Mariana
Mortágua – Jornal de Notícias, opinião
Não
sabemos como vão acabar as negociações desta semana entre o PS e os partidos à
sua esquerda. Mas uma coisa sabemos: o momento é histórico e a hipótese de uma
alternativa estável que proteja salários, pensões e o emprego vale o risco. Não
douremos a pílula, mas também não vale a pena fingir que ela não existe. O que
une neste momento PS, Bloco e CDU são preocupações comuns e a vontade, até
agora expressa, de romper com o ciclo de empobrecimento do país.
Sim,
é legitimo tentar. O tempo do bloco central acabou e todos os partidos devem,
em respeito pelos seus compromissos eleitorais, assumir as suas
responsabilidades. O Bloco de Esquerda é o segundo partido mais votado da
maioria eleitoral que rejeitou o empobrecimento estável que a Direita tem para
oferecer. E cada voto será útil para cumprir esse propósito.
O
que não me parece legítimo é que o quarto partido com assento parlamentar ache
que pode reivindicar para si a vice-liderança do Governo, enquanto diz ao
terceiro partido que esse, porque é de Esquerda, não tem legitimidade para
participar em soluções políticas. O que não me parece legítimo é que a Direita
tenha mais legitimidade para governar em minoria do que um PS com apoio
parlamentar maioritário.
Deixemo-nos
de rodriguinhos. A hipótese de largar o poder incomoda a Direita, a
probabilidade do Bloco ou do PCP participarem numa solução aterroriza-os. Por
isso jogam com todas as armas que têm.
A
liderar o pelotão vai Cavaco Silva, o presidente da República mais preocupado
em defender a sua área política que em garantir o cumprimento da Constituição.
Atrás de si há muito por onde escolher, mas vale a pena destacar o líder da
UGT, Carlos Silva, a quem volta a faltar a vergonha, ao ponto de declarar apoio
aos partidos campeões do ataque aos direitos do trabalho e que têm como plano
mais ou menos tácito acabar com as organizações sindicais.
Vivemos
tempos interessantes, serão duros. Há dois caminhos e duas linguagens, a do
medo e a da esperança.
*Deputada
do BE
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