Shelley
Kasli
O
recente ataque contra uma base militar indiana, como ataques anteriores na
Índia, tem sido atribuído ao Paquistão. Enquanto ainda está para ser
estabelecido se ou não os terroristas estavam trabalhando com o apoio de
Islamabad, esses eventos poderiam dificultar a normalização das relações entre
os dois vizinhos. Ainda, como Shelley Kasli observou, não há nenhuma evidência
de que os terroristas na verdade tenham cruzado a fronteira...
1 de
janeiro de 2016, Gurdaspur SP Salwinder Singh foi sequestrado em seu carro na
rodovia nacional Jammu-Pathankot, no seu caminho de volta para casa, por volta
das 16:00, por pessoas fortemente armadas, vestindo uniformes do exército. Um
alerta vermelho foi emitido e uma operação de busca foi lançada sobre o
incidente para deter os culpados [1].
Mais
tarde, usando o mesmo veículo sequestrado, os terroristas, vestindo uniforme
militar, entraram na base aérea, localizada a 50 quilômetros da fronteira com o
Paquistão e a 200 quilômetros do Estado de Punjab e da capital do estado de
Haryana, Chandigarh. Pathankot é importante porque é a primeira linha de defesa
aérea contra qualquer ataque do Paquistão. É uma base aérea MiG 21 e também tem
uma divisão do exército.
A
mídia já começou a levantar questões relacionando o ataque às relações
Indo-Paquistanesas, que pareciam estar a melhorar recentemente. O jornal The
Hindu relatou:
"O
ataque é o primeiro teste da realidade para os esforços do PM Modi chegar ao
Paquistão, e a comunidade global iria vigiar de perto como o governo macho do
NDA [NDA: do inglês National Democratic Alliance; coalisão de centro-direita
que governa a Índia – NT] em Nova Deli vai reagir ao ataque. Provas dos
terroristas vindo do Paquistão não seria difícil de encontrar. Mas, será
suficiente para culpar o governo do Paquistão e cancelar os esforços de paz?
O
padrão de infiltração de terroristas do Paquistão, e de lançamento de ataque
contra alvos de alto perfil poucas horas após essa infiltração, tem sido um
padrão novo nos últimos dois anos. Em julho deste ano, um ataque semelhante foi
lançado em Gurudaspur por terroristas que chegaram do outro lado da
fronteira" [2].
No
entanto, ao contrário do que Josy Joseph do The Hindu tem a dizer,
ecoando afirmações da Polícia do Punjab de que os terroristas teriam vindo da
fronteira do Paquistão, a Força de Segurança da Fronteira (FSF) [do inglês
Border Security Force (BSF) – NT] tem refutado tais afirmações.
A
FSF teria dito que eles fisicamente verificaram toda a área de fronteira do
Punjab, mas não encontraram uma única prova para estabelecer que os terroristas
teriam usado a fronteira do Punjab para entrar no território indiano a partir
do Paquistão. A alegação da FSF é contrária à da polícia do Punjab [3].
O
Inspector-Geral de Polícia da FSF (fronteira do Punjab) Anil Paliwal disse:
"a FSF fisicamente verificou toda a área de fronteira do Punjab, mas não
encontrou uma única prova para estabelecer que os terroristas teriam usado a
fronteira do Punjab para entrar no território indiano vindos do Paquistão". [4]
A Polícia do Punjab alegou, após a sua investigação inicial, que a área do rio
ao longo da fronteira Indo-Paquistanesa do Punjab foi usada pelos terroristas
para entrar na Índia. Como dizem os relatórios recentes, o caso está pronto
para ser transferido para a Agência de Investigação Nacional (Agência Indiano
Contra o Terrorismo), apesar das reservas da polícia estadual.
Quando
o relatório do inquérito público, conduzido pelo Juiz da Subdivisão (JS) [do
inglês: Sub-Divisional Magistrate (SDM) – NT] de Gurdaspur Manmohan Singh Kang,
sobre o incidente do ataque dos terroristas à delegacia de Dinanagar, em 27 de
julho, foi submetido ao Juiz do Distrito de Gurdaspur Abhinav Trikha, até mesmo
o Juiz do Distrito Trikha o rejeitou com base no fato de que não concluía nada,
de que era apenas um pacote de declarações. Ele retornou o relatório ao JS para
conduzir um novo inquérito sobre o incidente, revelando todos os fatos. O
relatório foi submetido novamente em novembro [5].
E,
então, houve a controvérsia sobre a etiqueta ‘Feita no Paquistão’ e o GPS que
foram encontrado. Após a recuperação de dois dispositivos de Sistema de
Posicionamento Global [do inglês: Global Positioning System (GPS) – NT] dos terroristas,
o foco da investigação mudou para se determinar de onde os terroristas vieram e
como eles entraram no país. Uma investigação pós-operação foi lançada para
estabelecer a rota que eles possivelmente tomaram a partir do Paquistão [6].
Três
dias depois, a polícia alegou que os médicos encontraram uma luva em uma das
mãos dos terroristas. A luva tinha a etiqueta ‘Feita no Paquistão’. Esta
alegação gerou um problema suficiente. Questionou-se porque a polícia não
encontrou a luva no primeiro dia, quando eles conduziram uma inspeção corporal.
A
etiqueta ‘Feita no Paquistão’ e as coordenadas do GPS foram prova suficiente
para o governo indiano levantar a questão junto ao governo do Paquistão sobre
por que e como os três terroristas vieram à Índia a partir do seu território.
No entanto, as agências de segurança falharam ao elaborar um relatório final sobre
a rota tomada pelos terroristas baseada nas coordenadas alimentadas nos dois
dispositivos GPS apreendidos dos terroristas.
Semelhante
ao ataque de Gurdaspur [7],
os ataques em Mumbai de 26/11 de 2008 [8]
têm questões não respondidas com relação ao GPS (esquecido pelos terroristas no
barco) e a rota tomada pelos terroristas. As investigações levantaram várias
perguntas sobre a última viagem do Kuber, o barco de pesca indiano que os
terroristas do Paquistão usaram para chegar a Mumbai.
O
juiz no caso de 26/11 concluiu que a acusação não foi capaz de provar que o
barco indiano MV Kuber não foi adulterado e levantou questões sobre os GPS e os
telefones por satélite recuperados do Kuber. "Eles estão ligados à
conspiração principal (com executores no Paquistão)", ele disse.
Há
o caso curioso da única testemunha que viu os terroristas desembarcarem do bote
de borracha no Parque Badhwar e que até mesmo falou com eles, Anita Uddaiya.
Apesar de ela ter provado sua confiabilidade como testemunha, identificando
todos os seis no necrotério, ela não só foi eliminada como testemunha, mas foi
acusada de ’enganar os investigadores’ como punição por se recusar a mudar sua
história sob pressão, depois que foi ’levada’ aos EUA em circunstâncias
duvidosas, sem o conhecimento de quaisquer funcionários indianos.
Agora,
ela é uma pescadora que não sabia falar inglês e ainda não tinha um passaporte.
Ela foi ’levada’ para os EUA em circunstâncias duvidosas e permaneceu
desaparecida por quatro dias e, depois que ela voltou, seu testemunho foi
rejeitado em razão de sua instabilidade mental.
Como
ela foi aos EUA? Quem a levou lá? Houve autorização oficial? Quem aprovou? Se
não, por que essa questão não foi sondada ainda mais? Mais importante, o que
aconteceu a ela nos EUA?
Por
que é que toda vez que as relações entre a Índia e o Paquistão começam a
melhorar, e iniciativas são tomadas para normalizar as tensões entre os dois
países, um ataque terrorista é presenciado por um dos dois países tendo por
resultado a deterioração da relação já delicada?
Que
forças estão trabalhando por trás disso? Quem não quer ver as relações entre a
Índia e o Paquistão melhorarem? Por que não temos sido capazes de identificar
essas forças há décadas? Será que isso não indica que nossas forças de
segurança e inteligência não estão equipadas para enfrentar o desafio desse
novo tipo de terror, e que precisamos de uma condução nova e mais adaptável no
mundo globalizado da liberalização e da privatização? [9]
Certamente,
boa parceria estratégica entre os dois países vizinhos significaria um
subcontinente forte e estável. Mais importante, quem ganha com um subcontinente
asiático enfraquecido e sempre com lutas internas?
Shelley Kasli - Tradução Marisa Choguill - Fonte Great Game India
(Índia) – Voltaire.net
Na
foto: Quando os britânicos decidiram descolonizar o subcontinente indiano, eles
escolheram Gandhi como seu interlocutor. Isto permitiu-lhes, primeiro, usar o
tabu religioso contra a violência para ganhar tempo e, em segundo lugar,
contrapor as populações hindu e muçulmana. Desde então, o país foi dividido em dois
Estados, Índia e Paquistão, que temem um ao outro. O novo primeiro-ministro
indiano, Narendra Modi, respondeu à visita do seu homólogo paquistanês Nawaz
Sharif para sua inauguração, em maio de 2014, e foi a Lahore, em 25 de dezembro
de 2015, para o aniversário de Sharif. A normalização das relações entre os
dois Estados foi considerada. Mas, sem esperar, aqueles que temem um retorno à
unidade organizaram o ataque à Base Aérea de Pathankot.
Notas:
[1]
“Punjab
on alert after Gurdaspur cop’s ’abduction’”, Rohan Dua, Times of India,
January 1st, 2016.
[2]
“Terrorists
storm air force base, first challenge to Modi’s Pak outreach”, Josy Joseph, The
Hindu, January 2, 2016.
[3]
“Border
Security Force differs on Pakistan terrorists entry, says no evidence found”,
PTI, January 1, 2016.
[4]
“’Gurdaspur
Ultras Not from Pakistan’”, Harpreet Bajwa, The New Indian Express, December
1st, 2015.
[5]
“Magisterial
inquiry report submitted to Gurdaspur DM”, Kamaljit Singh Kamal, Hindustan
Times, November 14, 2015.
[6]
“Post-op
probe continues to be tardy”, Jupinderjit Singh, Ravi Dhaliwal, Ruchika M
Khanna, Deepkamal Kaur, Shaurya Karanbir Gurung and PK Jaiswar, The
Tribune, August 6, 2015.
[7]
“Gurdaspur
& 26/11 Attacks: Recurring Patterns”, Great Game India, December
2015.
[8]
“26/11
Mumbai Attacks Part II – A High Profile Meet & An Assassination”, Great
Game India, October 2015.
[9]
“26/11
– Globalized Terror In A Liberalized World”, Great Game India, July
2015.
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