O
e-book “Liberdade de imprensa e direito à informação em África”, apresentado em
Lisboa, conta com seis autores que traçam o cenário da liberdade de imprensa no
Benim, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Angola.
O
Centro de Estudos Internacionais da Universidade de Lisboa, lançou, em julho,
um livro digital que relata a situação do jornalismo e da liberdade de imprensa
em seis paises africanos.
A jornalista angolana, Ana Margoso, foi uma das convidadas a escrever sobre o estado atual da imprensa em Angola.
Margoso cobre temas como a censura na imprensa pública, a violência sobre os jornalistas, a concentração da informação na capital e o regulamento da lei de imprensa no artigo intitulado "Vinte anos de uma imprensa em declínio”. A DW África entrevistou a jornalista.
A jornalista angolana, Ana Margoso, foi uma das convidadas a escrever sobre o estado atual da imprensa em Angola.
Margoso cobre temas como a censura na imprensa pública, a violência sobre os jornalistas, a concentração da informação na capital e o regulamento da lei de imprensa no artigo intitulado "Vinte anos de uma imprensa em declínio”. A DW África entrevistou a jornalista.
DW
África: Como é ser jornalista em Angola?
Ana
Margoso (AM): O jornalista em Angola neste momento corre vários riscos, é
detido para cobrir uma manifestação, por exemplo, tem os salários baixos porque
a imprensa privada vê-se abraços com muitas dificuldades. Não é fácil ser
jornalista em Angola. Outros riscos que corremos são porque ainda vivemos num
país não democrático. Com a ausência da democracia está-se logo a ver o que é
ser jornalista em Angola.
DW
África: Refere no seu artigo a existência de “olheiros” ou “pontas-de-lança” a
controlar tudo que é publicado na imprensa pública. Pode explicar o que se
trata?
AM: Os
olheiros são pessoas que têm um papel preponderante dentro das redações, estão
não só na imprensa privada como principalmente na imprensa estatal. São
próximos do regime, alguns jornalistas, tem uma missão clara de controlar
aqueles jornalistas que não se reveem no atual regime. Eu própria fui chamada
quando trabalhava no Novo Jornal por coisas que publicava no facebook e depois
disso passei a ser perseguida.
DW
África: Angola alcançou definitivamente a paz há 12 anos, mas no que diz
respeito à liberdade de expressão estava bem melhor do que está agora.
AM: Parece
mentira mas é pura verdade. Eu comecei a trabalhar no Jornal de Angola, no
jornalismo em 1997, e lembro que nessa altura havia mais liberdade a nível da
redação do Jornal de Angola do que existe hoje. No que toca à liberdade, as
pessoas falavam à vontade, criticavam abertamente mas isso já não é possível,
dentro do Jornal de Angola fazer uma critica aberta. Estou a falar no Jornal de
Angola como na televisão pública (TPA) ou na rádio nacional (RNA).
DW
África: Nos dias de hoje, Angola é um dos países mais violentos para os
jornalistas. Tem havido registos de jornalistas desaparecidos, alguns acabaram
mortos. Que explicação se pode encontrar para esta perseguição aos jornalistas
em Angola?
AM: Tem
imensos casos, jornalistas que faleceram há quase 20 anos, estou a falar do
Ricardo Melo e do Paulo Roberto cujos processos simplesmente pararam. Ninguém
sabe, até hoje, quem são os assassinos ou quem são os mandantes desses
assassinatos. Fazer jornalismo em Angola não é uma coisa tâo simples como em
outros países que não têm um regime antidemocrático como o nosso.
DW
África: Os meios de comunicação social estão todos concentrados em Luanda. O
que é preciso para impulsionar a descentralização da imprensa?
AM: Nós
precisamos para já de pessoas que invistam na imprensa privada. As pessoas têm
medo de investir, tem medo de criar rancor com quem está a governar.
DW
África: A lei de imprensa está “pendurada” desde 2006, no entanto “o Governo
angolano diz que a imprensa está no bom caminho e recomenda-se”.
AM: Exatamente,
se ouvirmos outra pessoa a debater o que estou a dizer agora, vai dizer que eu
sou mentirosa! A imprensa está muito bem, há pluralidade porque há mais jornais
privados e trazem grandes manchetes mas isso não significa que em Angola haja
de facto liberdade de expressão, isso é mentira. Como exemplo dou-lhe a Lei de
Imprensa, os jornalistas em Angola não têm carteira profissional. Também
interessa a quem manda no país que assim seja. Não passa no Parlamento, aliás
os próprios deputados dizem que nunca viram essa lei.
Manuel
Ribeiro – Deutsche Welle
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