segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Portugal. O ARGUMENTO NÃO UTILIZÁVEL



"Quem falar de mercados zangados para sustentar a sua posição é tão simplesmente alguém que acha que em vez de eleições se deve perguntar aos mercados quem deve governar."

Pedro Marques Lopes* – TSF, opinião

Não me parece que por esta altura ainda haja quem pense que não é constitucionalmente legítimo a formação de um governo que não seja liderado pelo partido que ganhou as eleições.

O processo negocial que estamos a assistir teve, pelo menos, essa componente pedagógica: uma melhor noção sobre o nosso sistema político. Já não é nada mau.

Por outro lado, assistirmos a dois partidos que limitavam a sua ação ao protesto, dispostos a participar ativamente na procura de soluções de governo é outro bom sinal. Trazer um milhão de eleitores para o centro da política será, aconteça o que acontecer, uma boa notícia.

Neste momento, não sabemos que governo vamos ter e quem o constituirá. É minha convicção que mesmo os protagonistas apenas terão uma ideia muito vaga do que pode acontecer. Cada um terá as suas razões, os seus propósitos e utilizará os instrumentos que bem entender para os alcançar.

Há, apenas, um argumento que não pode ser utilizado: defender esta ou aquela posição em função do que os mercados farão ou dirão. Ou melhor, ficaremos a saber tudo sobre as convicções de quem o der. É alguém que não gosta da democracia, que não acredita na soberania, que está disposto a prescindir de direitos que levaram séculos a ser conquistados.

Quem falar de mercados zangados para sustentar a sua posição é tão simplesmente alguém que acha que em vez de eleições se deve perguntar aos mercados quem deve governar.

*Comentador do Bloco Central TSF

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