terça-feira, 6 de outubro de 2015

Portugal. CAVACO CHAMA PASSOS PARA GOVERNAR. COSTA FACILITOU-LHE A VIDA



Presidente não deverá pressionar os partidos para um governo mais alargado, mas vai tentar os consensos mais amplos possíveis.

O Presidente da República, que se resguardou neste 5 de Outubro, dia da implantação da República, quer acelerar todo o processo de formação de governo. Hoje às 18.00 recebe já o líder da coligação Portugal à Frente, a vencedora das legislativas, e deverá prosseguir na ronda de contactos com os partidos.

Depois de ouvir todas as forças políticas, Cavaco Silva vai convidar Pedro Passos Coelho a formar governo. Tanto mais que a coligação PSD-CDS não só teve mais mandatos como obteve uma votação superior à do PS.

O líder social-democrata prepara-se para apresentar a Cavaco um projeto político de coligação para governar, um pouco à imagem do que aconteceu em 2011. Matos Correia foi ontem mandatado pelo PSD para ultimar, com um representante do CDS-PP, "uma proposta de acordo político de governo".

E nem o facto de se ter desenhado no domingo uma maioria de esquerda no Parlamento deixa o Chefe do Estado menos tranquilo nesta decisão. Em Belém considera-se um "ponto de partida" para a formação de governo - e até de alguma estabilidade política - as palavras de António Costa na hora em que reconheceu a derrota do PS.

A rejeição do líder socialista à possibilidade de uma "maioria negativa", leia-se PS, BE, PCP e "Os Verdes", mandar abaixo um executivo PSD-CDS sem qualquer alternativa de governo tranquilizou Belém.

O DN sabe que Cavaco não deverá, por isso, pressionar os partidos para um governo mais alargado, em que participasse o PS. O que não quer dizer que Cavaco Silva tenha desistido de tentar os consensos mais alargados possíveis, tal como pediu antes da campanha eleitoral.

O Presidente não conta nesta equação com a possibilidade de o PS entrar em ebulição, e a liderança de Costa vir a ser posta em causa - já está a ser (ver págs. 12 e 13). Em Belém entende-se que o líder socialista, que entendeu não se demitir apesar da derrota eleitoral, tem toda a legitimidade para se pronunciar sobre as soluções de governo.

Da noite eleitoral para a manhã do 5 de Outubro, o discurso socialista apareceu afinado. Costa tinha definido uma agenda do que parece não abdicar, em nome do PS. E recordou que, no dia seguinte, era o dia de valores da "igualdade, fraternidade e liberdade".

O agora presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, na qualidade de anfitrião das comemorações oficiais da implantação da República, afirmou - já na parte final do seu breve discurso - que "mais do que noutros momentos é essencial fazer deste novo ciclo político que agora se abre um novo ciclo de compromissos estratégicos tendo em vista o progresso social do nosso país".

E sublinhou os objetivos em que se devem ancorar esses entendimentos: "Compromissos em torno da nossa participação na moeda única. Compromissos em torno de um crescimento económico baseado na qualificação dos nossos recursos humanos, na dignidade do trabalho e na capacidade de inovar. Compromissos em torno da sustentabilidade de um Estado social universal e equitativo." E rematou: "É a melhor homenagem que podemos fazer àqueles que há 105 anos proclamaram o Portugal da liberdade, da igualdade e da fraternidade."

Numa plateia de ausentes (além de Cavaco Silva, também Passos Coelho, Paulo Portas e mesmo António Costa), Fernando Medina notou que este "não é um exercício fácil". E definiu que "este é o tempo dos partidos que têm agora de dar resposta às mensagens que os portugueses lhes impuseram: conciliar a pertença à Europa e à moeda única, com a mudança nas políticas económicas e sociais e num quadro de negociação pluripartidária", que parecem fechar a porta ao BE e ao PCP, que questionam a pertença ao euro.

Compromisso, diz Medina e PSD

O sucessor de Costa na autarquia da capital defendeu - sobre as "três mensagens fundamentais" deixadas pelos eleitores - que estas são as "escolhas soberanas dos portugueses e nenhum partido tem o direito de deixar o país refém da instabilidade e da sucessão de crises políticas". Para logo definir "as exigências que todos têm pela frente", nomeadamente "aqueles que assumirão as responsabilidades diretas da governação do país": "Negociação, compromisso e estabilidade."

Compromisso foi também a palavra ontem utilizada pela Comissão Política Permanente do PSD - reunida para analisar os resultados eleitorais das eleições legislativas, "que conferiram uma vitória clara à coligação" (ver pág. 6) - ao notar que "os maiores partidos portugueses" estão responsabilizados "numa cultura de compromisso".

Paula Sá e Miguel Marujo – Diário de Notícias

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