Emildo Sambo -
@Verdade
Folgado
e tranquilo, o Governo voltou à Assembleia da República (AR), na quarta-feira
(04), para novamente prestar informações às bancadas da Frelimo, da Renamo e do
MDM sobre a “caça” e assassinato de albinos, perseguição a Afonso Dhlakama,
gestão e saúde das empresas públicas participadas pelo Estado, e, porém,
interagiu com deputados aparentemente a “leste” das perguntas colocadas pelas
bancadas de que são membros. O Executivo não encontrou dificuldades para
repetir o que já era de domínio público, pois, se da Frelimo já se esperava a
vassalagem de costume, era suposto a oposição encurralar e domesticar o
Governo, colocá-lo numa camisa-de-força e fazê-lo suar com questões de fundo, o
que não passa de miragem porque ali mais tempo é dedicado a confrontos verbais,
com as facções de Filipe Nyusi e Afonso Dhlakama a mostrarem a sua eterna
rivalidade.
Na
verdade, o que ficou patente é que de um Parlamento com um partido no poder
domesticado e acrítico às acções do seu Governo, e uma oposição sem uma ordem
pedagógica para estreitar e endireitar o Executivo quando se furta a prestar
informações consistentes sobre o que faz para tornar a vida do povo mais digna,
não se pode esperar grandes coisas.
Carlos
Agostinho do Rosário, primeiro-ministro, foi quem começou, como de praxe, por
se dirigir aos moçambicanos, por intermédio dos deputados. No que tange à
alegada perseguição a Afonso Dhlakama – uma pergunta colocada pela Renamo – na
sua intervenção, o governante reproduziu o discurso de quem o colocou no poder,
segundo o qual “como Chefe de Estado, primarei pela abertura ao diálogo
(...).Podem estar certos, caros compatriotas, de que tudo farei para que, em
Moçambique, jamais irmãos se voltem contra irmãos, seja a que pretexto for”.
Antes
de chamar os seus subalternos para o secundarem, em relação às cheias e à seca,
Carlos Agostinho disse, em resposta à Frelimo, que a situação está a ser
monitorada “em cada distrito” e têm sido disponibilizadas informações úteis
para que a população tome as devidas precauções e medidas com vista a fazer
face ao problema. Estão a ser promovidas culturas “tolerantes à seca,
construção de barragens para a conservação de água da chuva e abertura de mais
furos (...)”.
A
uma questão colocada pelo MDM, que diz respeito à gestão e saúde das empresas
públicas participadas pelo Estado, o Primeiro-Ministro respondeu que das 280
firmas que o Estado herdou aquando da independência, privatizou 220 e o
processo prossegue à medida que decorre a restruturação das mesmas. Segundo
ele, pelo menos sete mil trabalhadores, que se tornaram accionistas, já foram
beneficiados por esta iniciativa. “O Estado mantém 60 empresas” distribuídas
pelos ramos da indústria transformadora, passando pelos transportes e
comunicações à construção e infra-estruturas.
O
partido liderado por Daviz Simango considerou que a informação prestada por
Carlos Agostinho não era consiste, sendo sintética e omissa, segundo afirmou a
deputada Laurinda da Silva. Por sua vez, num discurso torpedeado por adjectivos
desabonatórios, o que fez a Presidente da Assembleia da República (AR),
Verónica Macamo, pedir para que se pautasse pelo decorro, Venâncio Mondlane
pediu informações detalhadas sobre cada companhia participada pelo Estado e
indicou que nelas há desmandos e irregularidades que deviam ser investigados e
os seus mentores punidos.
Adriano
Maleiane, ministro da Economia e Finanças, foi chamado para atender ao pedido
do MDM mas não esteve à altura para o efeito alegadamente porque cada empresa
em questão continha informações detalhas cuja exposição, sobretudo oral, num
foro como o Parlamento, não tinha lugar. Aliás, o governante justificou-se
ainda afirmando que o Governo trouxe o que a bancada pediu, ou seja, “quantas
empresas públicas participadas pelo Estado existem e a saúde financeira de cada
uma delas”.
Crime
contra albinos
Como
em quase todos outros crime, a investigação que o Governo diz estar a fazer
para conter os maus-tratos e as ofensas corporais a que os albinos são sujeitos
não lhe permite saber quem manda “caçar” e, na pior das hipóteses, assassinar
este segmento populacional que desde princípios deste ano vive em pânico devido
à crença em supostos benefícios de partes do seu corpo. Na sessão de
quarta-feira, Abdurremane de Almeida, ministro da Justiça, Assuntos
Constitucionais e Religiosos, disse que 91 indivíduos estão implicados no caso,
dos quais 56 detidos e 35 respondem às acusações em liberdade.
Do
total de gente presa em conexão com o crime em alusão apenas oito é que foram
julgados e condenados a 20 anos de prisão. De acordo com Abdurremane de
Almeida, que apelou à população e aos deputados para que denunciem actos de
selvajaria contra gente com falta de pigmentação na pele, nos olhos, nos
cabelos e nos pelos, a cidade de Nampula e os distritos de Malema, Memba,
Larde, Angoche, Nacala-Porto, Monapo e Ribáwè são os mais problemáticos. Em
Niassa, Cabo Delgado e Inhambane há focos da mesma tragédia contra os albinos.,
com cinco, três e dois casos em cada um destes pontos.
Um
dos desafios apontados por Almeida é a necessidade de se acelerar a tramitação
de processos que envolvem as pessoas acusados de tráfico e morte de albinos.
Conflito
político-militar
Mais
uma vez, o Executivo deixou sinais de que os confrontos entre as Forças de
Defesa e Segurança (FDS) e os guerrilheiros da Renamo são um assunto de ordem e
segurança pública; por isso, quem foi ao Parlamento responder à pergunta da
Renamo sobre a perseguição ao seu líder é o ministro do Interior, Jaime
Monteiro, o qual declarou que não há e nunca houve intenção de aniquilar Afonso
Dhlakama, ao contrário do que os seus sectários têm dito.
Depois
de efectuar uma cronologia com dados “viciados” sobre os acontecimentos de
Vanduzi e Zimpinga, em Manica, empurrando todas as responsabilidades sobre os
ataques à Renamo, Jaime Monteiro disse que 20 anos de depois não faz sentido
que este partido reclame a posse de armas de fogo com base no Acordo Geral de
Paz.
“A
não atribuição do Estatuto militar e policial aos elementos” da “Perdiz”
deve-se “apenas à falta de vontade política dos seus dirigentes”, considerou o
ministro e apelou para que a entregada dos instrumentos bélicos seja
voluntária, pois, caso contrário, serão recolhidos nos mesmos moldes da recente
operação na Beira. Nesta quinta-feira (05), há perguntas de insistência ao
Governo.
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