A
operadora Unitel, da empresária angolana Isabel dos Santos (filha de José
Eduardo dos Santos, presidente da República nunca nominalmente eleito e há 36
anos no poder), está contra o projecto de cisão das unidades africanas do BPI
proposto pela administração do banco.
Esta
informação consta do comunicado hoje enviado à Comissão do Mercado de Valores
Mobiliários (CMVM) de Portugal pelo BPI, no qual dá conta do registo em
conservatória do projecto de cisão das operações que o banco tem em África.
Segundo
esse projecto, ficaria numa unidade separada a participação de 50,1% no BFA –
Banco de Fomento Angola e, em Moçambique, de 30% no Banco Comercial e de
Investimentos e de 100% no BPI Moçambique – de modo a ultrapassar as regras do
Banco Central Europeu (BCE) que limitam os grandes riscos e que aumentam as
necessidades de capital no caso da exposição a países como Angola, que
Frankfurt considera que não tem uma supervisão equivalente à sua.
Em
Setembro, o projecto de cisão foi anunciado, mas para ir em frente tem de ser
aprovado pelo espanhol Caixabank (maior accionista do BPI, com 44,1% do
capital) e pela angolana Santoro, da empresária Isabel dos Santos (segunda
maior accionista, com 18,6%).
Isabel
dos Santos tem ainda mais poder de veto, uma vez que também é accionista do BFA
– Banco Fomento Angola, através da operadora angolana Unitel, onde detém uma
participação de 25%.
No
comunicado hoje enviado ao mercado, é referida precisamente a Unitel, referindo
o banco que em cartas de 14 e 26 de Outubro a empresa de telecomunicações
indicou a sua posição de “não dar o seu consentimento à transmissão por cisão
da participação do Banco BPI no BFA”, considerando que existem “diversas
alternativas que poderiam optimizar os interesses de ambas as partes e que
estava disponível para as analisar e discutir”.
O
BPI diz que depois disto a Comissão Executiva do banco, liderada por Fernando
Ulrich, “promoveu um conjunto de actuações que envolveram conversações com a
Unitel e com os dois maiores accionistas do Banco BPI (CaixaBank e Santoro
Finance) com vista a definir ajustamentos aos termos da cisão que permitissem
obter uma alteração desta posição da Unitel”.
O
banco que diz que “estas conversações decorreram de forma construtiva mas até
ao momento não permitiram alcançar os ajustamentos aos termos da cisão que
permitissem conciliar aquele objectivo com os aspectos de ordem regulatória [do
BCE] que se torna necessário acautelar”.
Ainda
de acordo com o banco, houve uma reunião do Conselho de Administração para
prosseguir com o projecto de cisão, o que passa pelo registo e a convocação de
assembleia-geral – sendo que nessa reunião tal foi aprovado “apenas com o voto
contra do administrador Mário Silva”, representante da angolana Santoro.
A
operação do BPI em Angola é a sua ‘jóia da coroa’, tendo até Setembro
representado 70% do lucro que o banco português conseguiu, isto é, 105 dos 151
milhões de euros totais.
De
acordo com a informação de analistas do sector bancário, umas das alternativas
que estão a ser estudadas para contornar as regras do BCE poderá passar pela
redução da participação actual do BPI na unidade angolana pela venda de uma
parte adicional do BFA à Unitel, ficando assim o banco sem posição maioritária.
Folha
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