"Quem
falar de mercados zangados para sustentar a sua posição é tão simplesmente
alguém que acha que em vez de eleições se deve perguntar aos mercados quem deve
governar."
Pedro
Marques Lopes* – TSF, opinião
Não
me parece que por esta altura ainda haja quem pense que não é
constitucionalmente legítimo a formação de um governo que não seja liderado
pelo partido que ganhou as eleições.
O
processo negocial que estamos a assistir teve, pelo menos, essa componente
pedagógica: uma melhor noção sobre o nosso sistema político. Já não é nada mau.
Por
outro lado, assistirmos a dois partidos que limitavam a sua ação ao protesto,
dispostos a participar ativamente na procura de soluções de governo é outro bom
sinal. Trazer um milhão de eleitores para o centro da política será, aconteça o
que acontecer, uma boa notícia.
Neste
momento, não sabemos que governo vamos ter e quem o constituirá. É minha
convicção que mesmo os protagonistas apenas terão uma ideia muito vaga do que
pode acontecer. Cada um terá as suas razões, os seus propósitos e utilizará os
instrumentos que bem entender para os alcançar.
Há,
apenas, um argumento que não pode ser utilizado: defender esta ou aquela
posição em função do que os mercados farão ou dirão. Ou melhor, ficaremos a
saber tudo sobre as convicções de quem o der. É alguém que não gosta da
democracia, que não acredita na soberania, que está disposto a prescindir de
direitos que levaram séculos a ser conquistados.
Quem
falar de mercados zangados para sustentar a sua posição é tão simplesmente
alguém que acha que em vez de eleições se deve perguntar aos mercados quem deve
governar.
*Comentador
do Bloco Central TSF
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