A
capital está transformada numa lixeira a céu aberto. Governo provincial e
ELISAL gastam o tempo a descartar-se das culpas.
A
acumulação de lixo em Luanda não é propriamente uma novidade. À falta
de uma central de gestão e tratamento de resíduos, junta-se um
cidadão desinformado, que se limita a transportar o lixo de casa para a
rua. O ciclo vicioso explica boa parte das imagens que aqui e ali mostram
grandes lixeiras espalhadas pelos bairros da capital.
Mas
no último mês o problema ganhou dimensão. Tudo começou com a implementação de
um novo modelo de recolha, que passou para os municípios a responsabilidade
do trabalho sujo. A nova gestão, agora a cargo do Governo da Província de
Luanda (GPL), trouxe consigo um orçamento revisto: para a limpeza
de Luanda durante todo o ano de 2015, o Ministério das Finanças
disponibilizou USD 120 milhões, um terço do montante de há cerca de quatro
anos.
O
corte assustou a maioria das empresas de limpeza – o serviço chegou a
contar com oito a dez operadores. Agora, boa parte dos trabalhos está
entregue à Empresa de Limpeza e Saneamento de Luanda (ELISAL), que não
tardou em acusar a sobrecarga de trabalho. Ainda na semana passada, a
companhia mostrou-se incapaz de lidar com tanto lixo, admitindo que todos os
meses ficam por recolher em Luanda 1.500 toneladas de resíduos.
Mais
do que os números, a realidade fala por si. A última edição do Novo Jornal fala
em autênticas montanhas de lixo, acumuladas nas bermas das estradas,
condicionando a circulação de automóveis e, em alguns casos, levando ao
encerramento de vias nos bairros de Viana, Cazenga e Cacuaco. Os distritos do
Rangel, Sambizanga, Maianga, Samba, Kilambi Kiaxi e até as novas centralidades
também convivem de perto com o problema, escreve aquele jornal.
O
trânsito automóvel será uma das consequências imediatas, mas com o passar
dos dias teme-se que o lixo comece a atrair doenças – com a cólera entre as
mais temidas. Contactada pelo Rede Angola, a directora Provincial da
Saúde, Rosa Bessa, preferiu não comentar esta possibilidade. Já a
posição do GPL é conhecida. Durante a apresentação do novo modelo de
recolha, no mês passado, Graciano Domingos fez saber que uma Luanda limpa não
depende “dos recursos financeiros” mas sim do “compromisso da sua população com
o asseio e higiene”.
Quem
também não parece inclinado para assumir a responsabilidade é a ELISAL. Para
além do argumento da falta de verbas, a empresa defende-se com o facto do
modelo de recolha ser novo. “Todo o modelo no início tem erros e entraves, não
existe nada feito acabado no começo”, disse ao jornal O País António
Lucas Rodrigues, director de operações. A ELISAL vai mais longe e fala
também em “mão oculta”, acusando pessoas não identificadas de propositadamente
tirarem resíduos das lixeiras para os despejar nas ruas.
Por
enquanto, a população vai fazendo pela vida. Durante a noite, muitos
acendem queimadas como forma de conter o avanço do lixo, conta o Novo
Jornal. O fogo pode ser um aliado temporário, mas suscita novas preocupações de
saúde pública, com a libertação de poluentes e toxinas no ar da
capital.
Dicas
para melhor tratar do lixo
Luanda
produz diariamente três mil toneladas de lixo. Uma boa parte deste é doméstico,
ou seja, sai directamente das casas da capital para as
lixeiras. Apesar da reciclagem não ser ainda uma realidade, há outras
soluções que permitem reduzir a quantidade de detritos e o impacto dos mesmos
no ambiente. As dicas que o RA aqui sugere são para usar dentro
e fora de casa, na capital ou noutra província qualquer.
Primeiro
que tudo, planeie com antecedência a ida às compras por forma
a minimizar ao máximo o desperdício. Levar o próprio saco,
escolher produtos com poucas embalagens e preferir compras a granel são
alguns gestos simples que podem fazer toda a diferença.
Também
é comum as lixeiras acumularem roupas, mobílias ou outros “monstros”. Evite
deitá-los fora e, se possível, tente consertá-los. Caso contrário, doá-los
é sempre uma boa solução, aquilo que já não lhe faz falta pode ser
muito útil a outra pessoa.
Uma
técnica mais trabalhosa mas igualmente útil é a compostagem doméstica.
A ideia é montar um recipiente de plástico, onde consiga intercalar camadas de
lixo orgânico – alimentos ou outros produtos que se decompõem pela
natureza – e terra. É importante furar o recipiente, a fim de escoar
qualquer líquido que se forme com a decomposição, e mexer a mistura com
frequência. Assim que o processo estiver acabado – cascas de fruta, por
exemplo, levam um a três meses a decompor – a terra torna-se adubo
e pode ser usado para fins agrícolas.
Rede
Angola
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