Presidente
não deverá pressionar os partidos para um governo mais alargado, mas vai tentar
os consensos mais amplos possíveis.
O
Presidente da República, que se resguardou neste 5 de Outubro, dia da
implantação da República, quer acelerar todo o processo de formação de governo.
Hoje às 18.00 recebe já o líder da coligação Portugal à Frente, a vencedora das
legislativas, e deverá prosseguir na ronda de contactos com os partidos.
Depois
de ouvir todas as forças políticas, Cavaco Silva vai convidar Pedro Passos
Coelho a formar governo. Tanto mais que a coligação PSD-CDS não só teve mais
mandatos como obteve uma votação superior à do PS.
O
líder social-democrata prepara-se para apresentar a Cavaco um projeto político
de coligação para governar, um pouco à imagem do que aconteceu em 2011. Matos
Correia foi ontem mandatado pelo PSD para ultimar, com um representante do
CDS-PP, "uma proposta de acordo político de governo".
E
nem o facto de se ter desenhado no domingo uma maioria de esquerda no
Parlamento deixa o Chefe do Estado menos tranquilo nesta decisão. Em Belém
considera-se um "ponto de partida" para a formação de governo - e até
de alguma estabilidade política - as palavras de António Costa na hora em que
reconheceu a derrota do PS.
A
rejeição do líder socialista à possibilidade de uma "maioria
negativa", leia-se PS, BE, PCP e "Os Verdes", mandar abaixo um
executivo PSD-CDS sem qualquer alternativa de governo tranquilizou Belém.
O
DN sabe que Cavaco não deverá, por isso, pressionar os partidos para um governo
mais alargado, em que participasse o PS. O que não quer dizer que Cavaco Silva
tenha desistido de tentar os consensos mais alargados possíveis, tal como pediu
antes da campanha eleitoral.
O
Presidente não conta nesta equação com a possibilidade de o PS entrar em
ebulição, e a liderança de Costa vir a ser posta em causa - já está a ser (ver
págs. 12 e 13). Em Belém entende-se que o líder socialista, que entendeu não se
demitir apesar da derrota eleitoral, tem toda a legitimidade para se pronunciar
sobre as soluções de governo.
Da
noite eleitoral para a manhã do 5 de Outubro, o discurso socialista apareceu
afinado. Costa tinha definido uma agenda do que parece não abdicar, em nome do
PS. E recordou que, no dia seguinte, era o dia de valores da "igualdade,
fraternidade e liberdade".
O
agora presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, na qualidade
de anfitrião das comemorações oficiais da implantação da República, afirmou -
já na parte final do seu breve discurso - que "mais do que noutros
momentos é essencial fazer deste novo ciclo político que agora se abre um novo
ciclo de compromissos estratégicos tendo em vista o progresso social do nosso
país".
E
sublinhou os objetivos em que se devem ancorar esses entendimentos:
"Compromissos em torno da nossa participação na moeda única. Compromissos
em torno de um crescimento económico baseado na qualificação dos nossos
recursos humanos, na dignidade do trabalho e na capacidade de inovar.
Compromissos em torno da sustentabilidade de um Estado social universal e
equitativo." E rematou: "É a melhor homenagem que podemos fazer
àqueles que há 105 anos proclamaram o Portugal da liberdade, da igualdade e da
fraternidade."
Numa
plateia de ausentes (além de Cavaco Silva, também Passos Coelho, Paulo Portas e
mesmo António Costa), Fernando Medina notou que este "não é um exercício
fácil". E definiu que "este é o tempo dos partidos que têm agora de
dar resposta às mensagens que os portugueses lhes impuseram: conciliar a
pertença à Europa e à moeda única, com a mudança nas políticas económicas e
sociais e num quadro de negociação pluripartidária", que parecem fechar a
porta ao BE e ao PCP, que questionam a pertença ao euro.
Compromisso,
diz Medina e PSD
O
sucessor de Costa na autarquia da capital defendeu - sobre as "três
mensagens fundamentais" deixadas pelos eleitores - que estas são as
"escolhas soberanas dos portugueses e nenhum partido tem o direito de
deixar o país refém da instabilidade e da sucessão de crises políticas".
Para logo definir "as exigências que todos têm pela frente",
nomeadamente "aqueles que assumirão as responsabilidades diretas da
governação do país": "Negociação, compromisso e estabilidade."
Compromisso
foi também a palavra ontem utilizada pela Comissão Política Permanente do PSD -
reunida para analisar os resultados eleitorais das eleições legislativas,
"que conferiram uma vitória clara à coligação" (ver pág. 6) - ao
notar que "os maiores partidos portugueses" estão responsabilizados
"numa cultura de compromisso".
Paula
Sá e Miguel Marujo – Diário de Notícias
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