Nos
quatro eixos de eventual governo Temer, o projeto da elite brasileira:
contra-reforma trabalhista, ataque a programas sociais, privatização disfarçada
da Petrobras e abafamento dos escândalos de corrupção
Guilherme
Boulos – Outras Palavras
Ao
que parece, a votação do próximo domingo será decidida – como num jogo do
Corinthians – nos últimos instantes, lance a lance.
Sabendo
disso, Temer entrou em campo, como cabo eleitoral de si mesmo, no
processo que visa a cassar sua companheira de chapa. A seu favor, tem Eduardo
Cunha e suas manobras.
A
voz das ruas já não é uníssona. O mesmo percentual que defende a derrubada
de Dilma também é contra a permanência de Temer. E as manifestações
para barrar o impeachment têm crescido expressivamente nas últimas semanas. A
esplanada dos Ministérios estará dividida no domingo.
Aliás,
tratando-se de popularidade, a última pesquisa Datafolha mostrou que Temer
teria entre 1% e 2% das intenções de voto. Querem impor pelo
Parlamento um presidente biônico ao país. Tem cheiro de golpe, tem cara de
golpe, enfim, é golpe.
É
golpe por não haver comprovação de crime de responsabilidade, condição
constitucional do impeachment. É golpe também pela condução ilegítima e imoral
de Eduardo Cunha, que em qualquer outro lugar estaria preso –e não definindo os
destinos políticos do país.
Mas,
para além dos meandros legais, é importante que o Brasil saiba qual o pacote
que virá após domingo caso prospere o impeachment. O pacote do golpe, ou Agenda
Temer, vem sendo anunciado aqui e ali, em jantares indiscretos, entrevistas e
em discursos vazados numa forma rasteira de se fazer política.
Vamos
a ele:
1.
O vice. Pouco se fala, mas caso Michel Temer se torne presidente com o
impeachment, o vice-presidente da República será Eduardo Cunha, nome seguinte
da linha sucessória por ser presidente da Câmara. Um escárnio.
2.
Direitos dos trabalhadores. O entorno de Temer propõe abertamente uma
Reforma Trabalhista para diminuir o “custo Brasil”, isto é os direitos dos
trabalhadores. Defendem também a desindexação do salário mínimo e a Reforma da
Previdência (esta, vale dizer, encampada também por Dilma). Um ataque sem
precedentes. Daí talvez o entusiasmo da Fiesp e de seus patos a favor do
impeachment.
3.
Programas sociais. Wellington Moreira Franco, braço direito de Temer, deu
o tom da política em relação aos programas sociais: corte drástico de subsídios
e revisão dos repasses do FGTS. Em tradução literal, isso significa destroçar a
rede de programas sociais do Estado brasileiro. Sem subsídios e FGTS, não há
Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida ou Prouni. É evidente que uma tal devassa
não seria feita de uma só vez, mas sob a forma de “auditorias” e
“contingenciamentos”. Ao fim e ao cabo, só muda a dose, o efeito é o mesmo.
4.
Petrobrás. O presidente do Credit Suisse no Brasil esclareceu em
entrevista recente as razões que levam o mercado a apoiar Temer contra Dilma.
Junto a várias das medidas citadas acima, menciona a privatização da Petrobrás,
ou “capitalização” segundo o eufemismo utilizado.
5.
Acordão. Para ninguém no empresariado e no Parlamento brasileiro interessa
a permanência da instabilidade institucional representada pela Lava Jato. Por
isso, embora isso esteja entre aquilo que não possa ser dito, os rumores em
Brasília revelam a expectativa de um governo Temer com condições políticas para
abafar as investigações. A tal “salvação nacional” seria na verdade salvar
Cunha, Renan, Jucá e companhia.
Este
é o pacote do golpe. São os “sacrifícios” de que Temer falou em seu discurso antecipado de posse. Vale recordar
aqui que a última vez que um político sentou na cadeira antes da hora – Fernando Henrique, na disputa com Jânio – foi
desautorizado logo em seguida.
Mas,
mesmo que venha a sentar, com este pacote dificilmente dura muito tempo.
Na
foto: O PRETENDENTE E O PATRÃO: Em 27/8/15, Temer fala em jantar de gala na
sede da Fiesp, observado por Paulo Skaf. Também participaram Luís Carlos
Trabuco (Bradesco), o usineiro Rubens Ometo (Cosan), Benjamin Steinbruch (CSN)
e Flávio Rocha (Riachuelo)
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