Mariana
Mortágua* - Jornal de Notícias, opinião
Durante
os últimos anos Portugal foi o "bom aluno" da Comissão Europeia. A
submissão, que tanto humilhou o país, foi mesmo exibida com orgulho. Era a
marca do Governo de PSD/CDS. Foi em nome dessa obediência, e dos benefícios que
nos traria no futuro, que o país passou em viver em permanente estado de
exceção. A Constituição foi atropelada, assim como os salários, o emprego, o
Estado social e mesmo a nossa dignidade. Foi um vale tudo para que Portugal
passasse a pertencer ao "quadro de honra" da UE. Um prémio para o
país que obedece, que se conforma, que não questiona. O filho obediente de um
pai cada vez mais tirano.
Mas
a Europa para que o país olhava com esperança já não existe. As prioridades já
não são - se é que alguma vez foram - o Estado social, a cooperação e o
desenvolvimento. Sem entendimento possível, a política europeia assenta nos
mínimos denominadores comuns: a obsessão pelo défice e a urgência de estancar a
vaga de refugiados, mesmo que isso implique deixar milhões de pessoas à sua
sorte, dependentes do regime turco, a quem se pagou para que fizessem o
trabalhinho sujo que a UE sabe mas não quer fazer. Afinal, é preciso lembrar
que ganharam o Nobel da Paz há uns anos. Há que manter a imagem.
A
UE tornou-se numa aberração. As suas instituições estão hoje dominadas por uma
estranha combinação de eurocratas agarrados ao poder, Estados autoritários e
interesses financeiros. Crise após crise, esta fortaleza cerra fileiras sobre
si mesma, protege-se de qualquer forma de escrutínio popular e tenta, das
formas mais violentas, preservar a sua própria existência. A UE já só existe
para si mesma.
Portugal
está prestes a ser castigado pelo mesmo pai tirano que tanto tentou agradar. Se
a Comissão sancionar o país pelo desempenho das contas entre 2013 e 2015, ou
seja, pela aplicação das políticas que ela própria determinou, então é porque
perdeu a noção da sua credibilidade, da necessidade de mínimos de aceitação
popular, de gestão política e de autocrítica. Se forem aplicadas sanções apenas
para mostrar quem manda, então é porque só sobra mesmo a tirania.
O
Bloco sempre defendeu que cada passo deste processo de integração deveria ter
sido referendado. O Tratado Orçamental ainda não é Tratado Europeu, mas será.
Se é consensual - do presidente da República ao Parlamento - que as sanções são
inaceitáveis, então, se forem aplicadas, é justo perguntar ao nosso país se
aceita ou não o Tratado que as impõe. Contra a tirania temos o direito e o
dever de responder com democracia.
*Deputada
do BE
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