Emildo Sambo -@Verdade
Nas
últimas eleições realizadas em Moçambique, ainda contestadas pela Renamo, como
de costume, foram uma espécie de regabofe, “pintámos o país de cores
partidárias, alugámos carros, pensões, hotéis, (...) aviões, helicópteros e
gastámos, em 40 dias” do escrutínio “o equivalente ao que às cinco províncias
mais pobres” do país ”têm como orçamento durante dois anos”, segundo o filósofo
e Professor Severino Nguenha, que considera tal situação um dispêndio imoral
comparativamente à qualidade de vida dos moçambicanos. Destes, nas suas
palavras, mais de metade não tem electricidade, pelo que “a informação atinge
poucos” e a democracia é também para poucos.
Focando
a sua análise nas eleições de 15 de Outubro passado, o académico, que foi o
primeiro orador da sexta edição da semana de comunicação da Escola Superior de
Jornalismo, sob o lema "A Comunicação e Informação como Base para a
Democracia e o Desenvolvimento em Moçambique ”, defendeu que o modelo de
política nacional é uma herança do Brasil e dos Estados Unidos da América
(EUA). Este último país pode efectuar gastos excessivo em processos eleitorais
porque a sua robustez económica o permite; porém, do ponto de vista moral é
errado, pois na mesma nação há também muita gente que não dispõe de condições
para sobreviver. No Brasil, que enfrenta numa crise sem precedentes, em cada
eleição “o esbanjamento de meios é desproporcional” à condição social das
pessoas.
Com
estes dois exemplos, Severino Nguenha pretendia demonstrar que os problemas da
nossa democracia e de outros países africanos são um resultado da cópia do
modelo de democracia ocidental. Por conseguinte, é disfuncional e não permite
um debate de ideias e os efeitos fazem-se sentir na governação e falta de
crítica por parte dos cidadãos.
“Parece-me
que em Moçambique deixámos de ter partidos políticos” e temos “aparatos
políticos. Temos uma aparatocracia. (...) Os partidos políticos são animais
novos, que nasceram de indivíduos com visões diferentes ou contrapostas sobre a
sociedade (...). O que faz com que as pessoas estejam juntas na Frelimo, no MDM
e na Renamo são os interesses” de grupos, por que torcem para que as suas
facções políticas vençam cada escrutínio no sentido de obterem mais
oportunidades de tacho, e “não pela crença de valores” que defendem.
Nas
eleições dos últimos oitos anos, de acordo com Nguenha, surgiram na Imprensa
moçambicana ciber-intelectuais (alguns eram jornalistas), que cobriam os
programas de televisão, de rádio, e as manchetes dos jornais com as suas
opiniões sobre a dinâmica política nacional. Nos dois primeiros órgãos de
comunicação ocupavam-se espaços de antena com comentadores que pensavam de
forma unânime, com o grande perigo de confundirem a opinião com a verdade, “de
sermos instrumentalizados (...)”.
Nas
suas abordagens, no evento em alusão, o filósofo fazia interface com o campo de
comunicação e informação, e não pôde esconder os seus calafrios em virtude de
uma alegada má prestação de serviços por parte deste sector. Na óptica de
Nguenha, a comunicação social está a desviar-se da sua missão por conta de uma
excessiva ideologização política com a finalidade de homogeneizar as mentes.
O
argumento do orador foi de que a filosofia – sua área de actuação – considera a
comunicação uma área de alienação, cujo grande perigo é a ideologização, e, em
vez de se preocupar com a verdade, limita-se, tendenciosamente, a dar um
parecer orientado. Por isso, ela não informa, mas “formata os espíritos através
de opiniões erradas, ou pelo menos tendenciosas, derivadas de uma orientação
política bem determinada”.
G40
para “vender o peixe” do regime
Em
Moçambique, nas vésperas das eleições, falou-se bastante dos “macuacuinhas” (
uma expressão criada por Machado da Graça), ou seja, do famigerado G40, criado
por Edson Macuácua. Para Nguenha tratou-se de uma ala composta por indivíduos
que tinham como missão não informar, mas formatar, convencer e fazer passar por
verdade aquilo que era uma opinião ideológica (...).
“O
que me parece grave em Moçambique é que dos 'macuacuinhas' nasceram os
'anti-macuacuinhas', que “são tão graves na posição quanto os 'macuacuinhas
(...)', disse o professor acrescentando que se os estes são um problema, por
serem ideologicamente teleguiados, os 'anti-macuacuinhas' são também um estorvo
na medida em que defendem os interesses do seu grupo.
Para
o filósofo, no país há falta de um jornalismo crítico, capaz de “mostrar as
diferentes facetas” do que veicula, para que os receptores, por sua vez, possam
tomar decisões críticas. Ao longo das últimas décadas, o que os media fizeram
foi transformarem-se em instrumentos de “de perigo à sociedade”. A piromania
passou a ser evidente à medida que a classe age tal como os bombeiros. Uma
certa imprensa, não pró-regime, é sensacionalista de tal sorte que atiça para a
arruaça, não pacifica, nem unifica e tão-pouco cria coesão social. É preciso que
haja um informação que ajude o leitor a tomar uma posição perante determinados
assuntos com conhecimento de causa (...).
Gente
sem electricidade é também desprovida de informação
Num
outro desenvolvimento, Nguenha virou o cano para a televisão, tendo afirmado
que num país onde 70% da população não têm electricidade não é verdade que os
serviços destes canais abrangem a todos. “Como é que fazem esse milagre?”,
questionou e fundamentou afirmando que isso significa que “a comunicação cobre
o Moçambique físico e não o Moçambique humano (...)”.
Tirar
mais moçambicanos da escuridão...
Todavia,
no país, segundo dados do Executivo na Proposta do Plano Económico e Social
(PES) apenas 45,3% dos habitantes têm energia eléctrica e espera-se que até ao
fim de 2015 o número de beneficiários aumente para 47%, o que significa que a
electricidade ainda será um luxo para milhares de moçambicanos, a par do que
vai acontecer com a água potável, que neste momento só beneficia 64% da
população.
Esta
situação mostra que grande da população moçambicana ainda sem acesso à energia
eléctrica e ao precioso líquido, por exemplo, não vai beneficiar desses e
outros serviços até 2019, altura em que cessa o mandato do actual Governo, cujo
Presidente, Filipe Nyusi, prometeu aos seus compatriotas uma vida melhor “num
país cada vez mais iluminado, muito para além das sedes distritais, com fontes
de energia diversificadas, com mais acesso a água potável e a infra-estruturas
de saneamento...”.
Por
outro lado, nos próximos 40 anos, em 2055, é que, talvez, o país estará
completamente iluminado e com mais gente a beneficiar de água potável e um
saneamento do meio com qualidade.
Em
2015, o Executivo espera efectuar 100 mil novas ligações e electrificar sete
sedes distritais, sendo quatro na Zambézia (Luabo, Muelevala, Mulumbo e Dere),
dois em Tete (Marara e Doa) e um em Manica (Macate), bem como seis postos
administrativos e vilas a partir de sistemas solares, nomeadamente Machubo,
Calanga, Napulanguene e Pajane (Maputo), Machulane, Thevene e Nguezene (Gaza) e
Chinamacondo, Muziwagungune e Condzo (Sofala).
No
seu PES, o Governo promete ainda assegurar qualidade no fornecimento da
corrente eléctrica, a qual tem sido deveras baixa em muitas zonas do vasto
território moçambicano, incluindo nos centros urbanos.
Ainda
em relação à oração de Nguenha, estes disse que hão há nenhuma província no
país onde não haja canais de televisão, mas o número de pessoas que acede, quer
à informação, quer ao diálogo com os protagonistas das vida política, é exíguo,
declarou o académico e sustentou que por estas e outras razões a nossa
democracia é de poucos, a nossa informação atinge poucos e o nosso diálogo tem
a ver com poucos (...), relativamente a um muita gente que “constitui o que
chamamos Moçambique”.
Jornais
urbanos e para minoria
No
tange à imprensa escrita, temos uma série de jornais em que cada um defende uma
certa ala e serve os seus interesses, disse Nguenha. “A gente chega a
aberrações tais como” em certos veículos de comunicação e informação nunca
encontrar uma coisa negativa sobre a Frelimo e noutros nunca se publicar alguma
coisa positiva sobre o mesmo partido. “Entramos num clima em que as ideologias
dominam e comandam a informação”.
Aliás, acrescentou o Professor, os jornais são vendidos (99%) em Maputo, da Avenida Julius Nyerere à estátua Eduardo Mondlane e quando chegam à periferia ninguém quer saber deles. A nossa comunicação “cobre um espaço reduzido” do país real.
Aliás, acrescentou o Professor, os jornais são vendidos (99%) em Maputo, da Avenida Julius Nyerere à estátua Eduardo Mondlane e quando chegam à periferia ninguém quer saber deles. A nossa comunicação “cobre um espaço reduzido” do país real.
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