Paulo
Guilherme – África Monitor, opinião
“No
dia em que houver problemas em Luanda, o angolano vai virar-se contra o
português”. Disse-mo com ar grave, há quase 2 anos em Luanda, um luso-angolano.
Era domingo ao final do dia e falávamos durante uma festa num quintal no bairro
de Alvalade.
Nascido
ainda na "província" de Angola, este português tinha, como tantos
outros, voltado à terra natal depois de a crise em Portugal estalar. “Quando
foi da independência, os portugueses foram protegidos por muitos angolanos.
Agora isso não vai acontecer”, dizia-me.
Argumentava
que os portugueses que hoje estavam ali desligados do futuro de Angola. Vinham
para fazer dinheiro e regressar tão rápido quanto possível. Muitas vezes,
tratavam mal os empregados. Conviviam pouco com os angolanos. Eram
frequentemente olhados com inveja e ressentimento.
Não
é seguramente verdade para todos. Sê-lo-á até apenas para uma minoria. E muitos
dos que menos seguros se sentiam já terão partido no último ano, quando o
dinheiro começou a escassear. Não falta quem defenda que os estrangeiros – em
geral – são vistos como sustentáculos de um regime impopular, e que os
portugueses nem são os menos queridos. Os chineses, por exemplo já foram alvo
de manifestações e são raptados com frequência.
A
esta distância, a festa no quintal de Alvalade, ao cair da noite e do cacimbo,
era ela própria uma alegoria das histórias que o meu anfitrião ia desfiando.
Enquanto o meu grupo, de vários portugueses e mulatos, ouvia e anuía à volta da
mesa onde pontificava o whisky e a cerveja, num recanto do quintal um grupo de
jovens negros fazia uma festa à parte, dançando em torno de um rádio a debitar
kuduro – e com muito tinto. Eram familiares da mulher (negra) de um dos
brancos.
Recordei-me
deste episódio a propósito dos alertas que os governos do Reino Unido e Estados
Unidos fizeram aos seus cidadãos, para potenciais ameaças à segurança em
Angola.
Sabe-se
que a situação política e social é tensa, e que ainda mais tensa ficou no
início do ano, com a nova vaga de aumentos, sobretudo dos combustíveis. Também
se sabe que, ao contrário dos governos britânico e norte-americano, os
executivos portugueses obedecem mais à máxima “casa roubada, trancas à porta”.
Está tudo bem, até que está tudo mal.
Mas,
numa altura em que a situação de segurança em Angola parece mais frágil do que
alguma vez foi nos últimos anos, importa perguntar: os portugueses estão em
segurança em Angola?
São
centenas de milhar. E era bom que o governo português tivesse uma resposta.
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