domingo, 31 de janeiro de 2016

OS PORTUGUESES EM ANGOLA ESTÃO EM SEGURANÇA?



Paulo Guilherme – África Monitor, opinião

“No dia em que houver problemas em Luanda, o angolano vai virar-se contra o português”. Disse-mo com ar grave, há quase 2 anos em Luanda, um luso-angolano. Era domingo ao final do dia e falávamos durante uma festa num quintal no bairro de Alvalade.

Nascido ainda na "província" de Angola, este português tinha, como tantos outros, voltado à terra natal depois de a crise em Portugal estalar. “Quando foi da independência, os portugueses foram protegidos por muitos angolanos. Agora isso não vai acontecer”, dizia-me.

Argumentava que os portugueses que hoje estavam ali desligados do futuro de Angola. Vinham para fazer dinheiro e regressar tão rápido quanto possível. Muitas vezes, tratavam mal os empregados. Conviviam pouco com os angolanos. Eram frequentemente olhados com inveja e ressentimento.

Não é seguramente verdade para todos. Sê-lo-á até apenas para uma minoria. E muitos dos que menos seguros se sentiam já terão partido no último ano, quando o dinheiro começou a escassear. Não falta quem defenda que os estrangeiros – em geral – são vistos como sustentáculos de um regime impopular, e que os portugueses nem são os menos queridos. Os chineses, por exemplo já foram alvo de manifestações e são raptados com frequência.

A esta distância, a festa no quintal de Alvalade, ao cair da noite e do cacimbo, era ela própria uma alegoria das histórias que o meu anfitrião ia desfiando. Enquanto o meu grupo, de vários portugueses e mulatos, ouvia e anuía à volta da mesa onde pontificava o whisky e a cerveja, num recanto do quintal um grupo de jovens negros fazia uma festa à parte, dançando em torno de um rádio a debitar kuduro – e com muito tinto. Eram familiares da mulher (negra) de um dos brancos.

Recordei-me deste episódio a propósito dos alertas que os governos do Reino Unido e Estados Unidos fizeram aos seus cidadãos, para potenciais ameaças à segurança em Angola.

Sabe-se que a situação política e social é tensa, e que ainda mais tensa ficou no início do ano, com a nova vaga de aumentos, sobretudo dos combustíveis. Também se sabe que, ao contrário dos governos britânico e norte-americano, os executivos portugueses obedecem mais à máxima “casa roubada, trancas à porta”. Está tudo bem, até que está tudo mal.

Mas, numa altura em que a situação de segurança em Angola parece mais frágil do que alguma vez foi nos últimos anos, importa perguntar: os portugueses estão em segurança em Angola?

São centenas de milhar. E era bom que o governo português tivesse uma resposta.

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