quinta-feira, 23 de julho de 2015

FRANCOIS HOLLANDE, ISRAEL E A BOMBA ATÓMICA



Thierry Meyssan*

Na sua entrevista de 14 de Julho, na TF1 e France 2, o presidente François Hollande negou que Israel possua a bomba atómica. Ora, o Estado hebreu detêm 80 a 400 ogivas nucleares e já fez uso de bombas de neutrões sobre populações civis. Será Hollande ignorante, ao ponto de não ter idoneidade para ser o chefe das Forças Armadas e da "Force de Frappe" (arsenal nuclear francês- ndT), ou, usa simplesmente de má-fé, desprezando por completo os seus concidadãos?

Em 20 de maio de 2015, Israel, que participa na Força árabe Comum, largou uma bomba de neutrões no Iémene. Este tipo de bomba nuclear táctica mata os seres vivos sem destruir as infra-estruturas.

A tradicional entrevista do Presidente da República Francesa no 14 de Julho, a data da festa nacional, foi este ano a ocasião para François Hollande pronunciar todo o tipo afirmações indecentes e aberrantes.

Gostaria apenas de chamar a vossa atenção para a seguinte passagem, em resposta a uma pergunta de Claire Chazal, sobre o acordo dos 5 + 1 com o Irão (Irã-br):

«A França tem sido muito firme nesta negociação e Laurent Fabius conduziu-a com grande rigor e firmeza, também. Qual era a minha preocupação? Evitar a proliferação nuclear. O que significa proliferação nuclear? Isso significava a possibilidade do Irão poder aceder à arma nuclear. Se o Irão acedesse à arma nuclear a Arábia Saudita, Israel, e outros países, quereriam, também, ter acesso a armas nucleares. Isto seria um risco para todo o planeta. Por isso, era preciso impedir que o Irão pudesse aceder à arma nuclear» [1].

Assim, segundo o presidente Hollande, comandante dos Exércitos, e como tal responsável máximo pela Força nuclear francesa(“Force de Frappe”-ndT), Israel não teria armas nucleares.

Ora, todo o mundo sabe que Israel é uma das quatro potências nucleares que não assinaram o Tratado de Não-Proliferação (com a Índia, o Paquistão e a República Popular Democrática da Coreia).

Foi em 1956 que o presidente do Conselho de ministros francês, Guy Mollet (o antecessor de François Hollande à cabeça do Partido Socialista), organizou a transferência de tecnologia nuclear entre a França e Israel. Para fazer isso, ele atribuiu um escritório no Palácio de Matignon a Shimon Peres (futuro presidente de Israel), de onde este supervisionou a transferência. A França construiu a central (usina-br) nuclear de Dimona, no deserto de Neguev, da qual Shimon Peres se tornou director. Israel participou, igualmente, dos testes nucleares franceses no deserto argelino. Partidário da colonização, Guy Mollet apoiou-se em Israel para lutar contra a FLN argelina e fazer guerra no Egipto («crise» do Canal do Suez).

Esta cooperação deteriorou-se com Charles de Gaulle e terminou com a descolonização da Argélia. Quando, em 1967, Israel atacou os seus vizinhos árabes (teoria da "guerra preventiva"), o Egipto, a Jordânia e a Síria, De Gaulle rompeu as relações com Israel. Alguns dias mais tarde, os Estados Unidos assinaram um acordo secreto com Israel autorizando-o a deter a bomba (atómica- ndT), sob reserva de não fazer publicidade e de não proceder a novas experiências.

Israel prosseguiu as suas pesquisas, num primeiro tempo, com a ajuda dos britânicos —estes forneceram-lhes nomeadamente combustível pronto a utilizar—. Depois, com a ajuda da África do Sul, a partir de 1975. Aproveitaram bastante os ensaios nucleares Sul-africanos, particularmente em 1979, no Oceano Índico, sem violar, assim, o seu acordo com Washington.

Israel detém, actualmente, entre 80 a 400 ogivas nucleares e um grande número de bombas de neutrões. Ora, devido à natureza da topografia, as bombas nucleares estratégicas são de utilização impossível no ambiente geográfico próximo de Israel. Assim, o Estado hebreu especializou-se nas bombas de neutrões, cujo raio de acção é mais limitado. Estas, são as armas do capitalismo por excelência já que elas matam os seres humanos mas poupam as propriedades.

O conjunto deste programa foi revelado por um cientista israelita, oposto ao apartheid, Mordechai Vanunu, em 1986, noSunday Times [2]. Ele foi, na altura, raptado em Roma, pelo Mossad, repatriado para Israel e mantido em prisão incomunicável por 18 anos. Libertado em 2004, embora mantido em prisão domiciliar, concedeu uma entrevista a Silvia Cattori e foi imediatamente reencarcerado [3].

Em 2002, o estratega israelita Martin Van Creveld falou publicamente sobre o arsenal nuclear, e ameaçou os Europeus de retaliação, no seu próprio solo, se eles persistissem apoiando os Palestinianos [4]. Falou-se, então, do «complexo de Sansão», isto é, da ameaça de uma destruição suicida israelita para não aceitar uma derrota.

A 6 de Dezembro de 2006, o secretário de Defesa norte-americano, Robert Gates, admitia, aquando de uma audiência no Senado, que Israel possuía a bomba atómica. Poucos dias depois, o Primeiro-ministro israelita, Ehud Olmert, confirmava-o na sequência de uma frase, aquando de uma entrevista ao canal de TV alemão N24.

Em 2010, 18 Estados Árabes conseguiram fazer inscrever na agenda da AIEA (Agência Internacional de Energia Atómica) a questão das «capacidades nucleares israelitas». As Nações Unidas organizaram, então, uma conferência sobre o Tratado de Não-Proliferação Nuclear, durante a qual a República Islâmica do Irão propôs a criação de «uma zona livre de armas nucleares no Médio-Oriente» [5], baseada no modelo do que havia sido feito na América Latina, ou na Ásia Central. No entanto, este projecto fracassou devido à oposição de Israel e dos Estados Unidos. Estes últimos por armazenarem ilegalmente armas nucleares na Turquia.

Há não muito tempo, Israel fez uso de bombas de neutrões em Khiam, durante a guerra de 2006 contra o Líbano, e no Iémene em 20 de maio, último. Em ambos os casos foram efectuadas leituras de radiação.

Porque é que o Presidente Hollande nega factos amplamente confirmados? Por ignorância, ou, porque ele tenta justificar a posição francesa durante as negociações com o Irão, ao ponto de se enrodilhar na sua própria propaganda?

A 17 de Novembro de 2013, chegando ao aeroporto Ben Gurion, de Telavive, Francois Hollande declarava : — “Tamid écha-èr raver chèl Israel” —em hebraico : «Eu sou vosso amigo e eu sempre o serei» [6].

Thierry Meyssan - Tradução AlvaVoltaire.net

*Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación (Monte Ávila Editores, 2008).

Notas
[1] « Entretien de François Hollande pour la fête nationale » (Fr- «Entrevista de F. Hollande aquando do 14 de Julho»- ndT), par François Hollande, Réseau Voltaire, 14 juillet 2015.
[2] “Revealed : the secrets of Israel’s nuclear arsenal” (Ing- «Revelado : Os segredos do arsenal nuclear de Israel»- ndT), The Sunday Times, October 5, 1986.
[3] « C’est parce qu’Israël détient la bombe atomique qu’il peut pratiquer sans crainte l’apartheid » (Fr- «É por Israel possuir a bomba atómica que pode praticar, sem temer, o apartheid»- ndT), par Silvia Cattori, Traduction Marcel Charbonnier, Réseau Voltaire, 14 octobre 2005.
[4] “The War Game, a controversial view of the current crisis in the Middle East” (Ing- «O Jogo da Guerra, uma visão controversa da actual crise no Médio-Oriente»- ndT), Elsevier, 2002, no. 17, p. 52-53, 27 avril 2002.
[5] « Création d’une zone exempte d’armes nucléaires au Moyen-Orient » (Fr- «Criação de uma zona isenta de armas nucleares no Médio-Oriente),Réseau Voltaire, 4 mai 2010.
[6] « Déclaration de François Hollande à son arrivée à l’aéroport de Tel-Aviv » (Fr- «Declaração de F. Hollande à sua chegada ao aeroporto de Telavive»- ndT), par François Hollande, Réseau Voltaire, 17 novembre 2013.

Negócios com Angola. ETICAMENTE CONDENÁVEL




Catedráticos dizem que é “eticamente condenável” fazer negócios com Angola. Fazem-no numa carta publicada no jornal Le Monde. Dizem, aliás, o que o Folha 8 diz há 19 anos. Por alguma razão foram movidos mais de 100 processos contra o nosso Director.

Seja como for, a verdade começa a chegar aos areópagos internacionais. Mas vale tarde do que nunca. Reproduzimos, com satisfação e com a devida vénia, o artigo de Catarina Marques Rodrigues, publicado no jornal online português Observador.

“Investigadores de várias universidades pedem aos governos ocidentais para não esquecerem os Direitos Humanos quando assinam acordos com Angola e lembram os presos políticos. Há um português na lista.

Dezassete professores e investigadores de todo o mundo subscreveram um documento em que se mostram indignados com a assinatura de contratos de governos ocidentais com Angola, sem estes terem atenção à violação dos Direitos Humanos praticada por aquele país.

Dizem que pensar só no negócio “não só é eticamente condenável, como politicamente perigoso”, numa carta publicada pelo Le Monde. Entre eles estão professores catedráticos do King’s College de Londres, da Universidade de Paris1-Sorbonne, da Universidade do Michigan e um português, Ricardo Soares de Oliveira, que é professor de Política Comparada na Universidade de Oxford.

Os signatários apontam vários exemplos de repressão política por parte de Luanda que se verificaram nos últimos três meses, numa “clara violação dos direitos humanos”, destaca o Le Monde. A 20 de Julho, por exemplo, completou-se um mês desde que 15 activistas foram presos pelas autoridades angolanas sem nenhum mandato. São acusados de estarem a preparar um atentado em Luanda contra o Presidente angolano e outros membros dos órgãos de soberania. Os activistas foram apanhados em “flagrante delito” a ler livros sobre o activismo político não violento. Aos detidos não é permitido terem acompanhamento legal. O activista Marcos Mavungo também está detido sem mandato, na província de Cabinda, desde Março passado.

José Eduardo Agualusa foi notícia por participar no vídeo “Liberdade Já”, que pede a libertação dos activistas. A ele juntaram-se vários artistas e músicos. O apelo é comum. “Estava-se à espera que o país fosse abrir para a democracia, que fosse avançando para a democracia, mas nestes últimos meses temos assistido uma situação inversa. O regime tem vindo a fechar cada vez mais e a perseguir as poucas vozes críticas que se fazem ouvir”, dizia o escritor.

Rafael Marques também é exemplo citado no que diz respeito à repressão praticada pelos chefes de Luanda. Recorde-se que o Tribunal Penal de Luanda condenou o jornalista a seis meses de prisão por causa das informações divulgadas no livro “Diamantes de Sangue”.

Rafael Marques foi condenado por “difamação”. Em Abril, a polícia angolana invadiu um acampamento de uma seita cristã e fez vários mortos. Declarou depois aquela área como “zona militar” para impedir uma investigação independente encomendada pelo Comissário da ONU para os Direitos Humanos. No documento assinado pelos investigadores, divulgado pelo Le Monde, pode ler-se:

“Como amigos de Angola, nós, os investigadores europeus, norte-americanos e especialistas na história recente de Angola, pedimos ao governo angolano para reconhecer os direitos constitucionais dos activistas políticos presos. Apelamos aos governos e aos investidores europeus e americanos para estarem cientes das questões que levantámos aqui e para pensarem nestes princípios antes das oportunidades de investimento.”

Os académicos lembram que na visita de François Hollande a Luanda, a 3 de Julho, o único assunto foi a assinatura dos contratos entre empresas francesas e angolanas. Os presos políticos e o respeito pelas liberdades individuais não foram tema de conversa.

Folha 8 (ao)

LIBERDADE PARA OS PRESOS POLÍTICOS ANGOLANOS - COM VÍDEO






Liberdade Já | Freedom Now | Liberté immédiate

PT

"Nós, cidadãos independentes, de Angola e do mundo, vimos por este meio apelar às autoridades angolanas para que libertem imediatamente os jovens democratas, detidos em Luanda no dia 20 de Junho de 2015, sob a acusação de tentativa de Golpe de Estado. Desde o momento das detenções, há mais de um mês, ainda não foi apresentada nenhuma prova.

Apelamos às autoridades angolanas para que respeitem a liberdade de expressão e de pensamento consagradas na Constituição da República.

Os jovens presos lutam por uma Angola democrática, pacífica e socialmente mais justa. Nós também.

Defendemos uma Angola onde pensar diferente não seja um crime; onde, pelo contrario, as pessoas sejam encorajadas a pensar diferente, pois é nossa convicção que do confronto entre diferentes ideias podem sempre surgir ideias melhores.

A maior riqueza de Angola não é o petróleo. Não são os diamantes. A maior riqueza de Angola são as pessoas. Pessoas com ideias diferentes e um desejo comum de liberdade.

Precisamos criar um pensamento angolano que seja a soma criativa e dinâmica do pensamento de todos os angolanos.

Liberdade para os presos políticos, já!"

PRESS RELEASE PT: http://tiny.cc/presos_press

EN

- Record your testimony and send it to the e-mail liberdade20j@gmail.com

"We, the independent citizens of Angola and the world, hereby appeal to the Angolan authorities to immediate release our young democrats arrested in Luanda on 20th June 2015 on charges of an attempted coup d'état.
Since their detention more than one month ago, not a single piece of evidence has been presented.

We demand that the Angolan authorities respect the freedoms of speech and thought as enshrined in the Constitution of the Republic.

The arrested youth are fighting for a democratic, peaceful and socially fair Angola. WE are too!

We advocate an Angola where thinking differently is not a crime, where instead, people are encouraged to think differently. Because it's our conviction that the confrontation of different ideas always yield better ideas.

Angola's greatest wealth is not its oil. It is not its diamonds. Angola’s greatest wealth are its people. People with different ideas and a common desire of liberty.

We need to create an Angolan way of thinking that's the creative and dynamic sum of all our thoughts as Angolans.

Freedom to political prisoners, NOW!"

PRESS RELEASE: http://tiny.cc/PRESS_political_prisoners

FR 

- Enregistrez votre témoignage et envoyez-le à l'adresse email suivante: liberdade20j@gmail.com

"Nous, Citoyen d’Angola et du Monde, venons demander aux autorités angolaises, de libérer immédiatement les jeunes démocrates détenus à Luanda le 20 juin 2015, sous l’accusation de Coup d’Etat. Depuis leurs détentions, il y a plus d’un mois, aucune preuve n’a été donnée.

Nous demandons aux autorités angolaises le respect de la Liberté d’expression et de pensée consacrées dans la Constitution de la République.

L
es jeunes prisonniers luttent pour une Angola Démocratique, pacifique et socialement plus juste, Nous aussi.

Nous défendons une Angola où penser différemment ne soit pas un crime ; où, au contraire, les gens soient encouragés à penser de façon différente, car, c’est notre conviction que de la confrontation de points de vues différents naissent les meilleures idées.

La plus grande richesse de l’Angola n’est pas le pétrole. Ce ne sont pas les diamants non plus. La plus grande richesse de l’Angola ce sont les personnes, personnes aux idées différentes et un désir commun de Liberté.

Nous avons besoin de créer une pensée angolaise, qui soit la somme créative et dynamique de la pensée de tous les angolais.

Liberté pour les prisonniers politiques, maintenant."

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Luta política na Lunda. Ativista angolano é libertado e denuncia tortura na prisão




Um membro do Movimento Protetorado Lunda Tchokwe, detido há cerca de um mês em Angola, foi libertado. Rafael Muambumba está hospitalizado devido às agressões que sofreu e diz ter sido torturado na prisão.

As autoridades angolanas puseram em liberdade um membro do Movimento Protetorado Lunda Tchokwe, detido há cerca de um mês.

Rafael Muambumba, de 28 anos, foi detido no dia 26 de junho por, alegadamente, ter em sua posse material de propaganda de teor independentista a favor da região das Lundas, e por apelar à população para que exija melhores condições de vida junto das autoridades.

O ativista faz parte do Movimento Protetorado Lunda Tchokwe, uma organização que reivindica a autonomia da região designada Reino Lunda, que abrange as províncias da Lunda Norte, Lunda Sul, Moxico e Kuando Kubango.

Muambumba foi posto em liberdade na semana passada e conta que durante o tempo em que esteve detido foi várias vezes torturado por militares e agentes da polícia. Está neste momento hospitalizado em consequência das agressões que sofreu.

"Eles batiam-me. Batiam-me muito. Não me davam comida, nem sequer água. Agora estou com tosse, não consigo falar, o peito e a coluna doem-me", disse o ativista à DW África.
Afirmou ainda que esteve encarcerado numa cela solitária e sem luz, e que antes de ser posto em liberdade os investigadores da direção provincial dos Serviços de Investigação Criminal lhe disseram que da próxima vez que for detido será fuzilado.

"Ligavam às vezes uma lâmpada bem forte de noite, e de manhã desligavam-na. Ouvia-os a falar ao meu redor, a dizerem ‘vai morrer’", conta Rafael Muambumba.

"Crimes contra a humanidade nas Lundas"

Entretanto, José Mateus Zecamutchima, presidente do Movimento Protetorado Lunda Tchokwe, voltou acusar o Governo do Presidente José Eduardo dos Santos de crimes contra a humanidade na região das Lundas. Disse ainda que matar, perseguir e prender todos aqueles que lutam pela autonomia da região não irá resolver os problemas do povo.

"Lutarem contra nós, colocarem pessoas na prisão e maltratarem-nas não resolve absolutamente nada. O nosso desafio é que o governo apareça na mesa de diálogo e discuta abertamente e com transparência com o povo Lunda Tchokwe. Vai maltratando e vai tentando impedir os contestatários, mas não é com violência que isso se resolve, porque a violência pode gerar mais violência", declara Zecamutchima.

Apesar de não acreditar no sistema judiciário angolano, o presidente do Movimento Protetorado Lunda Tchokwe adiantou que a sua organização, através dos seus advogados, pondera processar o Estado angolano.

"Já temos esse processo encaminhado através da Associação Mãos Livres e do Dr. Marcolino Moco, embora este não se encontre no país, para que a reação seja feita de fora jurídica. Este governo, apesar de tudo o que faz ao povo, nunca escuta ninguém. A justiça angolana está manietada pelo poder. A justiça demora, mas um dia vai ter de falar."

A DW África tentou contactar por diversas vezes a Polícia Nacional Angolana, mas não obteve respostas até ao momento.

Nelson Sul D'Angola (Luanda) – Deutsche Welle

JORNALISTA NELSON SUL D’ANGOLA E QUATRO ATIVISTAS ANGOLANOS LIBERTADOS




Depois de nove horas "retidos" na cadeia de Calomboloca (Bengo), o jornalista Nelson Sul D'Angola e quatro ativistas angolanos foram libertados na noite desta quarta-feira (22.07). Eles serão ouvidos por procurador.

O jornalista Nelson Sul D'Angola, correspondente da DW África em Angola, tinha se deslocado à unidade prisional de Calomboloca, na província do Bengo nos arredores da capital Luanda, durante a manhã de quarta-feira (22.07). Esteve na companhia de uma comitiva do Grupo de Apoio aos Presos Políticos Angolanos (GAPPA), para visitar sete dos 15 jovens em prisão preventiva, desde o final de junho, acusados de prepararem um golpe de Estado.

A visita foi impedida. Nelson Sul D'Angola e quatro ativistas angolanos – Rafael Morais e Pedro Narciso, da SOS Habitat, e João Malivendele e Jesse Lufendo, da OMUNGA – passaram ainda o dia "retidos" pelas autoridades.

O jornalista angolano foi acusado de "ter tirado fotos da fachada do estabelecimento prisional e de ter feito entrevistas" com os ativistas.

Já os quatro ativistas, que também passaram o dia "retidos", são acusados de "pretenderem fazer política no estabelecimento prisional". Todos tiveram os seus telemóveis apreendidos, bem como os equipamentos de trabalho do jornalista e os haveres dos ativistas da OMUNGA e da SOS Habitat.

Esta quinta-feira (23.07), o jornalista e os quatro ativistas angolanos terão de se apresentar ao Comando Municipal de Icolo e Bengo para serem ouvidos por um procurador.

Em entrevista à à DW África, André Augusto, da organização não-governamental SOS Habitat, contou o que aconteceu.

DW África: Que relatos ouviu sobre as "retenções" do jornalista Nelson Sul D'Angola e dos ativistas angolanos?

André Augusto (AA): As organizações decidiram fazer uma visita aos nossos jovens ativistas que estão presos há mais de um mês na cadeia de Catete. Então, os técnicos ligados ao grupo de acompanhamento aos presos políticos deslocaram-se para a cadeia de Calomboloca para visitar sete jovens, dos 15 que estão presos há mais de um mês. Postos lá, portanto, acabaram por também estarem privados da sua liberdade.

DW África: Por quanto tempo eles estiveram "retidos"?

AA: Ficaram "retidos" das 12 horas às 21 horas [tempo local de Angola]. Só foram colocados em liberdade às 21 horas. Às 12 horas foi o último momento em que se conversou com o Rafael [Morais]. Perdemos já a comunicação com ele, eram cerca de meio-dia.

Ao meio-dia, ele mandou a mensagem de que o jornalista Nelson Sul D'Angola tinha sido detido e estava sob o interrogatório lá na esquadra de Calomboloca. Só às 21 horas e 30 minutos é que conseguimos ter a nova notícia de que eles tinham sido colocados em liberdade.

DW África: Como é que se encontram o jornalista e os ativistas neste momento?

AA: Eu conversei com o sr. Rafael e ele está bem, mas informou que aconteceram muitas coisas que ele poderá contar esta manhã. No entanto, depois que foram detidos, lhes foram retirados os telemóveis. Parece que os policiais mexeram nos telemóveis de maneira que, ao saírem da cadeia, não os possibilitou voltar a ligá-los para poderem se comunicar conosco.

DW África: O que irá acontecer esta quinta-feira (23.07)? Vão ser ouvidos por um procurador. O que se pode esperar?

AA: Nós estamos preocupados com a situação, porque está a torna-se cada vez mais perigosa - numa altura em que se invoca estarmos num país de direito democrático, onde as pessoas teriam o direito de exercer livremente os seus direitos. Mas, infelizmente, não sei por onde anda a cabeça deste Governo. Continua, então, a impedir, as liberdades e garantias fundamentais dos cidadãos.

Logo, é mais uma liberdade de alguns indivíduos que foi, portanto, impedida. Porque visitar alguém que está detido numa cela, numa cadeia, não é crime. Isto é preocupante numa altura em que estamos a nos aproximar das eleições, em 2017, e este Governo começa a comportar-se dessa forma.

DW África: O jornalista Nelson Sul D'Angola foi acusado de "tirar fotografias e entrevistar os ativistas". Os quatro ativistas das organizações angolanas – SOS Habitat e OMUNGA – foram acusados de estar a "fazer política no estabelecimento prisional". Eles confirmam ou desmentem essas acusações?

AA: Nós ainda não conseguimos conversar de uma forma amena com os nossos amigos que estavam "retidos", pelas razões já aqui invocadas. Mas hoje [23.07], teremos uma boa informação sobre o que aconteceu.

A informação que me foi dada pelo Rafael é que ainda hoje voltarão a Catete para, se calhar, tratar de algumas questões. Mas mesmo nós, também tivemos dificuldade de nos comunicar com eles.

Depois de saírem da cadeia, quer o Nelson Sul D'Angola, como o Jesse Lufendo, o Pedro [Narciso] e o Rafael Morais, estiveram todos com os telefones desligados. Desconfio que na altura em que foram retidos, os policiais terão mexido nos seus telemóveis.

Glória Sousa / Cristiane Vieira Teixeira – Deutsche Welle

Angola. FLEC/FAC EXIGE A PRISÃO DOS GENERAIS KOPELIPA E ZÉ MARIA




A Direcção Política da FLEC/FAC, “requer a imediata prisão” do general Manuel Hélder Vieira Dias Júnior “Kopelipa”, ministro de Estado e chefe da Casa Militar da Presidência da República, e do general António José Maria “Zé Maria” chefe do Serviço de Inteligência e Segurança Militar (SISM) das Forças Armadas Angolanas (FAA), “por crimes contra a humanidade e crimes de guerra cometidos em Cabinda durante os últimos cinco anos.”

Eis, na íntegra, o comunicado da FLEC/FAC hoje enviado à nossa Redacção a partir de Paris:

“Solicitamos ao Tribunal Federal Penal de Bellinzona (Suíça) de emitir uma prisão internacional, garantimos contra o general Manuel Hélder Vieira Dias Junior “Kopelipa” a sua responsabilidade “como um co-autor ou autor indirecto” de graves crimes cometidos em Cabinda incluindo os assassinatos de quatro comandantes da FLEC/FAC: o Comandante, João Massanga “Homem da Guerra”, comandante Maurício Lubota ‘De Sabata’, comandante João Alberto Gomes ‘Noite e Dia’ e o general Gabriel Nhemba “Pirlampo”.

Deixar António José Maria e Manuel Hélder Vieira Dias Júnior em liberdade significa aos olhos de Cabinda que a comunidade internacional, e particularmente Suíça, trabalha em cumplicidade com os criminosos de guerra.

A FLEC/FAC, sempre preferiu confiar na legitimidade internacional e o apoio da comunidade internacional a respeito da demanda por seus legítimos direitos.

A FLEC/FAC, solicita aos Estados Unidos de América, França, Alemanha, Bélgica, Portugal, Brasil e Espanha para abrir um inquérito criminal preliminar para averiguar o branqueamento de dinheiro e a investigação sobre os “ilícitos” contra esses dois generais, António José Maria e Manuel Hélder Vieira Dias Júnior.

Declaramos que a detenção destes dois grandes criminosos do século XXI sem condições seria a fonte de paz em Cabinda. A sua prisão colocará um fim à escalada militar, que actualmente é observada em Cabinda. A questão de Cabinda não vai encontrar nenhuma solução através da violência, mas sim pelo diálogo.

Esses dois generais não funcionam para o interesse geral da nação, mas para seus próprios interesses egoístas. E o Presidente José Eduardo Santos vai ter que assumir as suas responsabilidades.”

Folha 8 (ao)

Governo de Tete e Vale Moçambique reduzem salários de trabalhadores




A medida, segundo o Governo e a empresa, visa evitar o despedimento em massa dos trabalhadores, face à queda do preço do carvão metalúrgico no mercado internacional.

O governador da província de Tete, Paulo Auade que anunciou há dias a decisão de reduzir os salários bonificados aos operários da mineradora brasileira, revelou que a empresa pagava salários astronómicos que punham em causa a realidade salarial do país.

"Nós negociamos com a empresa Vale Moçambique para passar dos 18 salários para 13, e já está a fazer arranjos para diminuir o desemprego e os despedimentos", avançou Auade.
Os salários em causa foram acordados na sua maioria em 2013, entre a mineradora e os trabalhadores. O acordo tinha o seu término previsto para 2017.

Trabalhadores e sindicato condenam decisão

Em entrevista à DW África, um dos operários da mineradora Vale Moçambique, que pediu o anonimato, lamenta a posição do Governo provincial de apoiar a redução dos benefícios dos trabalhadores.

"Se o Governo incentiva o corte, numa altura que as coisas estão difíceis, e nós saímos de um lugar para o outro à procura de melhorias, e querem cortar os bónus, para nós é pesado", lamentou. Por outro lado, o entrevistado entende que "o patronato deveria indemnizar as pessoas e depois abrir o novo contrato".

Fernando Raice, Secretário Provincial do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Indústria de Construção Civil, Madeira e Mina de Tete (SINTICIM), considera infundada a justificação da mineradora brasileira Vale."A Vale quando chegou fez um estudo, sabia que o carvão tem destas situações da queda e subida do preço", explica.

No pacote dos cortes da Vale Moçambique está o pequeno-almoço que a empresa serve aos trabalhadores. No entanto, Fernando Raice diz que decorrem negociações no sentido de convencer a empresa a recuar na decisão.

Mineradora acumula prejuízos

Uma nota da Vale Moçambique indica que a retirada dos benefícios se deve à drástica queda do preço do carvão metalúrgico no mercado internacional, que ronda actualmente os 85 dólares por tonelada, cerca de 78 euros.

Na mesma nota, a empresa avança que no ano passado acumulou prejuízos na ordem dos 240 milhões de dólares, aproximadamente 220 milhões de euros.

O presidente da Autoridade de Moçambique, Rosário Fernandes, desdramatiza a situação. "Quer a ICVL [consórcio indiano International Coal Ventures Private Limited] como a Vale estão com condições de estabilidade mínimas para garantir os postos de trabalho e a produção".

Amós Zacarias (Tete) – Deutsche Welle

Moçambique. Governo repete “prova oral” no Parlamento e diz que o país está saudável



Emildo Sambo – Verdade (mz)

O Governo moçambicano, encabeçado pelo Primeiro-Ministro, Carlos Agostinho do Rosário, voltou ao Parlamento, na quarta-feira (22), para responder, pela segunda vez em três semanas, às perguntas dos deputados, fez uma radiografia positiva do país e considerou que a provisão de infra-estruturas económicas e sociais, bem como as vias acesso e a melhoria das condições de vida dos cidadãos continuam um desafio. Contudo, o acesso à saúde está a melhorar mercê da construção de unidades sanitárias mais próximo dos locais de residência e o país dispõe de medicamentos suficientes até Outubro próximo.

A Frelimo, que reconhece que o sector dos transportes continua problemático, quis saber do Executivo que acções estão em curso com vista a assegurar a disponibilidade de meios circulantes condignos para o povo.

A resposta, por intermédio de Carlos Agostinho, sustenta que esta área “requer soluções consentâneas e concertas de modo a satisfazer as necessidades de mobilidade da população dentro e fora das cidades ao preço mais acessível e um serviço de qualidade”. Estão em curso “estratégias para garantir a sustentabilidade de iniciativas em curso”.

Entretanto, há anos que as acções do Governo visando mitigar o sofrimento dos moçambicanos que dependem amplamente dos “chapas” e de mais transportes semicolectivos de passageiros estão em marcha e os seus efeitos na vida dos moçambicanos têm sido incipientes ou quase nulos, pois o martírio prevalece, até para quem dispõe de uma viatura particular porque as vias de acesso não respondem ao crescimento do parque automóvel, nos centros urbanos sobretudo.

O ministro dos Transportes e Comunicações, Carlos Mesquita, disse que para além de outras dezenas de autocarros alocados às províncias, a capital do país recebeu, recentemente, 28 veículos que foram disponibilizados à Empresa Municipal Transportes Públicos de Maputo (EMTPM), que opera diariamente com cerca de 90 autocarros para transportar pouco mais de 35 mil passageiros.

Em relação à água potável, outro sector problemático em Moçambique na medida em que ainda há milhares de cidadãos sem acesso a ela e que dependem dos rios, mormente nas zonas rurais, a bancada maioritária no Parlamento questionou o que é está a ser feito para o alargamento da rede de abastecimento. Carlos Martinho, ministro das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos, elencou uma série de obras em curso de sul a norte do país nas áreas sob sua tutela.

Para além da conclusão de sistemas de abastecimento de água nos distritos de Lalaua, Riane, Ribáuè, Ulónguè, Mocímboa da Praia, entre outros, Martinho falou da esperada ponte Maputo/KaTembe, da asfaltagem da Estrada Caniçado/Chicualacuala, Caniçado/Pelane e Mepuza/Mapai/ Chicualacuala, em Gaza, e Maxixe/Homoine, Agostinho Neto/Mutamba, em Inhambane, só para citar alguns exemplos.

Há medicamentos até Outubro

Na área da Saúde, Nazira Abdula, ministra do pelouro, afirmou que está em curso o alargamento da rede sanitária para as zonas periféricas do país. Em Maringanha Chihaquelane (Cabo Delgado e Gaza) estão em edificação centros de saúde do tipo 2 para minimizar o martírio do povo, em particular em Chókwè, fustigado pelas cheias em 2013.

Segundo a ministra, as mesmas actividades, e outras estão a ser desenvolvidas nos distritos de Gilé, Gurúè, Chinde, Milange (Zambézia), Marávia, Moatize, Changara, Angónia, Macanga, Mágoè (Tete), Mossuril, Mucubúri, Nacoroa e Muecate (Nampula), com vista a reduzir as distâncias que a população percorre para ter acesso a serviços médicos. Outras obras para a edificação de mais hospitais arrancam em Agosto próximo em Malema, Ribáuè, Lalaua, Mugovalas, Memba e Nacoroa (Nampula), Chiure, Ancuabe, Balama, Palma, Mocímboa da Praia, Montepuez (Cabo Delgado), Metarica, Cuamba, Majune, Marrupa, Lago e Mandimba (Niassa).

No primeiro semestre deste ano foram alocadas 110 novas ambulâncias em todas as províncias e nove minibuses paras as instituições de formação de transporte de trabalhadores, de acordo com a governante, além da afectação de 1.810 médicos, dos quais 694 de diversas especialidades e distribuídos pelos hospitais provinciais e centrais. Porém, o que a ministra não esclareceu é se esses profissionais de Saúde são novos ou não, ou se simplesmente foram transferidos de um região para outra.

De acordo com Nazira Abdula, em resposta a uma pergunta do MDM, será recebida a próxima tranche de fármacos para cobrir as necessidades dos hospitais até Abril de 2016. “Quanto aos anti-retrovirais, teremos disponibilidade a 100% de todas as linhas de tratamento durante todo o ano”.

Emissão de bilhetes de identidade não é satisfatória

O MDM procurou ainda saber por que razão é que há dificuldades para a aquisição de bilhetes de identificação e qual é o ponto de situação dos passaportes biométricos.

Os cidadãos de várias regiões de Moçambique queixam-se da morosidade na emissão dos bilhetes de identidade e alguns estão há pelo menos um ano à espera deste documento imprescindível no dia-a-dia. O ministro do Interior reconhece que o serviço “não é muito satisfatório”, porque “não acompanha” os pedidos de emissão. Porém, alega que tal situação tem a ver com gente que não recolhe os seus documentos, por exemplo. Já foram levantados 49. 914 bilhetes, faltando 210.550.

A Renamo voltou à carga com a questão do EMATUM, mas não teve respostas diferentes das que têm sido avançadas pelo Executivo, em contraposição a muitas correntes de opinião que defendem que o negócio foi mal pensado e é oneroso para o Estado moçambicano.

O debate continua nesta quinta-feira (23). Todavia, a Assembleia da República enfrenta a falta de deputados à altura de “esgotar” o Executivo com questões a fundo sobre as matérias que inquietam o povo, além de que se perde mais tempo a enaltecer os feitos dos líderes das formações políticas de que os parlamentares provêm e com troca de “mimos”.

A Renamo e o MDM não ficaram convencidas com as respostas do Governo e a Frelimo disse que está “satisfeita. Só quem não quer é que não vê o que o Governo está a fazer”.

Moçambique. Carta aberta ao senhor Afonso Macacho Marceta Dhlakama - Euclides da Flora



Verdade (mz), em Hora da Verdade

Exmo. senhor presidente da Renamo. Foram e são marcas que não se apagam da minha memória e que são “insistidas” pelas lembranças desagradáveis daquele dia de dor, que separa o mundo da felicidade do da dor: A minha família morreu carbonizada algures na província de Inhambane por causa da guerra dos 16 anos. O senhor calcula a minha dor?

Ataques relâmpagos estiveram na origem da captura e encarceramento da minha família numa casa feita de material precário, coberta de folhas de coqueiro secas, iluminada pelos raios solares durante o dia.

Os meus pais, tios e avôs morreram carbonizados numa guerra movida pela Renamo contra o Governo dirigido pelo partido Frelimo. Talvez, devido à nossa idade, na altura, ou por conta do destino, eu e a minha irmã fomos poupados desse massacre. Lembro e choro, a minha irmã corria com toda velocidade possível levando-me, incansavelmente, às costas. Enquanto ela chorava, eu imitava, de forma honesta, os seus prantos. Em tom de coro despedíamo-nos dos nossos parentes.

Eu e a minha irmã corríamos observando a distância que nos separava da minha família que queimava naquela humilde casa sob o olhar impávido e atento daqueles guerrilheiros armados. A última vez que vi o meu pai foi quando o finado tentou arrombar a porta para se escapulir mas foi traído pela esperteza de um guerrilheiro que o devolveu para dentro a balas e caiu para sempre. Bem distantes e aparentemente seguros, eu e a minha irmã vimos, com dor, a nossa casa ardendo com a nossa família lá dentro.

Foi por causa da guerra dos 16 anos que me desenvencilhei da minha família. Os moradores do meu bairro choravam, corriam e gritavam sem parar: “Matsanga (bandidos armados) está aqui para nos matar” e não sabemos que mal praticámos.

As lágrimas da minha irmã caíam de tristeza. Crescemos através da caridade e graças ao Pai Celestial suportámos as dificuldades da vida e nunca nos deixámos curvar perante a imoralidade.

Senhor presidente da Renamo, a guerra dos 16 anos ainda tem ressonância na alma dos moçambicanos, na minha vida nem falo. Não te quero culpar mas a minha família morreu nessa guerra promovida pelo senhor contra o Governo. Os seus actuais discursos rasgam o sono dos moçambicanos que estão preocupados com a estabilidade política do país.

Este povo já sofreu o suficiente com a guerra dos 16 anos e com a recente troca de “carinho militar” no troço rio Save-Muxúnguè entre as forças residuais da Renamo e as Forças Armadas da Defesa de Moçambique (FADM). O senhor não acha que o povo merece viver sem a preocupação de ter os dias contados por causada guerra?

Este maravilhoso povo que o elegeu durante as eleições de Outubro passado não merece ser recompensado com guerra. Ciente do que o senhor tem família, ao provocar um novo ciclo sangrento, a sua própria família pode também tombar nessa guerra. Por amor aos seus parentes, colegas, amigos e admiradores, não permita que essa guerra comece.

O país ainda recupera dos danos da guerra dos 16 anos. É o seu Moçambique. Senhor presidente da Renamo, espero que compreenda a minha intenção nesta carta.

Cumprimentos de um citadino residente nesta pátria amada.

Euclides da Flora

GRÉCIA, O ARAUTO DO COLAPSO FINANCEIRO GLOBAL



Valentin Katasonov

A crise da dívida grega está hoje nos radares. Mas é uma pena que 99% das publicações sejam dedicadas apenas às implicações para a Grécia e a eurozona. Esta questão deveria ser considerada num contexto mais vasto. As implicações deveriam ser analisadas à escala global.

Primeiro, seja qual for a espécie de acordo alcançado entre Atenas e Bruxelas, ninguém pode dizer o que está reservado à Grécia e à União Europeia. Se a Europa for afectada na totalidade, isto provocará ondas de choque que abrangem o mundo todo.

Segundo, evidentemente, nenhumas soluções fundamentais estão na agenda das conversações conduzidas pelos responsáveis dos estados. O Fundo Monetário Internacional é um participante nas negociações. Ele tem uma reputação de organismo internacional que nunca apresenta soluções reais para problemas. Pode-se com razão suspeitar que nem organizações internacionais nem a Grécia procuram realmente uma saída para a situação.

Há países que têm um rácio dívida-PIB muito mais elevado. No Japão, por exemplo, ele excede os 200%. Quando a crise financeira mundial estava no auge em 2008-2009 foram exprimidas novas ideias em cimeiras do G20 e outros fóruns. Nos últimos cinco anos todas elas caíram no esquecimento. Não deveria ser assim.

Em Fevereiro último o McKinsey Global Institute publicou seu relatório Debt and not Much Deleveraging. Diz ele que sete anos após o estouro de uma bolha global do crédito, a dívida continua a crescer. De facto, ao invés de reduzir o endividamento, ou desalavancar, todas as economias principais de hoje têm níveis de empréstimos em relação ao PIB mais altos do que tinham em 2007. A dívida global nestes anos cresceu em US$57 milhões de milhões (trillion),elevando o rácio dívida-PIB em 17 pontos percentuais.

Isto coloca novos riscos para a estabilidade financeira e pode minar o crescimento económico global. O montante da dívida mundial atingiu os US$199 milhões de milhões no fim de 2014, a comparar com US$142 milhões de milhões em 2007, com a taxa de crescimento excedendo o ritmo da expansão económica global e o rácio dívida-PIB aumentou de 269 para 286 por cento. Os autores deste relatório exprimem alarme. A situação global é pior do que no tempo em que a crise global se desencadeou. Naquele tempo a causa foi uma inundação de empréstimos hipotecários irresponsáveis nos EUA.

Hoje a situação é agravada pelos problemas na Europa devido à crise da dívida grega e pelo estouro da bolha do mercado de acções na China que afectam a economia global. A Grécia deveria ter sido uma advertência para a comunidade mundial. Este país apresenta uma boa lição a ser aprendida. Tais instrumentos tradicionais como reestruturação parcial, concessão de novos créditos e mesmo incumprimento soberano num país individual não podem proteger a humanidade da crise global da dívida. As regras da matemática financeira entram em jogo para disparar um processo que se assemelha à propagação do cancro, uma espécie de reacção em cadeia extremamente difícil de travar. Uma nova rodada de reestruturações ou ainda outros pacotes de ajuda apenas adiam o momento do colapso final.

Em 2012 a dívida grega foi reestruturada para ser reduzida em 100 mil milhões de euros ou cerca de 130% do PIB. A ajuda proporcionada pela "grande Troika" de prestamistas internacionais de moeda fê-la ascender para 170% num curto espaço de tempo. Hoje é igual a 175% do PIB. Bruxelas oferece um novo pacote de ajuda de 86 mil milhões de euros a ser reembolsado em três anos. Os peritos que analisaram os pormenores chegaram à conclusão de que no Verão de 2018 a dívida pública grega ultrapassará os 200% do PIB.

"Reestruturação da dívida", "ajuda financeira", "refinanciamento da dívida" – tudo isto são jogos só para dar aparência de actividade frenética. Em resultado destas "reformas" a economia grega afundou completamente. Seu PIB caiu em 20% nos últimos cinco anos. As novas medidas não podem travar o deslizamento para o fundo. O colapso da economia grega está pré-programado. Isto deveria provocar uma pausa em Bruxelas. A sua política é irracional. Ela mata a Grécia e toda a Europa unida. A reacção em cadeia a seguir afectará a Itália, a Espanha e Portugal. Alguns outros países europeus "fracos" podem sofrer quando o processo se desenrolar. Uma nova reestruturação da dívida grega pode atingir os grandes detentores de títulos gregos. Chipre foi uma presa na recente reestruturação que teve lugar em 2012. Foi preciso um grande esforço para resgatar aquela nação insular com a ajuda de decisões "não padronizadas" (confisco de depósitos).

Dizem que os deuses tornam loucos àqueles que pretendem destruir. Neste momento isto tem relação com Bruxelas. A pirâmide global da dívida mais cedo ou mais tarde desmoronará. Será um problema de resolução impossível. O efeito de propagação que se seguirá provocará um retrocesso violento. É difícil dizer com exactidão como acontecerá. Um cenário prevê um desenvolvimento espontâneo de acontecimentos inesperados para todos, incluindo os prestamistas de moeda. Em outro caso os prestamistas estarão bem preparados para o colapso. Eles o provocarão quando o momento for propício.

Desde há muito os prestamistas de moeda começaram a implementar uma política destinada a aumentar a dívida pública e geral. A dívida pública dos EUA chegou aos 110% do PIB. Ela pode ser aumentada um pouco mais – mas é difícil dizer exactamente quanto crescerá. Evidentemente, ninguém pode arcar com uma dívida igual a 500% do PIB. O governo dos Estados Unidos não podem atender ao serviço de uma tal dívida. Não é apenas a dívida total mas as taxas de juros que constituem o fardo sobre o orçamento. As taxas de juro dependem das taxas do Federal Reserve System as quais se mantêm nos 0,25% actualmente. Esta taxa permite à América aumentar a dívida. Um aumento de 2-3% (um nível muito modesto de acordo com os critérios do século passado) significaria um colapso. 

Isto pode disparar a implementação do plano "Zero" destinado a abolir dívidas, especialmente a dívida pública dos EUA denominada em US dólares. A implementação pode seguir alguns cenários. Num, por exemplo, o dólar poderia ser grandemente desvalorizado. Uma outra possibilidade é uma reforma monetária lançada pelo governo estado-unidense. Ele pode emitir novos dólares, ou uma nova divisa. Há poucos anos discutia-se a possibilidade de emitir o Amero , uma nova divisa para os Estados Unidos, Canadá e México. Washington trocaria dólares antigos por novos só na condição de os possuidores da nota verde provarem não estarem envolvidos em esquemas de lavagem de dinheiro, não terem relação com actividades terroristas, nunca terem violado sanções económicas e não terem relação com corrupção...

Alguns financeiros gostam de fazer piada dizendo que se houver activos alguém sempre terá alguma razão para duvidar da sua legalidade. Eles querem dizer que há uma ténue probabilidade de o Tio Sam trocar os velhos dólares por nova divisa. As reservas internacionais da China, Japão, Arábia Saudita e outros países, totalizando alguns milhões de milhões de dólares, desvanecer-se-ão juntamente com os milhões de milhões pertencentes a companhias e não residentes que utilizam contas off-shore. A dívida mundial hoje excede os 200 milhões de milhões, metade dela em US dólares. Cerca da metade da dívida em US dólar cabe a não residentes. A América terá de "incinerar" 50 milhões de milhões, ou cerca de dois terços do PIB global.

A implementação do Plano "Zero" provocará uma exacerbação abrupta dos relacionamentos inter-estatais. Isto pode levar a conflitos armados ou a uma grande guerra. Será que a humanidade sobreviverá em condições de sobrecarga e reinício? Prestamistas de dinheiro desejarão minimizar as despesas através do uso da força. Washington está abertamente a flexionar músculos. Acredita-se amplamente que a causa é seu impasse com Moscovo. Em alguma medida isso é verdade, mas há algo mais. Caso dívidas em dólar sejam anuladas as relações de Washington com o mundo exterior serão exacerbadas. Ela precisará demonstrar sua prontidão para utilizar a força.

Prestamistas de moeda acreditam que lhes será dada uma folha limpa para começar uma nova vida. Mas há muitos modos diferentes de fazer isto. Pode-se lançar a construção de uma outra pirâmide de dívida baseada na divisa de papel. Mas este padrão (como, por exemplo, o sistema de divisas da Jamaica com 40 anos de idade) foi desacreditado. A humanidade está farta dele. Uma nova pirâmide de dívida seria erguida mais rapidamente do que a anterior.

O outro cenário é mais realista. A humanidade pode voltar atrás para o padrão ouro que existiu cerca de 150 anos (em 1821 ele surgiu na Grã-Bretanha e foi eficaz até a conferência da Jamaica na década de 1970, quando foi rejeitado). Realmente, prestamistas de moeda estão bem preparados para este cenário. Este ponto de vista é apoiado por muitos factos. Durante muitos anos as reservas oficiais de ouro dos EUA e outros países foram esgotadas, especialmente o ouro armazenado em Fort Knox, Kentucky, onde o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos tem mantido o Depósito de Barras de Ouro (Bullion Depository) desde 1937. Esta instalação é operada unicamente pelo Departamento do Tesouro. Não houve auditoria ali desde a década de 1950. O mesmo se pode dizer dos cofres do Federal Reserve Bank of New York (Manhattan) – o guardião e custodiante do ouro em nome de detentores de contas, as quais incluem o governo dos EUA, governos estrangeiros, outros bancos centrais e organizações internacionais oficiais. A nenhuma entidade individual ou do sector privado é permitido armazenar ouro naquele cofre. A Alemanha desde 2012 tem estado a pedir o seu ouro de volta. Até agora não lhe foi dada oportunidade de auditar seu ouro armazenado em Manhattan. Isto dá o que pensar.

Não há dúvida de que o padrão ouro é bom só para prestamistas de ouro. Os outros terão de procurar pelo metal a fim de apoiar suas divisas. Este cenário encara a utilização do ouro como uma opressão dourada.

Resumindo tudo, pode-se chegar à conclusão de que não estão a ser feitas quaisquer tentativas a nível global para impedir uma crise financeira geral provocada pelas dívidas. Nenhumas ideias estão a ser avançadas nem pelo Fundo Monetário Internacional, nem pelo Bank of International Settlements, nem pelas Nações Unidas. Se assim é, negociações sérias sobre medidas preventivas deveriam ser iniciadas a nível regional. Os BRICS ou a Organização de Cooperação de Shangai poderiam tornar-se plataformas para lançar o processo de negociação tendo em vista acordar mecanismos de pagamentos e acertos mútuos sem a utilização do US dólar até que o plano "Zero" seja lançado. Aos planos a nível regional deveriam ser acrescentados programas nacionais destinados a conter a segunda onda da crise financeira. Os eventos relacionados com a Grécia fazem-nos perceber quão aguda é esta questão. 

Do mesmo autor em resistir.info: 

O original encontra-se em www.strategic-culture.org/... . Tradução de JF.

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ 

Angola. PORTAS CHEGOU E… ELOGIOU




O vice-primeiro-ministro português, Paulo Portas, afirmou hoje, em Luanda, que a relação entre Portugal e Angola “é insubstituível” e que os dois países têm conseguido ultrapassar as dificuldades.

O governante português falava aos jornalistas à chegada ao aeroporto internacional de Luanda, onde participa no dia de Portugal na Feira Internacional de Luanda (Filda).

“Como sabem, Portugal e Angola têm uma relação que é insubstituível e nós sempre ultrapassamos as questões que existem entre os dois países para conseguir um patamar da relação ainda mais positivo”, disse Paulo Portas.

Angola foi o quarto maior mercado de exportação de Portugal em 2014, com vendas de 3.175 milhões de euros, um crescimento de dois por cento face ao ano anterior.

Mais 9.400 empresas portuguesas venderam para Angola em 2014, mas a crise económica decorrente da quebra das receitas fiscais angolanas com o petróleo fez entretanto reduzir as exportações portuguesas para este país em mais de 20%, entre Janeiro e maio deste ano.

“Toda a gente sabe que este ano não tem sido fácil, do ponto de vista da contracção de indicadores internacionais que afectam economias como a de Angola, mas nós temos absoluta confiança que com as medidas que já vão sendo tomadas isso é uma situação transitória”, defendeu o vice-primeiro-ministro português.

A Filda decorre até domingo, reunindo 800 expositores, de 40 países, dos quais 67 no pavilhão exclusivamente dedicado a Portugal, a maior representação no evento, tal como em edições anteriores.

“É uma feira muito importante, não apenas ao nível de Angola, mas em termos internacionais, com uma presença muito significativa de empresas portuguesas”, sublinhou Paulo Portas.

Durante a tarde, o governante marca presença junto da representação nacional nesta feira – que conta com 24 empresas expositoras estreantes -, no âmbito do dia dedicado pelo evento a Portugal.

“Portugal mostra mais uma vez o seu empenhamento em fazer parte do desenvolvimento de Angola”, sublinhou.

No âmbito da visita a Luanda, o governante português deverá ser recebido em audiência pelo vice-Presidente angolano, Manuel Vicente.

Folha 8 (ao)

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