Miguel
Guedes – Jornal de Notícias, opinião
Enquanto
a clonagem não for um dado científico adquirido, não se pode dizer que Marcelo
Rebelo de Sousa será um presidente à imagem de Cavaco Silva. Apesar das dúvidas
sobre a agenda política de Marcelo serem mais do que muitas, sustentadas e
adensadas pelo seu passado político e por mais de uma década de comentários
televisivos curvilíneos, há algo que os diferencia enormemente: Marcelo quer
ser amado e Cavaco está-se nas tintas para o amor. A maior prova disso é o veto
de Cavaco à adopção por casais do mesmo sexo e às alterações na interrupção
voluntária da gravidez e, por outro lado, a garantia dada por Marcelo a Marisa
Matias, em debate televisivo, de que promulgaria os dois diplomas. Quando se
podia pensar que Marcelo era o post scritptum que Cavaco quis deixar, o
presidente que deixa Belém com um índice de impopularidade histórico quis mesmo
escrever o seu post scriptum pessoal antes de fechar o livro. Cavaco sai por
uma porta pequenina sem se querer esconder.
Cavaco
Silva vetou os diplomas no dia de reflexão e anunciou a decisão no dia seguinte
às eleições. O seu sentido de oportunidade confunde-se com mero oportunismo
mas, na realidade, não se afasta muito da lógica da nomeação meteórica de
"boys" antes de um partido deixar o poder. Tem de ser antes que seja
tarde. A tumefacção. Lamentavelmente, este post scriptum de Cavaco mexe bem
mais do que com "boys and girls" e afecta directamente as famílias e
as crianças, deixando intacta a imagem de um homem fora do seu tempo ao deixar
o seu espaço.
Com
Marcelo na presidência, esqueçam os livros e vamos aos filmes. Curtas. Marcelo
ganhou à primeira volta e é o grande vencedor da corrida às
Presidenciais-simpatia-2016. Mérito indiscutível de quem fez uma campanha
atípica e pela certa, sem boicotar debates e sem que, por vergonha, PSD e CDS
desenrolassem as bandeiras da PàF. Sampaio da Nóvoa e Marisa Matias são dois
protagonistas para o presente (ambos com resultados muito relevantes e Marisa
com uma campanha sempre em crescendo, onde realmente se falou de política).
Maria de Belém atira culpas subvencionadas contra tudo e todos no PS, mas
esquece-se de que apresentou a sua candidatura na mesma hora em que António
Costa dava uma grande entrevista à televisão. Edgar Silva, indeciso quanto à
Coreia do Norte, acabou a noite eleitoral envolvido num "sound byte"
macho de Jerónimo de Sousa e com apenas mais 30 000 votos do que Tino de Rans.
O PCP foi ao osso da sua militância e Jerónimo de Sousa não deveria ter a sua
base social de apoio em tão má conta: uma cara bonita ou "engraçadinha"
não altera o sentido de voto de um comunista. Longa-metragem para cinco anos.
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