A
audição do rapper e activista Luaty Beirão, o sétimo de 17 réus em julgamento,
em Luanda, acusados de actos preparatórios de uma rebelião, terminou hoje sem
que o activista tivesse respondido às perguntas do Ministério Público (MP).
Luaty
Beirão, que estava a ser ouvido pelo segundo dia, manteve-se em silêncio
durante as quase duas horas de perguntas feitas pelo MP, que apresentou provas
como um quadro utilizado nas palestras que o grupo de activistas realizaria
para discutir as estratégias da obra "Ferramentas para Destruir o Ditador
e Evitar uma Nova Ditadura, Filosofia da Libertação para Angola", de
Domingos da Cruz, também acusado neste processo.
Em
declarações à imprensa, o advogado de defesa, Luís do Nascimento, considerou as
questões colocadas pelo MP, sobre as reuniões, intenções e participação dos
vários elementos, como "um autêntico delírio" e que não têm
"correspondência com a realidade".
"De
resto, a grande prova que foi presente é um quadro, e com a leitura daquele
quadro não se consegue ver onde é que está o crime de rebelião ou de atentado
contra o Presidente da República e outros órgãos de soberania", frisou
Luís do Nascimento.
No
quadro apresentado hoje como prova, estavam traçados alguns esboços, onde se
podiam ler as palavras "manipulação", com setas a indicar para
"imprensa, instituições religiosas e educação", e ainda num outro
canto do quadro "repressão", com setas a indicar "JES",
acrónimo de José Eduardo dos Santos, por sua vez, para os acrónimos UGP, FAA,
PN, e judicial.
"A
prova que aparece é a do quadro, mas o quadro vamos ver, vamos discutir, mas
não sei que prova. Só pelo facto de estarem as iniciais do nome do Presidente
da República, acho que isso não é crime", ironizou.
Na
sessão de hoje foram igualmente apresentados dois vídeos, que a acusação vai
pedir a sua transcrição, com imagens de dois encontros realizados pelos jovens
activistas, antes da operação de detenção dos 15 arguidos - outras duas estão a
ser julgadas em liberdade -, a 20 de Junho deste ano.
Nos
vídeos aparecem com maior destaque os réus Domingos da Cruz e Luaty Beirão.
Segundo
Luís do Nascimento, a defesa vai solicitar a transcrição dos mesmos para
análise do seu conteúdo e "se mostrar que aquilo não é crime, é uma
discussão, uma conversa, na nossa roda de amigos".
"Acho
que se se gravasse uma série de conversas, das que se tem em casa, acho que
pelo menos 70, 80 por cento da população angolana estava presa", ironizou.
O
final da manhã e início da tarde serviu ainda para a defesa interrogar Luaty
Beirão.
Questionado
se considerava estar a cometer um crime por afirmar que Angola é uma
pseudodemocracia e que o Presidente da República é um ditador, o rapper negou
que seja crime.
Na
sessão de terça-feira, Luaty Beirão afirmou que Angola é uma pseudodemocracia,
voltando a apelar à saída do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos.
A
sessão prossegue na quinta-feira, na 14.ª Secção do Tribunal Provincial de
Luanda, em Benfica, com a audição de Arante Kivuvu, o sétimo dos 17 ativistas
em julgamento desde o passado dia 16 de Novembro.
Lusa,
em Maka Angola
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