José
Eduardo Agualusa – Rede Angola, opinião
Discursando
em Ondjiva, João Lourenço, ministro da Defesa, insurgiu-se contra a recente
resolução do Parlamento Europeu, que acusa o regime angolano de desrespeito
pelos direitos humanos e de fomentar a corrupção.
Lourenço
tentou escapar da acusação acusando o acusador, ou seja, lembrando aos europeus
os crimes da escravatura e do tráfico negreiro. Lembrou ainda a forma como
alguns países europeus estão a lidar com a crise dos refugiados: “Violação dos
direitos humanos é a forma como alguns países da União Europeia, repito, alguns
países da União Europeia, não são todos, estão a tratar ainda hoje os
refugiados emigrantes de países do Médio Oriente e de África, que eles mesmo
desestabilizaram. Esquecendo-se que também foram emigrantes um dia, tal como
estes a quem tratam mal.”
O
discurso de Lourenço é revelador, por um lado, da irritação e do susto com que
o regime angolano recebeu a resolução do Parlamento Europeu, e, por outro lado,
da falta de argumentos para contestar a mesma. Os erros dos outros não
justificam os nossos. A história da construção de Angola é uma história da
crueldade humana. A verdade, porém, é que o colonialismo português não tinha
como objectivo melhorar a vida do povo angolano. A Independência, sim.
Nos
primeiros anos após a independência, contudo, assistimos a um violento
recrudescimento do mal, da loucura e da infelicidade. Mais recentemente, após o
fim da guerra, parecia que Angola caminharia para um tempo novo, um tempo de
efectiva reconciliação e de desenvolvimento mais justo. Novo engano. A prisão
dos jovens democratas veio mostrar que o regime não mudou. Não quer mudar.
Participei
na última sexta feira num debate, em Lisboa, com a participação do jornalista
Rafael Marques e da eurodeputada portuguesa Ana Gomes, para discutir,
precisamente, a situação dos direitos humanos em Angola. A sala estava
completamente cheia. Muitos angolanos. Assim que o debate foi aberto ao público
ficou claro que o partido no poder tivera o cuidado de enviar para o evento
alguns dos seus jovens activistas. Fez muito bem. Um debate melhora muito
havendo opiniões diversas. Devia, contudo, tê-los preparado melhor. Alguns
repetiram os frágeis argumentos de João Lourenço. Outros defenderam a ideia de
que em Angola ninguém é perseguido pelas suas opiniões: “Veja-se o caso do
senhor Rafael Marques, que está aqui, em Lisboa, a falar” – disse um deles,
suscitando a gargalhada geral.
A
única forma de se justificar a prisão dos jovens democratas é apresentar provas
de que estavam de facto a organizar um golpe de Estado – é essa a acusação – e
de que dispunham de meios para alcançar os seus intentos. Até agora, e já lá
vão três meses, não só não foram apresentadas provas nenhumas como a actuação
da “justiça” parece cada vez mais errática, insensata e desesperada.
A
cada dia que passa, o regime angolano fica mais embaraçado. A cada dia que
passa mais se desgasta a figura do Presidente da República. Cabe a quem errou
corrigir o erro. Os erros não se corrigem sozinhos e não melhoram com o tempo:
crescem, complicam-se, acabam explodindo na cara do infractor.
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