sábado, 4 de julho de 2015

CRISE DE QUÊ?




A crise, ou as crises, se instalaram. Isto ninguém pode negar. São tantas - financeira, ética, de competência administrativa, de caráter, de respeito humano, de sensibilidade, de percepção da inteligência popular e dos valores patrióticos, e outras mais - que a situação política na Europa sob a liderança da União Europeia de braços dados com o FMI e o Pentágono tem ministrado um curso intensivo de política que aponta metas contrárias às dos seus dirigentes. Saltando de galho em galho para corrigir as escorregadelas conseguiram aproximar o raciocínio de toda a gente honrada, seja de esquerda ou de direita. A dialética passou a gerir as consciências.

Fica claro que os tecnocratas de serviço só conseguem pensar em dinheiro sonante quando falam em desenvolvimento. São capazes de recomendar a uma família em dificuldade para sustentar 10 filhos que a solução é exportar 3 dos mais fortes, deixar morrer 4 dos mais débeis e manter sob controle austero os que restam para poder amealhar cada ano mais uns tostões. E com as oportunidades oferecidas pelo turismo e graças à paisagem e à culinária de origem rural, vende-se de tudo um pouco para aumentar o pé de meia a qualquer custo. A visão reduzida dos financistas dogmáticos impede que lembrem o que é um ser humano, os seus valores tradicionais, a sua sensibilidade e afeto, a criatividade comprovada, a história patriótica e o património herdado, a dignidade de um povo, a independência nacional.

Diante da catástrofe que é ter por dirigentes continentais e nacionais espécimes tão precários, naturalmente as pessoas normais se encontram no protesto apesar de divergências ideológicas ou de tendências menos drásticas. Em Portugal todos os dias alguém protesta e faz greve por falta de interlocutor governamental: os trabalhadores mal pagos, os desempregados, os pensionistas que morrem à mingua, os reformados com os cortes nos rendimentos, os espoliados das suas moradias por não poderem suportar as coimas, os doentes que não podem pagar os medicamentos, os que não são atendidos nos Centros de Saúde, os médicos contratados com salários de quem não tem formação superior, os enfermeiros que não têm descanso, os juízes que não têm condições de trabalho, os estudantes que não têm aulas, os professores que não são contratados, os comerciantes que depositaram os seus recursos e foram roubados por banqueiros sem escrúpulos, os pais de crianças especiais que não são mais recebidos na escola, idosos acamados que deixaram de ser atendidos apesar de viverem sozinhos, bombeiros que arriscam a vida com equipamentos inadequados e sem salários suficientes, polícias mal pagos que precisam fazer serviços remunerados incompatíveis, militares que afirmam não existirem mais condições para a defesa do país, autarcas que sentem as omissões do governo central pesarem sobre os concelhos como se fossem uma federação sem orçamento próprio, políticos conservadores que não suportam a vergonha de representarem os seus partidos que cumprem ordens externas, toda agente que vê o património empresarial do Estado a ser vendido a preço de saldo na feira. A lista é enorme. Ficamos à espera que entrem em greve os padres e freiras, assim como os voluntários e os recém nascidos.

E dizem que o caos está na Grécia onde o governo e o seu povo não aceitam mais os sacrifícios impostos pelos credores com seus modelos de crescimento do capital que insistem em chamar de desenvolvimento.

*Zillah Branco -  Cientista social, consultora do Cebrapaz. Tem experiência de vida e trabalho no Brasil, Chile, Portugal e Cabo Verde.

“É PEGAR OU LARGAR” – UM ULTIMATO À DEMOCRACIA GREGA




Diante do ultimato, restou ao governo grego a alternativa mais sensata: endereçar a decisão àqueles que sofrerão diretamente as suas consequências.

Guilherme Cintra Guimarães – Carta Maior

É pegar ou largar: assim foi descrito o ultimato dado pelos credores oficiais da Grécia (a famosa Troika: Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) ao final das negociações da semana passada sobre a extensão de um programa de ajuda financeira e recuperação econômica.

O detalhes da negociação são complexos e intrincados. Envolvem medidas como ampliação de empréstimos, metas de superávit fiscal, tributação, corte de gatos, diminuição de pensões e aposentadorias, alterações na legislação trabalhista, entre outras assim chamadas “reformas estruturais”. O mesmo receituário ortodoxo imposto há mais ou menos cinco anos atrás e cujos resultados foram definitivamente catastróficos: um quarto da economia grega foi pelos ares, 25% da população está atualmente desempregada, com mais da metade da juventude sem trabalho, a taxa de suicídio aumentou em 35% e centenas de milhares de pessoas foram reduzidas a uma situação de pobreza extrema, situação essa pouco comum entre os europeus, ao menos no período pré-crise e se desconsiderarmos as (péssimas) condições de vida de grande parte da população imigrante.
   
O curioso é que o atual governo grego, eleito em janeiro de 2015 com uma plataforma anti-austeridade e geralmente classificado, no espectro ideológico, como de “esquerda radical”, já havia aceitado a imposição de condições extremamente rigorosas, que muitos acreditam serem contrárias as suas próprias promessas eleitorais, como superávit primário crescente, alta de impostos e novos limites na concessão de pensões. O governo grego cedeu, os credores não. Eles queriam mais: mais cortes em salários e pensões, mais aumento generalizado de impostos e mais restrição de direitos trabalhistas. O recente mandato popular conferido ao governo grego parece não ter tido qualquer peso. Democracia não é, certamente, um termo comum no jargão dos “eurocratas”. Era pegar ou largar.
   
Diante do ultimato, restou ao governo grego a alternativa provavelmente mais sensata: endereçar o ultimato àqueles que sofrerão diretamente as suas consequências, isto é, à própria população grega, que deverá decidir se aceita ou não a proposta intransigente dos seus credores em um referendo a ser realizado no próximo domingo, dia 05 de julho de 2015.
   
A guerra midiática já começou. O governo grego, coerente com sua própria plataforma eleitoral, já se manifestou a favor do “não” ao ultimato e iniciou sua campanha para tentar convencer a população a seguir o mesmo caminho. Já outros líderes europeus se apressaram em advertir os gregos de que um eventual “não” significará a saída da Grécia da zona do euro, mesmo na ausência de disposições jurídicas que indiquem ser essa a consequência inevitável. O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, se disse “traído” pelo governo grego e afirmou que a União Europeia está do lado dos gregos, ao contrário do governo, mesmo tendo esse mesmo governo sido recentemente eleito pela sua própria população. Para finalizar, uma declaração polêmica: “não cometam suicídio apenas pelo medo de morrer”, um “conselho” bastante infeliz, devido ao alto índice de suicídios na Grécia recente, o maior de toda a Europa.
   
Diversos fatores e hipóteses têm sido levantados para explicar a atual crise grega, crise que representa, na verdade, apenas a dimensão mais trágica de uma crise mundial de proporções muito maiores e consequências ainda imprevisíveis. Os mais comuns são: falhas no desenho original do euro, discrepância acentuada entre a situação econômica dos diversos países membros, investimentos pouco transparentes e de alto risco realizados por bancos e demais instituições financeiras europeias, corrupção e irresponsabilidade fiscal de vários dos governos no continente, até explicações mais estereotipas e preconceituosas que especulam sobre o “caráter” e a “preguiça” de inteiras nações e seus respectivos povos.
   
Se as causas da crise são múltiplas, as soluções, ou melhor, a solução proposta é apenas uma: austeridade e corte de gastos. Uma solução que, por si só, apenas contribui para retro-alimentar, ao invés de resolver, o problema inicial, aumentando o custo social da crise e contribuindo para um círculo vicioso de austeridade, que gera desemprego e retração econômica, que produzem, por sua vez, um aumento da dívida nacional em relação ao PIB, o que demanda mais austeridade, com mais desemprego e retração, e assim por diante.
   
O próprio fato de que diversos partidos em toda a Europa, sejam eles classificados como de direita ou de esquerda, elejam a pauta “auti-austeridade” como principal plataforma política diz muito sobre a atual crise e sobre o atual embate político europeu. Para além da tradicional disputa entre direita e esquerda, a agenda da “austeridade” parece aglutinar em torno de si uma plataforma política própria e auto-referente, capaz de capturar os principais partidos de “centro” atualmente no poder, ao mesmo tempo em que atrai a oposição dos extremos à esquerda e à direita, todos eles, em certa medida, “anti-austeridade”.
   
Se no plano da vida pessoal de cada um de nós, a austeridade pode ser vista como uma virtude, no atual discurso sobre a crise mundial ela é certamente um vício. Devemos separar, aqui, austeridade de responsabilidade fiscal. Responsabilidade fiscal é (ou deveria ser) sinônimo de uma boa gestão pública: transparência na gestão dos recursos e relativo equilíbrio entre receitas e despesas. O problema é que responsabilidade fiscal é apenas um dos lados da moeda, moeda em seu sentido literal mesmo, enquanto meio oficial de pagamento. Se a fiscalidade representada o seu lado público, o lado privado da moeda é representado pelo sistema financeiro, capaz de expandir e contrair o volume monetário de um país (poderíamos dizer até, de todo o globo) independentemente da vontade política de governos e do controle exercido pelos bancos centrais. A irresponsabilidade, corrupção e falta de transparência do sistema financeiro internacional está no coração da atual crise. As soluções propostas, no entanto, concentram-se quase que unicamente no lado da fiscalidade: austeridade e corte de gastos. Ou seja, o lado “público” e “nacional” da moeda e das finanças em geral. O que obviamente não irá funcionar enquanto o lado “privado” e “internacional” continuar fora do alcance dos mecanismos de controle e regulação típicos de qualquer regime democrático.
   
A crise grega é um excelente exemplo dos paradoxos da política de austeridade. A maioria dos economistas e cientistas sociais, independentemente da sua orientação ideológica, estão plenamente conscientes de que, no contexto de uma união monetária como a europeia, medidas de austeridade não resolverão os problemas da Grécia, apenas contribuirão para aprofundá-los. A população afetada pela crise também sabe, melhor do que ninguém, que essas medidas não funcionaram e não irão funcionar. A covardia política das principais lideranças europeias, assim como a mediocridade das suas respectivas “tecnocracias”, contribuem, todavia, para a manutenção do atual estado de inércia, que apenas tende a agravar o sofrimento da população grega. Cabe a essa população, portanto, e apenas a ela, decidir sobre o ultimato que lhe foi dado.
   
Já os autores do ultimato deveriam reservar um momento, ainda que breve, para a auto-reflexão. Se realmente se sentem “desconfortáveis”, “ameaçados” ou “intimidados” por um governo de “esquerda radical” – que, aliás, não propôs nada de radical, tendo se disposto a aceitar condições que muitos sequer considerariam razoáveis – o que sentirão se vierem a ser confrontados pelos movimentos verdadeiramente extremistas que têm ganhado força no continente? Diante de uma pauta de “direita radical”, com sua orientação xenófoba, racista e claramente anti-europeia, a questão da austeridade será provavelmente o menor dos problemas. 

*Advogado da União, Guilherme Cintra Guimarãesd é doutorando em Ciência Política pela “Università degli Studi Roma Tre”.

Créditos da foto: The Guardian/Reprodução

“OXI!, OXI!”, OUVIU MERKEL NOS 70 ANOS DA CDU EM BERLIM - com vídeo




A solidariedade com a Grécia passou hoje por Berlim. Um grupo de ativistas teve acesso à sala onde Angela Merkel ia discursar no aniversário do seu partido. Veja aqui o vídeo da ação de solidariedade com o povo grego na Alemanha.

InfoGrécia


Grécia. "NEM QUE EU TIVESSE UMA BOLA DE CRISTAL…"




Nem que eu tivesse aqui uma bola de cristal me atreveria a tentar adivinhar qual será o desfecho do referendo grego ou do que será o futuro da Grécia depois de amanhã, tão imprevisíveis parecem a acreditar nas sondagens e declarações de responsáveis helénicos e dos credores internacionais. Mas ao ver imagens das manifestações diárias em Atenas, em defesa do Sim ou do Não, lembrei-me de uma viagem que fiz à Grécia, em vésperas da adesão de Portugal e Espanha à então CEE. Fui como enviada do extinto semanário O Jornal, com a missão de fazer o retrato daquele país que já fazia parte da Comunidade Europeia, numa tentativa de antecipar o que poderia esperar Portugal num futuro próximo, para o bem e para o mal. E nunca mais esquecerei as manhãs em que eu acordava ao som das palavras de ordem gritadas por pequenas multidões na Praça Syntagma. Aquilo sucedia-se dia sim dia não, e para meu desespero nos dias em que me deitara tarde e exausta, nem as janelas insonorizadas do meu quarto de hotel de muitas estrelas conseguiam abafar as vozes aguerridas dos manifestantes. Lembro-me de ter relatado a amigos e familiares, no regresso a Lisboa, que os gregos não hesitavam em lutar pelos seus interesses. Ao contrário dos "pacíficos" portugueses, eles nunca se deixariam acomodar. Na época, lutavam em defesa de salários, direitos vários e... contra a concorrência que os outros parceiros do sul (Portugal e Espanha) iriam fazer-lhes na CEE. Porque nós iriamos de facto roubar-lhes espaço e mercado para os frutícolas, o azeite, a pesca, etc., etc. Passados todos estes anos, tudo continua como então - nós pacíficos e bem-comportados e eles aguerridos a manifestarem-se na Praça Syntagma.

Lurdes Feio, jornalista/escritora - Facebook

JORNALISTA DA RTP ALVO DA FÚRIA GREGA EM ATENAS




Repórter foi quase atingida com um copo de café durante uma emissão em direto

A situação vivida na Grécia está a deixar os gregos com alguma falta de paciência. E para demonstrá-lo não temem em soltar a sua ira para todos os lados: seja contra o governo grego, contra os credores internacionais ou até contra os jornalistas… portugueses.

A repórter da RTP, Daniela Santiago, viveu na pele, na tarde deste sábado, o que é não se ser bem-vindo num local. Durante uma reportagem em direto, junto ao parlamento grego, foi por pouco que a jornalista da estação pública nacional não foi atingida com um copo de café, atirado, segundo a própria, por um transeunte.

Segundo Daniela Santiago, “o clima de tensão” está a ser transferido para os profissionais de comunicação que se encontram no local, sobretudo para os portugueses. Isto porque, e segundo tem sido noticiado, o governo português tem sido dos mais rígidos com a Grécia, não aceitando os pedidos feitos por Alexis Tsiras.

Amanhã, recorde-se, os gregos decidem se aceitam ou não as imposições dos credores para ajudar a Grécia a sair da crise.

Notícias ao Minuto – foto Global Imagens

Angola. APRENDAM: INVESTIGUEM PRIMEIRO E PRENDAM DEPOIS




Procurando não confundir o fundo do corredor com o corredor de fundo, o ministro do Interior de Angola, Ângelo Veiga Tavares, defende que o Serviço de Investigação Criminal (SIC) deve investigar para prender, em vez de prender primeiro e investigar depois. Só falta saber que alguém do SIC, mais do que o ouvir, entendeu o que ele disse.

Averdade é que o próprio director do SIC (comissário chefe Eugénio Alexandre) admitiu que alguns funcionários (certamente seguindo exemplos quase oficiais) fazem exactamente o contrário. É, aliás, nesse contexto que se enquadra a acção do SIC que levou à detenção de 15 activistas que, alegadamente, conspiravam para derrubar o governo e o presidente da República.

Ângelo Veiga Tavares fez este aviso, sugestão ou alerta na abertura do primeiro Conselho Consultivo Alargado do SIC, sublinhando a necessidade de, no domínio da operacionalidade, uma particular atenção à inteligência criminal e o estabelecimento de uma adequada colaboração com a Polícia Nacional e os órgãos de inteligência.

Em declarações à imprensa, à margem do encontro, o director do SIC, disse que “existiam e existem alguns funcionários, que, fugindo àquilo que são as práticas aceites e instituídas, alguns, poucos, prendem para investigar”, no entanto, acrescentou, “esta mentalidade tem estado a alterar significativamente” e que são práticas reprovadas pela SIC e pela própria Procuradoria-Geral da República.

“A indicação que nós temos dado é que devemos investigar e quando tivermos as provas carreadas, assim, aí sim, devemos propor ao Ministério Público a emissão de mandados de captura contra esses indivíduos e nunca ao contrário”, frisou.

Na sua intervenção, Ângelo Veiga Tavares destacou igualmente a necessidade de particular atenção no combate aos crimes violentos, essencialmente os roubos qualificados, violações sexuais, crimes de natureza económica, financeira e fiscal.

“Todas acções criminosas que possam pôr em causa as acções do Estado, nomeadamente as que possam pôr em risco a paz, segurança e tranquilidade públicas, os programas de melhorias das necessidades das populações, a estabilidade monetária”, frisou o ministro.

De acordo com o titular da pasta do Interior, a direcção daquele ministério vai desenvolver esforços para gradualmente ir melhorando as condições de trabalho do SIC, sendo prioridade a construção do seu órgão central, provinciais e municipais, o instituto de ciências criminais e aquisição de modernos meios técnicos.

Folha 8 (ao)

Angola. HOLLANDE AJOELHOU E, ENTRE OUTRAS COISAS, TEVE DE REZAR




O Presidente francês, François Hollande, ajoelhou-se perante o rei e, por isso, teve de rezar. Pela posição não se sabe se teve de fazer mais alguma coisa. Certo é que José Eduardo dos Santos estava feliz.

François Hollande finge que não sabe que uma em cada seis crianças angolanas morre antes de completar cinco anos e justifica que estes dados, que são da Unicef, não foram fornecidos por fontes credíveis como sejam o… MPLA.

“Este é um país repleto de petróleo, diamantes e milionários que conduzem Porsches e crianças a morrer à fome”, escreveu Nicholas Kristof, colunista do The New York Times, na sua reportagem sobre a mortalidade infantil em Angola. François Hollande desconhece.

Para além dos números preocupantes relativos à mortalidade infantil, os dados indicam ainda que mais de um quarto das crianças está fisicamente afectado pela subnutrição e que os casos de morte materna durante o parto são de 1 em 35. François Hollande desconhece.

A taxa de mortalidade das crianças até aos 5 anos de idade é um indicador do bem-estar infantil e calcula a probabilidade de morrer entre o nascimento e os 5 anos, expresso por cada 1000 nascimentos vivos. Segundo um novo relatório da Unicef, Angola registou um valor de 164 crianças – um número apenas ultrapassado pela Serra Leoa, que ocupa o 1º lugar da tabela com uma taxa de mortalidade de 182 crianças. François Hollande desconhece.

As Nações Unidas pretendem, com a publicação deste tipo de estatísticas, oferecer um retrato detalhado das circunstâncias das crianças em todo o mundo. Esta nova tabela da Unicef pretende proporcionar aos governos factos sobre os quais se possam basear nas suas tomadas de decisões que ajudem a melhorar a vida das crianças. François Hollande desconhece.

Cento e cinquenta mil crianças que morrem todos os anos em Angola. Angola é o país do mundo onde morrem mais crianças com menos de cinco anos. E um dos mais corruptos. A denúncia é de um dos mais prestigiados jornalistas do The New York Times. François Hollande desconhece.

O jornalista do The New York Times não quis ficar indiferente ao que viu em Angola, o país onde morrem mais crianças no mundo – muitas delas subnutridas -, de acordo com dados recolhidos pela Unicef, Nações Unidas, Banco Mundial e Organização Mundial de Saúde. Escreveu e filmou o que se passa nos hospitais angolanos – para que o mundo conhecesse as histórias de quem não se habitua à dor de perder um filho – mesmo que já tenha perdido três ou quatro. François Hollande desconhece.

Em Angola, morrem 150 mil crianças todos os anos. Uma em cada 35 mulheres (dados das Nações Unidas) corre o risco de morrer durante o trabalho de parto e apenas 40% a 50% da população tem acesso aos cuidados de saúde, disse o pediatra da Unicef, Samson Agbo, ao jornalista. E as crianças morrem porque não há medicação, explicou Alfred Nambua, chefe de uma aldeia perto da cidade de Malanje. Foi Nambua quem disse a Nicholas Kristof que vivia melhor antes de Angola ser independente (o processo da descolonização portuguesa aconteceu em 1974 e a guerra civil devastou o país entre 1975 – ano da independência – e 2002) do que agora. François Hollande desconhece.

“No período colonial, quando estava doente, eles tinham medo que eu morresse e cuidavam de mim. Agora, quando estou doente, ninguém se importa”, disse.

A par da denúncia da mortalidade infantil, a denúncia da corrupção. Nicholas Kristof encontrou medicamentos da Novartis à venda em mercados de rua – medicamentos que tinham sido disponibilizados aos hospitais e cuja venda não era permitida. Conta que demorou cinco anos a obter um visto que lhe permitisse visitar o país e diz ter consciência de que depois deste relato alguma vez possa voltar a pisar o chão de Angola – pelo menos — diz ele — enquanto o “regime actual estiver no poder”. François Hollande desconhece.

“Um líder tem muitas formas de matar as suas pessoas e, apesar de José Eduardo dos Santos não estar a cometer genocídio, está a negligenciar o seu povo“, escreveu o jornalista do “The New York Times”, que recupera os dados revelados pelo jornalista e activista Rafael Marques: cerca de 58 milhões de dólares que estavam destinados à renovação de um hospital particular desapareceram. François Hollande desconhece.

Folha 8 (ao)

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ANGOLA E FRANÇA LANÇARAM NOVO PROGRAMA DE COOPERAÇÃO




François Hollande encontrou-se com a comunidade francesa em Luanda

Voz da América

Os governos de Angola e França anunciam nesta sexta-feira, 3, um novo programa de cooperação que visa diversificar a economia angolana.

A informação foi avançada esta quinta-feira, 2, pelo Presidente François Hollande num encontro com cerca de dois mil membros da comunidade francesa radicada em Luanda.

No primeiro acto da sua estada em Angola, o chefe de Estado francês lembrou que as relações entre Luanda e Paris “não foram muito fáceis” em tempos passados, mas que a visita dele de 24 horas visa reforçar o relacionamento entre os dois países. 

Turismo, hotelaria, infraestruturas, construção e formação profissional são as principais áreas de intervenção da França em Angola.

Para François Hollande, a aposta de empresas francesas em Angola é um sinal de confiança no momento em que o país sofre uma grande crise económica e, por isso, pediu as empresas francesas a investirem no país.

A nível político, o Presidente francês frisou o papel importante de Angola para a estabilidade da região, sublinhando o apoio e o papel do país africano nos problemas da República Centro-Africana e República Democrática do Congo.

Nesta sexta-feira, Hollande encontra-se com o seu homólogo José Eduardo e vários outros governantes.

Angola. TUNGA ALBERTO: “ESTAMOS ENTREGUES A NÓS PRÓPRIOS” - com áudio




Activista diz que os angolanos devem lutar pelo respeito pelos direitos humanos

Voz da América, em Angola Fala Só

Estamos entregues a nós próprios, foi a mensagem dada pelo secretário executivo do Conselho de Coordenação dos Direitos Humanos de Angola, Tunga Alberto, no programa “Angola Fala Só”, da VOA.

O activista dos direitos humanos disse que os angolanos devem abandonar a ideia de que países estrangeiros ou organizações internacionais irão fazer algo pelo respeito dos direitos humanos.

“Neste momento estamos entregues a nós próprios e não devemos esperar por ninguém para fazer respeitar os nossos direitos”, disse Tunga Alberto, para quem os cidadãos angolanos devem “mobilizar-se” para reivindicar e fazer respeitar os seus direitos.

“Precisamos de defender os direitos humanos a partir das nossas famílias e bairros”, disse, acrescentando que  os angolanos devem criar “células de defesa dos direitos humanos”.

Para Tunga Alberto, as famílias “devem discutir a situação do país e como fazer respeitar os direitos humanos”.

“É preciso quebrar o medo, é preciso quebrar o silêncio”, afirmou, lembrando que os direitos humanos serão respeitados quando os angolanos “ganharem consciência” dos seus direitos.

O dirigente do Conselho de Coordenação dos Direitos Humanos disse  que há a necessidade de se traduzir a constituição e as cartas de direitos humanos para as línguas nacionais.

Tunga alberto abordou ainda a situação de Cabinda e das Lundas onde existem movimentos que defendem a autonomia, mas alertou que os problemas de pobreza não existem apenas naquelas províncias.

“As assimetrias não existem só em relação a Cabinda e Lundas”, lembrou e defendeu que aquelas duas províncias devem centrar-se na luta pelo respeito dos direitos humanos.

Interrogado por um ouvinte da Lunda Norte, Tunga Alberto disse que “o que se passa nas Lundas não foi entendido pelo governo angolano”, porque “a constituição não contraria a autonomia".


Guiné Equatorial estreia-se em encontro das universidades lusófonas em Cabo Verde




Macau, China, 01 jul (Lusa) -- A Guiné Equatorial vai, pela primeira vez, participar no encontro anual da Associação das Universidades de Língua Portuguesa (AULP), que este ano decorre na Ilha de Santiago, em Cabo Verde, entre 15 e 17 de julho.

Tito Mba Ada, da Missão Permanente da Guiné Equatorial junto da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), vai falar sobre o papel do seu país no mundo da língua portuguesa, no primeiro dia do XXV encontro da AULP, segundo o programa disponível no portal da organização.

A estreia da Guiné Equatorial no evento foi confirmada à agência Lusa por Rui Martins, vice-reitor da Universidade de Macau, território que atualmente preside à AULP.

Rui Martins ressalvou, no entanto, que a Guiné Equatorial participa apenas na qualidade de observador, já que não é membro da associação.

O encontro, que vai decorrer na Universidade de Cabo Verde, sob o tema "Novos desafios para o Ensino Superior após os objetivos de desenvolvimento do milénio", conta também com a presença do secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam.

Durante o encontro será assinado um acordo entre a Universidade de Macau e a Direção de Ensino Superior de Cabo Verde para reforçar o intercâmbio de alunos.

Ana Paula Laborinho, presidente do Camões Instituto para a Cooperação, é uma das representantes no encontro por parte de Portugal.

Fundada em 1986, a AULP reúne cerca de 150 universidades públicas e privadas e institutos politécnicos nos países da CPLP e em Macau.

A Assembleia Nacional da Guiné Equatorial aprovou o português como língua oficial do país, a par do espanhol e do francês (oficializado em 1997), em outubro de 2011, tendo sido o decreto presidencial aprovado em 2010.

Em julho de 2014, a Guiné Equatorial integrou a CPLP como membro de pleno direito.

Já este ano, o país manifestou interesse em aderir ao Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, sedeado em Macau, estando essa intenção a ser estudada.

FV/ISG (CSR/ PJA) // PJA

Cabo Verde. SÃO NICOLAU: A ILHA DESAFORTUNADA



Celly Paixão – Expresso das Ilhas, opinião

À semelhança de Baltasar Lopes, destinto filho de São Nicolau e de Cabo Verde, autor do primeiro romance, genuinamente cabo-verdiano, sou uma saonicolauense confesso que, por circunstâncias outra fui obrigada a deixar a ilha em busca de outras oportunidades. Também natural de Caleijão, concelho de Ribeira Brava, oriunda de uma família de tradição camponesa, passei toda a minha infância e adolescência nessa localidade.

O tempo genesíaco da minha infância e adolescente, passada em ambiente rural, afetivo, entre a atmosfera familiar, a escola primária, as brincadeiras de menino e o ciclo preparatório na Stancha (então Vila Ribeira Brava), marca o meu horizonte de memória, profundamente.

O meu cordão umbilical está e estará sempre ligado à minha ilha, particularmente, ao meu Município da Ribeira Brava. Sempre que lá vou, com frequência, procuro estar com a minha gente. Gente da minha geração, mas também a da dos meus pais e avós. É das conversas que procuro encetar com as pessoas que nascem as luzes que refletem a realidade e o pulsar da ilha e do concelho. Pois, a situação socioeconómica do Município da Ribeira Brava inspira cuidados intensivos e muita atenção dos governos central e local, sob pena de a vida das pessoas se agravarem, ainda mais.

Nos últimos anos a ilha de São Nicolau foi fustigada pelas políticas erróneas do PAICV e do seu governo. Desde logo, políticas de transportes marítimos, de agricultura e pecuária, das pescas, de formação e capacitação dos jovens, passando pela elevada taxa de desemprego que aflige a ilha de Chiquinho e o Município da Ribeira Brava, em particular.

“Grito de Ipiranga”

Por estas e outras razões a ilha parou no tempo de crescimento e desenvolvimento. As populações sobretudo as mais jovens viram-se impossibilitadas de dar continuidade aos seus estudos e, naturalmente, de conseguir um emprego digno, em ordem a contribuir para o desenvolvimento da sua ilha e do seu concelho. Os agricultores, os criadores, os pescadores, os comerciantes e demais forças vivas locais vivem situações de verdadeira penúria e desencanto, que já os conduziram à uma profunda letargia social. Apetece-me dizer mesmo, que São Nicolau e Ribeira Brava em particular, precisam de uma espécie de “grito de Ipiranga”, que permita agitar a consciência das elites do poder local e central, para uma nova ordem de relação com a ilha que leve ao desenvolvimento sustentável e harmonioso.

Ainda no domínio de agricultura e da criação de gado, a situação é mesmo preocupante, para não dizer dramática. Com o mau ano agrícola que assolou o País, as pessoas viram-se impossibilitadas de fazer uma dieta alimentar condizente com as suas necessidades, por um lado. Mas também foram confrontadas, com a perda substancial de produção hortícola, já que os furos que fornecem a água para agricultura reduziu a sua capacidade, substancialmente. Contudo, com a entrada em funcionamento da unidade de dessalinização da água do mar, na Preguiça, para abastecimento doméstico, os agricultores acreditaram que teriam acesso a mais água (e mais barata) para irrigação.

Aliás, foram estas as promessas do presidente da Câmara Municipal da Ribeira Brava (CMRB), Américo Nascimento e do próprio Governo. O que realmente acabou por acontecer foi o anúncio, aqui há dias, do aumento do preço de água, quer para o consume doméstico, quer para agricultura. Portanto, se os agricultores, de per si, já tinham a vida difícil, com esta medida recente do Governo e da edilidade da Ribeira Brava, a situação agrava-se ainda mais.

Desastre, sem capacidade de escoamento da sua já fraca produção, para as outras ilhas em virtude do deficitário sistema de transportes marítimos de e para a ilha, aos homens da terra cabem-lhes agora a resignação e esperar melhores dias que hão-de vir, decerto. Infelizmente está-se perante a uma fatalidade protagonizada pela incompetência do poder local, que não soube, em boa hora, junto do Governo identificar a melhor política de produção, gestão, distribuição e venda de recursos hídricos para os agricultores e população do vale da Ribeira Brava. Estivesse vivo, Baltazar Lopes, como homem do campo que fora, seguramente, olharia para estes homens e mulheres da terra com muita mágoa e revolta.

No capítulo da pecuária, os criadores esperam e desesperam com o tão propalado programa de emergência de salvamento de gados. Os animais morrem de fome por falta de pasto, provocado pelo mau ano agrícola. O Governo continua a olhar para esta situação de forma impávida e serena. 

Assim, a situação socioeconómica de São Nicolau é de tal sorte degradante que, confrontados com o dilema: “querer ficar e ter que partir”, a ilha perdeu, nos últimos tempos, um número significativo da sua população, que foi obrigada a migrar-se para outras ilhas, em busca de melhores condições de vida.

Fuga de cérebro jovem

A juventude foi a franja da população que mais sofreu com as más políticas da edilidade da Ribeira Brava e do Governo. A fuga de cérebro para trabalhar em grandes centros urbanos do Pais, tem sido uma realidade sem precedente na ilha de Chiquinho, com perda da capacidade produtiva para a economia. Tudo por causa do desemprego gritante que fustiga os jovens de São Nicolau, com destaque para os do concelho da Ribeira Brava.
  
Para produzir este artigo, dei-me ao trabalho de visitar às fontes do INE – Instituto Nacional de Estatística, sobre o desemprego em Cabo Verde. Segundo os dados daquela instituição estatística a taxa de desemprego no País em 2014 era de 15,8 por cento. Isto considerando a nova metodologia de cálculo adotado pelo INE. Porém, se formos analisar as informações que dão conta da taxa de desemprego dos jovens com idade compreendida entre 15 e 24 anos, veremos que aqui a situação é deveras preocupantes. Ou seja, 35,8 por cento dos jovens cabo-verdianos, com capacidade para trabalhar estão no desemprego. É caso para perguntar: qual têm sido efeitos práticos de tão apregoadas, (com uma grande dose de propaganda política) políticas de formação, capacitação profissional e emprego jovens em Cabo Verde? A avaliar pelos dados do INE, podemos concluir que os efeitos da proliferação dos centros de emprego e formação profissional, pelas ilhas, têm sido muito aquém da expectativa dos jovens cabo-verdianos. Diria mesmo um bluff total!

Recorde-se, entretanto, que os dados recolhidos entre Outubro e Dezembro de 2013 mostram uma ligeira baixa do desemprego a nível nacional, passando de 16.8 para 16.4 por cento. Porém, uma diferença pouco expressiva e, por conseguinte, sem impacto direto na vida das pessoas e na economia, já que o crescimento do País continua a ser anémico e a não conseguir, por exemplo, atrair os investimentos diretos estrangeiros. 

Olhando agora, para os dados de desemprego jovem a nível dos concelhos do País, entre 2012 e 2013, ficamos, algo atónitos. Ribeira Brava é um exemplo paradigmático. Só assim, conseguiremos perceber melhor os motivos desta “hégira” dos jovens e população deste concelho para os grandes centros urbanos do País, à procura de emprego e rendimento.

Ora, o Município da Ribeira Brava lidera a taxa de desemprego concelhio aumentando de 18.8 para 23.7 por cento dos jovens deste município que se encontram desempregados e, naturalmente, sem rendimento para garantir a sustentabilidade da sua pessoa e da família. Uma subida, de resto, muito preocupante, já que ultrapassa, inclusive, São Vicente, que era o município com mais desempregados jovens em Cabo Verde, chegando atingir os 28,9 por cento, em 2012, tendo diminuído para 22,1 por cento em 2013.

Status quo das políticas

A situação do desemprego no País, é um problema muito sério que convoca a todos nós, mas sobretudo o poder político, à uma reflexão de fundo, sobre o status quo das políticas de governação deste País. Decorridos 14 anos de governo do PAICV importa agora interrogar: os cabo-verdianos estarão mais felizes ou não? Qual é a perceção, em termos da capital de confiança, que os cidadãos têm deste partido e do seu governo? Já percebemos, através de sucessivos estudos encomendados, que os cabo-verdianos hoje têm, menos confiança neste Governo. Apesar de toda propaganda e poesia que o PAICV e o seu governo têm abrilhantado nos seus discursos ao longo destes anos, ainda assim, o povo destas ilhas está a dar sinais claros, de querer um poema diferente para o povo destas ilhas.

Não se pode, sistematicamente, evocar em vão a pretensão de ser um partido/governo de “rosto humano”, quando se sabe que esta evocação não passa de um mero cinismo e hipocrisia. Um pecado contra os mandamentos da lei de “boa governação”, tão apregoada por este Governo.

Um partido que governa com razão e não com romantismo, não deve estimular políticas de agravamento da pobreza para depois explorá-la, durante o período das eleições. Esta é uma atitude desumana, sem rosto e típico dos regimes onde a força partidária se confunde com o Estado. Aliás, existem literaturas que defendem que este tipo de abordagem na governação de um País, com base em “assistencialismo e demagogia pode minar e beliscar o Estado de Direito Democrático”, pondo em causa as liberdades e as garantias dos cidadãos.
  
Ora bem, Cabo Verde e os cabo-verdianos não podem permitir que esta prática faça escola no nosso País. A independência e o advento da democracia e da liberdade são duas conquistas do povo destas ilhas. Como tal, são irreversíveis e contém suor e marcas indeléveis que perpetuarão na história e no imaginário do cabo-verdiano. É preciso, pois, renunciar todas e quaisquer práticas dos governos local e central que põem em causa, o maior ativo deste povo que é a liberdade e a democracia, conquistada a 13 de Janeiro de 1991.
  
Gostava, à guisa de conclusão desta minha reflexão, deixar uma palavra de apreço e carinho pela população de São Nicolau, particularmente, do Município da Ribeira Brava, que neste momento atravessa um tempo de penúria social, devido às políticas erróneas levadas a cabo por este Governo e pela Câmara liderada pelo senhor Américo Nascimento. Dizer-lhe que não perca a esperança, pois, dias melhores chegarão, decerto! Porque, contrariamente, ao que protagonizou o partido dos governos local e central, a situação por que passa a ilha e o concelho não é uma fatalidade!

Juntos, podemos encontrar a melhor solução para Ribeira Brava e São Nicolau!

Na foto: Cidade do Tarrafal, Ilha de São Nicolau

Maior editora de turismo do mundo avisa sobre violência na Praia e em São Vicente




Alerta da Lonely Planet sobre Cabo Verde

A Lonely Planet está a informar os turistas que pretendem visitar Cabo Verde sobre a violência em crescimento na Praia e para o aumento dos roubos em São Vicente. Na capital, a partir da noite, os turistas são mesmo aconselhados a apanharem sempre um táxi, seja qual for a distância a percorrer. Mais, na sua página na Internet a Lonely Planet adverte também que nos últimos anos certos locais da Boa Vista e de Santiago – como o Tarrafal – se tornaram pontos de banditismo. Este tipo de advertências não se encontra nos guias essenciais de outras ilhas turísticas como as Maurícias ou as Seychelles.

Estes alertas estão no site da maior editora de guias de viagem do mundo. Autoridades e operadores consideram que tem de se lhe dar a devida atenção, mas sem exageros. Contactado pelo Expresso das Ilhas, Emanuel Almeida, Director-geral do Turismo em Cabo Verde, que disse desconhecer estas informações, sublinhou que: “temos de estar cientes que no turismo, na parte da concorrência, não estamos sozinhos e temos de aceitar que há jornalistas e países com estratégias de desvio de fluxo”.

No entanto, o responsável não deixa de alertar que o turismo é um sector super-sensível. “Se acontecer alguma coisa, mesmo que seja só a um turista, é mau. Primeiro, porque ele já não volta. E segundo, porque faz circular a informação. Qualquer violência sobre o turista, afecta o turismo. Trabalhamos com a Polícia Nacional, para terem todos os meios possíveis, para trabalharem pelo bem-estar da população residente e também dos turistas”.

O turismo é mesmo um sector sensível, onde a mínima alteração pode provocar uma fuga de visitantes. No final da semana passada a Tunísia sentiu isso na pele. Estava a ser apenas mais uma sexta-feira de praia, quando um atirador disparou sobre os veraneantes, fazendo 39 vítimas mortais. Apesar do governo ter reagido rapidamente (no dia seguinte foram apresentadas treze medidas para reforçar a segurança, como se pode ler na página do ministério que tutela o sector), o atentado provocou uma saída em massa de visitantes, num país onde o turismo pesa mais de 15 por cento no PIB.

Segundo os últimos cálculos, o turismo tunisino perderá este ano, pelo menos, 515 milhões de dólares, mais de 50 milhões de contos cabo-verdianos. “O ataque teve um forte impacto na economia e as perdas serão elevadas”, disse Salma Loumi, ministra do Turismo, citada pela Reuters.

Um golpe avassalador para um país que tentava recuperar. No ano passado aterraram na Tunísia 6,1 milhões de visitantes, menos 3,2 por cento em comparação com 2013, mas as receitas turísticas cresceram 6,4 por cento e parecia que a confiança dos turistas estava a ser restaurada depois da Primavera Árabe ter provocado a perda de visitantes. Agora, o ataque em Sousse fez regredir a sensação de segurança. Salma Loumi adiantou que o governo está a planear acabar com a taxa turística e quer aliviar as dívidas bancárias das empresas hoteleiras para tentar ajudar a indústria.

Mas, não é caso único. Na Índia, por exemplo, a chegada de turistas estrangeiros caiu 25 por cento desde que foram conhecidos os casos de violações e o número de viajantes mulheres baixou 35 por cento, de acordo com o estudo das Câmaras Associadas do Comércio e Indústria, de Nova Deli.

A escalada da violência entre Israel e o Hamas, na Faixa de Gaza, teve também efeitos colaterais no turismo da Cisjordânia. Na época natalícia, no ano passado, os profissionais hoteleiros  disseram que a percentagem de anulações alcançou cerca de metade das reservas feitas para Novembro e Dezembro.

E muitas vezes, as ameaças ao turismo não têm somente a ver com questões de violência. Por exemplo, hoje a UNESCO vai anunciar se a Grande Barreira de Coral será incluída na lista de Património Mundial em risco. Uma decisão que preocupa as autoridades australianas. A Grande Barreira de Coral é não só uma preciosidade em termos de biodiversidade, com os seus mais de 2.500 recifes individuais que albergam corais únicos e milhares de espécies diferentes de animais, mas também uma importante fonte de receitas turísticas – gerando mais de mil milhões de dólares de receitas todos os anos. Nos últimos anos, no entanto, as organizações ambientais têm chamado a atenção para a degradação do ecossistema, causada pelas alterações climáticas mas também pelas consequências do desenvolvimento e actividade portuária na zona. Alguns corais foram gravemente danificados e algumas espécies, como os dugongos e as tartarugas verdes gigantes, encontram-se ameaçadas. Segundo a Greenpeace, metade dos corais do recife perderam-se nos últimos 30 anos. Por isso, as autoridades australianas têm encetado esforços internacionais para provar à UNESCO que a situação da Grande Barreira de Coral não é assim tão dramática e que têm sido feitos esforços para reduzir o desenvolvimento portuário e a descarga de sedimentos dragados.

Pedro Guerra, da Cabo Verde Island Tours, disse ao Expresso das Ilhas, por mail, que teve conhecimento do artigo da Lonely Planet e que está a acompanhá-lo dando-lhe a importância que o mesmo merece, “auscultando sempre o mercado, neste caso os operadores, que são quem trabalha a indústria Turismo, faz e desfaz destinos, como é do conhecimento de todos os intervenientes”.

“Encontro-me no Brasil a fechar contratos com dois dos maiores operadores brasileiros, e em momento algum das nossas jornadas de trabalho veio esse assunto para cima da mesa. Encontro-me também a trabalhar com um grande operador da Rússia e um Norte-Americano, e, novamente, em momento algum senti qualquer desconforto em relação ao assunto em epígrafe”, refere o empresário.

Apesar de não haver qualquer estudo sobre o impacto da violência sobre o turismo do arquipélago, nos últimos anos os casos de roubos envolvendo turistas em Cabo Verde tornaram-se mais mediáticos. Em Fevereiro deste ano, um casal de turistas franceses foi assaltado e agredido na ilha do Fogo. Ainda no início deste ano, uma reportagem do Expresso das Ilhas chamava também a atenção para o que se passava na Cidade Velha, onde no espaço de dois meses, três assaltos registados a turistas lançaram o dessossego no município. Foram essencialmente assaltos de esticão. Empurra – puxa - foge, muitas vezes magoando as vítimas, que assustadas mostram vontade de partir o mais depressa possível para, segundo dizem, nunca mais voltar.

Da parte, tanto da Câmara, como dos operadores turísticos e hoteleiros, havia então o receio de que estas situações manchassem a imagem da Cidade Velha. “Ainda estamos numa fase de desenvolvimento turístico, e não podemos afugentar os que estão a aparecer. Daí que esta é uma situação que tem de ser resolvida o quanto antes como forma de não matar a galinha [dos ovos de ouro]”, afirmava, na altura, o autarca Manuel de Pina.

Estas notícias talvez expliquem os alertas que se espalham sobre Cabo Verde. E não só no site da Lonely Planet. Recentemente, uma turista francesa confessou ao Expresso das Ilhas que os avisos sobre Cabo Verde eram tantos que se sentiu assustada antes de viajar. E no portal das Comunidades Portuguesas, nos conselhos de segurança a quem quer visitar o arquipélago pode ler-se: “tem vindo a verificar-se um aumento do número de assaltos à mão armada no arquipélago, nos principais centros urbanos e turísticos (Cidade da Praia, Mindelo, ilha do Sal e Boavista). Os turistas devem evitar passear à noite em áreas pouco movimentadas e ostentar objectos de valor”.

“Não devemos ser alarmistas, mas devemos ter cautelas”, diz Emanuel Almeida ao Expresso das Ilhas. “Registamos cada notícia desse género, como registamos qualquer crítica de qualquer turista, mas temos de fazer o nosso trabalho. Responder só para avolumar esse tipo de notícias, isso não queremos”.

No entanto, o Director-geral do Turismo não deixa de chamar a atenção para o facto de o país ser altamente dependente do turismo, de onde vem mais de 22 por cento do PIB nacional.

“São problemas emergentes num país pobre”, sublinha por sua vez Pedro Guerra, da Cabo Verde Island Tours, “mas não diferentes das ditas sociedades desenvolvidas. Nunca nenhum operador me falou sobre o tema, fala-se sim da Síria, da Turquia, do Egipto, agora em Cabo Verde, não temos nem sequer registos de qualquer manifestação que possa colocar em causa o destino, requer sim, que seja olhado com verdade, com profissionalismo e de frente, como qualquer outro factor de risco em qualquer outra actividade, deve-se trabalhar sempre no sentido de monitorizar e criar pontos de controlo para evitar situações de mau estar a quem nos visita”.

“Não acredito que [o aviso da Lonely Planet] vá ter influência negativa no turismo de qualquer das ilhas”, reforça o empresário. “Como é óbvio, má publicidade nunca é boa para ninguém, mas quem anda no mundo dos negócios saber fazer a leitura correcta do acontecimento, e até o porquê da saída de tal notícia, nada é feito ao acaso e visa sempre um fim, mas neste caso específico, se tivermos em linha de conta o acima referido, e sentindo que os operadores não estão inquietos, não passa de uma jogada”.

“Não se pode dizer que o turismo acontece por acaso em Cabo Verde”, conclui o Director-geral do Turismo. “Temos as nossas vantagens comparativas e competitivas. Temos de levar as coisas com serenidade, trabalhar junto dos operadores, fazer com que o turista saia mais do hotel, contacte com a comunidade, consuma localmente, isso é um trabalho nosso”, diz Emanuel Almeida.

Lonely Planet

É a maior editora de guias de viagem do mundo. A empresa é propriedade da BBC Worldwide, que comprou 75 por cento das acções dos fundadores, Maureen e Tony Wheeler, em 2007, e os 25 por cento restantes em Fevereiro de 2011.

Com o nome original de de Lonely Planet Publications, a empresa alterou o nome em Julho de 2009 para reflectir a grande oferta de produtos relacionados com a indústria de viagens. Em 2010 já tinha publicado 500 títulos, em oito idiomas, bem como programas de televisão, uma revista, aplicações para telemóveis e sites.

A Lonely Planet também tem a própria produtora de televisão, responsável por diversas séries, comoLonely Planet Six Degrees, The Sport Traveller, Going Bush, Vintage New Zealand, Bluelist Australia eLonely Planet: Roads Less Travelled. A sede da empresa fica em Footscray, um subúrbio de Melbourne, na Austrália, e mantém filiais em Londres e Oakland, Califórnia.


CARTA ABERTA PARA O PRESIDENTE DA GUINÉ-BISSAU, JOSÉ MÁRIO VAZ




Sua Excelência Senhor Presidente da República, espero que esteja em ótima condição de saúde física e mental. Que a sua família se encontre em plena paz.

Tomo a liberdade, na qualidade de um cidadão guineense, de lhe endereçar a presente e modesta missiva no sentido de lhe persuadir a cumprir com os ditames da constituição da república que lhe incumbiu a responsabilidade de garantir a paz e de ser garante da constituição.

Gostaria de lhe dirigir em outras ocasiões mais alegres, mas infelizmente, esta é a trajetória que o destino nos afrontou.

A minha preocupação ganhou raiz no famoso adágio popular guineense “kil ki  guineenses papia kata maina”.  Lembro-me de ter ouvido algumas vezes o meu pai, contemplado ao ministério que o senhor ministrava dizer- “Jomav é um homem competente”, pois ele só reforça o consenso nacional. Mas, hoje muita coisa me fez voltar atrás e fazer uma série de questionamentos. Mas, quero aproveitar antes de fechar esta carta aberta, meu querido presidente, para lhe pedir e rogar o seguinte:

Por mais difícil que seja a situação procure sempre o diálogo como o caminho, insista em conversar sempre. A minha preocupação é também a de muitos compatriotas. O meu sonho era de um dia voltar para História e poder dizer para meus filhos – olha o que Jomav fez, e não – olha o que Jomav  estragou.  Lembro-me ainda de entusiasmo com que os guineenses aplaudiram a sua eleição para dirigir a Nação durante 5 anos, muitos disseram “gos no safa”.

Se for verdade, o que se tem falado sobre o derrube de governo… sei lá. Mas não deixo registrar desde já a minha preocupação como guineense e jovem, que acredita profundamente nos ideais de uma ˝Guiné Suíça de África˝. Peço ao senhor Presidente que olhe para trás e se lembre que nossa História é uma História de sangue e mais sangue! Nós marchamos sobre soldados anónimos, homens e mulheres que se tombaram em vão, porque a Independência ainda não se traduziu em liberdade total. Tenha paciência querido presidente, criatura de Deus.

Este povo já comeu o pão que diabo amassou e pior, já ficou sem luz no abismo. Acreditamos no Senhor – Primeiro Magistrado da Nação, não por nada, a não ser por ser um presidente que não derrubaria a nossa esperança. Será que estamos enganados? Espero que não.

Sua excelência Presidente da República, seja realmente garante da Paz e não se levante contra os velhos de Boé, aqueles que aceitaram deitar-se no chão e transformaram-se em ponte para que possamos chegar ao Insalma e entregar a terra nas mãos dos que têm difícil tarefa –  construir na prática os sonhos de Amílcar Cabral (desenvolver Guiné e criar riqueza para todos os guineenses).

Amado presidente, não faz muito tempo que ganhamos fôlego no estrangeiro e poder dizer num tom relaxado – SOU GUINEENSE, isto porque algo vai bem, se gosta ou não.

Nós queremos viver em paz, queremos trabalhar em paz e construir oportunidades na terra de Cabral. Peço-lhe como nunca aconteceu numa democracia se é que a temos: tenha dor de “mindjeris bideras” que sustentam famílias e tenha piedade dos guineenses. Converse com governo, no sentido de encontrar soluções, pois é normal dissensões no campo da política, o que não é normal é não dialogar.

Espero que seja mais flexível, aja com naturalidade, pois dizia Amílcar: ˝pensar antes para melhor agir˝.

Que Deus lhe dê força e paciência e que tudo corra com tranquilidade e que a Guiné possa normalmente trilhar caminhos de progresso, bem-estar e desenvolvimento pleno. Viva nação guineense e um forte abraço para Sua Excelência. Espero o não ter ferido e nem magoado a sua sensibilidade, caso acontecer peço desde já as minhas mais sinceras desculpas. O meu objetivo é partilhar o grito do povo guineense e de todos aqueles que acreditam num alvorecer novo e radiante para todos nós. Um forte abraço para senhor e toda sua equipa. Rogo a Deus que lhe proteja e guarde de más influências e lhe guie sempre que quer desviar e não lhe deixar cair em tentações jamais. Bem nos haja.

Tamilton Teixeira, em O Democrata (gb), opinião

José Mário Vaz. PR da Guiné-Bissau apela aos guineenses para aumentarem produtividade




O Presidente da República da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, fez hoje um apelo durante um discurso à nação para que os guineenses trabalhem mais e aumentem a produtividade.

Bissau, 03 jul (Lusa) - O Presidente da República da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, fez hoje um apelo durante um discurso à nação para que os guineenses trabalhem mais e aumentem a produtividade.

"Nós, os guineenses, trabalhamos muito pouco e talvez por isso temos tido mais tempo para boatos, especulações e rumores", referiu o chefe de Estado.

José Mário Vaz discursava no parlamento numa sessão especial para rejeitar alegados planos para demitir o governo.

Apesar de reconhecer divergências, Vaz afastou o cenário de crise política e expressou disponibilidade para apoiar as atividades do Executivo e procurar compromissos para que a legislatura se cumpra - algo inédito na Guiné-Bissau.

Com esta postura, o Presidente disse esperar contribuir para que haja "menos palavras e mais trabalho", uma afirmação a que já deu destaque em outras intervenções públicas desde que tomou posse, há um ano.

"Não conheço nenhum país onde só se trabalhe três a quatro horas por dia e consiga pôr a economia a crescer", sublinhou.

"A minha preocupação com o trabalho e aumento da produção prende-se com o facto de estarmos cada vez mais distantes na implementação das diretivas da União Económica e Monetária da África Ocidental (UEMOA)", o que no futuro vai obrigar a esforços acrescidos para recuperar o atraso em relação a países da sub-região.

José Mário Vaz referiu que as insinuações "só servem para desviar a atenção dos problemas de fundo" que continuam a existir no país, como a corrupção, delapidação de bens públicos, nepotismo e conflito de interesses".

Problemas que segundo o Presidente guineense "desvirtuam a sociedade, minam as instituições e afastam investidores sérios".

O Chefe de Estado disse não abdicar do seu papel de árbitro no xadrez institucional e prometeu rigor na observação do Orçamento Geral do Estado, referindo que saberá "estar à altura" se detetar deslizes nas contas - que, na sua opinião, têm que ter consequências.

Lusa, em Notícias ao Minuto

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