segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Angola. ERROS ALHEIOS NÃO JUSTIFICAM OS PRÓPRIOS



José Eduardo Agualusa – Rede Angola, opinião

Discursando em Ondjiva, João Lourenço, ministro da Defesa, insurgiu-se contra a recente resolução do Parlamento Europeu, que acusa o regime angolano de desrespeito pelos direitos humanos e de fomentar a corrupção.

Lourenço tentou escapar da acusação acusando o acusador, ou seja, lembrando aos europeus os crimes da escravatura e do tráfico negreiro. Lembrou ainda a forma como alguns países europeus estão a lidar com a crise dos refugiados: “Violação dos direitos humanos é a forma como alguns países da União Europeia, repito, alguns países da União Europeia, não são todos, estão a tratar ainda hoje os refugiados emigrantes de países do Médio Oriente e de África, que eles mesmo desestabilizaram. Esquecendo-se que também foram emigrantes um dia, tal como estes a quem tratam mal.”

O discurso de Lourenço é revelador, por um lado, da irritação e do susto com que o regime angolano recebeu a resolução do Parlamento Europeu, e, por outro lado, da falta de argumentos para contestar a mesma. Os erros dos outros não justificam os nossos. A história da construção de Angola é uma história da crueldade humana. A verdade, porém, é que o colonialismo português não tinha como objectivo melhorar a vida do povo angolano. A Independência, sim.

Nos primeiros anos após a independência, contudo, assistimos a um violento recrudescimento do mal, da loucura e da infelicidade. Mais recentemente, após o fim da guerra, parecia que Angola caminharia para um tempo novo, um tempo de efectiva reconciliação e de desenvolvimento mais justo. Novo engano. A prisão dos jovens democratas veio mostrar que o regime não mudou. Não quer mudar.

Participei na última sexta feira num debate, em Lisboa, com a participação do jornalista Rafael Marques e da eurodeputada portuguesa Ana Gomes, para discutir, precisamente, a situação dos direitos humanos em Angola. A sala estava completamente cheia. Muitos angolanos. Assim que o debate foi aberto ao público ficou claro que o partido no poder tivera o cuidado de enviar para o evento alguns dos seus jovens activistas. Fez muito bem. Um debate melhora muito havendo opiniões diversas. Devia, contudo, tê-los preparado melhor. Alguns repetiram os frágeis argumentos de João Lourenço. Outros defenderam a ideia de que em Angola ninguém é perseguido pelas suas opiniões: “Veja-se o caso do senhor Rafael Marques, que está aqui, em Lisboa, a falar” – disse um deles, suscitando a gargalhada geral.

A única forma de se justificar a prisão dos jovens democratas é apresentar provas de que estavam de facto a organizar um golpe de Estado – é essa a acusação – e de que dispunham de meios para alcançar os seus intentos. Até agora, e já lá vão três meses, não só não foram apresentadas provas nenhumas como a actuação da “justiça” parece cada vez mais errática, insensata e desesperada.

A cada dia que passa, o regime angolano fica mais embaraçado. A cada dia que passa mais se desgasta a figura do Presidente da República. Cabe a quem errou corrigir o erro. Os erros não se corrigem sozinhos e não melhoram com o tempo: crescem, complicam-se, acabam explodindo na cara do infractor.

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