Abdulai Keita*, opinião
Como
sempre nos últimos anos, aqui na migração, na Suíça, quando a situação se
anuncia na minha terra natal, a Guiné-Bissau, de estar novamente à beira da
perpetração e/ou de continuação de mais um acto de instabilidade político-civil
e/ou, político-militar, fico sem sossego. Mas daqueles muito “sem-sossegos” muito
terríveis, que levam a muita falta de sono durante noites e noites.
Vi-me
mergulhado outra vez na mesma situação de espírito, sem querer; após ter apreendido
no dia 11 de Dezembro do corrente que o Programa do Governo do PAIGC dirigido
pela S. Exa. Sr. Eng°. Carlos Correia tinha sido entregue na ANP para efeitos
de debate, aprovação (com críticas ou sem), mantimento em como está (status-quo
= nha boka ka stá lá), ou rejeição pura e dura.
Bom.
Não vale a pena reproduzir aqui os episódios ocorridos desde então no prédio
“Colinas de Boé” do Alto-krim de Bissau. A sede da ANP. O mundo interessado no
assunto viu e já sabe tudo.
Mas
depois veio a hora “H” do dia de ontem (23.12.2015), onde o acto de votação
teve lugar. Tendo produzido um dos jamais vistos episódios caricatos naquele
órgão legislativo. Surpresa total. 56 abstenções; 45 votos a favor; e 0 votos
contra.
Apreendi
a nova pouco antes das 12h00 neste mesmo dia, via blogosfera. Estava prestes a
sair da casa para umas pequenas compras com o meu netinho de 10 anos.
Vendo-me
com aquela cara “grunho”, ele (meu neto), talvez preocupado, pergunta-me: “algo
está mal, Papá (assim me chama)”?
A
minha resposta pronta e a quente foi: “o Programa do Governo caiu na
Guiné-Bissau, no Parlamento”.
Ele
então continuando, carrega. “E agora”?
“Agora…,
agora vai o país entrar na “sakalata” grande, se os deputados continuarem nesta
mesma linha daqui em 15 dias”, expliquei.
De
regresso em casa, telefono via Skype a um sobrinho, estudante de informática em
Brasil. Depois dos “Salamaleikums”, eis a minha pergunta para ele. “O que
contas sobre o voto do Programa na ANP, hoje”?
“O
quê, hoje? Votaram? Não estou dentro do assunto”, respondeu noutro lado.
“Sim
votaram”, disse eu. E passei à explicação dos resultados do voto. Seguida dos
meus comentários, do genero feito ao meu neto.
Findo e para a minha surpresa, lá vem explicar-me o meu sobrinho.
“Heh,
Titio, se é assim então o Programa passou. Não foi chumbado nada”.
“Passou?
Como?” Foi a minha pergunta logo de seguida.
“Passou”!,
continuará ele. “Porque não houve nenhum voto contra, Titio. Isto é claro!
Mesmo com os 56 abstenções. Passou! Porque imagine”, continuou ele tentando
explicar-me, “o Primeiro-Ministro teria chegado à ANP e, apresenta o seu
Programa; e que todos os 101 deputados tivessem dito: ‘oh, Senhor Primeiro-Ministro,
nô boka ka stá lá’. Nós não temos nenhuma atitude acerca do seu Programa. Nem a
favor e nem contra. Vai fazer o que quiser. Porque a abstenção, a não votação
ou a votação em branca, é isto que significa! Ele então simplesmente ia arumar
o seu Programa e ir-se embora; indo começar ou continuar o seu trabalho na base
desse seu Programa, sobre o qual, efectivamente, os deputados ter-se-ão
pronunciado não terem nenhuma atitude acerca. Nem contra, nem a favor. Claro!
Eu, no seu lugar, arumava o meu Programa e ia continuar o meu trabalho.
Sobretudo quando tem agora, ainda por cima, 45 votos, sim. 0 votos, contra. O Programa passou”!,
Titio, concluiu ele.
Contei
ao meu concunho suíço (Historiador, diplomata em exercício e o autor, entre
outros, do livro “Joseph KI-ZERBO, Para quando a África? Entrevista com René
Holenstein”, PALLAS, 2006, Rio de Janeiro, 172 p.) a mesma “passada” de votação
e teve a mesma reação e opinião.
Voltei
hoje com essas reações e opiniões que partilho, já sem a cara “grunho”, à
blogosfera e fui surpreendido com o artigo do “O Democrata GB” sobre um
comunicado do PAIGC que vai no mesmo sentido. “Afinal o Programa foi aprovado”,
se diz no documento (http://www.odemocratagb.com/comuni-cado-do-paigc-afinal-foi-aprovada-mocao-de-confianca-do-primeiro-ministro/;
acessado no dia 24.12.2015).
Boa
prenda de natal, disse-me a mim então. Para todos nós bissau-guineenses. Se
todos os outros atores, nos principais postos de comando nas estruturas
centrais do nosso Estado neste momento, também estiverem desta opinião. Opinião
muito lógica.
Senão,
que vão para o Supremo Tribunal de Justiça. Com a seguinte atitude bem democrata,
legal e pacífica. Qualquer veredicto daí pronunciado deverá ser acatado
incondicionalmente por todos os implicados.
Ao
país seria assim evitado a transferência de mais um mau embrulho para o novo
ano à porta. Mais um fardo de “sakalata” desnecessário.
E
eu ia poder dormir, um pouco, mais à vontade. Podendo sobretudo comunicar ao
meu netinho: “eh…, agora…, agora, a Guiné-Bissau não vai entrar nada mais uma
vez na “sakalata” grande, dentro de 15 dias. Porque o Programa, afinal, passou
com 45 votos, sim e 0 votos, contra. O resto, os 56 abstenções, talvez um lapso
dos seus protagonistas em relação ao objectivo visado, não contam. Aliás, neste
momento e situação, só interessa aos analistas”.
Aguardando,
espero e desejo boa sorte a todos nós bissau-guineenses. Que, mais uma vez,
prevaleça o BOM SENSO. Bons dias festivos e uma entrada de paz, felicidade e de
muita tranquilidade no ano 2016.
Amizade.
A.
Keita (na foto)
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