Mariana
Mortágua – Jornal de Notícias, opinião
Em
2011, Passos Coelho prometia não levar para o Governo "amigos, colegas ou
parentes, mas sim os mais competentes". Para isso até criou a Comissão de
Recrutamento e Seleção para a Administração Pública (CReSAP). O leitor pode
espantar-se, mas é esse mesmo Governo que acaba por fazer 14 nomeações
definitivas para os Centros Distritais da Segurança Social, todas atribuídas a
quadros do PSD e do CDS. E logo no Ministério de Mota Soares, campeão da
demagogia antitacho.
O
que é que aconteceu? Ao que parece, a incapacidade da CReSAP para realizar
todos os concursos bastou para que fossem feitas várias nomeações de
substituição, livres de quaisquer regras. Chegado o momento do concurso, esse
tempo de substituição exercido nos cargos da Administração Pública contou como
"experiência" no currículo destes militantes.
Os
cargos intermédios também estão fora do crivo da CReSAP. E por isso foi
possível ao Governo, já depois de convocadas as eleições, contornar a suas
próprias regras e nomear centenas de dirigentes para a Função Pública. Segundo
consta, no Ministério da Defesa até foram criados novos cargos na semana
anterior às legislativas.
Apesar
de todo o seu moralismo e arrogância, Passos Coelho não cumpriu nada do que
prometeu. Só a hipocrisia do discurso se tornou mais sofisticada.
A
nomeação de fiéis do partido para lugares no Estado é uma forma de recompensa
às tropas, mas não é só isso. Em áreas tão delicadas como a Segurança Social, o
assalto às esferas de direção possibilita a concretização de uma visão
ideológica, sem escrutínio ou contestação. Por isso ninguém desafia ou
denuncia, e por isso é tão difícil travar o desmantelamento dos serviços de
proteção social ou a sua entrega a instituições privadas (também elas, muitas
vezes, controladas pela Direita).
Saibamos
separar o trigo do joio. A Administração Pública não se confunde com os
"boys", muitas vezes incompetentes, colocados pelos partidos nos
cargos dirigentes. Além deles, existe o esforço dos seus trabalhadores.
Funcionários e quadros que o Governo prometeu proteger para acabar com os
tachos, vindo a fazer exatamente o contrário.
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