sábado, 20 de fevereiro de 2016

MUNDO CADA VEZ MAIS CIENTE E ATENTO SOBRE A QUESTÃO RACIAL NO BRASIL



Alberto Castro* - Correspondente da Afropress em Londres

Londres - Em 2012, o jornal francês Le Monde, titulava: ''No Brasil, um racismo cordial''. Seguindo a mesma linha, em 2013, a revista Jeune Afrique publicava uma matéria com o título ''Brasil: bem-vindo ao país do racismo cordial!''. Ainda no mesmo ano a Deutsche Welle (DW), rede pública de rádio e televisão internacional da Alemanha, noticiava o ''Racismo como o novo problema para a sociedade brasileira''. 

Em 2014, uma grande reportagem do jornal português Público perguntava: "Quem quer ser negro no Brasil?". No ano em que se realizou a Copa do Mundo, o evento serviu para expor internacionalmente a discriminação racial no maior dos lusófonos. Com uma fotografia onde se via somente torcedores brancos nas arquibancadas, o inglês The Guardian, expondo os profundos preconceitos do país, publicava que ''A falta de faces negras na multidão mostra que o Brasil ainda não é uma verdadeira nação arco-íris''.

Com o título ''Identidade negra e racismo colidem no Brasil'', a revista étnica afro-americana The Rootviu no evento a exposição da complexidade da questão racial no país tanto no passado como no presente, realidade que leva à negação da negritude por muitos brasileiros que não se veem a si mesmos como negros para evitar serem vítimas de racismo, mas que o sofrem na mesma.

Em 2015, a versão inglesa da TeleSur destaca em sua secção de opinião um artigo do ativista social e blogger Leopoldo Duarte com título ''Taís Araújo: combater o racismo exige mais que um hashtag'', em referência aos comentários racistas sofridos nas redes sociais pela conhecida atriz.

No mesmo ano um artigo de opinião no New York Times pega uma frase de uma entrevista da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie sobre a questão racial no Brasil para titular que o país continua ''Em negação sobre o racismo''. Ainda no mesmo ano, o portal senegalês SeneWeb mostrava indignação com a forma como os africanos eram retratados em um programa de TV e questiona: “O Brasil é um país racista? Veja como eles zombam dos africanos''.

O ano de 2016 ainda vai no início e o inglês The Guardian expôs em videorreportagem publicada no passado dia 9 de fevereiro o racismo sofrido por Nayara Justino, considerada "negra demais" para ser Globeleza. 

Agora é a vez de Alyona Gamm uma fotógrafa russa tocar no câncer maior da sociedade brasileira, questão considerada em Londres pelo então ministro do STF, Joaquim Barbosa, citado em matéria da Afropress (http://www.afropress.com/post.asp?id=15985), como "a mais séria a ser discutida no Brasil".
 
Chegada ao país em 2007, ela conta em entrevista ao site Hypeness (19/02) que se surpreendeu com o racismo no Brasil e tomou contato mais pessoal com o fenômeno Brasil devido ao namorado negro, alvo de várias situações racistas.

Foi a partir daí que passou a estar mais atenta ao racismo e resolveu usar da fotografia como arma de combate ao mesmo, criando um ensaio para exaltar a beleza da mulher negra e dos seus cabelos afros porque, segundo diz, ''por algum motivo cabelo afro é considerado feio no Brasil''.  O motivo é óbvio!
 
Estes são apenas alguns dos muitos, crescentes e preocupantes olhares do mundo sobre a questão racial no Brasil.

*Alberto Castro é correspondente de Afropress em Londres e colabora em Página Global

Veja os links:
http://www.theguardian.com/news/video/2016/feb/09/brazilian-carnival-queen-too-black-nayara-justino-video

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