Rui Peralta, Luanda
1ª
Reflexão: USA
Com um endividamento comercial que ronda 505 mil milhões de USD e sofrendo de
um déficite fiscal de aproximadamente 55 mil milhões de USD, a economia
norte-americana necessita, cada vez mais, que a sua moeda seja dominante nas
transacções efectuadas na economia-mundo. O USD como moeda da reserva mundial é
um principio fundamental da politica económica dos USA, conforme reconhecem os
próprios, através de Jared Bernstein, economista-chefe do vice-prsidente dos
USA, Joe Biden, entre 2009 e 2011 e actualmente um dos consultores do
presidente Obama.
O processo de desodolorização na acumulação mundial de reservas põe em perigo a
posição hegemónica geoeconómica dos USA. Dois factores são decivos para
compreender este fenómeno: 1) A participação do USD nas reservas mundiais é
afectada pelo Yuan chinês devido á utilização desta moeda em 40 Bancos
Centrais; 2) O facto do intercâmbio comercial entre países realizar-se, cada
vez mais, em moedas próprias (caso dos BRICS ou das relações Japão/China, por
exemplo), sem necessidade de transitar pelo USD.
Na ultima década surgiram grandes corporações globais com origem,
principalmente, nos BRICS, na U.E., Japão e Coreia do Sul. Como resultado, em
2012, os USA apenas tinham 34 companhias entre as 100 mais valiosas do mundo.
Nos últimos dois anos, no entanto, os grupos empresariais norte-americanos
recuperaram e em 2015 reassumiram o comando, ao colocarem 54 companhiias na
lista das 100 mais valiosas. No entanto esta recuperação sabe a pouco, porque
algumas economias saíram do seu posicionamento periférico e assumem
protagonismo na economia-mundo. O exemplo da China é o mais destacado na
actualidade. Este país conta com 11 companhias no Top mundial (á entrada do
século apenas tinha 2). Outro exemplo pode ser retirado da lista Fortune 500,
que reúne as 500 maiores em facturação, onde aparecem 95 empresas chinesas
(contra 21 em 2001) e onde se destacam mais 27 empresas de países como o
Brasil, a India, a Russia, a África do Sul, a Nigéria e o Egipto.
Os USA vêm-se, assim, forçados a compartir resultados com blocos emergentes, o
que representa um abalo na hegemonia. Daí a Reserva Federal (FED) ter anunciado
uma subida da taxa de juros, de forma gradual e que se fazem, neste preciso
momento, fazer sentir os seus efeitos. Com esta medida os USA esperam o
regresso dos capitais que se encontravam em destinos mais rentáveis, ao memso
tempo que declara ao mundo que a economia norte-americana está em forma (o que
é visível com a valorização do USD em curso).
A expansão monetária serviu de filtro para o saneamento dos grandes bancos e
fundos de investimento norte-americanos, que recompraram grande parte da sua
divida, causada pelos “produtos tóxicos” financeiros. Neste momento os USA estão
preparados para crescer e reafirmar-se como epicentro da economia-mundo. Irá,
pois, tentar ressuscitar o Consenso de Washington, assente em alguma novas
premissas e realidades. Contam com a sua vanguarda tecnológica, que ganha
terreno e marca posições na geoeconomia mundial. E conta, também, com a
influência monopolística que exerce sobre as agencias de qualificação de risco
(Moody`s, Standard & Poor e Fitch). As finanças da economia-mundo ainda têm
raízes muito sólidas no solo norte-americano e arquitectura
económico-financeira internacional tem os seus alicerces nas relações
geoeconómicas estabelecidas (FMI, Banco Mundial, OMC, etc.).
África tem de levar isso em conta e reposicionar-se no cenário que 2016
anuncia. Os BRICS não são a única resposta aos problemas do continente. Poderão
até tornarem-se em parte do problema ao invés de parte da solução. É
necessária, mais do que nunca, uma visão realista e uma grande capacidade de
análise geoeconómica para redefinir as estratégias do desenvolvimento africano.
De pouco serve a geopolítica no contexto actual da economia-mundo. É um pouco
como ler o destino dos Homens através dos astros…
2ª
Reflexão: o preço do petróleo
O petróleo detém, ainda, um papel geoeconómico indiscutível - apesar da
paulatina consolidação de novas fontes energéticas – representando 1/3 da
matriz energética mundial. O século XXI, no sector petrolífero, caracterizou-se
pela recuperação do papel da OPEP (Organização dos Paises Exportadores de
Petróleo) face á AIE (Agência Internacional de Energia). A junho de 2014 o
preço do barril alcançou 115 USD. Depois veio a queda do preço, até aos baixos
índices actuais (34 a 35, na primeira semana de Janeiro de 2016).
Existem dois factores fundamentais para esta quebra. O primeiro destes factores
é a queda da procura. Consome-se menos petróleo na China e na India (dois dos
grandes consumidores) e menos, ainda, nas economias centrais, devido a questões
como baixa do crescimento económico, concorrência das energias alternativas,
etc. O segundo destes factores é o incremento da oferta. Em 2014 os USA
atingiram os 9,32 milhões de barris por dia (Bpd); a Árabia Saudita ultrapassou
os 9 milhões de Bpd; O Iraque ultrapassou os 4 milhões de Bpd e o Irão prevê um
aumento de meio milhão de Bpd a partir deste ano.
Além destes factores fundamentais existem factores secundários de diversa ordem
que em diferentes graus influenciam o movimento dos preços: alguns movimentos
especulativos (nem tanto assim) nos Fundos de Investimento e nos grandes bancos
(opinião conjunta do Congresso dos USA e da Goldman Sachs, ou seja, opinião
suspeita, atendo ás ligações que ambas as instituições têm com o sector
petrolífero); a “indiferença” da Arábia Saudita (face ao preço do barril e face
ao seu déficite fisca, que representa 15% do PIB); a “despreocupação” aparente
dos USA; o factor tecnológico que permitirá baixar os custos de produção; e,
finalmente o papel do califado e outros grupos fascistóides islâmicos no
contrabando e desvio de petróleo (Iraque, Siria, Libia, Nigéria) e respectivos
centros de venda destas redes (Turquia, uma delas e o resto disseminado
internacionalmente pelas monarquias do Golfo). Naturalmente que a preço baixo
seria de esperar um incremento do consumo, mas para este continuar e o sector
petrolífero poder concorrer com os preços também cada vez mais baixos das
alternativas, é necessário que os preços baixem mais e que depois se mantenham
a um nível baixo, ou seja, a guerra dos preços da energia está lançada. A
equação aplicada aos preços do petróleo não é apenas matemática, mas também
geoeconómica. Por exemplo, duas variáveis a ter em conta: 1) Arábia Saudita e
Irão competem pela hegemonia petrolífera no Médio Oriente; 2) A Russia, apesar
do embargo, elevou 7,5% as suas exportações de petróleo em 2015.
Quanto a predições e previções deixemo-las aos videntes, cartomantes e
astrólogos, que pululam pelos mercados. Ah…e aos teóricos da conspiração. E
Africa? Diversificar, desenvolver-se e assumir-se. Em todas as dimensões da
Humanidade. E reconstruir-se como um mercado único, sem barreiras entre as
economias nacionais que a formam e entre as realidades monetárias que a
compõem…
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