terça-feira, 13 de outubro de 2015

Portugal. ADEUS, PASSOS



Mariana Mortágua – Jornal de Notícias, opinião

Não sabemos como vão acabar as negociações desta semana entre o PS e os partidos à sua esquerda. Mas uma coisa sabemos: o momento é histórico e a hipótese de uma alternativa estável que proteja salários, pensões e o emprego vale o risco. Não douremos a pílula, mas também não vale a pena fingir que ela não existe. O que une neste momento PS, Bloco e CDU são preocupações comuns e a vontade, até agora expressa, de romper com o ciclo de empobrecimento do país.

Sim, é legitimo tentar. O tempo do bloco central acabou e todos os partidos devem, em respeito pelos seus compromissos eleitorais, assumir as suas responsabilidades. O Bloco de Esquerda é o segundo partido mais votado da maioria eleitoral que rejeitou o empobrecimento estável que a Direita tem para oferecer. E cada voto será útil para cumprir esse propósito.

O que não me parece legítimo é que o quarto partido com assento parlamentar ache que pode reivindicar para si a vice-liderança do Governo, enquanto diz ao terceiro partido que esse, porque é de Esquerda, não tem legitimidade para participar em soluções políticas. O que não me parece legítimo é que a Direita tenha mais legitimidade para governar em minoria do que um PS com apoio parlamentar maioritário.

Deixemo-nos de rodriguinhos. A hipótese de largar o poder incomoda a Direita, a probabilidade do Bloco ou do PCP participarem numa solução aterroriza-os. Por isso jogam com todas as armas que têm.

A liderar o pelotão vai Cavaco Silva, o presidente da República mais preocupado em defender a sua área política que em garantir o cumprimento da Constituição. Atrás de si há muito por onde escolher, mas vale a pena destacar o líder da UGT, Carlos Silva, a quem volta a faltar a vergonha, ao ponto de declarar apoio aos partidos campeões do ataque aos direitos do trabalho e que têm como plano mais ou menos tácito acabar com as organizações sindicais.

Vivemos tempos interessantes, serão duros. Há dois caminhos e duas linguagens, a do medo e a da esperança.

*Deputada do BE

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