Ana
Sá Lopes – jornal i, opinião
O
tempo de Paulo Portas no CDS acabou. Mesmo para a fénix mais bem sucedida da
política portuguesa haveria um dia em que as coisas teriam que acabar. Portas
fez bem: depois de António Costa ter conquistado o governo com a “gerigonça”
(expressão inventada pelo melhor inventor de expressões, Portas, lui-même), o
CDS obteve uma derrota política
Que
ficava a fazer Paulo Portas à frente do CDS depois de uma derrota política, que
se seguia a um ciclo em que, no governo, o CDS tinha estraçalhado a confiança
de muito do seu antigo eleitorado, os pensionistas e idosos? Como vê muito mais
à frente do que todos os outros, Portas percebeu, assumiu e interiorizou a
derrota da direita nas eleições de 4 de Outubro. Sim, a coligação ficou à
frente, mas não está no governo porque não tem apoio para isso e, em
consequência, acabou o processo com uma pesada derrota.
Portas
conduziu o CDS aos píncaros, levando-o a participar em três governos.
Rejuvenesceu o partido, tornou-o um bocadinho menos conservador, deu-lhe causas
depois das velhas causas que o criaram no pós 25 de Abril se terem esgotado –
falamos da defesa da propriedade privada, do liberalismo económico e da
oposição ao “comunismo”. Com uma inteligência invulgar, uma capacidade de
comunicação incomparável à direita – sim, há Marcelo Rebelo de Sousa que está
prestes a tornar-se Presidente da República – Portas não deve acabar a sua vida
política por aqui. É verdade que era o líder partidário há mais anos em funções
– desde 1998 – mas tem pouco mais de 50 anos, uma idade em que ninguém se
reforma.
Portas
é um animal político. Como jornalista sempre foi um animal político. É um
animal político desde a adolescência. Os animais políticos podem hibernar uns
tempos mas só morrem de morte natural.
Se
a saída de Portas era necessária para terminar um ciclo, resta saber que CDS
vai existir depois de Portas. Os cemitérios estão cheios de insubstituíveis,
mas há uns mais insubstituíveis que outros.
Sem comentários:
Enviar um comentário