sábado, 4 de julho de 2015

Maior editora de turismo do mundo avisa sobre violência na Praia e em São Vicente




Alerta da Lonely Planet sobre Cabo Verde

A Lonely Planet está a informar os turistas que pretendem visitar Cabo Verde sobre a violência em crescimento na Praia e para o aumento dos roubos em São Vicente. Na capital, a partir da noite, os turistas são mesmo aconselhados a apanharem sempre um táxi, seja qual for a distância a percorrer. Mais, na sua página na Internet a Lonely Planet adverte também que nos últimos anos certos locais da Boa Vista e de Santiago – como o Tarrafal – se tornaram pontos de banditismo. Este tipo de advertências não se encontra nos guias essenciais de outras ilhas turísticas como as Maurícias ou as Seychelles.

Estes alertas estão no site da maior editora de guias de viagem do mundo. Autoridades e operadores consideram que tem de se lhe dar a devida atenção, mas sem exageros. Contactado pelo Expresso das Ilhas, Emanuel Almeida, Director-geral do Turismo em Cabo Verde, que disse desconhecer estas informações, sublinhou que: “temos de estar cientes que no turismo, na parte da concorrência, não estamos sozinhos e temos de aceitar que há jornalistas e países com estratégias de desvio de fluxo”.

No entanto, o responsável não deixa de alertar que o turismo é um sector super-sensível. “Se acontecer alguma coisa, mesmo que seja só a um turista, é mau. Primeiro, porque ele já não volta. E segundo, porque faz circular a informação. Qualquer violência sobre o turista, afecta o turismo. Trabalhamos com a Polícia Nacional, para terem todos os meios possíveis, para trabalharem pelo bem-estar da população residente e também dos turistas”.

O turismo é mesmo um sector sensível, onde a mínima alteração pode provocar uma fuga de visitantes. No final da semana passada a Tunísia sentiu isso na pele. Estava a ser apenas mais uma sexta-feira de praia, quando um atirador disparou sobre os veraneantes, fazendo 39 vítimas mortais. Apesar do governo ter reagido rapidamente (no dia seguinte foram apresentadas treze medidas para reforçar a segurança, como se pode ler na página do ministério que tutela o sector), o atentado provocou uma saída em massa de visitantes, num país onde o turismo pesa mais de 15 por cento no PIB.

Segundo os últimos cálculos, o turismo tunisino perderá este ano, pelo menos, 515 milhões de dólares, mais de 50 milhões de contos cabo-verdianos. “O ataque teve um forte impacto na economia e as perdas serão elevadas”, disse Salma Loumi, ministra do Turismo, citada pela Reuters.

Um golpe avassalador para um país que tentava recuperar. No ano passado aterraram na Tunísia 6,1 milhões de visitantes, menos 3,2 por cento em comparação com 2013, mas as receitas turísticas cresceram 6,4 por cento e parecia que a confiança dos turistas estava a ser restaurada depois da Primavera Árabe ter provocado a perda de visitantes. Agora, o ataque em Sousse fez regredir a sensação de segurança. Salma Loumi adiantou que o governo está a planear acabar com a taxa turística e quer aliviar as dívidas bancárias das empresas hoteleiras para tentar ajudar a indústria.

Mas, não é caso único. Na Índia, por exemplo, a chegada de turistas estrangeiros caiu 25 por cento desde que foram conhecidos os casos de violações e o número de viajantes mulheres baixou 35 por cento, de acordo com o estudo das Câmaras Associadas do Comércio e Indústria, de Nova Deli.

A escalada da violência entre Israel e o Hamas, na Faixa de Gaza, teve também efeitos colaterais no turismo da Cisjordânia. Na época natalícia, no ano passado, os profissionais hoteleiros  disseram que a percentagem de anulações alcançou cerca de metade das reservas feitas para Novembro e Dezembro.

E muitas vezes, as ameaças ao turismo não têm somente a ver com questões de violência. Por exemplo, hoje a UNESCO vai anunciar se a Grande Barreira de Coral será incluída na lista de Património Mundial em risco. Uma decisão que preocupa as autoridades australianas. A Grande Barreira de Coral é não só uma preciosidade em termos de biodiversidade, com os seus mais de 2.500 recifes individuais que albergam corais únicos e milhares de espécies diferentes de animais, mas também uma importante fonte de receitas turísticas – gerando mais de mil milhões de dólares de receitas todos os anos. Nos últimos anos, no entanto, as organizações ambientais têm chamado a atenção para a degradação do ecossistema, causada pelas alterações climáticas mas também pelas consequências do desenvolvimento e actividade portuária na zona. Alguns corais foram gravemente danificados e algumas espécies, como os dugongos e as tartarugas verdes gigantes, encontram-se ameaçadas. Segundo a Greenpeace, metade dos corais do recife perderam-se nos últimos 30 anos. Por isso, as autoridades australianas têm encetado esforços internacionais para provar à UNESCO que a situação da Grande Barreira de Coral não é assim tão dramática e que têm sido feitos esforços para reduzir o desenvolvimento portuário e a descarga de sedimentos dragados.

Pedro Guerra, da Cabo Verde Island Tours, disse ao Expresso das Ilhas, por mail, que teve conhecimento do artigo da Lonely Planet e que está a acompanhá-lo dando-lhe a importância que o mesmo merece, “auscultando sempre o mercado, neste caso os operadores, que são quem trabalha a indústria Turismo, faz e desfaz destinos, como é do conhecimento de todos os intervenientes”.

“Encontro-me no Brasil a fechar contratos com dois dos maiores operadores brasileiros, e em momento algum das nossas jornadas de trabalho veio esse assunto para cima da mesa. Encontro-me também a trabalhar com um grande operador da Rússia e um Norte-Americano, e, novamente, em momento algum senti qualquer desconforto em relação ao assunto em epígrafe”, refere o empresário.

Apesar de não haver qualquer estudo sobre o impacto da violência sobre o turismo do arquipélago, nos últimos anos os casos de roubos envolvendo turistas em Cabo Verde tornaram-se mais mediáticos. Em Fevereiro deste ano, um casal de turistas franceses foi assaltado e agredido na ilha do Fogo. Ainda no início deste ano, uma reportagem do Expresso das Ilhas chamava também a atenção para o que se passava na Cidade Velha, onde no espaço de dois meses, três assaltos registados a turistas lançaram o dessossego no município. Foram essencialmente assaltos de esticão. Empurra – puxa - foge, muitas vezes magoando as vítimas, que assustadas mostram vontade de partir o mais depressa possível para, segundo dizem, nunca mais voltar.

Da parte, tanto da Câmara, como dos operadores turísticos e hoteleiros, havia então o receio de que estas situações manchassem a imagem da Cidade Velha. “Ainda estamos numa fase de desenvolvimento turístico, e não podemos afugentar os que estão a aparecer. Daí que esta é uma situação que tem de ser resolvida o quanto antes como forma de não matar a galinha [dos ovos de ouro]”, afirmava, na altura, o autarca Manuel de Pina.

Estas notícias talvez expliquem os alertas que se espalham sobre Cabo Verde. E não só no site da Lonely Planet. Recentemente, uma turista francesa confessou ao Expresso das Ilhas que os avisos sobre Cabo Verde eram tantos que se sentiu assustada antes de viajar. E no portal das Comunidades Portuguesas, nos conselhos de segurança a quem quer visitar o arquipélago pode ler-se: “tem vindo a verificar-se um aumento do número de assaltos à mão armada no arquipélago, nos principais centros urbanos e turísticos (Cidade da Praia, Mindelo, ilha do Sal e Boavista). Os turistas devem evitar passear à noite em áreas pouco movimentadas e ostentar objectos de valor”.

“Não devemos ser alarmistas, mas devemos ter cautelas”, diz Emanuel Almeida ao Expresso das Ilhas. “Registamos cada notícia desse género, como registamos qualquer crítica de qualquer turista, mas temos de fazer o nosso trabalho. Responder só para avolumar esse tipo de notícias, isso não queremos”.

No entanto, o Director-geral do Turismo não deixa de chamar a atenção para o facto de o país ser altamente dependente do turismo, de onde vem mais de 22 por cento do PIB nacional.

“São problemas emergentes num país pobre”, sublinha por sua vez Pedro Guerra, da Cabo Verde Island Tours, “mas não diferentes das ditas sociedades desenvolvidas. Nunca nenhum operador me falou sobre o tema, fala-se sim da Síria, da Turquia, do Egipto, agora em Cabo Verde, não temos nem sequer registos de qualquer manifestação que possa colocar em causa o destino, requer sim, que seja olhado com verdade, com profissionalismo e de frente, como qualquer outro factor de risco em qualquer outra actividade, deve-se trabalhar sempre no sentido de monitorizar e criar pontos de controlo para evitar situações de mau estar a quem nos visita”.

“Não acredito que [o aviso da Lonely Planet] vá ter influência negativa no turismo de qualquer das ilhas”, reforça o empresário. “Como é óbvio, má publicidade nunca é boa para ninguém, mas quem anda no mundo dos negócios saber fazer a leitura correcta do acontecimento, e até o porquê da saída de tal notícia, nada é feito ao acaso e visa sempre um fim, mas neste caso específico, se tivermos em linha de conta o acima referido, e sentindo que os operadores não estão inquietos, não passa de uma jogada”.

“Não se pode dizer que o turismo acontece por acaso em Cabo Verde”, conclui o Director-geral do Turismo. “Temos as nossas vantagens comparativas e competitivas. Temos de levar as coisas com serenidade, trabalhar junto dos operadores, fazer com que o turista saia mais do hotel, contacte com a comunidade, consuma localmente, isso é um trabalho nosso”, diz Emanuel Almeida.

Lonely Planet

É a maior editora de guias de viagem do mundo. A empresa é propriedade da BBC Worldwide, que comprou 75 por cento das acções dos fundadores, Maureen e Tony Wheeler, em 2007, e os 25 por cento restantes em Fevereiro de 2011.

Com o nome original de de Lonely Planet Publications, a empresa alterou o nome em Julho de 2009 para reflectir a grande oferta de produtos relacionados com a indústria de viagens. Em 2010 já tinha publicado 500 títulos, em oito idiomas, bem como programas de televisão, uma revista, aplicações para telemóveis e sites.

A Lonely Planet também tem a própria produtora de televisão, responsável por diversas séries, comoLonely Planet Six Degrees, The Sport Traveller, Going Bush, Vintage New Zealand, Bluelist Australia eLonely Planet: Roads Less Travelled. A sede da empresa fica em Footscray, um subúrbio de Melbourne, na Austrália, e mantém filiais em Londres e Oakland, Califórnia.


Sem comentários:

Mais lidas da semana