Alerta
da Lonely Planet sobre Cabo Verde
A
Lonely Planet está a informar os turistas que pretendem visitar Cabo Verde
sobre a violência em crescimento na Praia e para o aumento dos roubos em São Vicente. Na
capital, a partir da noite, os turistas são mesmo aconselhados a apanharem
sempre um táxi, seja qual for a distância a percorrer. Mais, na sua página na
Internet a Lonely Planet adverte também que nos últimos anos certos locais da
Boa Vista e de Santiago – como o Tarrafal – se tornaram pontos de banditismo.
Este tipo de advertências não se encontra nos guias essenciais de outras ilhas
turísticas como as Maurícias ou as Seychelles.
Estes
alertas estão no site da maior editora de guias de viagem do mundo. Autoridades
e operadores consideram que tem de se lhe dar a devida atenção, mas sem exageros.
Contactado pelo Expresso das Ilhas, Emanuel Almeida, Director-geral do Turismo em Cabo Verde , que disse
desconhecer estas informações, sublinhou que: “temos de estar cientes que no
turismo, na parte da concorrência, não estamos sozinhos e temos de aceitar que
há jornalistas e países com estratégias de desvio de fluxo”.
No
entanto, o responsável não deixa de alertar que o turismo é um sector
super-sensível. “Se acontecer alguma coisa, mesmo que seja só a um turista, é
mau. Primeiro, porque ele já não volta. E segundo, porque faz circular a
informação. Qualquer violência sobre o turista, afecta o turismo. Trabalhamos
com a Polícia Nacional, para terem todos os meios possíveis, para trabalharem
pelo bem-estar da população residente e também dos turistas”.
O
turismo é mesmo um sector sensível, onde a mínima alteração pode provocar uma
fuga de visitantes. No final da semana passada a Tunísia sentiu isso na pele.
Estava a ser apenas mais uma sexta-feira de praia, quando um atirador disparou
sobre os veraneantes, fazendo 39 vítimas mortais. Apesar do governo ter reagido
rapidamente (no dia seguinte foram apresentadas treze medidas para reforçar a
segurança, como se pode ler na página do ministério que tutela o sector), o
atentado provocou uma saída em massa de visitantes, num país onde o turismo
pesa mais de 15 por cento no PIB.
Segundo
os últimos cálculos, o turismo tunisino perderá este ano, pelo menos, 515
milhões de dólares, mais de 50 milhões de contos cabo-verdianos. “O ataque teve
um forte impacto na economia e as perdas serão elevadas”, disse Salma Loumi,
ministra do Turismo, citada pela Reuters.
Um
golpe avassalador para um país que tentava recuperar. No ano passado aterraram
na Tunísia 6,1 milhões de visitantes, menos 3,2 por cento em comparação com
2013, mas as receitas turísticas cresceram 6,4 por cento e parecia que a
confiança dos turistas estava a ser restaurada depois da Primavera Árabe ter
provocado a perda de visitantes. Agora, o ataque em Sousse fez regredir a
sensação de segurança. Salma Loumi adiantou que o governo está a planear
acabar com a taxa turística e quer aliviar as dívidas bancárias das empresas
hoteleiras para tentar ajudar a indústria.
Mas,
não é caso único. Na Índia, por exemplo, a chegada de turistas estrangeiros
caiu 25 por cento desde que foram conhecidos os casos de violações e o número
de viajantes mulheres baixou 35 por cento, de acordo com o estudo das Câmaras
Associadas do Comércio e Indústria, de Nova Deli.
A
escalada da violência entre Israel e o Hamas, na Faixa de Gaza, teve também
efeitos colaterais no turismo da Cisjordânia. Na época natalícia, no ano
passado, os profissionais hoteleiros disseram que a percentagem de
anulações alcançou cerca de metade das reservas feitas para Novembro e
Dezembro.
E
muitas vezes, as ameaças ao turismo não têm somente a ver com questões de
violência. Por exemplo, hoje a UNESCO vai anunciar se a Grande Barreira de
Coral será incluída na lista de Património Mundial em risco. Uma decisão que
preocupa as autoridades australianas. A Grande Barreira de Coral é não só
uma preciosidade em termos de biodiversidade, com os seus mais de 2.500 recifes
individuais que albergam corais únicos e milhares de espécies diferentes de
animais, mas também uma importante fonte de receitas turísticas – gerando mais
de mil milhões de dólares de receitas todos os anos. Nos últimos anos, no
entanto, as organizações ambientais têm chamado a atenção para a degradação do
ecossistema, causada pelas alterações climáticas mas também pelas consequências
do desenvolvimento e actividade portuária na zona. Alguns corais foram
gravemente danificados e algumas espécies, como os dugongos e as tartarugas
verdes gigantes, encontram-se ameaçadas. Segundo a Greenpeace, metade dos
corais do recife perderam-se nos últimos 30 anos. Por isso, as autoridades
australianas têm encetado esforços internacionais para provar à UNESCO que a
situação da Grande Barreira de Coral não é assim tão dramática e que têm sido
feitos esforços para reduzir o desenvolvimento portuário e a descarga de
sedimentos dragados.
Pedro
Guerra, da Cabo Verde Island Tours, disse ao Expresso das Ilhas, por mail, que
teve conhecimento do artigo da Lonely Planet e que está a acompanhá-lo
dando-lhe a importância que o mesmo merece, “auscultando sempre o mercado,
neste caso os operadores, que são quem trabalha a indústria Turismo, faz e
desfaz destinos, como é do conhecimento de todos os intervenientes”.
“Encontro-me
no Brasil a fechar contratos com dois dos maiores operadores brasileiros, e em
momento algum das nossas jornadas de trabalho veio esse assunto para cima da
mesa. Encontro-me também a trabalhar com um grande operador da Rússia e um
Norte-Americano, e, novamente, em momento algum senti qualquer desconforto em
relação ao assunto em epígrafe”, refere o empresário.
Apesar
de não haver qualquer estudo sobre o impacto da violência sobre o turismo do
arquipélago, nos últimos anos os casos de roubos envolvendo turistas em Cabo Verde tornaram-se
mais mediáticos. Em Fevereiro deste ano, um casal de turistas franceses foi
assaltado e agredido na ilha do Fogo. Ainda no início deste ano, uma reportagem
do Expresso das Ilhas chamava também a atenção para o que se passava na Cidade
Velha, onde no espaço de dois meses, três assaltos registados a turistas
lançaram o dessossego no município. Foram essencialmente assaltos de esticão.
Empurra – puxa - foge, muitas vezes magoando as vítimas, que assustadas mostram
vontade de partir o mais depressa possível para, segundo dizem, nunca mais
voltar.
Da
parte, tanto da Câmara, como dos operadores turísticos e hoteleiros, havia
então o receio de que estas situações manchassem a imagem da Cidade Velha.
“Ainda estamos numa fase de desenvolvimento turístico, e não podemos afugentar
os que estão a aparecer. Daí que esta é uma situação que tem de ser resolvida o
quanto antes como forma de não matar a galinha [dos ovos de ouro]”, afirmava,
na altura, o autarca Manuel de Pina.
Estas
notícias talvez expliquem os alertas que se espalham sobre Cabo Verde. E não só
no site da Lonely Planet. Recentemente, uma turista francesa confessou ao
Expresso das Ilhas que os avisos sobre Cabo Verde eram tantos que se sentiu
assustada antes de viajar. E no portal das Comunidades Portuguesas, nos
conselhos de segurança a quem quer visitar o arquipélago pode ler-se: “tem vindo
a verificar-se um aumento do número de assaltos à mão armada no arquipélago,
nos principais centros urbanos e turísticos (Cidade da Praia, Mindelo, ilha do
Sal e Boavista). Os turistas devem evitar passear à noite em áreas pouco
movimentadas e ostentar objectos de valor”.
“Não
devemos ser alarmistas, mas devemos ter cautelas”, diz Emanuel Almeida ao
Expresso das Ilhas. “Registamos cada notícia desse género, como registamos
qualquer crítica de qualquer turista, mas temos de fazer o nosso trabalho.
Responder só para avolumar esse tipo de notícias, isso não queremos”.
No
entanto, o Director-geral do Turismo não deixa de chamar a atenção para o facto
de o país ser altamente dependente do turismo, de onde vem mais de 22 por cento
do PIB nacional.
“São
problemas emergentes num país pobre”, sublinha por sua vez Pedro Guerra, da
Cabo Verde Island Tours, “mas não diferentes das ditas sociedades
desenvolvidas. Nunca nenhum operador me falou sobre o tema, fala-se sim da
Síria, da Turquia, do Egipto, agora em Cabo Verde , não temos nem sequer registos de
qualquer manifestação que possa colocar em causa o destino, requer sim, que
seja olhado com verdade, com profissionalismo e de frente, como qualquer outro
factor de risco em qualquer outra actividade, deve-se trabalhar sempre no
sentido de monitorizar e criar pontos de controlo para evitar situações de mau
estar a quem nos visita”.
“Não
acredito que [o aviso da Lonely Planet] vá ter influência negativa no turismo
de qualquer das ilhas”, reforça o empresário. “Como é óbvio, má publicidade
nunca é boa para ninguém, mas quem anda no mundo dos negócios saber fazer a
leitura correcta do acontecimento, e até o porquê da saída de tal notícia, nada
é feito ao acaso e visa sempre um fim, mas neste caso específico, se tivermos
em linha de conta o acima referido, e sentindo que os operadores não estão
inquietos, não passa de uma jogada”.
“Não
se pode dizer que o turismo acontece por acaso em Cabo Verde ”, conclui o
Director-geral do Turismo. “Temos as nossas vantagens comparativas e
competitivas. Temos de levar as coisas com serenidade, trabalhar junto dos
operadores, fazer com que o turista saia mais do hotel, contacte com a
comunidade, consuma localmente, isso é um trabalho nosso”, diz Emanuel Almeida.
Lonely
Planet
É
a maior editora de guias de viagem do mundo. A empresa é propriedade da BBC
Worldwide, que comprou 75 por cento das acções dos fundadores, Maureen e Tony
Wheeler, em 2007, e os 25 por cento restantes em Fevereiro de 2011.
Com
o nome original de de Lonely Planet Publications, a empresa alterou o nome em
Julho de 2009 para reflectir a grande oferta de produtos relacionados com a
indústria de viagens. Em 2010 já tinha publicado 500 títulos, em oito idiomas,
bem como programas de televisão, uma revista, aplicações para telemóveis e
sites.
A
Lonely Planet também tem a própria produtora de televisão, responsável por
diversas séries, comoLonely Planet Six Degrees, The Sport Traveller, Going
Bush, Vintage New Zealand, Bluelist Australia eLonely Planet:
Roads Less Travelled. A sede da empresa fica em Footscray, um subúrbio de
Melbourne, na Austrália, e mantém filiais em Londres e Oakland, Califórnia.
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