sábado, 26 de dezembro de 2015

Uma “passada” sobre a votação de 23.12, dos deputados da ANP no Parlamento bissau-guineense



Abdulai Keita*, opinião

Como sempre nos últimos anos, aqui na migração, na Suíça, quando a situação se anuncia na minha terra natal, a Guiné-Bissau, de estar novamente à beira da perpetração e/ou de continuação de mais um acto de instabilidade político-civil e/ou, político-militar, fico sem sossego. Mas daqueles muito “sem-sossegos” muito terríveis, que levam a muita falta de sono durante noites e noites.

Vi-me mergulhado outra vez na mesma situação de espírito, sem querer; após ter apreendido no dia 11 de Dezembro do corrente que o Programa do Governo do PAIGC dirigido pela S. Exa. Sr. Eng°. Carlos Correia tinha sido entregue na ANP para efeitos de debate, aprovação (com críticas ou sem), mantimento em como está (status-quo = nha boka ka stá lá), ou rejeição pura e dura.

Bom. Não vale a pena reproduzir aqui os episódios ocorridos desde então no prédio “Colinas de Boé” do Alto-krim de Bissau. A sede da ANP. O mundo interessado no assunto viu e já sabe tudo.

Mas depois veio a hora “H” do dia de ontem (23.12.2015), onde o acto de votação teve lugar. Tendo produzido um dos jamais vistos episódios caricatos naquele órgão legislativo. Surpresa total. 56 abstenções; 45 votos a favor; e 0 votos contra.

Apreendi a nova pouco antes das 12h00 neste mesmo dia, via blogosfera. Estava prestes a sair da casa para umas pequenas compras com o meu netinho de 10 anos.

Vendo-me com aquela cara “grunho”, ele (meu neto), talvez preocupado, pergunta-me: “algo está mal, Papá (assim me chama)”?

A minha resposta pronta e a quente foi: “o Programa do Governo caiu na Guiné-Bissau, no Parlamento”.

Ele então continuando, carrega. “E agora”?

“Agora…, agora vai o país entrar na “sakalata” grande, se os deputados continuarem nesta mesma linha daqui em 15 dias”, expliquei.

De regresso em casa, telefono via Skype a um sobrinho, estudante de informática em Brasil. Depois dos “Salamaleikums”, eis a minha pergunta para ele. “O que contas sobre o voto do Programa na ANP, hoje”?

“O quê, hoje? Votaram? Não estou dentro do assunto”, respondeu noutro lado.

“Sim votaram”, disse eu. E passei à explicação dos resultados do voto. Seguida dos meus comentários, do genero feito ao meu neto.  Findo e para a minha surpresa, lá vem explicar-me o meu sobrinho.

“Heh, Titio, se é assim então o Programa passou. Não foi chumbado nada”.

“Passou? Como?” Foi a minha pergunta logo de seguida. 

“Passou”!, continuará ele. “Porque não houve nenhum voto contra, Titio. Isto é claro! Mesmo com os 56 abstenções. Passou! Porque imagine”, continuou ele tentando explicar-me, “o Primeiro-Ministro teria chegado à ANP e, apresenta o seu Programa; e que todos os 101 deputados tivessem dito: ‘oh, Senhor Primeiro-Ministro, nô boka ka stá lá’. Nós não temos nenhuma atitude acerca do seu Programa. Nem a favor e nem contra. Vai fazer o que quiser. Porque a abstenção, a não votação ou a votação em branca, é isto que significa! Ele então simplesmente ia arumar o seu Programa e ir-se embora; indo começar ou continuar o seu trabalho na base desse seu Programa, sobre o qual, efectivamente, os deputados ter-se-ão pronunciado não terem nenhuma atitude acerca. Nem contra, nem a favor. Claro! Eu, no seu lugar, arumava o meu Programa e ia continuar o meu trabalho. Sobretudo quando tem agora, ainda por cima, 45 votos,  sim. 0 votos, contra. O Programa passou”!, Titio, concluiu ele.

Contei ao meu concunho suíço (Historiador, diplomata em exercício e o autor, entre outros, do livro “Joseph KI-ZERBO, Para quando a África? Entrevista com René Holenstein”, PALLAS, 2006, Rio de Janeiro, 172 p.) a mesma “passada” de votação e teve a mesma reação e opinião.

Voltei hoje com essas reações e opiniões que partilho, já sem a cara “grunho”, à blogosfera e fui surpreendido com o artigo do “O Democrata GB” sobre um comunicado do PAIGC que vai no mesmo sentido. “Afinal o Programa foi aprovado”, se diz no documento (http://www.odemocratagb.com/comuni-cado-do-paigc-afinal-foi-aprovada-mocao-de-confianca-do-primeiro-ministro/; acessado no dia 24.12.2015).

Boa prenda de natal, disse-me a mim então. Para todos nós bissau-guineenses. Se todos os outros atores, nos principais postos de comando nas estruturas centrais do nosso Estado neste momento, também estiverem desta opinião. Opinião muito lógica.

Senão, que vão para o Supremo Tribunal de Justiça. Com a seguinte atitude bem democrata, legal e pacífica. Qualquer veredicto daí pronunciado deverá ser acatado incondicionalmente por todos os implicados.

Ao país seria assim evitado a transferência de mais um mau embrulho para o novo ano à porta. Mais um fardo de “sakalata” desnecessário.

E eu ia poder dormir, um pouco, mais à vontade. Podendo sobretudo comunicar ao meu netinho: “eh…, agora…, agora, a Guiné-Bissau não vai entrar nada mais uma vez na “sakalata” grande, dentro de 15 dias. Porque o Programa, afinal, passou com 45 votos, sim e 0 votos, contra. O resto, os 56 abstenções, talvez um lapso dos seus protagonistas em relação ao objectivo visado, não contam. Aliás, neste momento e situação, só interessa aos analistas”.

Aguardando, espero e desejo boa sorte a todos nós bissau-guineenses. Que, mais uma vez, prevaleça o BOM SENSO. Bons dias festivos e uma entrada de paz, felicidade e de muita tranquilidade no ano 2016.  

Amizade.

A. Keita (na foto)

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