se ainda num desabafo: “Gostava muito que tivéssemos a dracma, gostava
que nunca tivéssemos entrado nesta união monetária”, declarou. “E acho que, no
fundo, todos os membros da zona euro concordariam comigo agora. Porque foi
muito mal construída. Mas, uma vez dentro, não se pode sair sem provocar uma
catástrofe”, disse.
Varoufakis
acrescentou que gostaria de propor uma troca de dívida com o Banco Central
Europeu para ajudar na falta de liquidez do país, mas que esta ideia seria
certamente recusada, porque traz “medo à alma” do presidente do BCE, Mario
Draghi.
Responsáveis
gregos vieram entretanto negar planos para um referendo, a que Tsipras aludira
indirectamente numa entrevista e que o ministro alemão das Finanças, Wolfgang
Schäuble, sugeriu. “Estamos a trabalhar para um compromisso”, disse o ministro
do Interior, Nikos Voutsis, à Mega TV. “Um recurso imediato a um referendo ou
eleições não está nos nossos planos.”
“Estamos
a acelerar, estamos a fazer tudo o que foi acordado”, garantiu Nikos Pappas, um
responsável próximo de Tsipras, à rádio Kokkino (vermelho), pró-Syriza. “Vamos
trabalhar com a mesma determinação para completar este acordo, apesar dos que o
querem impedir.”
O
Governo grego quer um acordo até ao final do mês, e que se não houver um
entendimento na cimeira de líderes da UE em Riga na próxima semana, poderá
pedir um encontro de emergência do Eurogrupo, o conjunto de ministros das
Finanças dos países da zona euro.
A
última prestação entregue pela Grécia ao FMI foi já paga com um fundo de
emergência que todos os países do FMI são obrigados a ter e aproxima-se a data
de pagamento dos salários e pensões. Ninguém sabe quanto dinheiro tem a Grécia
– que já não recebe qualquer empréstimo da troika desde Agosto do ano
passado –, mas estes indicadores parecem mostrar que as reservas estão
perigosamente baixas.
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