terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Portugal. O CANDIDATO, O COMENTADOR E O SÓ-MARCELO



Mariana Mortágua – Jornal de Notícias, opinião

Marcelo continua obscuro sobre o atual Governo. Mas tem uma tese: com o resultado das legislativas, o país ficou divido em dois. O papel do presidente é "desdramatizar" e conciliar Esquerda e Direita. Quer isto dizer que, se fosse eleito, forçaria um Governo de bloco central, o tal regresso à "união" da sociedade, com ou sem novas eleições? Não sabemos - porque ele não diz. Mas não queremos correr o risco de descobrir a resposta.

Uma coisa é certa, há muito que Marcelo vive dividido em (pelo menos) três. Para não criar confusão, chamemos-lhes candidato Marcelo, comentador Marcelo e só-Marcelo ao anterior líder do PSD e membro do Governo Balsemão.

Logo a seguir à tragédia do hospital de S. José, o candidato Marcelo apareceu a defender o SNS. O comentador Marcelo, por seu lado, sempre elogiou o anterior ministro Paulo Macedo e sempre calou os cortes de 1500 milhões de euros na saúde. Por fim, só-Marcelo votou contra a criação do SNS em 1979; esteve no Governo que aprovou o decreto 254/82, entretanto declarado inconstitucional por visar a destruição do SNS; e propôs em 1996, como líder do PSD, a retirada da referência constitucional à "gratuitidade tendencial" do SNS.

O candidato Marcelo promulgaria as leis agora aprovadas pela Esquerda, legalizando a adoção por casais do mesmo sexo e restabelecendo o direito ao aborto seguro, gratuito e sem perseguições. Mas o comentador Marcelo, reconhecendo que a lei discriminava no acesso à adoção, defendeu em 2013 um referendo. Já sobre o aborto, o comentador pouco disse. Todavia, só-Marcelo, líder político e ativista pelo "não" nos referendos, votou a favor da manutenção da pena de prisão para as mulheres que abortassem.

É verdade que só-Marcelo votou a Constituição. E que o candidato Marcelo jurou a Marisa Matias que tinha apoiado o chumbo pelo Tribunal Constitucional dos cortes de rendimentos do Orçamento do Estado de 2012. Mas, na época dos cortes, o comentador Marcelo exclamava que "não lembraria ao careca" pedir a fiscalização da constitucionalidade do Orçamento. Depois dos vários chumbos do TC, o comentador Marcelo passou a dizer que este é um órgão político, que não pode ser visto da mesma forma que outras instâncias judiciais.

Enfim, se reunificássemos os três Marcelos, como Marcelo candidato quer fazer ao país, teríamos a defesa da saúde mas sem SNS; o respeito pela igualdade e pelos direitos humanos mas sem aborto seguro e gratuito, muito menos respeito pelas famílias LGBT; teríamos a Constituição, mas um presidente pelo qual, nos últimos quatro anos, teriam passado todas as violações da lei fundamental.
Em suma, Marcelo Rebelo de Sousa não é de confiança. Pela minha parte, escolherei nestas eleições a pessoa que, para as questões em que Marcelo esconde ou erra, tem uma reposta concreta, sem medos ou meias-palavras. No dia 24 de janeiro, voto Marisa Matias.

Portugal. EANES DIZ QUE NÓVOA TEM SEMELHANÇAS COM CAVACO. OBRIGADO PELO AVISO



Temos de agradecer ao general Ramalho Eanes por nos ter esclarecido a tempo: Nóvoa e Cavaco têm semelhanças… Livra! Assim já sabemos que não devemos votar em Sampaio da Nóvoa. Outro Cavaco em Belém seria uma desgraça. Quem diria que assim era? Nóvoa passou de ilustre desconhecido da maioria dos portugueses para ribalta eleitoral como candidato a PR… e até nem parecia nadinha que tivesse as tais semelhanças com um descalabro presidencial chamado Cavaco.

Novamente: obrigado pelo aviso. Já sabemos que votar em Sampaio da Nóvoa não interessa à maioria dos portugueses. Como Marcelo ainda tem os odores do “antigamente”, cresceu de mão dada com o salazarismo e com o caetanismo, com a ditadura, aderindo aparentemente ao 25 de Abril por não ter outro remédio… Marcelo também não interessa à maioria dos portugueses. Em quem votar? Ora, isso, é uma decisão de cada um de nós, cidadãos eleitores. Agora já sabem que se quiserem ter em Belém, na Presidência, Cavaco Silva II devem votar em Nóvoa, se quiserem ter o pleno do “antigamente retinto e mal-cheiroso”, mais Cavaco, mais Passos, mais PSD… votem Marcelo.

Assim, Eanes, ao avisar, acaba por fazer um grande favor aos menos avisados e que não querem novamente Cavacos na Presidência. Livra!

Muito agradecidos, general.

Redação PG

Eanes diz que Nóvoa já é um general e tem semelhanças com Cavaco

O antigo Presidente da República Ramalho Eanes, que apoia a candidatura de Sampaio da Nóvoa, disse, esta terça-feira, em Castelo Branco considerar que o antigo reitor "já é um general" e estabeleceu "algumas semelhanças" entre o candidato e Cavaco Silva.

"Cavaco Silva é homem capaz, competente, interessado, honesto", ilustrou, quando questionado pelos jornalistas se estava arrependido do apoio que deu a Cavaco nas suas duas candidaturas ao cargo, para logo de seguida dizer que também reconhece em Nóvoa essas qualidades.

O antigo Presidente da República ressalvou, contudo, que apesar de haver "algumas semelhanças", há "muitas diferenças" entre ambas, até porque Nóvoa irá atuar "num tempo totalmente diferente".

Na ocasião, Sampaio da Nóvoa aproveitou para frisar que o seu mandato será "muito diferente" dos mandatos de Cavaco Silva, porque tem uma "visão presidencial e um conceito diferente" daquele que tem o atual Presidente da República.

Jornal de Notícias – Foto: Tiago Petinga / Lusa

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ISRAEL PROVOCA BRASIL COM VISTAS À DESINTEGRAÇÃO REGIONAL E À III GUERRA MUNDIAL



O primeiro-ministro israelense de extrema-direita, Benjamin Netanyahu, tão famoso pela política de linha-dura, aguarda desde agosto posição do governo brasileiro sobre indicação de Dani Dayan como novo diplomata de Israel no Brasil

Está esperando e ameaçando o governo brasileiro. Ainda assim, seguirá esperando por muito tempo ao que tudo indica. Ele mesmo sabe bem disso - sempre soube, na verdade.

Um dos líderes mais terroristas da história contemporânea está cansado de saber: não está lidando com um brasileiro defensor de suas "políticas" tais como o ex-candidato presidencial Aécio Neves (afilhado político de Fernando Henrique Cardoso, lacaio de Washington e de Tel-Aviv), cujo playboy (famoso como tal em seus círculos de amizade) no início dos anos 80 surfava sobre as ondas da badalada praia de Ipanema na cidade do Rio de Janeiro, onde ocupava altos cargos profissionais indicados por familiares políticos - jamais por competência -, enquanto a atual presidente brasileira estava presa e sendo torturada por lutar contra a sangrenta ditadura militar no país sul-americano.

Justamente aí, reside um dos caminhos às evidências de que o que Israel quer é uma "crise diplomática" com o Brasil, enquanto Netanyahu que aplicará duras medidas contra o País, sem definir quais serão elas.

Esta provocação possui objetivos que se tornam bem claros se fizermos, aqui, o que a mídia de embaralhamento da consciência coletiva não faz: utilizar a verdade dos fatos em contexto ao invés de uma torrente de informações, apenas para confundir a opinião pública [revelações de John Perkins, economista com anos de serviços prestados ao governo dos EUA, no livro Confessions of an Economic Hit Man (http://resistir.info/livros/john_perkins_confessions_of_an_economic_hit_man.pdf) (Confissões de um Assassino Econômico) apontam como sendo exatamente essa a estratégia da grande mídia internacional, e ainda acrescentou: "A maioria dos meios de comunicação - jornais, revistas, editoras, emissoras de TV e estações de rádio - é de propriedade de grandes corporações internacionais, as quais não têm o menor escrúpulo em manipular as notícias que divulgam"].

Provocação ao Gigante Sul-Americano

Apenas a designação de Netanyahu para que Dayan represente Israel no Brasil, já foi anunciada de maneira um tanto "exótica" e nada diplomática: via conta pessoal no Tuíter.

Diante deste comportamento oficial com aspecto de molecagem por parte do governo sionista que dispensa maiores comentários, não causa surpresa ao primeiro-ministro e nem a nenhum cidadão em sã consciência, que a presidente brasileira não tenha aceitado a indicação arrogante por parte de um Estado autoritário que, ao lado dos Estados Unidos, comete os piores crimes contra a humanidade pós-II Guerra Mundial. Principalmente, levando-se em consideração a personalidade briosa e o histórico ativista de Dilma.

Assim, a conclusão óbvia mesmo dos mais ingênuos é que, já no ato da publicação via Tuíter, Netanyahu tinha plena consciência do mal-estar que causaria entre seu belicista país e a maior economia latino-americana.

Outro fato que gera no mínimo muita curiosidade é que, exatamente no gigante sul-americano que há tempos deixou de ser completamente servil aos mandamentos de Tel-Aviv e de Washington, ao mesmo tempo que tem se integrado à América Latina como nunca antes na história (região outrora considerada publicamente o "quintal dos Estados Unidos"), Netanyahu tenha designado um "diplomata" gera profunda antipatia a começar dentro de Israel por suas duras posições. Dayan é abertamente favorável aos criminosos assentamentos na Cisjordânia, de maneira que tal indicação tem causado certa turbulência na própria política israelense.

Sobre isto, para tornar os fatos ainda mais claros dentro deste contexto, a presidente Dilma Rousseff tem se posicionado contra os assentamentos e bombardeios de Israel contra a Palestina, votando inclusive na ONU favoravelmente à criação do Estado palestino.

Desintegração Regional

Levando-se em consideração a geopolítica global, reforçada pelos segredos de Estado dos Estados Unidos e seus aliados em todo o mundo divulgados, torrencialmente, porWikiLeaks (através de mais de 250 mil telegramas oficiais confidenciais, secretos e ultra-secretos) e Edward Snowden, os objetivos velados de Washington, agonizante Império, têm sido acirrar a "Guerra ao Terror" a fim de espalhar suas bases militares e ampliar seu domínio global, apoiado em subimperialismos, seus Estados-fantoche ao redor do mundo [entre eles, Londres, Madrid, Paris, Bogotá, Santiago, Riad, Doha, Ancara etc (*)].

Isso já se iniciou logo dos ataques do 11 de Setembro, quando George W. Bush, no mesmo dia antes mesmo de qualquer grupo terrorista ter reivindicado os atentados (nunca nenhum deles fez isso, e nem sequer há evidência, por menor que seja, que aponte a algum terrorista a não ser a ataques perpetrados de dentro dos próprios Estados Unidos), sentenciou: "Ou [cada país] está ao nosso lado, ou ao lado dos terroristas".

Estava implícito neste ameaçador discurso o claro objetivo de polarizar o mundo.

Ao longo das duas últimas décadas anos, diversos países da América Latina, que não tem se alinhado às políticas de Washington, sofrem profunda pressão externa e por parte das velhas oligarquias locais, conforme se espalham e consolidam governos progressistas na região. 

Por parte dos Estados Unidos, tem havido evidentes e inúmeras tentativas de desestabilização, boicotes, assassinatos presidenciais (Hugo Chávez, Nicolás Maduro, Evo Morales, Rafael Correa), intervenção (Honduras no golpe contra o presidente Manuel Zelaya, e indiretamente no Paraguai por ocasião da derrubada do presidente Fernando Lugo), e até inclusão na lista de "ameaça extraordinária aos Estados Unidos", declarada contra a Venezuela no primeiro semestre do ano passado pelo governo de Barack Obama, além das constantes invasões ao espaço aéreo venezuelano ao longo da última década pelos Estados Unidos.

Algum tempo depois do 11 de Setembro e da subsequente declaração da "Guerra ao Terror", exatamente o Brasil esteve bem próximo de ser incluído no Eixo do Mal pelos Estados Unidos por supostos terroristas árabe-islamitas transitando e tramando "novos ataques" internacionais na tríplice fronteira brasileira, com Argentina e Paraguai.

Porém, desgraçadamente aos objetivos imperialistas, os países latino-americanos sob governos progressistas têm evitado confrontos verbais e diplomáticos, dentro e fora da região, seguindo na prática o discurso de paz tanto quanto possível. Tome-se como exemplo o escândalo apresentado por Snowden, motivo para, no mínimo, romper-se relações diplomáticas com os Estados Unidos.

Enquanto isso, um dos entraves globais para a estratégia de dominação completa por parte de Washington é, exatamente, a existência da nação palestina em vias de extermínio pelo Estado sionista, sempre apoiado fielmente por Tio Sam sob conivência da chamada comunidade internacional (para nem mencionar a profunda omissão das fajutas organizações internacionais de direitos humanos).

Pois a tal "Guerra ao Terror" - que se apoia no acirramento artificial do ódio entre cristãos e islamitas em todo o mundo promovido, sobretudo, pela propaganda midiática e pelas "comunidades religiosas parceiras" de Washington (sobre isto, leia Estudos Científicos Apontam Religiões como Histórico Fator de Tensão Social) e pelo Estado sionista com o objetivo de dividir e enfraquecer o mundo árabe - é o estopim para a tão esperada III Guerra Mundial, com a qual contam as sociedades secretas que governam este mundo a fim de estabelecer sua agenda denominada Nova Ordem Mundial.

Os governos de Lula e de Dilma jamais apoiaram os crimes de guerra norte-americanos, suas invasões unilaterais seguidas de genocídio, pelo contrário: sempre se posicionaram contra. Assim como, já mencionado, os crimes de guerra de Israel contra Cisjordânia e Faixa de Gaza.

Os mencionados governos brasileiros têm confrontado os ditames de Washington em geral, algo apenas visto por ocasião do ex-presidente João Goulart, derrubado inconstitucionalmente pela ditadura militar, arquitetado e financiado exatamente pelos Estados Unidos.

Vale observar que tal confronto do Itamaraty em relação à Casa Branca não se dá sem uma boa dose de hipocrisia, pois na prática nunca houve tanta evasão de divisas no Brasil quanto na última década e meia, apenas para citar um exemplo.

Por outro lado, uma das peças-chave na montagem deste quebra-cabeça é que os governos do Partido dos Trabalhadores (PT), no poder desde 2003, têm - com certa timidez, é verdade - tentado proteger a estatal petrolífera Petrobras do assédio dos setores privados (em sua maioria, estadunidenses).

A América Latina não apenas tem se integrado de maneira inédita, como seus principais personagens - tendo no Brasil líder natural pelo tamanho geográfico e econômico - emitem constantemente opiniões e elaboram políticas antiimperialistas. Especialmente contra a autodenominada "Guerra ao Terror", contra a qual o ex-presidente Hugo Chávez se opunha fortemente, não poucas vezes indo à público com imagens condenando o morticínio no Oriente Médio.

Mais que isso: a região é detentora das maiores reservas petrolíferas do globo, que repousam sob solo venezuelano; somadas "apenas" às brasileiras, as reservas da região fazem com que o conjunto de países latino-americanos, que têm substituído a competitividade pela cooperação, não precisem em nada do Oriente Médio, fonte de invasões imperialistas em nome justamente do ouro negro.

E nem os próprios Estados Unidos precisariam mais da longínqua região meio oriental, de onde suas embarcações marítimas levam, dependendo do país em questão, mais do dobro do tempo de navegação em comparação com as viagens marítimas aos confins da América do Sul.

Diante disso, provocar o Brasil (longe de ser bolivariano, mas apoiador desta revolução bem como da integração latino-americana, ambas temida pelas grandes potências), agitar ainda mais sua situação política e o fragilizado governo além de, posteriormente, aplicar até sanções diplomáticas através das más relações, é o caminho mais curto para a tão desejada desintegração regional boicotada desesperadamente por Washington, segundo telegramas secretos emitidos por WikiLeaks (uma pequena parte deles e de artigos relacionados a eles, neste sentido, podem ser lidos aqui), além de todas as evidências presentes nos fatos diários.

E Israel com isso?

Empresários sionistas e a própria cúpula política israelense controlam muito mais que a mídia norte-americana, enquanto detentores de ações em emissoras como CNN, Fox News, CBS News, entre outros tantos meios de comunicação norte-americanos.

Do "Pentágono midiático-propagandista", manipulado segundo os interesses sionistas, saem as pautas diárias da grande mídia em todo o mundo. E a estes chegam igualmente o sustento financeiro não apenas através de anúncios (bancos, indústria farmacêutica, transnacionais), mas também por meio de "reportagens" e "entrevistas" encomendadas conforme temos noticiado, exaustivamente e com apresentação de evidências, nestas páginas.

Israel (maior beneficiário com as "ajudas" militares do governo dos Estados Unidos em todo o mundo com cifras atuais na casa dos U$ 3,5 bilhões, além de ambos os países serem mutuamente os maiores compradores de armas há muitas décadas) é por outro lado o direto financiador da política e da própria economia norte-americana, proprietário (na acepção do termo) de nada menos que o Federal Reserve(Fed, banco central norte-americano), através dos mesmos acionistas que também integram ou estão relacionados ao governo sionista.

Na política, comanda o Capitólio e a Casa Branca através da AIPAC, mais poderoso lobbypolítico do mundo (leia O Poder da AIPAC e os Espíões de Israel), que apenas em 2015 despejou 6 bilhões de dólares em seu conhecido lobby sobre a melhor "democracia" que o dinheiro pode comprar, exatamente a norte-americana, que tem imposto seu falido sistema ao mundo através da força e da sutil propaganda. Sobre o financiamento sionista a todas as esferas da política dos Estados Unidos, leia no sítio canadense Global Research:Israel's Command of White House and US Congress, Financed by $6bn through the AIPAC Lobby in Washington.

As campanhas eleitorais estadunidenses estão completamente vendidas ao capital-interesseiro do Estado sionista, governante virtual da única superpotência mundial. Foram estes mesmos interesses que assassinaram o ex-presidente John Kennedy, quem prometia acabar não apenas com a CIA (maior parceira das ações sionistas em todo o mundo), como também com as sociedades secretas, integradas em grande parte pelos banqueiros internacionais.

Isto nos remete de volta à economia dos Estados Unidos: 100% das ações do Fed pertencem aos bancos privados. Estes, em sua imensa maioria, são de posse de sionistas. Sobre isto, leia Who Owns the Federal Reserve Bank-and Why is It Shrouded in Myths and Mysteries?, e Who Owns The Federal Reserve?, ambos também no Global Research.

Desta maneira, conclui-se que os Estados Unidos, que por sua vez se apoiam em Israel para ameaçar e invadir países árabes do Oriente Médio sob pretexto de garantir a segurança daquele Estado (criado em ferimento às leis internacionais em 1948, e assim mantido ao longo das décadas), são o grande poder, sim, mas apenas debaixo dos holofotes: quem possui o domínio real, midiático, político e econômico sobre os Estados Unidos é o Estado sionista. Também Tio Sam é um fantoche deste.

III Guerra Mundial

As palavras de David Rockefeller, bilionário banqueiro, cabeça do Império norte-americano, um dos oito donos do Fed  e membro do Grupo de Bilderberg, organização secreta idealizadora da Nova Ordem Mundial, servem muito bem para finalizar o entendimento sobre os objetivos dos pouquíssimos tomadores de decisão globais:
Estamos à beira de uma transformação global. Tudo que precisamos é de uma grande crise, e as nações aceitarão a Nova Ordem Mundial.

A estratégia para se alcançar esta transformação global, certamente, não se limita à guerra promovida pelos porões do poder em busca de petróleo, a do Cristianismo contra o Islã que polariza exatamente as duas maiores religiões do mundo, e nem muito menos às desintegrações regionais que ameaçam aos interesses imperialistas representados hoje muito mais que por Barack Obama, mas por Netanyahu.

A consequência de tal guerra religiosa e "dividir para conquistar" (máxima da organização secreta Illuminati), é o mote da Nova Ordem Mundial: uma III Guerra Mundial. A provocação com subsequente ameaça de medidas duras por parte de Israel contra o líder da região mais rica em biodiversidade e uma das mais ricas em petróleo do mundo, certamente segue esta agenda.

A conjuntura global aí está, para ser conferida dia a dia e não nos deixar mentir. Quem ainda tiver alguma dúvida e viver, verá...

(*) Os mais desavisados podem questionar: As relativamente pobres Bogotá e Santiago, entre países subimperialistas? O subimperialismo da Colômbia, maior aliada de Washington na América Latina, é doméstico: além de permitir a descomedida instalação de bases militares estadunidenses em seu território, oprime cruelmente seus povos originários. Assim como o subimperialismo do Chile que, valendo-se de secular repressão contra os índios mapuche, impede o direito destes ao devido território histórico. Igualzinho o moribundo Império espanhol faz com nações sob seu impiedoso domínio, ainda hoje. Isso tudo é parte essencial da Nova Ordem Mundial.

Pravda.ru

Biografia:
Edu Montesanti é autor de Mentiras e Crimes da "Guerra ao Terror" (2012), colaborador do Diário Liberdade (Galiza), de Truth Out (Estados Unidos), tradutor do sítio na Internet das Abuelas de Plaza de Mayo (Argentina), da ativista pelos direitos humanos, escritora e ex-parlamentar afegã, Malalaï Joya, ex-articulista semanal do Observatório da Imprensa(Brasil), e editor de blog 

ARÁBIA SAUDITA. OS DECAPITADORES ESCOLHIDOS PELO OCIDENTE



Os EUA não teriam sido capazes de dominar o Oriente Médio sem sua aliança com a Arábia Saudita. Por isso o silêncio de Obama diante das execuções.

Sam Albert - CounterPunch - Carta Maior

As recentes execuções na Arábia Saudita deveriam deixar muito claro que a “guerra ao terror” das potências ocidentais não tem nada a ver com uma suposta oposição às decapitações ou ao fanatismo religioso sectário. Em vez de condenar esses crimes, os Estados Unidos, o Reino Unido e outras potências ocidentais continuam dando ao regime saudita, se não seu apoio público, ao menos um suporte prático. Tudo em nome de supostas necessidades e alianças criadas pela “guerra ao terror”.

Esses crimes fazem parte dos esforços da família real saudita para manter seu poder através de violênca estatal e autoridade religiosa, ambos representados pela espada do carrasco. O mais proeminente dentre os executados foi Nimr al-Nimir, um líder do clero xiita julgado secretamente e condenado por apoiar o movimento de protestos que tomou a população xiita na Arábia Saudita oriental e partes vizinhas de Bahrain em 2011; movimento esse particularmente popular entre a juventude influenciada pela Primavera Árabe. Muitas pessoas acusadas de participar de comícios na época, presos quando ainda eram adolescentes, devem ser executadas a seguir.

A execução de Nimir, ao lado da de muitos outros xiitas, foi uma resposta hedionda a protestos legítimos contra a discriminação presente no mercado de trabalho, no meio educacional, entre outros - prova de que o regime saudita, em vez de se afastar do fanatismo religioso característico do reino de Salman e de seus príncipes, está ampliando o uso de assassinatos, justificados por religião, para silenciar adversários políticos.
Mais do que isso, trata-se de um deliberado ato de provocação, direcionado a autoridades xiitas internacionalmente, em particular ao regime iraniano. Provavelmente existe a perspectiva de dificultar relações diplomáticas desse país com os Estados Unidos, uma vez que o Irã, também conhecido por realizar execuções em massa, deve dar uma resposta à altura.

Também há clara intenção de acabar de uma vez com qualquer questionamento da legitimidade da Casa de Saud por parte da Al Qaeda, do Estado Islâmico ou semelhantes, tanto dentro quanto fora do reino e até mesmo dentro da família real, tomando o papel de liderança de todos os sunitas e insinuando uma batalha religiosa.

As execuções foram um ato bárbaro mas não desmedido - elas serviram a objetivos políticos claros, os mesmos por trás da guerra saudita contra o Iêmem e os esforços sauditas para confrontar o regime de Assad e seus apoiadores iranianos em termos religiosos, desafiando a sharia do Estado Islâmico ao impor a sharia saudita. Esses são objetivos que, em alguns aspectos, convergem com os planos das potências ocidentais a respeito de como moldar o caos no Oriente Médio para o seu benefício.

A diferença entre o Estado Islâmico e o regime saudita não pode ser medida em termos de moderação ou crueldade. Embora a relação da monarquia com os Estados Unidos seja complexa e volátil - os Estados Unidos já atuaram nos dois lados da disputa sunita/xiita, inclusive tendo trabalhado com o regime xiita fundamentalista iraniano em alguns momentos - o fato é que os Estados Unidos e seus aliados não teriam sido capazes de dominar o Oriente Médio sem sua aliança com a Arábia Saudita, por mais problemática que essa aliança seja para ambos os lados atualmente.

Por isso, o presidente americano Barack Obama, o primeiro ministro britânico David Cameron e o presidente francês François Hollande têm silenciado diante das execuções. A princípio, representantes demonstraram desgosto diante da situação de “tensão sectária na região”, como se a intervenção ocidental em si não fosse o maior fator de agitação do conflito religioso no Oriente Médio. Conforme as ondas de choque foram se colocando, seus governos expressaram sua preocupação apenas a respeito dos inconvenientes políticos que poderiam ser criados, e não sobre a injustiça do ato.

O editorial de 4 de janeiro do Independent britânico não poderia ter sido mais explícito: ao mesmo tempo em que se distancia do entusiasmo desavergonhado do Partido Conservador britânico a respeito do regime saudita - note-se que o primeiro ministro Cameron recentemente apoiou a candidatura saudita ao Conselho de Direitos Humanos da ONU - o jornal concluiu que “não é do nosso interesse ver, e menos ainda provocar, a queda do regime de Saud”. É essa também, é claro, a política seguida por Obama, quem há um ano proclamou “a importância da relação Estados Unidos - Arábia Saudita como uma força na promoção da estabilidade e segurança do Oriente Médio e além.”

Os imperialistas ocidentais sempre souberam como atua o regime saudita. Sempre houve decapitações de apóstatas (pessoas acusadas de abandonar o Islã): está agendada a execução do jovem poeta e artista palestino Ashraf Fayadh, justamente por esse “crime”. Muitas das 153 pessoas executadas em 2015 e do total de 2200 pessoas nas últimas três décadas eram trabalhadores migrantes, principalmente do Sul da Ásia, os quais construíram os palácios da região do Golfo, shopping centers, museus, estádios esportivos e outras maravilhas arquitetônicas, virtualmente submetidas à espada real.

Os governantes sauditas devem suas espadas, no sentido mais amplo da palavra, às potências ocidentais. Em novembro, pouco antes das execuções e bastante depois do governo saudita anunciar seu plano para realizá-las, o Departamento de Estado de Obama aprovou uma solicitação saudita para comprar 1,29 bilhões de dólares em bombas e mísseis. O website do Departamento de Estado oferece com frieza um inventário das compras, o tipo de munição que a Arábia Saudita e seus aliados no Golfo tem feito chover sobre as cabeças do povo do Iêmem, numa guerra que já matou pelo menos 5700 pessoas, metade delas civis, desde que começou a invasão por ar e terra em março de 2015. Essa guerra de agressão contra um país que a Arábia Saudita considera tradicionalmente seu “quintal” não poderia acontecer sem o apoio logístico, o reabastecimento aéreo e os times de caça providenciados pelos Estados Unidos - o que torna Washington diretamente responsável pelo bombardeio de escolas e hospitais.

Apesar dos fatores serem complexos, essa guerra, assim como as execuções, está sendo travada em nome da autoridade religiosa da família real saudita contra xiitas e outros infiéis. Os rebeldes houthi, cuja crença Zaydi faz da sua fé uma prima do xiismo, são apoiados pelo Irã - o que está longe de ser o principal fator da rebelião dos houthis e de outros contra o regime da Arábia Saudita. Esse é outro exemplo de como os sauditas estão buscando agravar a dimensão religiosa dos conflitos da região - com apoio concreto dos Estados Unidos.

Obama veio pessoalmente encontrar-se com o Rei Salman, depois deste ser entronado há um ano, e seu reino tem sido aclamado como a inauguração de uma era de reforma por ocidentais. assim como aponta o comentarista liberal americano Thomas Friedman (em texto no New York Times de 25 de novembro de 2015, escrito quando essas execuções já estavam agendadas). A principal “reforma” até então tem sido promover eleições para as insignificantes estruturas municipais, e permitir que mulheres votem, apesar de não poderem dirigir ou tomar qualquer decisão sem permissão de seu homem responsável. Ao longo do último ano, o regime saudita tem ampliado suas execuções, em alguns casos crucificando os corpos decapitados e deixando-os a apodrecer publicamente.

Membros da família real (que, graças à poligamia, chega ao número de milhares) e membros do alto escalão do próprio regime tem apoiado a Al-Qaeda. O regime recebeu duras críticas da Al-Qaeda a respeito do estacionamento de tropas americanas nas terras sagradas do Islã, o que culminou com a transferência de tais tropas para bases em outros lugares do Golfo. Na Síria, a Arábia Saudita tem armado e financiado uma variada constelação de alianças fundamentalistas islâmicas. Quanto ao Estado Islâmico, que compartilha da ideologia Salafi (fundamentalista) que legitima o poder da Casa de Saud e, de forma semelhante, baseia seu sistema na opressão de mulheres, a mudança de seu nome de Estado Islâmico do Iraque e do Levante para apenas Estado Islâmico sinalizou uma ameaça direta à alegação de autoridade do regime saudita sobre todos os muçulmanos sunitas.

A monarquia absoluta saudita exige obediência e apregoa ser a terrena  “protetora de Ummah” (a assim chamada comunidade de fiéis) e não por meio de poder religioso direto como o califado do Estado Islâmico, liderado por um auto-aclamado descendente de Maomé. Essa distinção é um perigo à existência da dinastia saudita, apesar de não representar uma grande diferença, especialmente se levarmos em conta que a resposta saudita à marca registrada do Estado Islâmico - de exterminar xiitas como apóstatas, além de infiéis - foi superar seus números e se tornar a maior assassina de xiitas.

As potências imperialistas ocidentais sabiam muito bem o que queriam ao se envolverem com a monarquia saudita. O Reino Unido ajudou a estabelecer a monarquia em 1932, depois de encorajar a ascenção do Wahhabismo (a forma específica de Salafismo associada com autoridades tribais árabes) em sua campanha para absorver o império Otomano. Em um tratado de 1945, assinado por Franklin D. Roosevelt, os Estados Unidos prometeram manter a monarquia saudita no poder, um pacto renovado por George W. Bush em 2005. Apesar dos Estados Unidos terem tomado o país do Reino Unido, como forma de substituir a dominação britânica sobre o Oriente Médio, o Reino Unido permanece mantendo laços financeiros e militares próximos com a Arábia Saudita. A França, sob o governo do presidente socialista Hollande, está agora forjando novos vínculos políticos e militares com o regime.

Ainda assim, a associação da Arábia Saudita com o imperialismo transformou profundamente o regime e sua classe dominante. Assim como em outros países do Golfo, ela se transformou num grande espaço de acumulação de capital dentro do capitalismo global dominado pelas potências imperialistas ocidentais. Isso aconteceu, por um lado, através da exploração no Golfo de trabalhadores do mundo islâmico e, por outro, pelo investimento de capital saudita e do Golfo em países muito maiores como o Egito, cuja economia, política e vida religiosa são amplamente condicionadas por essa relação.

De diversas formas, tais como influência política e subsídios a regimes como o paquistanês, a pregação religiosa para os milhões de árabes vindos para trabalhar no Golfo, o financiamento de grandes instituições religiosas e “filantrópicas” e centenas de pregadores televisivos e expoentes midiáticos, a Arábia Saudita e outras monarquias do Golfo são os principais vetores que trazem o Salafismo moderno ao mundo sunita. Isso ocorre ao mesmo tempo em que todos esses países se aproximam cada vez mais do mercado internacional e do sistema capitalista global, com uma decorrente rivalidade inevitável entre as classes dominantes, que apenas são capazes de acumular capital em competição mortal umas com as outras.

É verdade, como disse Obama, que “a relação entre Arábia Saudita e Estados Unidos” tem sido inestimável pros EUA e pro Ocidente como uma “força na promoção da estabilidade e da segurança do Oriente Médio”. Mas, ao mesmo tempo, essa relação proporcionou condições para a instabilidade atual na região, em que a contínua dominação americana não garantiu um cenário seguro de forma alguma. Grandes riscos exigem medidas desesperadas.

Muita gente, especialmente no Oriente Médio, cujo povo é de longe o maior alvo e a maior vítima do Estado Islâmico e de toda forma de fundamentalismo islâmico, considera que os Estados Unidos deliberadamente criaram o Estado Islâmico. Isso não é literalmente verdade. Apesar de Washington, Londres e Tel Aviv terem encorajado o islamismo em resposta a tendências políticas mais radicais na região, e apesar das forças imperialista terem criado as condições nas quais eles surgiram, as várias formas de fundamentalismo islâmico são um problema sem solução para os Estados Unidos e para outros imperialistas ocidentais. Ainda assim, a realidade sobre a qual se constrói a “guerra ao terror” não é um mero conflito bilateral. Em vez disso, imperialistas rivais e poderes regionais estão tentando avançar em seus próprios interesses reacionários entre acordos e conflitos, uns contra os outros, num campo de batalha muito complexo que pode ser interpretado como “cada classe dominante por si”. Ao mesmo tempo, de forma geral, todos esses adversários estão alimentando fundamentalismo religioso de algum tipo, não só intencionalmente, mas também como resultado de suas manobras políticas e militares e pelas relações econômicas retrógradas que eles representam.

O capital imperialista, agora representado por pessoas como Obama e seus colegas “líderes ocidentais”, precisa da autoridade de pessoas como o Rei Salman e de seus príncipes assassinos, que remetem a ideologias e sistemas sociais antigos, mas que devem seu poder ao imperialismo moderno. Os Estados Unidos e seus parceiros e rivais não podem deixar de fomentar fundamentalismos como o islâmico no século XXI. A “guerra ao terror” é uma fraude - é uma competição de quem consegue impor seus interesses e o maior terror.

Tradução por Allan Brum - 
Créditos da foto: reprodução

SOBRE MOVIMENTOS SOCIAIS NA ATUALIDADE AFRICANA



Rui Peralta, Luanda

Não existem povos com maior tradição de resistência sob a forma de mobilização popular, protestos, concentrações e actos públicos de desobediência civil que os mais de 3 mil povos africanos. A todas as lutas da História de qualquer povo, os povos africanos anexam as lutas contra os seculos de colonialismo, as lutas contra a escravatura, as lutas de libertação nacional, as lutas pela manutenção da independência nacional, as lutas contra o neocolonialismo e a grande luta pelo desenvolvimento e modernização, a luta contra a fome e a miséria, contra a pobreza e contra a condição periférica que as hegemonias pretendem atribuir a África.

Durante a ocupação colonialista os movimentos civis e sociais foram de uma importância crucial na luta pela afirmação da soberania popular africana. Foram movimentos sociais de massa, enormes, umas vezes organizados, outras, espontâneos, em alguns casos violentos, na maioria, pacíficos, mas sempre constantes, activos e fortes. Estas características passaram para as realidades pós-coloniais e os movimentos sociais africanos (em alguns casos, nos regimes neocoloniais, tão reprimidos como na época colonial) são, hoje, movimentos com capacidade de influir na decisão dos Estados africanos, assumindo as suas exigências de justiça social e de democratização da vida politica, económica, social e cultural.

Nas áreas rurais surgem, geralmente, como movimentos comunitários, com revindicações sobre terras e direitos às terras, ou como movimentos de género, conduzido por mulheres que se organizam em cooperativas de consumo e de produção. Nos centros urbanos, os movimentos têm, obviamente, outra génese. Podem ser movimentos grevistas, ou de revindicações de direitos sociais e de direitos básicos, movimentos estudantis ou movimentos de revindicação dos direitos de minorias culturais e/ou étnicas. Em alguns casos as suas lideranças chegaram ao Poder politico (caso de Patrice Lumumba no Congo, Thomas Sankara no Burkina Faso, Mandela na África do Sul) enquanto, noutros casos, os seus líderes voltaram a desempenhar as funções que detinham anteriormente ou, simplesmente desapareceram (da vida social ou do mundo dos vivos).

A maioria das sociedades africanas enfrentam problemas e situações complexas, aos quais os seus governos não conseguem – ou não têm capacidade – para fazer frente, como sejam as crises de refugiados, a degradação ambiental, as politicas sociais, as redes eléctricas de distribuição, as redes sanitárias, problemas graves nas politicas de saúde e de educação, problemas enormes com a produtividade, etc. Muitos destes problemas são levantados e a sua solução encontra-se nas respostas, acção e revindicações dos movimentos sociais africanos e não nas comprometidas e fragilizadas politicas governamentais. E em muitos momentos históricos, diferenciados, foram os movimentos sociais africanos que marcaram o percurso dos acontecimentos.

Se recuarmos ao momento histórico colonial basta observar o que ocorreu com a ocupação francesa da África Ocidental. Não foi apenas a guerra de 10 anos que os franceses travaram contra os britânicos nesta região, que dificultou esta colonização mas, essencialmente, a resistência dos povos da zona (o antigo império Songhai, por exemplo) que obrigaram a França a efectuar a maior campanha militar em África. Mais tarde a França dividiu a região em pequenos departamentos provinciais ultramarinos, originando o Alto Volta (actual Burkina Faso), Mali, Senegal, etc. com o objectivo de aumentar o controlo das populações e de impedir que se formassem grandes movimentos sociais nessa vasta área territorial, como aconteceu várias vezes.

Um exemplo concreto de um grande movimento social desencadeado durante a ocupação colonial foi o ocorrido em Angola, na Baixa do Kasanje, em Janeiro de 1961 e que antecedeu os levantamentos armados do 4 de Fevereiro de 1961, início da luta armada de libertação nacional, e os de 15 de Março do mesmo ano. O movimento inicia-se nas terras do Kwango e na Baixa do Kasanje, a 4 de Janeiro quando os camponeses protestaram contra as condições em que trabalhavam, contra a cultura única do algodão (monopólio da Cotonang) e contra o pagamento do imposto a que estavam sujeitos pelas autoridades coloniais portuguesas. O movimento foi selvaticamente reprimido tendo, os colonialistas portugueses, utilizado meios aéreos para bombardearem aldeias com bombas incendiárias. Kasanje tornou-se um campo experimental para o exército português. O resultado foi uma tragédia, com a morte de milhares de civis.

Na actualidade o desenvolvimento das novas tecnologias da comunicação e as redes sociais possibilitaram outros modos de aceder á informação e de processar a comunicação. Estas tecnologias possibilitaram uma maior visibilidade dos movimentos sociais africanos, tanto a Norte (como aconteceu com as Primaveras do Norte de África – vulgo e erradamente conhecidas por Primaveras Árabes - na Tunísia, Líbia – que acabou com a destruturação da nação líbia devido á intervenção da NATO e dos grupos de mercenários fascistas islâmicos - e no Egipto, mas com repercussões na Argélia e em Marrocos, afectando todo o Norte do continente) e a Sul do Sahara. Em simultâneo, as novas tecnologias da comunicação, possibilitaram novas formas de mobilização e de organização.

Em África os telemóveis e a Internet revolucionaram a comunicação. O mercado africano é o maior mercado de telemóveis e a utilização das novas tecnologias da comunicação cresce, aqui, sete vezes mais que no resto do mundo. Com este conhecimento os africanos aproveitaram com êxito, nas Primaveras do Norte de África, as audiências que estes meios possibilitaram, irrompendo pelo Ocidente, lançando mensagem destinadas a estas audiências em diversas línguas. Desta forma os movimentos sociais podem sair da invisibilidade a que os tentam submeter. Difundem as suas acções e os seus manifestos e revindicações.

É evidente que há os aproveitamentos do exterior, que tentam capturar os movimentos para outros fins. Mas isso sempre aconteceu. Quando as dinâmicas internas se cruzam com as dinâmicas externas isso torna-se, geralmente, inevitável. O mesmo se passou com as lutas de libertação nacional, quando os movimentos foram colocados nos tabuleiros de xadrez da guerra fria. Ou com as lutas travadas pelos povos africanos durante a implementação colonial, que eram aproveitadas pelas potências colonias para afectar o domínio da potência concorrente. O que ocorre no espaço nacional origina diversos fenómenos no espaço internacional e vice-versa.

O que importa reter é a importância que os movimentos sociais africanos detêm nas suas sociedades e na realidade africana como um todo. Representam um factor fundamental no aprofundamento da democratização do continente e na continuidade dos projectos históricos de libertação nacional e, simultaneamente, da integração do continente. Representam importantes dinâmicas de progresso e de desenvolvimento e são um factor de autonomia cidadã, de autogestão e de reapropriação dos recursos naturais e são uma resposta das sociedades africanas aos problemas que as afligem.

Do aproveitamento efectuado pelas hegemonias da economia-mundo depende a atitude dos governos africanos. O Estado Democrático de Direito implica autonomia cidadã, baluarte da soberania popular. Implica, também, soberania nacional e defesa da integridade territorial. E isto apenas é possível se o Estado servir a Nação, se corresponder aos seus anseios. Caso contrário, caso a Nação seja um instrumento dos interesses do Estado, é inevitável a instabilidade social e a continuação da situação periférica das economias africanas.

E, neste ultimo caso, assistiremos á perpetuação do neocolonialismo em África, sob uma nova capa, tão deprimente e totalitária como o colonialismo: o Estado Oligárquico de Direito…

Cabo Verde. 2016, ANO DE MUDANÇA



Expresso das Ilhas, editorial

Há 25 anos, 1991 foi um ano de mudança histórica em Cabo Verde. Por Cabo Verde também passavam os ventos que desde de 1989 vinham deitando abaixo regimes totalitários e autoritários em todos os continentes. Para caracterizar o fenómeno, Francis Fukuyama falava na época do “Fim da História”, do abraçar quase universal dos princípios e valores da liberdade e democracia e do reconhecimento da importância central da iniciativa privada e dos mercados na criação de riqueza e prosperidade. Um optimismo contagiante acabou por dominar toda a década que então se iniciava à medida que barreiras ideológicas desapareciam e saltos tecnológicos nos domínios dos transportes e telecomunicações lançavam a humanidade num processo de globalização sem precedentes. Em consequência, centenas de milhões de pessoas deixaram a pobreza, muitas vezes abjecta, para integrarem as fileiras da nova classe média dos países emergentes.

Cabo Verde, que vinha de vários anos de estagnação económica e de um crescimento do PIB em 1990 de praticamente 0%, iniciou o ano com um novo governo que se anunciou pronto a construir as instituições próprias de uma democracia moderna e a reestruturar profundamente a economia. A economia estatizada que tinha sido criada nos quinze anos de partido único tinha falhado em fazer Cabo Verde crescer com a rapidez que outros estados insulares como as Maurícias e as Seychelles vinham crescendo. Em consequência o rendimento per capita de Cabo Verde mantinha-se abaixo dos mil dólares (957) enquanto nas Maurícias já era de 2365 dólares e nas Seychelles já ultrapassava os 5 mil dólares. Essas ilhas tinham feito escolha oposta em relação a Cabo Verde. Maurícias tinham apostado na atracção do investimento externo para criar uma base de manufactura para exportação, aproveitando o sistema preferencial de acesso a mercados da Europa, América e Japão e as Seychelles tinham feito um comprometimento sério com o desenvolvimento do turismo, que as deixou com um turismo de qualidade que tem um efeito forte de arrastamento na economia nacional.

Depois de quinze anos de rendimentos perdidos por causa de estratégias erradas de estatizar, fugir dos mercados e rejeitar o turismo, a perspectiva nos primórdios dos anos noventa era soltar as amarras que vinham prendendo a criatividade, energia e iniciativa dos cabo-verdianos e pô-las ao serviço da criação de riqueza. A década de noventa acabou por se revelar de um crescimento sem precedentes, com impacto significativo no emprego que desceu para os níveis mais baixos de sempre. A década e meio que se seguiu, apesar de beneficiar de importantes fluxos de capital privado particularmente nos três anos antes da crise financeira de 2008 e de donativos e empréstimos concessionais ao longo de todo o tempo, tem-se revelado frustrante nos resultados de crescimento económico (2012 – 1,2%; 2013 - 1%; 2014 - 1,8%) não obstante os avultados investimento feitos. O ano de 2015 é já claramente um ano  fraco com resultados nos três últimos trimestres  de 1%, 05%, 1,4%  respectivamente a confirmar que o impacto de toda a chamada Agenda de Transformação ficou muito aquém do prometido.

A Ministra das Finanças ainda procura justificar a situação actual de estagnação económica como sinal de modelo esgotado e de necessidade de passar para um outro estádio de desenvolvimento, numa perspectiva que justifica a orientação seguida até agora e até aconselha para se continuar numa nova etapa. A realidade porém é que há muito se devia ter abandonado o modelo, mas razões outras não deixavam. Uns dizem que é por factores ideológicos, outros apontam para razões pragmáticas de manutenção do poder. O facto é que com o andar dos anos a competitividade externa do país não melhora, os sectores de energia, água e transportes marítimos e aéreos continuam fracos, caros e não confiáveis e a base da economia mantem-se pouco diversificada. A administração pública faz o seu trabalho sempre pouco sensível e burocrática em relação ao mundo de negócios, enquanto a atenção dos governantes para questões centrais como a segurança, o desenvolvimento do turismo e a atracção de investimento externo continua não devidamente focalizada, nem consequente.

Em 1991 teve que se imprimir uma reorientação radical para que a economia voltasse a crescer a taxas que se traduzissem em ganhos efectivos, em rendimentos e qualidade de vida para a população. Algo similar deverá acontecer neste ano de 2016. A dúvida é se, à semelhança do que foi há 25 anos, também hoje existe a consciência de que se impõe uma mudança de paradigma na governação actual, uma vontade em explorar outras vias para desenvolver o país e uma confiança que é possível produzir riqueza e prosperidade sustentável de que todos poderão beneficiar. Para bem de toda a gente, esperemos que sim.

Votos de um bom ano de 2016.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 736 de 06 de Janeiro de 2016.

PAIGC E PRS CHEGAM A CONSENSO SOBRE DATA DE REAPRECIAÇÃO DO PROGRAMA DO GOVERNO



A bancada parlamentar do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e a do Partido da Renovação Social (PRS), chegaram hoje a um consenso sobre a data de 18 de janeiro, para reapreciação do programa do governo, depois da sua reprovação no dia 23 de dezembro passado. As duas bancadas parlamentares que nos últimos dias divergiram sobre o mesmo assunto, acabaram por se entender depois de uma longa negociação.

Após a sessão de abertura pelo presidente em exercício de ANP, o entendimento quanto a marcação da nova data foi conseguido depois da  concertação de 30 minutos, da bancada parlamentar do PRS. O líder da bancada dos renovadores, Certório Biote, justificou que a sua bancada concordou com a data tendo em conta o “interesse da Nação”.

Após a bênção dos renovadores o presidente da sessão, Inácio Gomes Correia submeteu a votação o assunto, na qual 89 parlamentares votaram a favor da data de 18 do corrente mês e apenas o deputado Baciro Djá é que votou contra.

O líder da bancada parlamentar do PAIGC, Califa Seide realçou os resultados da  negociação havida para resultar do entendimento entre duas bancadas e informou ainda que o seu partido está a trabalhar no sentido de ver aprovado na próxima segunda-feira o programa do governo liderado por Carlos Correia.

Questionado pelo Democrata sobre a intenção do Partido da Renovação Social votar contra o programa do governo, Certório Biote respondeu que esta não é preocupação dos renovadores. “O PRS conhece o seu lugar e vai fazer o seu papel enquanto partido da oposição, por isso que estamos a tentar chamar atenção à Mesa para cumprir o pressuposto do regimento da Assembleia Nacional Popular”.

Aguinaldo Ampa – O Democrata

Países como a Guiné Equatorial precisam de novas políticas e fontes de crescimento - FMI



O FMI considera que os países da Comunidade Económica e Monetária da África Central, como a Guiné Equatorial, vão enfrentar um período prolongado de petróleo barato e precisam de ajustar as políticas e procurar novas fontes de crescimento.

Yaoundé, Camarões, 10 jan (Lusa) - O FMI considera que os países da Comunidade Económica e Monetária da África Central (CEMAC), como a Guiné Equatorial, vão enfrentar um período prolongado de petróleo barato e precisam de ajustar as políticas e procurar novas fontes de crescimento. 

"Os membros da CEMAC estão a ser confrontados com uma nova realidade. Os prolongados preços baixos do petróleo precisam de políticas de ajustamento para preservar a estabilidade macroeconómica e criar novas fontes de crescimento", disse a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde. 

Na abertura de um encontro de trabalho com os responsáveis da economia e finanças deste grupo de países, nos quais se inclui a lusófona Guiné Equatorial, Lagarde disponibilizou os recursos financeiros e técnicos do Fundo para ajudar a região a superar as dificuldades, principalmente nos países que dependem da exportação de petróleo para equilibrar os orçamentos. 

"O FMI pode ajudar através de aconselhamento político, construção de capacidade e apoio financeiro se for necessário", disse a diretora-geral na abertura da mesa redonda sobre "Os preços baixos do petróleo e o financiamento das infraestruturas", que decorreu em Yaoundé, a capital dos Camarões. 

"Nos últimos anos, tal como em muitas outras partes do resto da África subsaariana, esta região registou um crescimento robusto e estabilidade macroeconómica; a maré alta dos preços do petróleo potenciou a atividade e suportou um crescimento exponencial da infraestrutura, mas hoje a maré baixou, e pode ficar assim durante um período prolongado", disse Lagarde. 

A responsável lembrou que, em média, o petróleo representa mais de 70% das exportações totais dos países da CEMAC e vale mais de um terço das receitas fiscais, portanto, "a queda nos preços do petróleo representa um grande desafio". 

A capacidade de resposta dos países, afetados principalmente pelo terrorismo e pela descida do preço das matérias, variou, acrescentou Lagarde, notando que, no ano passado, "por exemplo, a Guiné Equatorial teve uma recessão severa, enquanto os Camarões conseguiram manter o crescimento robusto". 

O défice da região alargou-se para 6,5% no ano passado, e deve só melhorar ligeiramente este ano, ao passo que o PIB deve aumentar para 3,5% este ano. 

Para acelerar e harmonizar o crescimento entre estes países, Lagarde defendeu que a solução, resumidamente, está em "gastar melhor, tributar mais e fazer a região ajudar cada país". 

MBA // SO - Lusa

Duas Reflexões geoeconómicas (contributos para uma Nova Cultura Politica Africana)



Rui Peralta, Luanda

1ª Reflexão: USA

Com um endividamento comercial que ronda 505 mil milhões de USD e sofrendo de um déficite fiscal de aproximadamente 55 mil milhões de USD, a economia norte-americana necessita, cada vez mais, que a sua moeda seja dominante nas transacções efectuadas na economia-mundo. O USD como moeda da reserva mundial é um principio fundamental da politica económica dos USA, conforme reconhecem os próprios, através de Jared Bernstein, economista-chefe do vice-prsidente dos USA, Joe Biden, entre 2009 e 2011 e actualmente um dos consultores do presidente Obama.

O processo de desodolorização na acumulação mundial de reservas põe em perigo a posição hegemónica geoeconómica dos USA. Dois factores são decivos para compreender este fenómeno: 1) A participação do USD nas reservas mundiais é afectada pelo Yuan chinês devido á utilização desta moeda em 40 Bancos Centrais; 2) O facto do intercâmbio comercial entre países realizar-se, cada vez mais, em moedas próprias (caso dos BRICS ou das relações Japão/China, por exemplo), sem necessidade de transitar pelo USD.

Na ultima década surgiram grandes corporações globais com origem, principalmente, nos BRICS, na U.E., Japão e Coreia do Sul. Como resultado, em 2012, os USA apenas tinham 34 companhias entre as 100 mais valiosas do mundo. Nos últimos dois anos, no entanto, os grupos empresariais norte-americanos recuperaram e em 2015 reassumiram o comando, ao colocarem 54 companhiias na lista das 100 mais valiosas. No entanto esta recuperação sabe a pouco, porque algumas economias saíram do seu posicionamento periférico e assumem protagonismo na economia-mundo. O exemplo da China é o mais destacado na actualidade. Este país conta com 11 companhias no Top mundial (á entrada do século apenas tinha 2). Outro exemplo pode ser retirado da lista Fortune 500, que reúne as 500 maiores em facturação, onde aparecem 95 empresas chinesas (contra 21 em 2001) e onde se destacam mais 27 empresas de países como o Brasil, a India, a Russia, a África do Sul, a Nigéria e o Egipto.

Os USA vêm-se, assim, forçados a compartir resultados com blocos emergentes, o que representa um abalo na hegemonia. Daí a Reserva Federal (FED) ter anunciado uma subida da taxa de juros, de forma gradual e que se fazem, neste preciso momento, fazer sentir os seus efeitos. Com esta medida os USA esperam o regresso dos capitais que se encontravam em destinos mais rentáveis, ao memso tempo que declara ao mundo que a economia norte-americana está em forma (o que é visível com a valorização do USD em curso).

A expansão monetária serviu de filtro para o saneamento dos grandes bancos e fundos de investimento norte-americanos, que recompraram grande parte da sua divida, causada pelos “produtos tóxicos” financeiros. Neste momento os USA estão preparados para crescer e reafirmar-se como epicentro da economia-mundo. Irá, pois, tentar ressuscitar o Consenso de Washington, assente em alguma novas premissas e realidades. Contam com a sua vanguarda tecnológica, que ganha terreno e marca posições na geoeconomia mundial. E conta, também, com a influência monopolística que exerce sobre as agencias de qualificação de risco (Moody`s, Standard & Poor e Fitch). As finanças da economia-mundo ainda têm raízes muito sólidas no solo norte-americano e arquitectura económico-financeira internacional tem os seus alicerces nas relações geoeconómicas estabelecidas (FMI, Banco Mundial, OMC, etc.).

África tem de levar isso em conta e reposicionar-se no cenário que 2016 anuncia. Os BRICS não são a única resposta aos problemas do continente. Poderão até tornarem-se em parte do problema ao invés de parte da solução. É necessária, mais do que nunca, uma visão realista e uma grande capacidade de análise geoeconómica para redefinir as estratégias do desenvolvimento africano. De pouco serve a geopolítica no contexto actual da economia-mundo. É um pouco como ler o destino dos Homens através dos astros…

2ª Reflexão: o preço do petróleo

O petróleo detém, ainda, um papel geoeconómico indiscutível - apesar da paulatina consolidação de novas fontes energéticas – representando 1/3 da matriz energética mundial. O século XXI, no sector petrolífero, caracterizou-se pela recuperação do papel da OPEP (Organização dos Paises Exportadores de Petróleo) face á AIE (Agência Internacional de Energia). A junho de 2014 o preço do barril alcançou 115 USD. Depois veio a queda do preço, até aos baixos índices actuais (34 a 35, na primeira semana de Janeiro de 2016).

Existem dois factores fundamentais para esta quebra. O primeiro destes factores é a queda da procura. Consome-se menos petróleo na China e na India (dois dos grandes consumidores) e menos, ainda, nas economias centrais, devido a questões como baixa do crescimento económico, concorrência das energias alternativas, etc. O segundo destes factores é o incremento da oferta. Em 2014 os USA atingiram os 9,32 milhões de barris por dia (Bpd); a Árabia Saudita ultrapassou os 9 milhões de Bpd; O Iraque ultrapassou os 4 milhões de Bpd e o Irão prevê um aumento de meio milhão de Bpd a partir deste ano.

Além destes factores fundamentais existem factores secundários de diversa ordem que em diferentes graus influenciam o movimento dos preços: alguns movimentos especulativos (nem tanto assim) nos Fundos de Investimento e nos grandes bancos (opinião conjunta do Congresso dos USA e da Goldman Sachs, ou seja, opinião suspeita, atendo ás ligações que ambas as instituições têm com o sector petrolífero); a “indiferença” da Arábia Saudita (face ao preço do barril e face ao seu déficite fisca, que representa 15% do PIB); a “despreocupação” aparente dos USA; o factor tecnológico que permitirá baixar os custos de produção; e, finalmente o papel do califado e outros grupos fascistóides islâmicos no contrabando e desvio de petróleo (Iraque, Siria, Libia, Nigéria) e respectivos centros de venda destas redes (Turquia, uma delas e o resto disseminado internacionalmente pelas monarquias do Golfo). Naturalmente que a preço baixo seria de esperar um incremento do consumo, mas para este continuar e o sector petrolífero poder concorrer com os preços também cada vez mais baixos das alternativas, é necessário que os preços baixem mais e que depois se mantenham a um nível baixo, ou seja, a guerra dos preços da energia está lançada. A equação aplicada aos preços do petróleo não é apenas matemática, mas também geoeconómica. Por exemplo, duas variáveis a ter em conta: 1) Arábia Saudita e Irão competem pela hegemonia petrolífera no Médio Oriente; 2) A Russia, apesar do embargo, elevou 7,5%  as suas exportações de petróleo em 2015.

Quanto a predições e previções deixemo-las aos videntes, cartomantes e astrólogos, que pululam pelos mercados. Ah…e aos teóricos da conspiração. E Africa? Diversificar, desenvolver-se e assumir-se. Em todas as dimensões da Humanidade. E reconstruir-se como um mercado único, sem barreiras entre as economias nacionais que a formam e entre as realidades monetárias que a compõem…

A VENEZUELA À BEIRA DA TORMENTA



Poder popular avançou, mas não enfrentou burocracia e dependência do petróleo. Oligarquia conquistou Legislativo e quer revanche. Qual o futuro do país de Bolívar e Chávez?

Luiz Arnaldo Campos – Outras Palavras

Em Santa Elena de Uairén , cidade venezuelana fronteiriça com a brasileira Pacaraima, no estado de Roraima, é possível fazer cambio negro abertamente. Em média um real vale 150 bolívares e um dólar entre 700 a 800 bolívares. Como a cédula venezuelana de maior valor é a de 100 bolívares o resultado são pacotes de notas a serem transportados por quem compra o dinheiro venezuelano. Se esta é uma cena emblemática da crise econômica atravessada pela República Bolivariana a outra, sem dúvida ,são as filas de gente pobre nas primeiras horas da manhã , esperando para comprar gêneros e artigos de primeira necessidade com preço subsidiado.

Em Caracas, num supermercado privado, um cartaz informa a quantidade de produtos “sensíveis” (entre eles farinha, leite in natura, arroz, azeite, papel higiênico etc…) que podem ser comprados semanalmente por cada consumidor mediante a apresentação da carteira de identidade no caixa.

Como uma espécie de rodízio, na segunda feira podem comprar os produtos racionados os portadores de carteiras terminadas no número 1e 2 e assim sucessivamente pelos dias da semana. O quadro se completa com os reclamos da inflação galopante e da criação de uma espécie de sobrevivência através da especulação. Muita gente desempregada na fila dos armazéns estatais vai comprar a preço baixo produtos que logo estará vendendo no mercado negro com os preços majorados em mais de 100%.

A crise econômica está instalada na Venezuela e o presidente Maduro até agora não conseguiu convencer a maioria do povo trabalhador da culpa da grande burguesia comparadora por este desastre. Para o senso comum é incompreensível que um governo que controla a compra e venda de dólares e dirige plenamente a PDVSA (a companhia estatal de petróleo) responsável por mais de 90% das receitas econômicas do país não seja responsabilizado pela carestia e a piora das condições de vida da maior parte da população.

Claro que tudo é mais complexo. Grandes importadoras compram dólar barato no cambio oficial sob a desculpa de importar alimentos e desviam parte do dinheiro para o cambio negro onde obtém lucros espetaculares e a desaparição de produtos das prateleiras- como o sumiço dos refrigerantes na época natalina- parece claramente uma manobra de grandes distribuidoras para indispor a população contra o governo. Porém, por debaixo das aparências se esconde o fato inconteste: o país está sem divisas e com o petróleo a quarenta dólares o barril não existe muita perspectiva para recompô-las. Até mesmo setores do chavismo admitem que a corrupção na máquina governamental responde pela desaparição de milhões de dólares que afetaram a reserva nacional, porém para além dos chamamentos a retificações devidas no processo revolucionário fica a pergunta: existe uma saída possível e imediata para a crise econômica?

A oposição martela todos os dias que com o chavismo no poder a situação vai transitar do ruim para o pior e nisto aposta suas fichas, muita embora esteja dividida entre aqueles que querem fazer o chavismo sangrar e decorridos três anos (metade) do governo Maduro tentar reunir as assinaturas de cidadãos suficientes para convocar o revocatório (uma eleição prevista pela Constituição Bolivariana, onde a população pode revogar o mandato do presidente e convocar novas eleições) e outros setores que entrincheirados na Assembleia Nacional buscam choques frontais com a presidência.

O governo por sua vez só aponta para alternativas de médio e longo prazo, como um maior controle da moeda, combate à corrupção e construção de uma base produtiva mais ampla do que a extração do petróleo. Parece pouco, até mesmo porque como optou por não reduzir os investimentos sociais – a Missão Vivenda acabou de entregar sua milionésima casa de no mínimo 82 metros quadrados e completamente mobiliada, o metrô de Caracas continua com sua passagem custando incríveis quatro bolívares (para efeito de comparação um cafezinho custa cinquenta bolívares) e modernos ônibus chineses, confortáveis, com ar condicionado e preço subsidiado, se incorporaram a paisagem urbana de todas as cidades- a inflação não dá tréguas. Como não tem recursos para sustentar os gastos sociais o governo imprime dinheiro e com isso a inflação dispara.

No fundo a questão é política. No Chile de Allende, mesmo com o desabastecimento bem mais cruel do que o vivido pelos venezuelanos, a Unidade Popular venceu as últimas eleições parlamentares que disputou aumentando sua presença no Parlamento, fato decisivo para a direita optar pelo golpe. Na Venezuela, o resultado do último pleito foi muito duro para os bolivarianos. A oposição elegeu 2/3 das cadeiras e conquistou maioria absoluta. Porém, estes dados precisam ser esmiuçados. Na prática, a direita ampliou em apenas 300 mil votos a sua votação histórica. Na abstenção e no voto nulo- visto como o chamado voto de castigo de chavistas desiludidos ou apreensivos- construiu sua maioria acachapante. A batalha pelos corações e mentes dos venezuelanos está a pleno vapor.

No último dia 05 de janeiro, com a posse dos deputados eleitos foi dada a largada da etapa atual. Nem mesmo tinham esquentado suas cadeiras, a Mesa Diretora da Assembléia Nacional ordenou a retirada do prédio dos retratos de Chávez e dos quadros de Bolívar feitos durante o período chavista, empossou três deputados do estado de Amazonas, cuja eleição está sob judice pelo Tribunal Superior Eleitoral e apresentou o projeto de uma Lei de anistia com o objetivo de libertar os opositores presos acusados de incitação e participação em atos violentos destinados a questionar a vitória de Maduro quando se elegeu presidente do país . O contra-ataque veio rápido. Maduro solicitou a Justiça a não validação dos atos da Assembleia, por causa da incorporação dos três deputados questionados judicialmente , as Forças Armadas realizaram atos de desagravo á figura de Bolívar e o ex-presidente da Assembléia Nacional, Diosdado Cabello aventou a possibilidade de mesmo que seja aprovada a chamada lei de anistia não seja cumprida.

Na televisão, Maduro, convocou o povo chavista a ir buscar aqueles que ficaram em casa nas últimas eleições e chamou para este mês de janeiro a realização de um Congresso da Pátria destinado a retificar o processo revolucionário, ouvindo todas as vozes de todos os lutadores sociais. E nisto parece residir o x da questão. Nenhum país da América Latina onde se elegeram presidentes na onda antineoliberal avançou tanto no empoderamento popular quanto a Venezuela. A instalação do poder comunal em diversas administrações locais, rádios e tvs comunitárias, círculos bolivarianos, centenas de iniciativas de formação, organização e participação foram estimuladas e desenvolvidas em dezessete anos de Revolução Bolivariana, porém, não são poucas as críticas ao verticalismo do Partido Socialista Unificado da Venezuela (criado por Chavez para unificar e institucionalizar a ação revolucionária ) , ao mandonismo e a demonização de críticos no interior do partido. Não é à toa que retificação é uma palavra que surge em todas as bocas. Da profundidade deste processo renovador, de sua capacidade de combater a corrupção interna e corrigir a autossuficiência do governo (que continua a cometer erros graves no terreno da luta política, como demonstram os enormes murais exaltando a Venezuela Potencia! por cima das longa filas por alimentos) e principalmente de sua capacidade de animar e mobilizar o povo chavista – ainda saudoso do seu Comandante- a sair às ruas para convencer a maior parte da população de que os problemas econômicos possuem uma raiz política e que podem ser superados no interior da via democrática e popular reside a possibilidade do governo ganhar um folego para seguir adiante travando a batalha.

No entanto a grande questão e em última instancia a decisiva é a do horizonte da revolução. Dezessete anos depois da primeira eleição de Chávez, a revolução bolivariana precisa ser relançada, necessita de um programa que atualize seus objetivos, apresente claramente como será alcançada a diversidade produtiva, libertando o país da dependência absoluta do petróleo e como a reforma agrária será capaz de alcançar a tão sonhada soberania alimentar. Estes dois objetivos foram apontados por Chávez ao definir o Socialismo do século XXI como o porto de chegada da Revolução Bolivariana. A partir daí foram realizadas estatizações, se investiu em infra-estrutura e foi lançada uma reforma agrária que enfrentou grande resistência dos latifundiários tendo até agora custado a vida de duzentos camponeses , segundo dados oficiais. Nas cidades e nas estradas abundam painéis exaltando a “construção da pátria socialista” e nas lojas e supermercados produtos fabricados por empresas estatais trazem um selo com os dizeres “ feito no socialismo”.

Apesar de todo esforço, a Venezuela continua escrava do petróleo, não consegue produzir alimentos suficientes para alimentar seu povo e o socialismo é uma vaga e difusa ideia a espera de sua concretização. Apresentar um programa que seja capaz de mostrar par a população como os objetivos estratégicos serão alcançados, o caminho a ser percorrido, as dificuldades que serão encontradas e portanto prepare o povo para os inevitáveis enfrentamentos parece ser uma necessidade inadiável.

De agora em diante os desdobramentos da conjuntura política da Venezuela terão que ser acompanhados diariamente por todos aqueles que reconhecem, valoram e se solidarizam com um processo que em muito ajudou colocar a luta dos povos latino-americanos num patamar superior. Ainda que o Alto Comando da Força Armada Nacional Bolivariana tenha dados provas de coesão e fidelidade ao ideário chavista setores da direita venezuelana possuem um DNA golpista e sonham com uma intervenção imperialista. A disputa entre os poderes executivo e legislativo assume agora o centro da luta política. A sorte está lançada.

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