Valter
Filipe, governador do Banco Nacional de Angola (BNA) acusa “grupos empresariais
estrangeiros e bancos de matriz portuguesa de práticas de corrupção e de
suspeitas de financiamento do terrorismo internacional”.
Orlando
Castro* - Folha 8
Será
mais um caso em que a estratégia passa por atacar para não ser atacado? Seja
como for, as afirmações de Valter Filipe são de tal gravidade que algumas
cabeças já deveriam ter rolado. Mas não. Os “bancos de matriz portuguesa”
calaram-se e, como se diz lá pela banda de Lisboa, quem cala consente.
Do
ponto de vista político, também se esperavam reacções. De Luanda a
solidariedade com o governador do BNA (ou a sua demissão), e de Lisboa uma
explicação. Mas nada. Tudo continua na mesma. E assim sendo, até prova em
contrario, Valter Filipe tem razão.
Segundo
a edição de sábado do jornal português Expresso, o recém-nomeado governador do
banco central de Angola queixa-se de que o país “é uma porta frágil onde entra
todo o tipo de risco financeiro”. Tem razão. Mas entra porque o Executivo de
José Eduardo dos Santos está a dormir ou, pelo contrário, está bem acordado e
atá ajuda a escancarar as portas porque isso lhe convém.
Mais
uma vez, mau grado Angola ser independente há 40 anos, dá sempre jeito ter
alguns bodes expiatórios para justificar a corrupção e a lavagem de dinheiro.
Portugal, neste como noutros casos, é o alvo ideal. Até porque se falar muito
arrisca-se a que o regime de Eduardo dos Santos ponha a descoberto a careca
portuguesa.
Para
já o alvo são os bancos de origem portuguesa ou gerido por portugueses. Mas há
mais alvos. Aliás, Eduardo dos Santos tem um restrito grupo de especialistas
internacionais, pagos a peso de ouro, que vão somando factos a um vasto dossier
atómico (económico e político-partidário) contra Portugal e que, se necessário,
será usado a qualquer momento.
Lisboa
sabe disso. Alguns desses especialistas são, aliás, portugueses. E como sabe,
come e cala. De vez em quando finge que protesta, procurando passar a imagem de
que é um Estado sério. Mas, tal como Angola, não é sério e está com
dificuldades em parecer que é sério.
Valter
Filipe está chateado e tem razão. Ele não gosta que “70% das empresas do
mercado angolano sejam detidas por emigrantes de origem duvidosa” e, é claro,
atribuiu – sem que alguém tenha contestado – a culpa a bancos controlados por
gestores portugueses, acusando-os de supostos desvios de divisas para o mercado
paralelo e prática de lavagem de dinheiro.
É
claro que o governador do BNA, pessoa da incondicional confiança de José
Eduardo dos Santos, não explica como é que isso é possível e que a culpa é,
desde a independência, do único partido que governa Angola, o MPLA, e desde
1979 do Presidente da República, nunca nominalmente eleito.
Ou
será que esses gestores tomaram de assalto as nossas empresas? Terão utilizados
metralhadoras para subjugarem os angolanos? Terão protagonizado uma espécie de
golpe de Estado? Ou, pelo contrário, comparam os nossos dirigentes?
*Orlando
Castro é diretor-adjunto do Folha 8
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