Pedro
Tadeu – Diário de Notícias, opinião
Pedro
Passos Coelho fez com que PSD e CDS perdessem desde as últimas eleições
"apenas" 727 mil votos (repito: 727 mil votos) nas urnas eleitorais,
conquistando uma maioria relativa no Parlamento, depois de liderar durante
quatro anos um executivo de austeridade. Passos é um péssimo governante mas um
ótimo político.
O
primeiro-ministro é capaz de ser o mais brilhante tático que a direita produziu
desde o 25 de Abril, melhor do que Sá Carneiro e Cavaco Silva. Demonstram-no a
recusa em sair de São Bento, há dois anos, quando Paulo Portas se demitiu, e a
forma como ganhou as legislativas de domingo.
O
inteligente e brilhante líder do CDS-PP, por seu lado, abdicou da grandeza e
passou a sócio menor. A recompensa são 18 deputados.
António
Costa ganhou apenas (sem aspas) 182 mil votos e ficou-se pelo segundo grupo
parlamentar. Foi curto para quem garantia ser fácil conquistar a maioria
absoluta.
Costa
apresentou um programa económico agradável para a direita embrulhado numa
retórica de esquerda. Fez o que o PS sempre fez, desde há 40 anos: apontar ao
"centrão". Agora, não resultou. Porquê?
O
momento simbólico da derrota socialista ocorreu na televisão, quando Catarina
Martins, despida da agressividade gongórica dos debates parlamentares, propôs a
António Costa a abdicação da reforma que este propunha para a Segurança Social
para discutir o apoio do Bloco a um governo.
Talvez
fosse uma falácia de Catarina mas, de repente, para muitos dos que admitiam
votar no PS estava ali uma verdadeira alternativa positiva aos arranjos de
regime do costume.
O
Bloco tirou assim a Costa o argumento do voto útil e a hipótese de vitória que
lhe poderiam dar a maior parte dos 260 mil votos que Catarina ganhou de uma
eleição para a outra, passando mesmo a CDU, que subiu apenas 3300 votos, coisa
que lhe está, evidentemente, a doer.
Graças
a Deus e aos eleitores, ninguém tem maioria absoluta. Isto impedirá Passos de
abusar. Isto obrigará o PS a definir-se. É, para já, a melhor solução para o
país.
Se
o PS se aliar à direita (e o Bloco não se despistar na puerilidade das
divergências internas) esta versão de Catarina Martins pode captar o apoio dos
não comunistas desiludidos com o crónico socialismo metido na gaveta pelos
residentes do Largo do Rato.
Se
o PS se aliar à esquerda, a ala direita do partido rompe, toma o partido de
assalto, funda outro, ou vai para o PAF. O PS que restar, viciado em viver à
conta do Estado, avançará, desorientado, para o suicídio político ou correrá
para os braços deste eventual novo Bloco.
O
PS de hoje não discute, portanto, a liderança de António Costa. Discute a
sobrevivência.
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