@Verdade,
editorial
Parece
que estamos longe de nos tornarmos um país normal. Um país em que se possa
confiar nas instituições públicas e do Estado e nos dirigentes. Parece ser uma
utopia imaginar um país em que os moçambicanos, independentemente da sua tribo,
cor da pele e simpatias partidárias, tenham acesso aos serviços básicos. Parece
ilusão acreditar que um dia os moçambicanos possam orgulhar-se de pertencerem a
esta terra.
Na
verdade, a cada dia que passa esfuma-se o sonho de um Moçambique próspero no
qual o seu povo vive com o mínimo de dignidade. Até porque diversas situações
anormais têm acontecido nesta Pérola do Índico que, como moçambicanos, nos
causam profunda indignação e revolta. Não se justifica que em 40 anos de
independência continuemos um país mendigo que vive sempre de mão estendida à
caridadezinha internacional, eufemisticamente designado por “Ajuda Externa”, ou
sob constantes armadilhas da maior e poderosa agência mundial de agiotagem,
conhecida por Fundo Monetário Internacional (FMI).
A
nossa penúria é promovida por uma quadrilha que assaltou o poder e vai
convencendo-se de que este país é sua propriedade, razão pela qual a mesma
promove práticas lamentáveis e sumamente graves como, por exemplo, massificados
saques aos cofres do Estado. Aliás, desde a independência nacional, o que temos
assistido são múltiplos roubos públicos. Mais do que a generalizada e
organizada roubalheira, há hoje uma situação de falta de valor e de moral por
parte dos dirigentes. Instalou-se o sindicato da gatunagem. Ou seja, criou-se
uma grossa corrente de corrupção em todo seu esplendor, permitido que as
figuras ligadas ao partido no poder ampliem os patrimónios pessoais para lá do
insuportável.
Do
rosário das rotineiras práticas enviesadas que empurram o país à desgraça,
destacam-se o negócio obscuro da EMATUM, que colocou a nossa economia num
abismo sem precedentes; e o investimento em material bélico em detrimento do
sector da Educação e Agricultura. Hoje, ouvimos falar da pretensão na aquisição
de uma centena de viaturas de luxo, para além da generosa oferta do Instituto
Nacional de Segurança Social (INSS), no valor de 210 milhões de meticais dos
nossos impostos, a CR Aviartion, uma empresa pertencente ao presidente da
Associação das Actividades Económicas (CTA).
Toda
essa pouca vergonha é promovida num país onde quase 70 porcento da população
vive na pobreza extrema, sem água, sem comida e, muito menos, educação e
cuidados de saúde. Diante dessa triste realidade, só nos resta questionar: isto
ainda é um país?
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