segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Angola. O L DE LUANDA É DE LIXO




A capital está transformada numa lixeira a céu aberto. Governo provincial e ELISAL gastam o tempo a descartar-se das culpas.

A acumulação de lixo em Luanda não é propriamente uma novidade. À falta de uma central de gestão e tratamento de resíduos, junta-se um cidadão desinformado, que se limita a transportar o lixo de casa para a rua. O ciclo vicioso explica boa parte das imagens que aqui e ali mostram grandes lixeiras espalhadas pelos bairros da capital.

Mas no último mês o problema ganhou dimensão. Tudo começou com a implementação de um novo modelo de recolha, que passou para os municípios a responsabilidade do trabalho sujo. A nova gestão, agora a cargo do Governo da Província de Luanda (GPL), trouxe consigo um orçamento revisto: para a limpeza de Luanda durante todo o ano de 2015, o Ministério das Finanças disponibilizou USD 120 milhões, um terço do montante de há cerca de quatro anos.

O corte assustou a maioria das empresas de limpeza – o serviço chegou a contar com oito a dez operadores. Agora, boa parte dos trabalhos está entregue à Empresa de Limpeza e Saneamento de Luanda (ELISAL), que não tardou em acusar a sobrecarga de trabalho. Ainda na semana passada, a companhia mostrou-se incapaz de lidar com tanto lixo, admitindo que todos os meses ficam por recolher em Luanda 1.500 toneladas de resíduos.

Mais do que os números, a realidade fala por si. A última edição do Novo Jornal fala em autênticas montanhas de lixo, acumuladas nas bermas das estradas, condicionando a circulação de automóveis e, em alguns casos, levando ao encerramento de vias nos bairros de Viana, Cazenga e Cacuaco. Os distritos do Rangel, Sambizanga, Maianga, Samba, Kilambi Kiaxi e até as novas centralidades também convivem de perto com o problema, escreve aquele jornal.

O trânsito automóvel será uma das consequências imediatas, mas com o passar dos dias teme-se que o lixo comece a atrair doenças – com a cólera entre as mais temidas. Contactada pelo Rede Angola, a directora Provincial da Saúde, Rosa Bessa, preferiu não comentar esta possibilidade. Já a posição do GPL é conhecida. Durante a apresentação do novo modelo de recolha, no mês passado, Graciano Domingos fez saber que uma Luanda limpa não depende “dos recursos financeiros” mas sim do “compromisso da sua população com o asseio e higiene”.

Quem também não parece inclinado para assumir a responsabilidade é a ELISAL. Para além do argumento da falta de verbas, a empresa defende-se com o facto do modelo de recolha ser novo. “Todo o modelo no início tem erros e entraves, não existe nada feito acabado no começo”, disse ao jornal O País António Lucas Rodrigues, director de operações. A ELISAL vai mais longe e fala também em “mão oculta”, acusando pessoas não identificadas de propositadamente tirarem resíduos das lixeiras para os despejar nas ruas.

Por enquanto, a população vai fazendo pela vida. Durante a noite, muitos acendem queimadas como forma de conter o avanço do lixo, conta o Novo Jornal. O fogo pode ser um aliado temporário, mas suscita novas preocupações de saúde pública, com a libertação de poluentes e toxinas no ar da capital.

Dicas para melhor tratar do lixo

Luanda produz diariamente três mil toneladas de lixo. Uma boa parte deste é doméstico, ou seja, sai directamente das casas da capital para as lixeiras. Apesar da reciclagem não ser ainda uma realidade, há outras soluções que permitem reduzir a quantidade de detritos e o impacto dos mesmos no ambiente. As dicas que o RA aqui sugere são para usar dentro e fora de casa, na capital ou noutra província qualquer.

Primeiro que tudo, planeie com antecedência a ida às compras por forma a minimizar ao máximo o desperdício. Levar o próprio saco, escolher produtos com poucas embalagens e preferir compras a granel são alguns gestos simples que podem fazer toda a diferença.

Também é comum as lixeiras acumularem roupas, mobílias ou outros “monstros”. Evite deitá-los fora e, se possível, tente consertá-los. Caso contrário, doá-los é sempre uma boa solução, aquilo que já não lhe faz falta pode ser muito útil a outra pessoa.

Uma técnica mais trabalhosa mas igualmente útil é a compostagem doméstica. A ideia é montar um recipiente de plástico, onde consiga intercalar camadas de lixo orgânico – alimentos ou outros produtos que se decompõem pela natureza – e terra. É importante furar o recipiente, a fim de escoar qualquer líquido que se forme com a decomposição, e mexer a mistura com frequência. Assim que o processo estiver acabado – cascas de fruta, por exemplo, levam um a três meses a decompor – a terra torna-se adubo e pode ser usado para fins agrícolas.

Rede Angola

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