quinta-feira, 30 de junho de 2016

Angola. HONRAR A MEMÓRIA DOS HERÓIS ANÓNIMOS MILITANTES DE TARIMBA DO MPLA!


HÁ QUE HONRAR A MEMÓRIA DOS HERÓIS ANÓNIMOS QUE FORAM, QUANTOS DELES, MILITANTES DE TARIMBA DO MPLA!


Inclino-me emocionado face aos heróis e mártires anónimos do Kuito (Bié); fui um dos combatentes que esteve na origem das Forças Especiais da LCB do Bié, forja temerária que tantos heróis e mártires ignotos produziu, pelo que sei do que falo, inclusive a nível das questões geo estratégicas que se prendem com o exercício de independência e soberania de Angola!...

Muitos desses heróis anónimos estão inscritos na ASPAR e esperam até hoje da prossecução dos seus direitos à reforma, no âmbito das políticas de paz correntes, traduzidas pelas medidas de reconstrução nacional, reconciliação e reinserção social!  heróis anónimos estão inscritos na ASPAR e esperam até hoje da prossecução dos seus direitos à reforma, no âmbito das políticas de paz correntes, traduzidas pelas medidas de reconstrução nacional, reconciliação e reinserção social.

Estiveram como vanguarda nas primeiras linhas da defesa e da segurança nacional e estão a ser os últimos a beneficiar da própria paz e dos direitos irrecusáveis que a eles assistem!...

Com esses heróis e mártires desconhecidos lembro os exemplos de muitos outros camaradas, entre eles do camarada General Simeone Mukuni (morto em combate no Andulo no âmbito da Operação Restauro), como do camarada José Herculano Pires, Revolução, combatente que honrou nas linhas da frente a história da luta contra terrorismo ao longo de décadas, ou ainda o camarada Leite (1º comandante das Forças Especiais do Bié, morto em combate), Carlos Freitas (assassinado após uma emboscada perpetrada pela BRINDE), Guilherme (morto em combate), seu irmão Carlos (também já desaparecido), “Saber Andar” (recentemente falecido), um dos combatentes mais vezes ferido em combate, em ocasiões distintas e por causa das muitas batalhas em que participou!...

Esses são os militantes de tarimba do MPLA e são eles que nos motivam a levar por diante de forma clarividente, a saga do Movimento de Libertação em África!

Com eles não tenho dúvidas que o rumo do MPLA tem sido transmitido a Angola e Angola é mesmo um país com rumo, malgrado os infortúnios do choque e da terapia neoliberal!

Os heróis anónimos estão inscritos na ASPAR e esperam até hoje da prossecução dos seus direitos à reforma, no âmbito das políticas de paz correntes, traduzidas pelas medidas de reconstrução nacional, reconciliação e reinserção social!... Estiveram como vanguarda nas primeiras linhas da defesa e segurança nacional e estão a ser os últimos a beneficiar da própria paz e dos direitos irrecusáveis que a eles assiste!... Com estes heróis e mártires desconhecidos, lembro os exemplos de muitos outros camaradas, entre eles do General Simeone Mukuni (morto em combate no Andulo no âmbito da Operação Restauro), como do camarada José Herculano Pires, Revolução, combatente que honrou nas linhas da frente a história da luta contra terrorismo ao longo de décadas, ou ainda combatentes como o camarada Leite (1º comandante das Forças especiais do Bié), Carlos Freitas (assassinado pela BRINDE), Guilherme (morto em combate),seu irmão Carlos (também já desaparecido), ou "Saber Andar" (recentemente falecido), um dos combatentes mais vezes ferido em combate em ocasiões distintas e por causa das muitas batalhas em que participou!... Esses são os militantes de tarimba do MPLA e são eles que nos levam a levar por diante de forma clarividente a saga do Movimento de Libertação em África! 

Fotos: Cemitério-monumento do Cuito e um momento da assembleia provincial da ASPAR no Cuito, dia 15 de Junho de 2011.

Angola. ESCONDERAM-NO, MAS ELES ENCONTRARAM O “HABEAS CORPUS”




Cartoon de Sérgio Piçarra - Luanda, 1969. Autor de BD e cartoonista, é pioneiro e impulsionador destas artes em Angola. Tem livros publicados e participação em exposições colectivas, obteve um Diploma de mérito do Ministério da Cultura.

Rede Angola

Angola. NITO ALVES PERMANECE NA CADEIA ATÉ AGOSTO



O porta-voz dos Serviços Prisionais, Menezes Cassoma, garantiu que Nito Alves será solto no dia 8 de Agosto.

Mateus Chivonde Baptista Nito Alves, um dos jovens mais irreverentes entre os 17 activistas condenados por crimes de associação de malfeitores e rebelião, permanecerá no Hospital Prisão de São Paulo a cumprir a pena de seis meses de prisão efectiva decretada pelos juízes de 14ª Secção de Crimes Comuns do Tribunal Provincial de Luanda. Cerca de uma hora antes dos seus 11 companheiros atravessarem o portão da cadeia para se “jogarem” aos braços dos seus parentes e amigos, Nito Alves havia sido informado de que não teria esse privilégio, ontem, por intermédio dos responsáveis do referido estabelecimento prisional.

Isso por ser o único, no grupo dos 15+2, que naõ beneficiaria da “liberdade provisória mediante o termo de identidade de residência”. Enquanto isso, na parte exterior da cadeia pairava a incerteza no seio dos seus familiares e amigos. Solicitado pela equipa de reportagem de OPAÍS a se pronunciar sobre o assunto, David Mendes, o seu advogado, optou por aguardar até que fossem formalmente informados pela direcção da cadeia. “O comunicado de imprensa do Tribunal Supremo diz que todos eles devem ser soltos.

Então não vamos especular, vamos aguardar…”, respondeu sorrindo. A esperança de Adélia Chivonde e Fernando Baptista, pais de Nito Alves, que se encontravam no exterior da cadeia desde às 12horas, caiu por terra ao serem preteridos entre os familiares dos reclusos que foram chamados a levantar os seus objectos pessoais. O porta-voz dos Serviços Prisionais, Menezes Cassoma, garantiu que Nito Alves será solto no dia 8 de Agosto, assim que cumprir os seis meses de prisão correccional que lhe foi aplicada pelo crime de injúria contra magistrado.

O País – Foto: Santana Joaquim

Angola. A TOLERÂNCIA POLÍTICA



A palavra tolerância, termo que vem do latim “tolerare”, pressupõe suportar, aceitar e quando associada à política traduz  basicamente ideia de uma convivência baseada em cedências e concessões.

Jornal de Angola, editorial

A vida em democracia tem implicações e desafios muito sérios que todos precisam de enfrentar e aceitar na sociedade, nas instituições, particularmente as de índole política. Atendendo às limitações decorrentes da natureza humana, não podemos esperar sempre uma coexistência pacífica e desprovida de incidentes. E muitas vezes   a vida num Estado Democrático e de Direito é confrontada com renovados desafios. 

“Às vezes temos tido algumas discussões acaloradas e alguns deputados assustam-se. Dificilmente, nós vamos ter sempre as mesmas ideias. O importante é haver uma discussão aberta, franca, transparente”,  dizia, há mais de um ano, o presidente da Assembleia Nacional, Fernando Dias dos Santos, numa das sessões plenárias da Casa das Leis. Tais palavras emblemáticas do líder parlamentar prevalecem válidas, hoje, na medida em que predomina o desafio para o exercício permanente da tolerância, da reconciliação, do perdão, do reconhecimento dos excessos e da aprendizagem contínua. 

Em todas as situações menos boas, naturalmente resultantes da convivência humana, o fundamental é a busca de soluções para os problemas e uma boa aprendizagem para se evitarem as repetições. A tolerância política é uma ferramenta indispensável para que a classe política desenvolva hábitos saudáveis da observância das leis, do respeito pelas diferenças e da convivência na diversidade. 

Numa altura em que um pouco por todo o país tende a aumentar a realização de actividades políticas e partidárias, é expectável que os intervenientes façam jus aos preceitos elementares constantes na Constituição, nas Lei dos Partidos Políticos, tradições e valores angolanos. A classe política em Angola precisa de continuar a fazer prova das boas práticas e, pedagogicamente, contribuir para ensinar a sociedade que o campo das disputas político-partidárias não é uma arena de luta física. 

Como sabemos todos, na política não vale tudo, sendo importante a materialização de acções consentâneas com o jogo político para que saiamos todos enriquecidos. Os actores políticos não podem perder de vista, no exercício das suas acções, não raras vezes questionáveis do ponto de vista dos meios e fins, dos precedentes que deixam. 

Há na nossa sociedade uma classe de adolescentes e jovens que, fruto da dinâmica da vida em sociedade, mais cedo ou mais tarde, vão naturalmente acabar por abraçar os desafios da vida política. E é fundamental que o processo de aprendizagem deste segmento da população, alguns já imbuídos de alguma experiência fruto da militância nos organismos partidários juvenis, seja assegurada com paz e tolerância.

Não é bom que as gerações novas, sobretudo as que tenham já algum percurso dentro das “jotas” ou militância activa no seio das comunidades, aprendam os maus exemplos de convivência política, encarando os adversários como inimigos a abater. Urge um novo processo de reaprendizagem por via do qual as lideranças políticas, através de exemplos práticos, saibam colocar os interesses de Angola acima dos de natureza partidária.

O Estado de que todos fazemos parte precisa muito do esforço de cada angolano e angolana para que, com a observância das leis, dos costumes e das tradições, sejamos capazes da construção de uma sociedade tolerante.  E nada melhor do que insistir no seu exercício porque se trata de uma atitude fundamental para quem viva em  sociedade. Apenas para lembrar, não é por acaso que a tolerância tenha sido instituída pelas Nações Unidas, tendo um dia de celebração em todo o mundo.    

Em Angola, precisamos de resgatar parte significativa da herança recente do processo de Reconciliação Nacional, que tornou viável e possível a ideia de entendimento entre angolanos desavindos durante longos anos de guerra. Conseguimos romper com a barreira imposta pelo conflito armado que incompreensivelmente parecia empurrar os angolanos para um ciclo de conflitualidade permanente, tendo a ponta do fuzil aparentemente como solução constante. 

Há mais de dez anos, com paz e estabilidade, aprendemos por experiência própria que não há nada melhor do que viver com segurança, ordem e tranquilidade de Cabinda ao Cunene. E para isso nada melhor que cultivarmos a tolerância  a todos os níveis porque, independentemente das falhas e dos erros humanos,  os angolanos em geral são acérrimos defensores da vida em sossego e tranquilidade.  

Na política, é igualmente importante que esse exercício se faça sentir, sendo fundamental a resistência para a politização e aproveitamentos que se fazem aquando de incidentes. Em todo o caso, acreditamos que estamos num processo e que independentemente dos incidentes de percurso, somos capazes de transformar a tolerância política como uma ferramenta contra a intolerância e contra a não aceitação da diversidade.

Angola. SUPREMO VALIDOU “HABEAS CORPUS”



O Tribunal Supremo deu ontem provimento ao pedido de “Habeas Corpus” dos 17 indivíduos que foram condenados pelo Tribunal Provincial de Luanda por, entre outros, crimes de actos preparatórios de atentado, de rebelião e de associação de malfeitores, no “Processo 15+2”.

A mais alta instância da hierarquia dos Tribunais de Jurisdição Comum mandou para casa em liberdade os cidadãos Domingos José João da Cruz, Henriques Luaty da Silva Beirão, Manuel Livongue Baptista “Nito Alves”, Nuno Álvaro Mafenda João Matias “Banza Hanza”, Albano Evaristo Bingo Bingo, Rosa Cusso Conde “Zita”, José Gomes Acta, Sedrick Domingos de Carvalho, Fernando António Tomás, Arante Kivuvu Italiano Lopes, António de Brito, Laurinda Manuel Gouveia, Hitler Jessé Chiconde, Nelson Dibango Mendes dos Santos e Osvaldo Sérgio Correia Caholo.

O Tribunal Supremo informa em comunicado que em sessão ordinária de julgamento na terça-feira, a primeira sessão da Câmara Criminal deu provimento à Providência de Habeas Corpus, que deu entrada nesta instância no dia 24 deste mês, vinda do Tribunal Constitucional, com o registo n.º 654/16, intentada por Domingos da Cruz, Henrique da Silva Beirão, Nuno Dala, que, com os demais, são mandados em liberdade sob termo de identidade e residência.

A 8 de Março, os 17 indivíduos foram condenados a penas que vão entre os oito e dois anos de prisão maior e ainda ao pagamento de taxa de justiça. O “Habeas Corpus” é um mecanismo da Constituição contra abusos de poder em virtude de ocorrência de prisão ilegal.

Tribunal é soberano

O ministro da Justiça e dos Direitos Humanos comentou a decisão do Tribunal Supremo, como sendo o resultado do exercício de soberania e independência daquele órgão, cujas medidas que toma são de cumprimento obrigatório. Em declarações à imprensa, após participar na sessão do Conselho de Ministros, Rui Mangueira chamou a atenção para um dado que é importante reter, que é o facto de o processo ser tratado no plano estritamente técnico e jurídico. “Não há questões de natureza política nesta situação. 
Devemos deixar a justiça trabalhar e é bom que toda a sociedade angolana consiga compreender que, no caso concreto, o Tribunal Supremo está a tomar as suas decisões, sem qualquer interferência política ou carácter político”, frisou o ministro da Justiça e dos direitos Humanos. Os réus foram condenados a penas que vão dos dois anos e meio a oito anos e meio de prisão, pelos crimes de tentativa de rebelião e associação de malfeitores.

Jornal de Angola - Foto: Kindala Manuel

OS TINTINS DE LAW E OS DE SHAUBLE



Ferreira Fernandes – Diário de Notícias, opinião

Dos dois treinadores da Alemanha, prefiro o Joachim Low, que se ocupa só dos seus tintins. Já Wolfgang Schäuble tem a mania de apertar os dos outros. Em fevereiro, quando o mais sólido banco alemão estava atrapalhado, Schäuble foi perentório: "Não tenho nenhum receio sobre o Deutsche Bank." E, no dia seguinte, a despropósito, lançou: "Portugal tem de estar bem ciente de que pode perturbar os mercados." Frase que retificou logo: não, não queria insinuar nada... Mas, ontem, Schäuble voltou a tentar desestabilizar a equipa adversária. Como escreveu a agência Reuters, ele falou de "um novo resgate" para Portugal. Para, horas depois, pôr o seu porta-voz a explicar que, isso do resgate, seria só "se não cumprisse os seus compromissos"... Quer dizer, aconteceu como se o treinador da seleção alemã dissesse em conferência de imprensa : "O Cristiano Ronaldo pode ser expulso por doping." Para, horas depois, explicar: "Expulso, claro, se ele se dopar mesmo..." Enfim, Wolfgang Schäuble tem um comportamento irresponsável de quem snifa. Mais uma vez prefiro Low, que o que cheira é lá com ele. Falando de sanções, alguém - a União Europeia ou a UEFA, já que a outra é ineficaz - que ponha mão no descarado se ele não reduzir o seu défice de educação. Porém, se a final for Portugal-Alemanha podemos ficar descansados: o treinador Low é um cavalheiro, onde põe a mão é lá com ele. Não é como o amarguinho, que a põe nos nossos bolsos.

“EFEITO SHAUBLE” FAZ SUBIR JUROS DA DÍVIDA PORTUGUESA A LONGO PRAZO



Repercussões das palavras do Ministro das Finanças da Alemanha continuam a sentir-se no início do dia de trocas entre investidores. Dificuldades da tarde de ontem continuam apesar das garantias do Ministério das Finanças que não haverá segundo resgate.

A confusão gerada ontem pelas declarações de Wolfgang Schauble ainda está a ter efeitos nos mercados de dívida: os juros das Obrigações portuguesas acima de três anos estão a subir em toda a linha, penalizando as indicações de dificuldades económicas crescentes. 

Durante a tarde de ontem, o Ministro das Finanças da maior economia europeia deixou no ar a ideia de que Portugal poderia precisar de um novo pacote de financiamento externo caso não cumprisse o défice acordado com Bruxelas para este ano, mas imediatamente recuou e disse que essa possibilidade era rejeitada pelo Governo português. Mesmo com a 'dança' de palavras, o efeito das declarações criou uma onda de pessimismo que fez aumentar os juros da dívida durante a tarde de ontem e que mantém a pressão sobre as Obrigações esta manhã. 

O Ministério das Finanças português tentou acalmar os ânimos mais exaltados com uma declaração pública de confiança, mas as declarações de Mário Centeno a admitir que o crescimento económico nacional poderia ficar abaixo do esperado acabaram por manter o pessimismo dos investidores.

As Obrigações do Tesouro a quatro anos registam a maior subida (mais de 1%), mas todos os títulos até 20 anos estão a ficar mais caros nas trocas entre investidores. 

Os custos de financiamento mais altos no mercado secundário faz temer uma subida dos juros nas emissões de dívida feitas pelo Estado, a principal arma de liquidez pública em Portugal.

Bruno Mourão com Elsa Pereira – Notícias ao Minuto

WOLFGANG SHAUBLE: UM HOMEM SÓ, GENETICAMENTE NAZI



Cafeína e desporto andam de mãos dadas... por uma questão de genica. No Expresso Curto, por Miguel Cadete, é mais do mesmo, um fartum de parágrafos sobre o encontro de hoje entre Portugal e a Polónia, às 20 horas em Lisboa.

Para segundo plano vai deparar (se continuar a ler isto) com o dito e feito do nazi por genética que é pertença dos gabinetes dos governos de Merkel há 11 anos. E ministro das Finanças da detestável mercolina Fuhrer neoliberal fascista desde 2009. Quem é esse? O Wolfgang Schäuble. Esse mesmo, e na foto. O pintas nazi que há uns anos confidenciava a Vitor Gaspar para se portar bem e tramar à força toda os portugueses que depois teria a boa recompensa. Vítor Gaspar era então ministro das Finanças de Passos Coelho, só teóricamente é que era ministro das Finanças de Portugal (colónia alemã). E sim. Gaspar teve e continua a ter boas recompensas. Os operadores da TVI que captaram a conversa do genéticamente nazi Shauble foram punidos. Não valia meter-se na conversa de sacanagem. 

Valeu, que todos vimos nas TVs o Gaspar subserviente a abanar a cauda ao dono instalado na cadeira de rodas. E é esse mesmo, arrogante e dono da Europa, que por descontrole das suas caracteristicas incendiárias, neoliberais fascistas, nazis por herança genética veio ontem dizer que Portugal vai pedir outro resgate, e assim tramar-nos. Só para nos tramar, aos portugueses. Posteriormente veio dar o dito por não dito... Um nojo. Nojo que vindo de quem vem é normalíssimo. Talvez devido aos seus modos e ideologia, à sua arrogância e ao desprezo demonstrado pelos menos afortunados, Schauble foi vítima de um atentado que o pespegou numa cadeira de rodas. Aconteceu quando andava em campanha eleitoral em outubro de 1990. Três disparos prostraram-no no chão. Um deles alojou-se na coluna vertebral e danificou-a imediatamente. "Não sinto as pernas", disse Shauble. E nunca mais as sentiu. Não foi referido se Shauble sentia o coração... se é que o tinha e ainda tem. Há dúvidas, devido aos seus comportamentos.

Do ponto de vista humano e do exercício da democracia, dos direitos, liberdades e garantias que assistem (deviam assistir) a todos os cidadãos, o atentado ocorrido foi um ato reprovavel e inadmissível, porém, quem o cometeu - olhos nos olhos, a três metros de distância de Shauble - considerou ter razões para isso, pelos males que Shauble lhe possa ter causado. O resultado está à vista. O homem "forte" de Merkel continua apostado em tramar a vida aos outros, aos milhões de portugueses, aos muitos mais milhões de europeus. Escapou somente com parte do seu corpo e parte de uma vivência normal mas pelo comprovado não aprendeu a lição. Talvez até tenha ficado mais empedernido no desprezo à humanidade, como Hitler. Uma coisa se sabe: Shauble, com 74 anos, não vai ser o Hitler em cadeira de rodas desta pseudo União Europeia, terá de se sujeitar a ser a víbora que instila o veneno que trama os povos europeus. Principalmente os dos países periféricos, os do sul. Portugal incluído, por talvez para Shauble ser de uma raça inferior. Ele, que mesmo sentado numa cadeira de rodas, paralítico, se considera garbosamente da tal raça superior herdada de Hitler.

Heil! Senhor Shauble. Cuidado, tem o pneu da esquerda muito vazio e o da direita excesivamente inchado... Olhe que pode rebentar e fazê-lo cair. Cuidado. O equilibrio é importante. Para mais por ser um homem tão só, com uma cruz que dá dó, como atesta a foto em cima.

Temos pena.

Segue a cafeína do Expresso. Euro2016 e o que mais contem. 

Mario Motta / PG

Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Miguel Cadete – Expresso

Portugal, os Euros e a alienação

Portugal joga mais logo contra a Polónia a qualificação para as meias finais do Euro 2016.

Se ganhar fica entre as quatro melhores equipas do torneio. Em caso de derrota, fica interrompida uma caminhada que começou a 14 de junho. O país voltará à dita normalidade.

A partida anterior, contra a Croácia, foi vista, só num canal, por maisde três milhões de espectadores. Se juntarmos os outros canais em que foi transmitida, mais os emigrantes que estão lá fora, é natural que esse número cresça para os quatro milhões de portugueses.

Mas a mancha de visibilidade da seleção é muito maior: nos canais de televisão, rádio, jornais, revistas e na internet, nas redes sociais e nas conversas do dia-a-dia, o espaço dedicado a Cristiano Ronaldo e seus camaradas é muito mais vasto que o dos jogos propriamente ditos.

Como se ouviu num dos relatos radiofónicos do golo frente à Croácia, trata-se um país com “fome de glória”. Outros já disseram que se tratava de alienação, ou de alguém que não tem nada no plano económico e, sobretudo, político com que se orgulhar. “O futebol, pelo menos, são 90 minutos de fantasia onde os portugueses ainda acreditam no talento, no esforço e até na benevolência do destino”, disse João Pereira Coutinho.

No nosso caso é bem possível que, dada a maneira de jogar do treinador Fernando Santos, exista um tempo extra e esses 90 minutos passem, pelo menos, a 120.

Foi assim no jogo dos oitavos de final. E será assim se mantivermos o mesmo desempenho dos jogos da fase de grupos, em que Portugal também não foi capaz de levar de vencida qualquer dos adversários nos 90 minutos regulamentares. Bem vistas as coisas, já levamos 360 minutos de tempo regulamentar sem conseguir derrotar os nossos adversários. E no jogo contra a Croácia, o golo milagroso surgiu apenas a três minutos do fim do prolongamento.

Mais ainda, durante os 390 minutos que Portugal esteve em campo, apenas se encontrou na posição de vencedor ao longo de uns míseros 23 minutos. Liderámos durante 5,9% do tempo de jogo, o que não é retumbante. Mas ainda estamos lá.

Os comentadores – que também são quase quatro milhões – exigem, na sua grande maioria, a entrada no onze titular de Renato Sanches, o médio de 18 anos que transporte a bola lá para a frente e anima as hostes com um futebol que a espaços é vistoso.

Mas o selecionador não tem ido em conversas. E sabe que quando entra Renato Sanches, nunca antes da segunda parte ter início, o meio campo de Portugal fica partido, perdem-se passes e a defesa começa a passar as passas do Algarve.

Se Renato entra de início ou não, é o tema que hoje interessa aos portugueses. Mas já se viu que o conservador Fernando Santos – “não vou em cantigas do bandido”, disse ontem - só o põe a jogar, tal como a Ricardo Quaresma, em caso de extrema necessidade.

Um mistério que só ficará resolvido pouco antes das 20h, quando for conhecida a equipa, mas tenho para mim que num jogo a eliminar como o de hoje jogam Rui Patrício, Raphael Guerreiro, Pepe, José Fonte, Cédric, William Carvalho, Adrien, João Mário, João Moutinho, Nani e Cristiano Ronaldo. É com eles que Fernando Santos, muito provavelmente, vai “acreditar nabenevolência do destino”.

Porque, lá está, nos jogos que acontecem em Bruxelas, onde também se disputa a “benevolência do destino” de Portugal, continuamos a não ser tão bem vistos.

Em Berlim, Wolfgang Schaüble, o ministro das Finanças alemão, que nos faz tremer mais do que Lewandovski, disse que “Portugal cometeria um grave erro se não cumprisse os seus compromissos (anteriores)”. E acrescentou “Portugal precisaria então de pedir um novo resgate. Os portugueses não querem um novo programa de ajuda nem precisam dele se cumprirem as regras europeias”.

Claro que isto gerou um sururu maior do que aquele que João Pinto aprontou no Mundial de 2002 quando, durante um jogo contra a Coreia do Sul, deu um murro no árbitro.

Claro que as declarações de Schaüble vêm na sequência dos menos bons resultados da execução do Orçamento do Estadoportuguês, como sublinha João Vieira Pereira.

Claro que o primeiro-ministro tinha sossegado o país, vindo a público dizer dois dias antes que “não haverá medidas adicionais”. Claro que isto deixa nas pessoas a mesma segurança que as defesas sentem quando a seleção da Alemanha começa a massacrar as equipas adversárias.

Mas também é claro que o ministro germânico disse o que disse no dia em que o FMI constatou que a Alemanha precisa das mesmas reformas que gosta de fazer aplicar a outros países. Que a suaestrutura demográfica, demasiado envelhecida, requer cuidados intensivos. E que a escassez de força de trabalho está a conduzir o país a uma desaceleração do crescimento. Que são precisas mais mulheres a trabalhar a tempo inteiro, que a idade da reforma deve aumentar ou que a formação dos imigrantes de é essencial para inverter a situação.

Claro que as declarações de Schaüble também sucederam no dia em que se soube que a divisão norte-americana do Deutsche Bank (e o Santander) não passou, mais uma vez, nos testes de stress.

Claro que isto não é alienação, ao contrário de 22 tipos atrás de uma bola. Claro que precisamos de ganhar o jogo de hoje. Dê lá por onde der.

OUTRAS NOTÍCIAS

Espanha e França rejeitam entrada da Escócia no Reino Unido. “Se o Reino Unido sai, a Escócia também sai”, disse Mariano Rajoy em Bruxelas precavendo os movimentos independentistas que tem na Catalunha ou no País Basco. François Hollande está com o recém vencedor das eleições legislativas em Espanha: “as negociações para a saída serão com o Reino Unido, não com uma parte do Reino Unido”. Ao mesmo tempo, Nicola Sturgeon, líder do SPN, o maior partido escocês, tentava convencer Jean-Claude Juncker a descolar a Escócia, onde 62% dos eleitores votaram a favor do “Remain”, do Brexit.

Rajoy quer governo de coligação com o PSOE. À segunda é de vez? O líder do PP, que ganhou pela segunda vez as eleições sem se vislumbrar uma solução de governo, vai oferecer a Pedro Sanchéz, líder do PSOE, um lugar no próximo executivo. Além das reformas genéricas (crescimento e emprego, pacto social, reforma fiscal, educação e administração pública) já apresentadas nas eleições de dezembro, Rajoy está disposto a discutir uma reforma constitucional na negociação com o PSOE.

Atentado no aeroporto de Istambul fez 41 mortos. A contagem das vítimas do atentado de Atatürk não parou de subir até ontem à noite: 41 mortos e 239 feridos. O “Libération” discute hoje, logo na primeira página, a segurança nos aeroportos e começa por considerar essa uma missão “impossível”. Nenhuma organização reivindicou até agora a autoria da carnificina.

António Ramalho no Novo Banco. O “Diário de Notícias” dá como certa, na primeira página, a substituição de Stock da Cunha (que regressa ao Lloyds Bank) por António Ramalho (ex-BCP, Infraestruturas de Portugal). Entretanto, o prazo para a apresentação de ofertas para a compra do Novo Banco termina hoje.

Alvin Toffler morreu. O autor de livros de enorme sucesso, como “A Terceira Vaga”, publicados na segunda metade do século XX morreu na segunda-feira, em Los Angeles, aos 87 anos. Toffler estimava que a convergência entre ciência, capital e comunicações iria transformar profundamente as nossas sociedades.

Luaty Beirão libertado. O rapper luso-angolano e os outros 16 ativistas detido nas prisões de Angola foram ontem libertados ao final da tarde, permanecendo com termo de identidade e residência. Beirão, assim como outros 11 revus, encontravam-se presos no Hospital Prisão São Paulo.

A esse propósito vale a pena ver o 2:59 de Pedro Santos Guerreiro, Anabela Campos, Joana Beleza e João Roberto que procura responder à questão “De onde vem o dinheiro e o poder da princesa de África?”Indispensável.

Theresa May na corrida à liderança do Partido Conservador.É anunciada esta manhã a candidatura de Theresa May, atual responsável pelos assuntos internos de Inglaterra e do País de Gales, à liderança do Partido Conservador britânico, depois de conhecida a demissão de David Cameron. Boris Johnson, ex-presidente da Câmara de Londres, também irá divulgar a sua candidatura esta manhã.

FRASES

“Os portugueses estão fartos de nós até ao tutano”. Pedro Delgado Alves, deputado no Parlamento, a propósito da auditoria à CGD

“Não há mercado único à la carte”. Jean-Claude Juncker em Bruxelas

“Vá-se embora, homem”. David Cameron para Jeremy Corbyn, em Westminster

“É um caso político, eles não querem saber da lei”. Luaty Beirão em entrevista à SIC

“O melhor é entrarmos logo acordadinhos”. Fernando Santos na conferência de imprensa de ontem

O QUE ANDO A LER

A propósito de mais um relançamento em português de “Watchmen” (Levoir), não resisti a voltar a pegar na banda desenhada que, tenho para mim, é das mais importantes entre todas as que foram publicadas no último quartel do século passado.

Para o caso, nem tanto importa que a obra magna de Alan Mooretenha conhecido uma primeira edição ainda em 1986. Afinal, o que estava ali em causa era reverter toda a imagem infantilóide que, consciente ou inconscientemente, ela havia conquistado. E não me refiro apenas à famosa linha clara franco-belga.

A par de “O Regresso do Cavaleiro das Trevas”, de Frank Miller, e de “Killing Joke”, também com argumento de Alan Moore, “Watchmen” foi capaz de elevar o universo dos comics a um patamar inédito e, diria, único.

Não vale a pena tirar as medidas através do filme entretanto produzido. O portento de Alan Moore e Dave Gibbons só ganha a devida densidade em papel. Por várias razões e mais esta. Nunca se fez a auto-crítica (e aqui não me refiro ao batmobile) dos super-heróis como neste longo ensaio sobre anjos. Por vezes, caídos.

Por hoje é tudo. Toda a informação será atualizada em permanência no Expresso online. Às 18 horas chega o Expresso Diário. Tenha um bom dia.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

EMPREENDEDORISMO: ALIENAÇÃO VERSUS COOPERAÇÃO



Rui Peralta, Luanda  

O empreendedorismo é apresentado como uma solução para a força de trabalho excedente, não absorvida, uma possível solução para o desemprego. Pelo menos este é o discurso dominante que promove esta prática e, efectivamente, assim o pode ser. Mas, por debaixo do discurso promotor das competências empreendedoras, impõe-se uma ideologia funcional que reproduz culturalmente os processos de acumulação do capital e que assenta na concorrência como fórmula mágica e no capitalismo como como fatalidade bíblica. Para trás ficam a solidariedade e a cooperação, distorce-se o papel do individuo e os seus direitos efectivos e perde-se o sentido do colectivo.

O grande objectivo deste tipo de empreendedorismo, desta ferramenta do neoliberalismo, é a criação de uma economia feita de trabalhadores que adquirem comportamentos de unidade-empresa e não como colectivos de produtores. A forma empresa integrará toda a sociedade, tornando-se um princípio vectorial que se infiltra em todas as relações sociais. Da família ao Estado nada lhe escapa. Quanto ao mercado tornar-se-á numa imensa fornalha reprodutora de escravos, de mão-de-obra de baixíssimo custo, isenta de custos sociais e de direitos tanto de produtores como de consumidores, um imenso aparelho sob controlo directo das oligarquias. É um imenso processo de colonização que leva os valores do capitalismo a todos os âmbitos da vida social e a todas as esferas da sociedade humana.

A ética imposta por estes valores comporta a ideia de que o pobre é pobre porque não é – e não quer ser - empreendedor, gera uma falsa consciência do sujeito. Os que não empreendem são “falhados, derrotados”, fogem do “sucesso”, são “indolentes” que fogem da concorrência permanente.  Os que “fracassam” não dispõem dos sinais do “êxito”, não absorveram os valores empreendedores como o “talento”, a “inovação”, o “carisma”, a “liderança”, etc. Desta forma ocultam-se os processos sociais que possibilitam estes valores, escondem-se as relações sociais no mundo do trabalho, a exploração da força de trabalho, criada através da invisibilidade dos rendimentos-extra gerados no modo de produção capitalista. A burguesia possui riqueza porque oculta e explora e essa é a sua racionalidade. Não há “talento” nas relações sociais de produção. O que há é uma relação de domínio/submissão, de exploração.

Na ideologia do empreendedorismo o sujeito passa de assalariado (o que vende a sua força de trabalho, o seu conhecimento, no mercado de trabalho) a um “empresário de si próprio”. E é aqui que consiste a armadilha que gera uma falsa consciência da realidade. Ele desce no escalão social, efectivamente, porque perde direitos e adquire uma actividade precária, que o irá fazer arrastar-se por toda uma vida a pagar dividas á banca, a bajular o aparelho de Estado em troca de uns trocos, e o partido como centro de negócios.

Empreender sim, mas de forma consciente e não como processo de alienação. Empreendedorismo sim, mas no sentido de potenciar a criatividade, a inteligência, a inovação, a excelência do serviço e da produção. Empreender no sentido da cooperação e da solidariedade e não em exclusivo nos processos de concorrência. Criar processos de empreendedorismo que fomentem transformações de atitude dos produtores e operadores que gerem dinamização económica local, potenciando as articulações com o meio envolvente. Empreendedorismo sim, mas no sentido dos empreendedores criarem os seus próprios circuitos financeiros solidários e as suas redes logísticas colectivas. Empreendedorismo sim, mas no sentido da partilha de conhecimento, saberes e tecnologias.

Empreender sim. De verdade, como processo de socialização. Nunca como alienação.

A DESINTEGRAÇÃO DO MUNDO NEOLIBERAL: O PILOTO DO GOLPE SUMIU



A demanda por recheios distintos da rendição aos mercados vai acabar produzindo a sua oferta, mas o tempo para as respostas democráticas encurtou

Saul Leblon – Carta Maior, editorial

É o segundo espasmo de morte do neoliberalismo; o primeiro atingiu sua jugular econômica com a crise financeira sistêmica de 2008, da qual o organismo nunca mais se recuperou.

Agora foi a carótida política.

O sangue venoso e o arterial se misturaram espalhando a morte para dentro e para fora dos trilhos do livre mercado até descarrilar seu trem político.

É esse o filme que estreou em circuito mundial neste fim de semana.

Nas telas, o comboio bufa, estrebucha e arrebenta o que encontra pela frente, atrás e dos lados.

Tudo o que era sólido se desmancha no ar.

Mas ficha resiste em cair nos rincões mais aguerridos. Faz parte do desastre negá-lo.

O jornal Valor desta 2ª feira é um exemplo pungente.

Garrafais no alto da página proclamam em meio à montanha desordenada de ruínas a que foram reduzidos os pilares do golpe: ‘Brexit deve ter impacto limitado para o Brasil’.

Sim, tanto quanto um frango desossado da Sadia consegue fazer uma pirueta e parar de pé na Praça dos Três Poderes.

O frango desossado tipo Serra, por exemplo.

A charanga estratégica do golpe desafina mas ele anuncia solene: ‘Distinto público, vamos redefinir a política externa ideológica em direção à maior liberalização dos mercados’.

Dá uma pirueta e se espatifa no picadeiro.

A cerca-lo, leões famintos rugem intenções opostas.

De um lado, a segunda maior economia da Europa troveja seu não a uniões enlaçadas pelo julgo ortodoxo, na sexta-feira; de outro, instintos protecionistas dos americanos cospem fogo pelas ventas de Donald Trump; mais próximo do seu pescoço, a política espanhola reafirma a impotência das soluções convencionais para tirar a economia do atoleiro neoliberal em que se encontra... Etc.

Estivessem algo menos perplexos, os jornalistas embarcados talvez fizessem uma primeira autocrítica dos muitos anos de certezas graníticas.

Admitir que o único chão firme nesse momento são as reservas de US$ 370 bilhões que o ‘lulopetistmo’ acumulou, sob o bombardeio da crônica neoliberal, seria um bom começo.

Mas os tempos são turvos demais para a clareza dos espíritos.

Na Inglaterra, 52% dos eleitores resolveram dar um passo à frente caminhando dois para trás: por uma diferença de 1.269.000 votos, a consulta popular da última sexta-feira decidiu a saída do país da União Europeia. 

Dois dias depois, a Espanha foi  às urnas pela segunda vez desde dezembro:  do Podemos, que decepcionou, ao conservador PP, que venceu, sem liderar, nenhuma força saiu daí mandatada para dar um rumo novo ao ocaso econômico e social em que se encontra o país, após oito anos de terapêutica neoliberal.

Nos EUA,  o bafo morno das tempestades traz uivantes advertências de um conservadorismo que já não controla mais a criatura, com jeito de ‘anos 30’, como diz a Economist, que germina em seu ventre.

O desmonte que se aplica a contrapelo das urnas no Brasil deveria ser analisado à luz da gravidade pedagógica do curso tomado pela história nas últimas horas.

Sobretudo os senadores que em breve decidirão um processo ilegítimo de impeachment deveriam se perguntar: ‘Esgarçada a democracia, o que restará à nação?’

Não é precisa ser de esquerda para sopesar e refletir a gravidade do que se divisa do mirante da convulsão global: basta ser lúcido, contemporâneo e consciente das responsabilidades públicas com o futuro brasileiro.

Quantos desses há no Senado brasileiro?

O neoliberalismo revivificado aqui como diretriz ‘legitimadora’ do golpe , esfumou-se como alternativa de organização social e econômica na segunda principal economia da Europa.

Ao mesmo tempo e com igual intensidade, reafirmou o dano colateral da fragmentação política que se instala em sociedades submetidas a sua dieta, como mostra o caso do ‘ajuste espanhol’.

Receitas de supressão de direitos, empregos e gastos públicos, em nome de uma ‘contração expansiva’ a cargo do capital privada que nunca acontece, fazem água em todas as latitudes. 

Será o Brasil a exceção?

A experiência do mundo lança alertas à direita e à esquerda.

O desacorçoo, desprovido de um contraponto político alternativo à rendição neoliberal, levou o ambiente partidário espanhol à um círculo de ferro de indiferenciação e descrédito.

A indignação difusa da Praça do Sol ainda não foi suficiente para rompe-lo. 

Como um touro ferido, a democracia espanhola vagueia à procura de um projeto de futuro.

A incapacidade da política de dizer não ao mercado mantém a sociedade na UTI há oito anos,  onde acumula 21% de desemprego (44% entre os jovens), um PIB quase 6% inferior ao de antes da crise e a mumificação progressiva do tecido social, sob a ação medicamentosa que ora se anuncia aqui como a salvação da lavoura.

A dinâmica global colide de maneira ostensiva com o que diz a manchete do jornal Valor desta 2ª feira, cujo maior pecado não é barrigada jornalística.

O que de pior a mídia inocula no discernimento brasileiro é a interdição ao debate ecumênico do desenvolvimento, em nome de uma certeza ortodoxa desprovida de laços com a realidade.

O vigamento ideológico da pauta neoliberal, a crença de que o Estado menor fará a sociedade melhor, não entregou o que prometeu.

Após quatro décadas de supremacia quase absoluta do seu credo, as grandes multidões cansaram de esperar pelos milagres do Messias Mercado.

A desilusão jorra pela sarjeta dos bairros pobres e remediados nos quatro cantos do mundo, que sempre estiveram ali e dali não mudaram para melhor.

Regurgita igualmente seu explosivo descrédito nos novos aglomerados decadentes, como o cinturão da ferrugem nos EUA.

Ferrugem industrial e mal-estar social.

Protótipo de cemitério fabril, em seu pórtico reluz o vaticínio a outros milhões de distritos operários do planeta, encarcerados  na mesma lógica da liberdade para as coisas mortas e servidão para as  vivas.

O paradoxo segue uma receita universal.

Desguarnecer a manufatura local, baratear importações dos clusters asiáticos, desencadear sucessivas contrapartidas de arrocho mitigatório e supressão de direitos, enxertar o vírus da pobreza e do desemprego nas famílias assalariadas, sepultar seu destino e o do país no definhamento tecnológico estrutural, consagrado como fatalidade diante da intocável liberdade para os capitais.

‘Nós que aqui estamos por vós esperamos’, dizem seis de cada sete norte-americanos, que ademais de não terem curso universitário, também não tem emprego nos dias que correm.

Formam eles a base do eleitorado que desistiu de esperar por uma solução ‘de mercado’.

Passaram a enxerga-la, perversamente, na mais arrematada personificação do seu algoz: o protecionismo regressivo, xenófobo, fascista, racista, preconceituoso e excludente.

Ou apenas, Donald Trump.

Seu sucesso reafirma, por caminhos contrapostos, a indissociável importância para a democracia da inserção produtiva sólida das famílias assalariadas, da sua identidade histórica e da correspondente organização de classe em torno de valores e direitos sociais compartilhados.

A mesma pobreza desgarrada que enxerga luz na escuridão vendida por  Trump, optou pelo Brexit na Inglaterra e se rendeu ao desalento do ‘tanto faz isso ou aquilo’ na Espanha, neste domingo.

O cheiro de morte que empesteia o mundo desde a crise de 2008 se espessa na putrefação da pele política.

Vive-se a experiência de uma crise capitalista sistêmica que não gerou as forças de ruptura para a sua superação.

O resultado é a treva.

Essa que ‘ilumina’ as escolhas observadas nas últimas 72 horas e cujo poder contagioso equivale ao da peste negra –dos camisas negras— em outro divisor histórico.

A trinca aberta entre a base da sociedade e aqueles que deveriam vocalizar o conflito, mas, sobretudo, a negligência deliberada com a organização e o esclarecimento adequado dessa base, redundou no paradoxo infernal.

Não é um alerta difuso.

Cai como uma luva no Brasil. 

Uma crise capitalista sistêmica que não gera forças de ruptura para supera-la encontra seu condottiere nas expressões mórbidas do próprio capitalismo.

O resultado é a  virulência do que se busca despejar nos ombros das famílias assalariadas de todo o planeta.

E desde 12 de maio também nas do Brasil.

O país que em 1988 promulgou uma Constituição garantidora de direitos sociais e trabalhistas, a contrapelo da voragem neoliberal então avassaladora no planeta, engata mais uma viagem na contramão do tráfego histórico.

A diferença agora é que isso se faz em frontal contradição com os interesses da maioria da população.

E no lugar de uma repactuação constituinte, a bordo de um golpe de Estado. 

A legitimidade para isso? As contas viciadas de uma plutocracia sonegadora para a qual a Carta Cidadã não cabe no orçamento da nação.

O pulo do gato do esbulho – aquilo que o diferencia de uma ditadura clássica-- é usar o combate seletivo à corrupção como biombo para a repressão política inerente à regressão social.

É disso que cuida o califado de Curitiba. 

Não fosse por esse achado –para o qual contribuiu o mergulho petista no universo do caixa 2 eleitoral—seria preciso chamar de volta a OBAN para dobrar a resistência à usurpação. 

Basta Moro, por enquanto.

A corrupção endógena a um sistema político fragmentado para dar ao dinheiro o comando do todo, não é o único fator de desmoralização da democracia.

A subordinação do Estado ao mercado avulta como a principal fonte da descrença do nosso tempo na política, nos partidos e no voto.

É isso que estão dizendo os ingleses cuspidos do paraíso dos livres mercados prometido por Thatcher em 1979, no qual nunca couberam.

A exclusão é um requisito à estabilidade da geringonça.

Será mesmo?

Quatro décadas de neoliberalismo esfarelaram a classe média dos EUA e desmontaram o estado do Bem-Estar europeu.

A renda real da outrora afluente classe média gringa encontra-se estagnada no nível de 1977, tendo o PIB crescido 50% no período.

Nunca a desigualdade foi tão extremada como agora na sociedade mais rica da terra.

A tese neoliberal de que a concentração em cima, vazaria a riqueza por gravidade para baixo, chocou uma falácia.

A fatia da renda nas mãos dos 20% mais ricos nos EUA chega hoje a 55% do total; evoluiu na razão inversa na base da pirâmide.

Não é menos regressivo o quadro europeu.

Pesquisas mostram que a diferença entre um rico e um pobre na sociedade europeia era de 1 para 12, em 1945; passou de 1 para 82, em 1980; é de 1 para 530 atualmente.

Em toda a UE, apenas os dilacerados mercados de trabalho de Portugal e Grécia pagam salários médios mais baixos que aqueles recebidos pelos trabalhadores ingleses, que votaram maciçamente no Brexit, na última sexta-feira.

São ingleses, também, os experimentos mais radicais de desregulação do mercado de trabalho em curso na UE.

A mão de obra ‘just in time’, como já observou Carta Maior neste espaço, é uma dessas modalidades ultraflex,  acalentadas aqui pelos paladinos da terceirização total.

A nova tecnologia trabalhista reduz o empregado a um insumo requisitado da rua apenas quando a demanda imediata o exige.

Somente o tempo de uso estrito pela engrenagem produtiva será remunerado.

É melhor que a senzala.

Há 700 mil ‘insumos humanos’ desse tipo no capitalismo britânico, sendo a modalidade de ‘emprego’ que mais cresce na terra de Shakespeare, onde a decadência laboral e o fastígio da riqueza financeira pareciam conviver funcionalmente, até a abertura das urnas no dia 24.

O que esse conjunto de martírios e recusa nos diz é que um ciclo está se fechando na sociedade capitalista no século XXI.

A supremacia financeira insaciável perdeu a capacidade de girar a roda da história na direção das necessidades objetivas e psicológicas da humanidade.

Engasgado na própria saliva, o neoliberalismo regurgitar a autodissolução em manifestações de extremismo conservador. 

O desenlace permanece em aberto em todo o mundo, a evidenciar uma mudança de época que não encontrou ainda um protagonista capaz de virar a página do calendário.

Não há escolha fácil nesse ambiente difícil, assoalhado de chão mole por todos os lados.

O terremoto deve sacudir o sonambulismo da esquerda mundial a partir de agora.

A demanda por recheios distintos da rendição aos mercados vai acabar produzindo a sua oferta. 

Mas o tempo para a resposta democrática encurtou.

Uma heroica renovação da esquerda, ou a sua não menos trágica extinção em benefício de manifestações totalitárias emergentes, é o que pulsa no monitor da história.

O anacronismo temerário da agenda golpista no Brasil estreitou adicionalmente o tempo dessa escolha entre nós.

Angola. DAS ISABÉIS – DESCONSTRUINDO ALGUMAS FALÁCIAS ANTIPATRIOTAS



José Eduardo Agualusa – Rede Angola, opinião

Não compreendo o alvoroço em torno da nomeação de Isabel dos Santos para a presidência do Conselho de administração da  Sonangol. O  Presidente José Eduardo dos Santos teve em atenção apenas a competência da nomeada. Homem íntegro, sério, impoluto, nem sequer se terá apercebido de que estava nomeando a própria filha. Ele sempre soube separar a esfera privada da pública. Separa-a tão bem que jamais confunde Isabel com Isabel. Uma coisa é Isabel dos Santos, sua filha; outra é a Isabel dos Santos, empresária de sucesso, a mulher mais rica de África. São, naturalmente, pessoas distintas. Tão distintas, ao menos, quanto Fernando Pessoa e Alberto Caeiro. Fernando Pessoa deu origem a Alberto Caeiro, é verdade, mas Alberto Caeiro não era Fernando Pessoa. Isabel dos Santos, a filha mais velha de José Eduardo dos Santos, deu origem à prestigiada empresária e agora distinta gestora pública, Isabel dos Santos. Contudo, só um louco, ou um révu, o que, aliás, é a mesma coisa, se atreve a dizer que Isabel é Isabel.

José Eduardo dos Santos ama a filha, Isabel dos Santos, mas mal conhece a empresária Isabel dos Santos. Nunca conviveu com ela. Jamais a recebeu em casa. O mesmo se pode dizer relativamente a Zenú dos Santos, Coréon Dú (dos Santos) ou Welwitschia dos Santos.
Por outro lado, o Presidente é o pai da Nação. Somos todos seus filhos. Assim, ao nomear qualquer angolano para um determinado cargo público, José Eduardo dos Santos estará inevitavelmente a nomear um filho. É isto nepotismo? Não, meus senhores, é patriotismo.

Outra objecção que os loucos, os révus e todo um imenso bando de antipatriotas (são a mesma coisa) repetem, é que a empresária Isabel dos Santos não poderia nunca ser nomeada para um cargo público, visto tratarem-se de funções concorrentes. Disparate. Mais uma vez, estamos a falar de pessoas diferentes: uma pessoa é Isabel, a empresária competente, e outra é Isabel, a gestora pública de reconhecidos méritos. São pessoas tão distintas quanto, digamos assim, Nossa Senhora Aparecida e Nossa Senhora da Muxima. As duas são a Virgem Maria, mãe de Jesus, certo, mas uma é negra e brasileira e a outra branca e angolana.

Isabel, a empresária, a mulher mais rica de África, mal conhece Isabel, a competente gestora pública. Nem sequer se frequentam. Não há uma única fotografia – uma única! – que mostre a empresária Isabel dos Santos ao lado da gestora pública Isabel dos Santos. Desafio qualquer révu a mostrar-me uma fotografia das duas juntas num mesmo evento.

Temos, portanto, que uma coisa é Isabel, outra a Isabel, e outra ainda a Isabel.

Finalmente: embora o Presidente José Eduardo dos Santos não tenha ligação alguma com a Isabel, muito menos com a Isabel, conhece muito bem o pai de ambas – e confia nele.

Entenderam, ou é preciso fazer um desenho?

Mais lidas da semana