sábado, 23 de janeiro de 2016

Portugal. PARA TI, QUE SÓ NOS CONHECEMOS NESTAS PÁGINAS




Disseram-nos, a ti e a mim, que esta eleição presidencial estava resolvida à partida e que, de qualquer modo, vale pouco. Disseram-nos que os poderes do presidente são escassos e, quando relevantes, devem ser reduzidos à cerimónia, ao protocolo, à gala. Disseram-nos que as candidaturas só querem que tudo acabe depressa e que o povo só anseia que alguém substitua o professor ao serão de domingo. E sabes que te querem levar à certa.

Não te falarei por isso de cada candidata ou candidato. Estamos à beira da votação, sabes o que penso e não teria cabimento neste espaço no PÚBLICO fazer qualquer prolongamento de campanha eleitoral. Escrevi aqui o que pensava sobre os temas importantes para nós todos e sobre os pontos fortes e fracos de cada candidatura sem excepção, dei a minha opinião, terás discordado ou concordado e assim seguiremos. Mas quero agora falar-te de outra coisa, que é de facto mais importante.

Não é da necessidade de irmos votar, isso vai de si. A democracia que desiste e que se aborrece é um insulto a quem passa dificuldades. Por isso tu e eu votamos para cuidarmos. Mas é ainda de outra coisa que te quero mesmo falar. É da escolha de como vivemos quando somos chamados a decidir.

Portugal tem um problema, os riscos de menorização do nosso país no concerto europeu. Tem ainda outro problema: uma elite gananciosa, agressiva nos seus privilégios de casta, arrogante na altura social. Os dois problemas juntos são um tormento. Eles fazem da política um vazio, uma tristeza arrastada, tantas vezes uma vileza, servida por gente sorumbática que acha que a pose de Estado é engolir um pau de vassoura e olhar de cima para baixo. O discurso é justificação, a ordem é acomodação, o mando é obediência, pois para esses Portugal é uma fatalidade.

Por isso a eleição presidencial é importante. A presidência conta: não viste como contava durante os 53 dias da crise pós-eleitoral de outubro e novembro? A presidência conta mesmo: já notaste quantos milhares de milhões custaram a Portugal as aventuras bancárias, a incúria do governador do Banco de Portugal e ninguém a defender um regime financeiro que proteja os depositantes e os contribuintes?

É preciso portanto coerência e firmeza. Cumprir compromissos e garantir regras. Mas para tudo isso é preciso mais, muito mais.

É preciso paixão. É preciso ouvir as pessoas. É preciso gostar da luta. É preciso alegria. É preciso um brilhozinho nos olhos e saber para onde se vai.

Vota e vota com o teu brilhozinho nos olhos, tu saberás o que o teu coração te dita.

*Público, em Tudo Menos Economia, opinião (ontem)

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