sábado, 21 de novembro de 2015

CPL QUÊ?



Pedro Ivo Carvalho – Jornal de Notícias, opinião

Há mais de um ano, quando a Guiné Equatorial aderiu à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) - sob um coro de protestos, mas perante a complacência sinuosa de oito governos, Portugal incluído -, garantiram-nos que o futuro do país comandado há 37 anos por um ditador ia ser risonho. Que a integração nesta comunidade de nações com a qual não havia qualquer laço (petróleo excluído) ia funcionar como um filtro para as más práticas. Que o presidente Teodoro Obiang ia aprender a respeitar os direitos humanos e o primado da paz. Que ia abolir a pena de morte. Que a língua portuguesa passaria a oficial e que, mais mês menos mês, Pessoa e Camões seriam motivos fúteis para entabular conversa nos cafés de Malabo, a capital. Ergueu-se uma espessa cortina de hipocrisia e houve quem fizesse figas, de olhos fechados, para que desse certo. Ora, não deu. A pena de morte mantém-se, o Português foi ensinado, durante três longos meses, a sete (sete!) funcionários do Estado (num país com cerca de 700 mil habitantes) e os direitos humanos ainda não ganharam estatuto de direitos. Agora, Obiang quer cortar os tendões dos pés aos delinquentes para que o povo os reconheça na rua. E o que faz o Governo de Portugal? Lamenta "veementemente". Desconfio que até os sete aprendizes de Português sabem o que isso (não) significa.

Sem comentários:

Mais lidas da semana