Maria Lopes – Público,
ontem
Comunistas insistem
na ideia de que este não é o programa do PCP, mas reconhecem o esforço para a
mudança de políticas e avisam que é preciso que se confirmem.
Poderá ser a
primeira cedência do PCP ao PS. Jerónimo de Sousa disse esta quinta-feira à
tarde, no encerramento do debate do programa do Governo socialista, que o PCP
tem a “consciência de que o povo não exige, nem quer tudo de uma vez”, mas
avisou que o mesmo povo “também não quer que se mude alguma coisa para ficar
tudo na mesma”.
Uma declaração que
acaba por ser uma contradição nítida em relação ao que o PCP sempre defendeu:
que todos os cortes de salários e pensões, assim como as sobretaxas deveriam
ser eliminados imediatamente e que o salário mínimo nacional deveria ser
aumentado para os 600 euros em 2016.
O secretário-geral
do PCP voltou na insistir na ideia de que este programa não é, “naturalmente”,
o programa do PCP. “Não seria exigível, reconhecidas que são as diferenças
programáticas, que o programa do Governo PS correspondesse ao conjunto de
opções e políticas que identificamos como necessárias para, de forma sólida,
dar resposta a questões estruturais que o país enfrenta e que PSD-CDS agravaram
exponencialmente”, argumentou Jerónimo de Sousa.
No entanto, é um
documento que acolhe as contribuições comunistas que resultaram de um “esforço
de convergência” dos dois partidos, enalteceu Jerónimo de Sousa. E
reconheceu: “[O programa afirma a] vontade de inverter o rumo das
políticas dos últimos anos e um propósito de mudança que desejamos que a vida
confirme.”
“O passo que se dá
agora é um passo importante para travar a ofensiva mais desenfreada destes anos
e que desejamos e esperamos seja um safanão na política das inevitabilidades
que cerca a vida dos portugueses”, disse o secretário-geral comunista, não sem
antes admitir a “visão distinta” do PS sobre as causas e as respostas de que o
país precisa para enfrentar a situação de crise. Jerónimo voltou a citar os
“constrangimentos internos e externos” – como os instrumentos financeiros
europeus – que são um “manifesto colete-de-forças” e que impedem o
desenvolvimento “soberano”.
Jerónimo de Sousa
fez uma crítica acesa da política do Governo PSD-CDS e da atitude dos dois
partidos nos dois dias deste debate, durante o qual optaram por uma “política
da terra queimada”, expressando “uma azedo mau perder”, ao apostarem numa
imagem de “iminente catástrofe no país” com um executivo PS.
À proposta de moção
de rejeição do programa do PS, o PCP responderá com um não “inequívoco”. “Já
chega de políticas de exploração, empobrecimento e retrocesso
civilizacional”, justificou o líder comunista. “Votaremos contra, porque
queremos manter aberta a janela da esperança que a luta dos trabalhadores e das
populações abriu”, acrescentou.
Apesar de tudo,
Jerónimo de Sousa considera que “está agora aberta uma nova fase na vida
política nacional susceptível de responder a muitos dos problemas mais
imediatos dos trabalhadores e do povo português”. Uma nova fase em que o
Governo PS tem agora as “condições” para entrar em funções e adoptar uma
política que assegure uma “solução duradoura na perspectiva da legislatura”.
Verdes enaltecem
medidas suas que PS integrou no programa
Os Verdes, tal como PCP e Bloco, vão chumbar a moção de rejeição do programa do
Governo proposta por PSD e CDS, porque querem “provar” a sua “determinação” em
entrar por uma “porta de esperança para a mudança” que consideram que o
executivo socialista representa.
A argumentação foi
dada pela deputada Heloísa Apolónia no encerramento do debate do programa do
Governo PS, que acrescentou que o partido ecologista tem uma “predisposição
séria e assumida de diálogo e de encontro de convergências”.
Heloísa Apolónia
enalteceu as medidas que o PEV conseguiu que o PS integrasse no seu programa de
governo, dando como exemplos, entre outros, os compromissos de garantia da não
privatização do sector da água, a reavaliação de um Plano Nacional de
Barragens, uma “visão estratégica diferente sobre os transportes”, com modos
mais sustentáveis de mobilidade e de coesão territorial, a travagem da
"eucaliptização", a defesa de serviços públicos de proximidade e o
reforço de meios para a conservação da natureza e da biodiversidade.
"É um programa
que Os Verdes assumiriam como o seu? Não, não é. Mas é um programa que contém
um conjunto de medidas emergentes que, fruto das convergências para as quais
também o PEV trabalhou com o PS, vão contribuir para melhorar a vida das
pessoas e, a partir daí, a vida do país", apontou a líder da bancada.
A deputada ecologista
aproveitou, no entanto, para dedicar metade do seu discurso a criticar a
direita e a sua “ilegítima pretensão de querer governar”, assim como a
“invenção manhosa do ‘arco da governação’” para criar o equívoco nas eleições
de que as legislativas serviam para eleger um primeiro-ministro e não 230
deputados. “Hoje, por determinação dos eleitores, que ditaram um resultado
eleitoral concreto, a vida política portuguesa centra-se onde é justo, correcto
e democrático centrar-se, ou seja, na Assembleia da República”, afirmou.
Leia mais em
Público
Sem comentários:
Enviar um comentário