Os
imigrantes alemães, desde os primórdios da imprensa gaúcha, no século 19,
criaram jornais, visando a agregar e a informar a comunidade teuta. Em 25 de
julho de 1824, desembarcou a primeira leva de 39 imigrantes alemães na Real
Feitoria do Linho Cânhamo (São Leopoldo), Passados três anos, começou a
circular, em 1º de junho de 1827, o primeiro jornal da Província de São Pedro,
o Diário de Porto Alegre (1827-1828), inaugurando a imprensa no extremo sul do
Brasil.
A
referência mais antiga, na Província gaúcha, embora o jornal fosse impresso em
português, ocorreu durante a Revolução Farroupilha (1835-1845). No ano de 1836, foi criado O Colono Alemão.
Impresso em Porto Alegre, pelo fato de que não havia tipografia na Colônia de
São Leopoldo, o jornal de Hermann Von Salisch incitava os colonos a
participarem da guerra. Este periódico encerrou a sua circulação, naquele mesmo
ano, devido a problemas econômicos.
De
acordo com o jornalista e pesquisador Sérgio Dillenburg, em seu livro, A
imprensa em Porto Alegre de 1845 a 1870, o pioneirismo de um periódico,
impresso em alemão, na América Latina, é do jornal Der Kolonist. A ideia nasceu em Porto Alegre, no ano de
1852, sob a responsabilidade de José Cândido Gomes que visava a conquistar
adeptos alemães nas eleições.
Em
São Leopoldo, a população constava de alemães católicos e protestantes, cuja
divergência doutrinária gerava intensos conflitos com a participação da
imprensa local. Os protestantes não tinham o apoio do governo que os preteria,
favorecendo os católicos. No ano de 1870, quase metade da população local,
estimada em 1.100 habitantes, era evangélica e, no entanto, os cemitérios na
região eram todos católicos. Os matrimônios, entre protestantes, eram considerados
nulos, e os filhos não tinham o direito à herança. Diante desse quadro de
exclusão, os jornais se constituíam numa ferramenta de denúncias e
reivindicações da população de orientação protestante.
Em
março de 1871, fundou-se, em São Leopoldo, o jornal católico Deutsche
Volksblatt (Gazeta Popular Alemã), para responder as críticas dos evangélicos e
maçons. O jornalista Jacob Dillenburg era o redator e o responsável pelo
jornal. Em 1891, ele passou a ser impresso em Porto Alegre na Tipografia do Centro
Católico e Hugo Metzler se tornou o seu proprietário. Em setembro de 1895, em
decorrência de um artigo crítico à
figura de Giuseppe Garibaldi (1807- 1882), a tipografia foi depredada por um
grupo de italianos inconformados com a matéria que julgaram macular a memória
do herói italiano.
Durante
a 1ª Guerra Mundial (1914-1918), o jornal foi proibido de circular em língua
alemã e passou a denominar-se Gazeta Popular, sofrendo, novamente, uma
depredação em abril de 1917. Conforme o
jornalista e escritor Walter Galvani, em sua obra, A Noite do Quebra-Quebra
(1993), durante a 2ª Guerra Mundial (1939-1945), em 1942, o jornal foi
depredado, em 18 de agosto, numa noite que ficou conhecida como o
“Quebra-Quebra”. A causa dessa depredação foi o torpedeamento de navios
brasileiros por submarinos alemães em nossa costa marítima. Depois desse triste
episódio, o jornal ressurgiu com o nome de A Nação. É uma contradição este
ataque à tipografia, pois o jornal não compactuava com as ideias de Adolf
Hitler (1889-1945).
Com
várias fatalidades em sua trajetória, em 1956, o jornal sofreu um incêndio que
destruiu por completo a tipografia. Em sua fase final, durante os anos 60, o
Deustche Volksblatt, depois Neues Deustches Volksblatt, circulou, em alemão,
como um encarte de A Nação. Este periódico foi um marco de resistência às
adversidades da época, tanto no campo político quanto no aspecto
socioeconômico.
Segundo
o historiador Sérgio da Costa Franco, em seu Dicionário Político do Rio Grande
do Sul (2010), as críticas aos católicos se davam, principalmente, no jornal
Deutsche Zeitung (1861-1917) criado, em Porto Alegre, por um grupo de
comerciantes teutos. Neste periódico, o notável jornalista Carlos Von Koseritz,
(1830-1890) disparava suas críticas ferinas, pois era maçom e anticlerical. No
ano de 1881, o jornalista Koseritz se afastou do Deutsche Zeitung (1861-1917) e
fundou o Koseritz Deutsche Zeitung que, mais tarde, em 1906, se transformou no
Neue Deutsche Zeitung.
O
Der Bote (1867-1878), de Julius Curtius Filho e Wilhelm Rotermund, foi o
primeiro jornal evangélico a circular em São Leopoldo, fazendo forte oposição
aos católicos e denunciando os privilégios da comunidade católica. Ainda, na
mesma cidade, foi criado o importante Deutsche Post (1880-1928) do pastor
Wilhelm Rotermund que combatia de forma incisiva a Igreja Católica. O jornal
informava também sobre literatura, a política do imigrante alemão, sua produção
artesanal, industrial e o lazer social.
A
Revolta dos Muckers (1873 -1874), liderada pelo casal João Jorge Maurer e Jacobina Mentz Maurer, foi
registrada nas páginas do Der Bote (protestante) e do Deutsche Volksblatt
(católico) diante do conflito que se transformou numa verdadeira guerra no
Morro do Ferrabrás, em Sapiranga. O
confronto com o Exército Imperial foi inevitável, ocorrendo uma chacina,
inclusive, dos líderes.
Impressos
anualmente, os almanaques alemães eram bastante ricos em informação, a exemplo
do Koseritz Deutsche Volkskalender (1873-1891) e do Kalender für Deutschein Brasilien
(1881-1939).
Carlos
Von Koseritz, (1830-1890), entre outros nomes, é um dos ícones da imprensa
alemã, em nosso Estado, pois colaborou em importantes periódicos na capital e
no interior da província. Na imprensa gaúcha, sua presença ficou conhecida como
a “Era Koseritz”. Contratado por dom Pedro II, ele integrou a Legião Alemã – os
Brummer - para lutar contra o ditador Rosas da Província de Buenos Aires.
Koseritz não se adaptou ao contexto da guerra e desertou, encontrando no
magistério e no jornalismo um terreno fértil para atuar.
No
Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, o Museu da Comunicação Hipólito José da
Costa, criado em 10 de setembro de 1974, tem sob sua guarda alguns dos títulos
citados nesse artigo, cumprindo o papel para o qual foi criado: guardar,
preservar e difundir a memória dos meios de comunicação do nosso Estado.
*Pesquisador
e coordenador do Setor de Imprensa do Musecom
Bibliografia
DILLENBURG,
Sérgio Roberto. A Imprensa em Porto Alegre de 1845 a 1870. Porto Alegre:
Editora Sulina, 1987.
ERICSEN,
Nestor. O Sesquicentenário da Imprensa Rio-Grandense. Porto Alegre:
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Sérgio da Costa. Dicionário Político do
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MIRANDA,
Marcia Eckert; LEITE, Carlos Roberto Saraiva da Costa. Jornais raros do
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SILVA,
Jandira M. M. da; CLEMENTE, Ir. Elvo; BARBOSA, Eni. Breve Histórico da
Imprensa Sul- Rio- Grandense. Porto Alegre: CORAG, 1986.
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