Pedro
Ivo Carvalho – Jornal de Notícias, opinião
Há
mais de um ano, quando a Guiné Equatorial aderiu à Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa (CPLP) - sob um coro de protestos, mas perante a complacência
sinuosa de oito governos, Portugal incluído -, garantiram-nos que o futuro do
país comandado há 37 anos por um ditador ia ser risonho. Que a integração nesta
comunidade de nações com a qual não havia qualquer laço (petróleo excluído) ia
funcionar como um filtro para as más práticas. Que o presidente Teodoro Obiang
ia aprender a respeitar os direitos humanos e o primado da paz. Que ia abolir a
pena de morte. Que a língua portuguesa passaria a oficial e que, mais mês menos
mês, Pessoa e Camões seriam motivos fúteis para entabular conversa nos cafés de
Malabo, a capital. Ergueu-se uma espessa cortina de hipocrisia e houve quem
fizesse figas, de olhos fechados, para que desse certo. Ora, não deu. A pena de
morte mantém-se, o Português foi ensinado, durante três longos meses, a sete
(sete!) funcionários do Estado (num país com cerca de 700 mil habitantes) e os
direitos humanos ainda não ganharam estatuto de direitos. Agora, Obiang quer
cortar os tendões dos pés aos delinquentes para que o povo os reconheça na rua.
E o que faz o Governo de Portugal? Lamenta "veementemente". Desconfio
que até os sete aprendizes de Português sabem o que isso (não) significa.
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