Miguel
Guedes – Jornal de Notícias, opinião
O
líder partidário há mais tempo no activo anunciou um novo concurso de
caça-talentos quinzenal para metade dos deputados da sua bancada parlamentar.
Perante a ameaça de inverno rigoroso, o gosto pela hibernação voltou e é,
reconhecidamente, um prazer antigo do Paulo Portas político que evolui perante
os nossos olhos desde que foi eleito presidente do CDS em 98. Com uma curta
hibernação - lá está - de dois anos (entre a derrota nas legislativas de 2005 e
a queda de José Ribeiro e Castro em 2007), o actual líder do CDS-PP brindou-nos
com 16 anos de prática política activa e não consta que derive para um regresso
ao passado, num fluxo de "irrevogável" para "independente",
recuperando as suas lides jornalísticas de mel e fel. Paulo Portas anunciou que
se afasta porque, pura e simplesmente, o poder deixou de passar por ali. E
Portas não se vê ao espelho como vice-líder da oposição. Mais uma vez, analisa
bem e a frio.
A
primeira conclusão que se precipita como gotas de chuva no Inverno à Direita
aproxima-se de um dilúvio: já ninguém acredita que o acordo à Esquerda dure
apenas um ou dois anos. E esse período climático dá mais do que ensejo para
vários chapéus de chuva e tacticismos de "golpe da caneta".
Recordando o momento, à boca de urna interna. Aquele em que Manuel Monteiro (na
altura, presidente do CDS) se dirigiu ao local de voto de caneta em riste e foi
acusado de votar em branco, evitando a eleição do candidato único Paulo Portas
como líder parlamentar centrista fruto do peso dos votos em branco e fazendo com
que vários deputados do partido abandonassem o barco até Portas se coroar líder
pouco tempo depois. Se, na altura, a caneta do líder foi um instrumento para o
assalto à liderança, ninguém como Portas depois instrumentalizou tão fortemente
a política portuguesa. Com indesmentível inteligência e mesmo que agora com a
legítima vontade de vida própria, fica claro que a lógica que o mantinha ligado
à política como vice-primeiro ministro era aquela, sinuosa, de quem só admite
rodar a "geringonça" desde que tenha o poder na mão para a rodar a
seu bel-prazer.
A
"abrilada" absolutista de Portas no CDS-PP acabará em Abril e em
Congresso. Mas o PP não cai da sigla, maduro de velho. A corrida para a
sucessão no partido começa bem antes nos debates quinzenais com António Costa,
onde os vice-presidentes do partido e do grupo parlamentar usarão da
rotatividade para exprimirem voz própria ou afincada imitação. Mesmo com o
afastamento de Portas, o seu "show" pessoal continuará a ser líder de
influências. Para o futuro líder do CDS-PP, a vida sempre com uma constante
incerteza: um jogador como Paulo Portas nunca soletrará um "Game
Over".
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