terça-feira, 31 de maio de 2016

Angola. PAULO CADI



Martinho Júnior, Luanda 

O Movimento de Libertação em África e nele o MPLA, tornaram-se nas décadas de 70 e 80 do século passado mobilizadores das aspirações mais legítimas dos africanos, conseguindo naturalmente, no caso de Angola, a aderência incondicional de várias gerações de quadros e militantes, a todos os níveis e em todas as latitudes e longitudes nacionais.

Quando ocorreu a saga da independência, na altura da consumação do Programa Mínimo do MPLA, por todo o país se sentiu a efervescência da juventude, que a quente viveu um momento ímpar: pela primeira vez os angolanos eram chamados a optar com vontade própria, assumindo-se; por isso uma parte substancial das crianças e dos jovens perceberam o seu papel e do que deles se esperava em termos de luta e em particular no âmbito dos anseios mais progressistas de então.

Dos jovens era o futuro e o MPLA comportava a doutrina e a ideologia capaz de lançar os alicerces desse futuro, apontando o rumo socialista do Programa Maior, pelo que não foi de estranhar a mobilização massiva da juventude dessa época telúrica e decisiva, que punha fim a séculos de injustiça histórica de tão má memória e de tão perversa manipulação.

À data da independência o camarada Paulo Cadi era uma criança de 11 anos de idade (nascido a 18 de Dezembro de 1964), de origem camponesa (filho de Paulo Cadi e Madalena Cololo), natural de Quimabaluquidi, área municipal de Quimbele na Província do Uíge e como muitos angolanos, ainda que habitantes das imensas extensões rurais, não deve ter ficado desapercebido dos expressivos acontecimentos que afectaram então todo o país.

Angola independente e soberana nascia dum parto sangrento, mas pujante nas suas forças para encarar os desafios futuros.

O que é facto é que já em 1977 com as mesmas motivações de milhões e milhões de outros jovens, ingressava na Organização dos Pioneiros Angolanos e dois anos depois, a 17 de Agosto de 1979, tornava-se membro da Juventude do MPLA, com o cartão nº 021710.

Lembre-se o que dizia na altura o camarada Presidente Agostinho Neto: “nós somos milhões e contra milhões ninguém combate”!... e mesmo que não fôssemos esses milhões, que dúvidas havia que o parecíamos efectivamente ser?

Nos primeiros anos da independência o MPLA levou muito a sério a necessidade de luta contra o analfabetismo e a JMPLA trabalhava com afinco integrando o pelotão daqueles que, onde quer que fosse, levavam a cabo as ingentes tarefas nesse sentido.

Coerente com o rumo que protagonizava, o MPLA foi também o rumo e a universidade para as crianças e a juventude, inspirando na essência da sua formação as realizações pessoais e estrutura ética e moral de cada um e do seu colectivo.

Tudo isso foi realizado num amplo resgate de direitos humanos que os poderosos da Terra tendem deliberadamente a olvidar: o próprio Movimento de Libertação comportava direitos humanos que até então jamais haviam sido alcançados pelos africanos, outrossim pelos angolanos, abrindo ao futuro da modernidade e do progresso o futuro de várias gerações, num longo processo de luta que se tornava cultura.

O camarada Paulo Cadi foi mobilizado no quadro do 1º contingente das Brigadas de ensino Comandante Dangereux, partindo como alfabetizador para a Província do Cunene, precisamente no lado oposto à sua Província de origem.

Em 1981, no rescaldo dessa patriótica tarefa, instalou-se no Huambo, onde assumiu um cargo no secretariado municipal da JMPLA, continuando ligado à Juventude do Partido em 1982, quando trabalhou na Empresa Agro-Pecuária da Quissala.

Por efeitos da Lei 12/82 sobre o Serviço Militar Obrigatório, é recrutado no Huambo em 1983, ingressando no Batalhão nº 536 da Luta Contra Bandidos da Segurança do Estado, numa altura em que as Províncias do Bié e do Huambo levaram a cabo mobilizações geo estratégicas contra os dipositivos de infiltração sustentados pelas South Africa Defence Forces, no âmbito de sua “guerra de fronteiras” que em 1975 se havia iniciado sintomaticamente com a Operação Savanah, na profundidade do território e na ânsia de tomar Luanda em sincronização com a Operação Iafeaure da CIA contra Angola.

Dadas as suas capacidades, o camarada Paulo Cadi frequentou no Huambo o curso de Contra Inteligência, sendo colocado sucessivamente ao longo de vários anos de convulsão armada como chefe do grupo de informação e análise do Sector Provincial de Operações Especiais, chefe da Secção Municipal de Operações Especiais do Bailundo e da Caála, chefe de Sector de Protecção Física e Segredo Estatal do Aeroporto Albano Machado (ENANA-Huambo), chefe da Delegação Provincial dos Transportes e Comunicações e por fim oficial de informação e análise da divisão AY na Delegação Provincial do SINFO em Luanda.

No Huambo o camarada Paulo Cadi participou nos expedientes de contramedidas como quadro da Segurança do Estado numa altura em que a cidade enfrentou uma onda sem precedentes de atentados e acções terroristas, algo que haveria de anteceder em Angola o futuro processo“somalizador” da década de 90 (que também outros “freedom fighters” tinham já levado a paragens como o Afeganistão)…

Chegou a ser subordinado do camarada capitão António Carlos, Delegado Provincial da Segurança do Estado, que faleceu em combate no Huambo no dia 9 de Julho de 1984…

Entre 1985 e 1992, em resultado do seu empenho, foi sendo sucessivamente patenteado, grau a grau, de Aspirante a 1º Tenente (Ordem Militar nº 45/CMD/FC/92 para este último).

Atravessou o camarada Paulo Cadi o período crítico de 1992 e 1993 alternando entre o serviço activo e a desmobilização, o que o motivou a corresponder à campanha de crescimento do MPLA no Huambo, passando a integrar a célula do MINTEC em 1995.

O camarada Paulo Cadi havia regressado depois da retomada da cidade capital da Província ao Huambo, integrando a Delegação do MINTEC, vocacionado justamente a dar a sua contribuição e empenho na reconstrução do que a guerra havia destruído.

Em 1996 no âmbito de VIª Conferência Provincial do MPLA o camarada Paulo Cadi e correspondendo aos seus méritos, tornou-se membro do Comité Provincial do Partido, com o cartão de responsável como o nº 694/99 e de militante nº 20791/97.

Aproveitando as oportunidades que o ensino foi concedendo no Huambo à medida do crescimento de estruturas de Educação do Estado Angolano, o camarada Paulo Cadi em 1999 conclui o curso pré-universitário na área de Ciências Sociais e em 2010, o curso de Geografia no Instituto Superior de Ciências de Educação.

Com a constituição da Acção Social Para Apoio e Reinserção, ASPAR, o camarada Paulo Cadi, conhecedor do Huambo e da comunidade de membros da ex-Segurança do Estado naquela Província, é nomeado Delegado Provincial da ASPAR, cargo que desempenhava com mérito e abnegação à hora de seu desaparecimento físico.

O camarada Paulo Cadi estava levando a cabo a construção da primeira Delegação Provincial da ASPAR no país, enquanto com toda a dignidade continuava a defender os interesses da comunidade, por muitos votada irresponsável e deliberadamente ao esquecimento e ao abandono.

Um acidente rodoviário no trajecto entre Luanda e o Huambo feriu gravemente o camarada Paulo Cadi a 17 de Novembro de 2015, que ainda resistiu seis meses ao infortúnio vindo a falecer no Huambo aos 17 de Maio de 2016.

Entre tantos e tantos milhares de patriotas, este é apenas um exemplo do muito que trouxe o MPLA ao rumo de Angola: atravessando décadas de guerra e beneficiando finalmente da paz, enquanto jovem absorveu a cultura da libertação, enquanto mancebo ingressou resolutamente nas fileiras que garantiam a independência e a soberania nacional e enquanto adulto trabalhou como um executivo provincial, estudou e foi sempre adquirindo conhecimentos, sem se inibir de dar o seu contributo em benefício de seus camaradas, qualquer que fosse o seu estatuto de existência.

A sua trajectória em vida, uma trajectória de luta e de sacrifícios, mas também de incalculáveis avanços em relação ao passado de trevas, marca, como tantos outros milhões e milhões de patriotas, a militância que o MPLA soube tornar extensiva cultura.

Para os outros camaradas militantes foi dignificante conhecê-lo, por que também com seu exemplo percebe-se além do mais que o rumo de Angola tem vitalidade humana intrínseca ao seu projecto de futuro, para além das contingências e vicissitudes que se atravessaram e se vão ter de atravessar.

Milhões e milhões de fios de vida patriótica como a do camarada Paulo Cadi sustentam humanamente a fibra da angolanidade, uma fibra cuja militância é historicamente impossível de subverter… e é isso que muitos desconhecem, ou propositadamente tentam fazer por não conhecer, confundidos na mistificação duma globalização que está longe, muito longe de ser uma escola de luta, de coerência, de amor colectivo pela liberdade e pela vida, de virtude solidária e de respeito para com a Mãe Terra.

Camarada Paulo Cadi, com o exemplo de tua trajectória humana, sabemos que Angola poderá continuar a aspirar em ir longe nos imensos resgates que ainda há que realizar! 

Fotos:
- Assembleia Provincial da ASPAR no Huambo, a 17 de Junho de 2011, presidida pelo camarada Brigadeiro Sacha, Presidente da ASPAR, com o camarada Paulo Cadi Delegado Provincial da ASPAR em primeiro-plano e ao fundo o camarada Muana Mundele, zeloso Vogal da ASPAR;
- O camarada Paulo Cadi no dia 20 de Novembro de 2011, durante o Conselho Consultivo Alargado da ASPAR em Luanda;
- Camarada capitão António Carlos herói do Huambo, que chegou a ser chefe do camarada Paulo Cadi, falecido em combate em 9 de Julho de 1984.

Angola. BICESSE 25 ANOS DEPOIS



Jornal de Angola, editorial

Os Acordos de Bicesse, assinados num dia como hoje do ano de 1991, pelo Governo da República de Angola e a UNITA, sob a mediação do Governo português, marcaram definitivamente a vida do país. Tratou-se da primeira experiência formal, testemunhada pela comunidade internacional, por via do qual representantes do Governo angolano se sentaram  à mesma mesa com a delegação da rebelião armada  para a busca da paz em Angola.

Em nenhum momento, o Governo de Angola, liderado pelo Presidente José Eduardo dos Santos, emperrou os esforços para a busca de paz na medida em que demonstrou sempre sentido de Estado, de compromisso e de colocação dos interesses do país acima dos de natureza partidária. Não se pode dizer o mesmo da rebelião armada liderada por Jonas Savimbi cuja estratégia visava ir a Bicesse apenas como um passo táctico na busca do seu maior sonho, ser Presidente de Angola a qualquer preço.  

Um quarto de século depois, Bicesse continua como referência no que ao entendimento e paz entre os angolanos, a aceitação do repto do multipartidarismo e a retomada do conflito militar dizem respeito. 

Continua também como exemplo para todas as gerações no sentido de que o entendimento é sempre possível quando as partes estão comprometidas e desprovidas de agendas paralelas. Tratou-se de um ponto de partida histórico através do qual os angolanos abraçaram, com empenho e dedicação, um processo que, não fosse a intransigência e obstinação de uma das partes, dava ao país mais de 20 anos de prática democrática ininterrupta. 

Os Acordos de Bicesse tinham como espinha dorsal os Princípios Fundamentais para o estabelecimento da paz em Angola, Conceitos para a resolução de questões pendentes entre o Governo da então República Popular de Angola e a UNITA e o Protocolo do Estoril, que essencialmente visavam a paz e a democracia multipartidária. 

Tal como sucedera em Junho de 1989, na primeira grande iniciativa africana para a paz em Angola, o Presidente José Eduardo dos Santos aceitou o desafio, um ano depois, para estar em Bicesse.  Mais uma vez e curiosamente nada estranho, o líder  da antiga rebelião armada tinha dado “o dito por não dito”, expressão usada amplamente pela comunicação social nacional e estrangeira para descrever a actuação de Jonas Savimbi. Mais de 20 anos depois e numa altura em que numerosas evidências atestam  o papel que cada parte teve, podemos retirar ilações certas a respeito de quem mais se esforçou para que o processo não descarrilasse e quem fez o contrário. 

E não precisamos de recorrer a testemunhos de protagonistas, mas de uma das partes directas do processo, nomeadamente a antiga Representante Especial do Secretário-Geral e Chefe da Missão de Verificação das Nações Unidas (UNAVEM II), cujas recordações sobre o que se passou prevalece como um testemunho histórico. Não tinha sido um processo perfeito, mas todas as condições tinham sido criadas para que os partidos políticos partissem em igualdade de circunstâncias e meios. E numa altura em que o processo não tinha sido conclusivo, todo o mundo esperava que as partes recarregassem as suas baterias para a segunda volta das eleições multipartidárias em Angola.

“Na verdade, houve necessidade de uma segunda volta mas Savimbi, quando viu que não ia ganhar, começou a acusar todo o mundo dizendo que tinha havido fraude, uma fraude por parte do Governo, etc, etc, etc… Eu penso que ele não conseguia perceber que não ia ser presidente porque queria ser presidente a todo o custo. Foi uma surpresa muito desagradável para ele descobrir que não o seria”, disse Margareth Anstee, numa entrevista dada em tempos a um órgão de comunicação social.

Podemos dizer que da parte do Governo angolano, da missão da ONU e de toda a comunidade angolana, houve paciência suficiente para acomodar as “queixas e reivindicações” de Jonas Savimbi, o que de nada valeu. 

Na verdade, como a História demonstra, a UNITA de Jonas Savimbi nem acreditava no processo democrático e tinha uma estratégia bem montada no sentido da tomada do poder pela força.

Com a paz e o início do processo de democratização, sem a interrupção que sucedeu, Angola daria passos céleres em todos os aspectos, sem a perda de uma década inteira com o cortejo de mortes e destruição. 

Felizmente, os esforços para a busca da paz efectivaram-se em Abril de 2002, uma realidade que as várias rondas de conversações pós Bicesse nunca tiveram o sucesso esperado por razões óbvias. A ambição desmedida de Jonas Savimbi tornaram Bicesse e todas as outras iniciativas inúteis, independentemente do benefício da dúvida do Governo angolano que em nome da paz fez tudo o que pôde. 

Hoje, olhamos todos para Bicesse como um marco importante  enquanto meio por via do qual os angolanos se podem entender, reforçado pela realidade trazida pelo Memorando de Entendimento do Luena. 

Os Acordos de Bicesse ficam assim na História recente de Angola e deve constituir matéria para a compreensão do passado, para estudos e reforço do nosso processo de consolidação da paz e democracia.

Angola. PASSAMOS A SER ESCRAVOS DA PRIMEIRA-DAMA



Os Serviços de Identificação Civil e Criminal, responsáveis – entre outras actividades – pela emissão de Bilhetes de Identidade e outros documentos pessoais de cidadãos estão há cerca de seis meses sem papel, pelo que milhares de cidadãos, não conseguem ter este importante documento.

Longe de ser uma falha exclusiva do Ministério da Justiça, órgão a quem incumbe a responsabilidade estatal, como o Folha 8 revela agora em exclusivo, existe um cambalacho na Direcção que deveria envergonhar e revoltar a maioria dos angolanos e os dirigentes do partido no poder em particular, pela falta de patriotismo e excesso de nepotismo da Presidência da República.

O ministro da Justiça privatizou parte significativa dos Serviços de Identificação Civil, a nível nacional, sem concurso público, tomando a decisão unilateral de atribuir o comando destes relevantes serviços que abarcam os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, à cidadã Ana Paula dos Santos, esposa do Presidente da República, José Eduardo dos Santos.

Acredita, presume-se, o ministro que o facto de a cidadã ser a primeira dama da República, isso é condição única e bastante para não ser preciso um concurso público, tão pouco uma justificação do poder legislativo.

Esta é a forma descarada, mais uma, como altos responsáveis do regime do MPLA, têm exclusivamente, desde 1975, desvirtuado, o principal papel das instituições públicas que deveriam ser insuspeitas e dignas de um Estado de Direito. E com esta prática, comum nas ditaduras, a delapidação dos cofres do erário público é muito mais do que meio caminho andado.

A DGM Sistema, Lda, empresa com ligações à primeira dama de Angola, Ana Paula dos Santos, tem sede na Rua Rainha Nginga, Edifício Tour Elysée, n.º 31, 7.º andar- Ingombota, Luanda, é uma entidade de direito angolano, tendo nos seus quadros colaboradores angolanos e consultores internacionais, actuando na direcção e organização de projectos; sistemas informáticos; contabilidade; economia; matemáticos; advogados; biblioteconomistas; auditores independentes e equipa de apoio aos projectos.

Esta apresentação, sem que houvesse, outros elementos de prova, foram a causa bastante, para o ministro da Justiça, Rui Mangueira, “bajuladoramente”, violar a própria “Constituição Jessiana” ao atribuir a concessão directa dos seguintes serviços à DGM Sistemas, Lda, uma empresa privada:

a) Responsável pelo sistema informático dos Serviços de Identificação Civil e Criminal;
b) Responsável pelo fornecimento do papel e matéria-prima, para a impressão do Bilhete de Identidade;
c) Responsável pelo fornecimento de combustível;
d) Responsável pelos postos móveis (carrinhas) de concessão de bilhetes;
e) Responsável por cerca de 30 % da mão-de-obra nos Serviços de Identificação.

Para esta serventia que bem poderia ser realizada pelos funcionários públicos, a DGM Sistemas, Lda arrecada, mensalmente, segundo um responsável da Identificação Civil, mais de USD 3.500.000,00 (três milhões e quinhentos mil dólares).

Verdade ou mentira, tudo incrimina, diz o velho adágio.

“É um escândalo! Uma pouca vergonha. Uma roubalheira aos cofres do Estado e ninguém diz nada. Até o combustível, para todos os Serviços de Identificação, que bem poderiam ser da nossa responsabilidade, são facturados pela empresa da primeira dama”, afirmou ao F8, este quadro bastante indignado.

“Mais grave ainda é o facto, de por vezes a DGM, Sistemas fornecer papel para a emissão dos bilhetes sem qualquer tipo de qualidade, como já aconteceu, por duas vezes, tendo havido necessidade, de em menos de três meses, serem substituídos”.

Questionado sobre as razões de se estar há tanto tempo sem capacidade da emissão de Bilhetes de Identidade aos cidadãos, foi peremptório: “Essa responsabilidade tem de ser assacada à DGM, Sistemas, Lda, pois quando esta tarefa era exclusiva do Ministério, nunca tal se verificou. Acredito, que ninguém comente, inclusive os partidos políticos da oposição e as organizações da sociedade civil, uns por desconhecimento, outros por estarem comprometidos, sendo da primeira dama, pois se fosse de outra cidadã ou cidadão fora do circuito presidencial, há muito teria perdido o contrato e já estaria, se calhar, na cadeia”.

Um outro alto funcionário da Justiça não descartou a tese de se tratar de uma guerra entre elefantes e quem paga é a raia miúda. “A DGM, Sistemas deverá estar a retaliar por atrasos nos pagamentos, falando-se numa dívida, avaliada em cerca de 25 milhões de dólares. Nós não sabemos as razões de tal montante, quando nós temos funcionários que fazem a maioria do trabalho, claro dentro da sua plataforma informática, mas daí este montante, a ser verdade, é uma verdadeira vergonha e roubo de dinheiro que pertence a todo um povo, que não tem, sequer medicamentos, nos hospitais e andam estes senhores no jogo de quem rouba mais, para ser milionário”, esclareceu.

Com mais esta estratégia, o Titular do Poder Executivo, José Eduardo dos Santos, enquanto a oposição dorme, fica na posse do cadastro de todos os angolanos, vivos e mortos, essenciais para toda fraude eleitoral.

É um verdadeiro crime de responsabilidade criminal, colocar o sistema informático de uma instituição pública, como do Ministério da Justiça, nas mãos de uma empresa privada detida pela esposa do Presidente da República, que é um eterno candidato a Presidência da República.

Vejamos o que diz a “constituição jessiana”:

Art.º 127.º - 
(Responsabilidade criminal)

1. O Presidente da República não é responsável pelos actos praticados no exercício das suas funções, salvo em caso de suborno, traição à Pátria e prática de crimes definidos pela presente Constituição como imprescritíveis e insusceptíveis de amnistia.

2. A condenação implica a destituição do cargo e a impossibilidade de candidatura para outro mandato.

3. Pelos crimes estranhos ao exercício das suas funções, o Presidente da República responde perante o Tribunal Supremo, cinco anos depois de terminado o seu mandato.

Diante deste cenário o que fazer? Podem ou não os partidos políticos e a sociedade civil pedir responsabilidades e atentar acções judiciais, ante esta flagrante violação constitucional, que delapida as finanças públicas. Como retrata o art.º 127.º CRA devem, mas não se acredita, que façam alguma coisa temerosos em perder as parcas mordomias que o partido no poder, dá a entender, não ser uma obrigação do Estado, face aos votos eleitorais, conquistados por cada partido, no parlamento, mas como se fosse uma benesse do regime.

“Tendo o controlo do sistema informático dos Serviços de Identificação Civil e Criminal, do Ministério da Administração do Território e da Comissão Nacional Eleitoral, não precisa mais nada, Eduardo dos Santos para se perpetuar no poder. Não nos podemos esquecer ainda da plataforma das telecomunicações, como a UNITEL e Movicel, controladas pelas filhas, bem como a comunicação social do Estado. Esta é a verdadeira fraude, que não se verifica no dia das eleições, mas antes delas ocorrerem”, explicou ao F8, um jurista da Identificação Civil.

Esta, pelas provas avançadas, é mais uma forma escabrosa de delapidação do erário público, por quem deveria dar o exemplo de bem servir o povo e não o contrário. Logo não espanta que tenha sido através destas engenharias que levaram o país para a actual bancarrota, onde a família e séquito presidencial tem mais dinheiro do que a dívida pública de Angola.

Recorde-se que o Ministério da Justiça tem, actualmente, a maior base de dados do país. O incremento do projecto de modernização teve como base metodológica o conhecimento pormenorizado de todas as dificuldades e a realidade nacional em matéria de identificação civil e criminal em todo o país.

No período de socialismo, o MPLA, para mobilizar as massas populares, recorria ao slogan: “Ser patriota é um dever revolucionário”, mas hoje no capitalismo voraz, que implantou no país, a lógica é: “Ser gatuno e roubar o Estado, é um dever revolucionário”.

Folha 8

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ISABEL DOS SANTOS ENTRE AS DEZ MULHERES MAIS PODEROSAS DO MUNDO



A empresária aparece no “ranking” com Angela Merkel, Christine Lagarde e Hillary Clinton.

O site norte-americano AOL colocou sábado Isabel dos Santos na lista das dez mulheres mais poderosas do mundo, ao lado de Angela Merkel, Christine Lagarde e Hillary Clinton.

Citando a Forbes, o AOl, que detém o Huffington Post, diz que “a angolana não é só a mulher mais rica do seu país mas também a mulher mais rica de África. Mas a sua riqueza não é o único factor que torna Isabel dos Santos influente. Ela é a filha mais velha do presidente angolano, José Eduardo dos Santos, e iniciou-se nos negócios quando tinha apenas 24 anos”.

“Desde então ela os seus investimentos e os seus negócios à volta do mundo, calculando que os mesmos valham actualmente mais de USD três milhões”, continua a publicação.

Isabel dos Santos figura no nono lugar deste ranking, à frente apenas da directora executiva da IBM, Ginni Rometty. No topo da lista está a chanceler alemã, Angela Merkel, seguindo-se Melinda Gates, Janet Yellen, Christine Lagarde, Hilary Clinton, Sonia Gandhi e Park Geun-hey.

Para reunir estes nomes, o site teve em consideração mulheres actualmente influentes nas áreas dos negócios, políticas e filantropia.

Veja as justificações do site AOl aqui.

Rede Angola

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Portugal. CRISTAS E O PROTESTO AMARELO



Paula Ferreira* – Jornal de Notícias, opinião

1. Surge em todo o lado. Omnipresente. Opinião na ponta da língua para qualquer assunto. Se aconteceu, Assunção Cristas irrompe a comentar. O CDS-PP, agora, é ela. Obscureceu todos os seus companheiros de partido. E, a bem da verdade, eclipsou qualquer tentativa de oposição.

Pedro Passos Coelho andará pelo país a falar às bases, a apresentar o seu programa de reformas e a preparar um desafio - decisivo, talvez - para a sua carreira política. O líder do PSD precisa de uma vitória nas próximas autárquicas. Não tem alternativa. Será por isso que ninguém o ouve. Passos sabe que não pode gastar a imagem, fragilizada por quatro anos de governação nas piores circunstâncias em que um primeiro-ministro pode exercer as suas funções.

Sendo assim, Assunção Cristas aparece a liderar a oposição. Ontem, esteve em Bruxelas a comemorar o aniversário do Partido Popular Europeu, por sinal a família política de que o PSD de Passos Coelho também faz parte. Foi, contudo, a líder do CDS que ouvimos, piedosamente, a informar os portugueses ter pedido aos líderes europeus para evitarem o castigo a Portugal, "bom aluno" em matérias de austeridade. Todavia, segundo Cristas, parecem ser uma inevitabilidade os açoites da UE - salvo se o atual Governo, em vez de praticar o seu programa político, recuar e der continuidade ao programa de Passos e Cristas. Melhor era impossível.

2. Trinta mil, ou quarenta mil, consoante a fonte. Foram de vários pontos do país até Lisboa, pedindo liberdade de escolha na Educação. Um protesto vestido de amarelo contra a decisão do Governo de cumprir aquilo que a lei estipula: financiar o ensino aos alunos em escolas privadas, nos locais onde não exista oferta pública. Simples. Uma coisa tão simples a ser subvertida, acintosamente, graças ao ruído de alguns.

Depois da manifestação, pediram uma audiência ao primeiro-ministro. António Costa não tem qualquer hipótese de recuo nesta matéria. Até agora, geriu o dossiê, sensível, com mestria, deixando o ministro da Educação tomar as decisões, e, ao mesmo tempo, salvaguardando-o do combate político, dando palco a Alexandra Leitão, a secretária de Estado. Um recuo de Costa perante o protesto amarelo não significaria só a inevitável saída de Tiago Brandão Rodrigues, mas o princípio da queda da coligação.

*Editora-executiva-adjunta

Portugal. "Por este caminho, Santander terá destino do BPN, BES e... Banif" – Paulo Morais



Paulo Morais, o ex-candidato presidencial que sempre se mostrou contra a corrupção, lança hoje farpas à nomeação de António Vitorino para o Conselho de Administração do Santander.

Paulo Morais acusa o Santander de falta de "credibilidade".

Em causa está a nomeação de António Vitorino para o Conselho de Administração, que para o ex-candidato à Presidência da República demonstra que o banco "desvaloriza o seu principal activo: a credibilidade".

"Parece que ao comprar o Banif, o Santander ficou contaminado. De facto, quando se juntam maçãs podres a maçãs boas, nunca são as podres que ficam boas!", escreveu na sua página de Facebook, considerando que "por este caminho, o Santander terá, a prazo, o destino do BPN, BES e... Banif".

Andrea Pinto – Notícias ao Minuto

PORTUGAL TEM 12.800 “ESCRAVOS MODERNOS”



Portugal tem um total estimado de 12.800 "escravos modernos" numa população de quase 10,4 milhões de habitantes, segundo o relatório da fundação australiana Walk Free hoje divulgado.

Intitulado Índice de Escravatura Global 2016, o relatório analisa 167 países do mundo, entre eles oito dos nove lusófonos - S. Tomé e Príncipe não foi reportado.

Segundo o relatório da Walk Free, uma fundação criada em 2012 pelo casal filantropo australiano Andrew e Nicola Forrest, e pela filha de ambos, Grace, a percentagem estimada de escravos modernos em Portugal é de 0,123%.

De acordo com o mesmo relatório, Portugal situa-se na 49.ª posição, o que equivale à 147.ª posição, já que há muitos países a ocuparem a mesma posição ao longo da tabela.

Quanto à cotação atribuída a cada país, para que obtenham cotação "BBB" (a quarta melhor), que foi a conseguida por Portugal, é necessário que, entre outros critérios, os governos tenham encetado respostas à escravatura moderna com programas de apoio às vítimas e uma resposta forte ao nível da justiça criminal.

Em declarações à agência Lusa, a australiana Fiona David, diretora executiva do Departamento de Investigação Global da Fundação Walk Free, que liderou os trabalhos nos 167 países analisados no Índice, disse que esteve em Portugal no início deste ano e que uma das "coisas boas" que viu "foi a grande importância e a seriedade dada pelo Governo português à questão".

"Atribuímos a Portugal o rating de 65 pontos (65,22) nos esforços para combater o trabalho forçado, o que demonstra que tem havido muitas pessoas envolvidas e muito trabalho feito", referiu, acrescentando que "há ainda muito a fazer em Portugal, tal como, de resto, em todo o mundo".

Portugal tem cerca de 12.800 pessoas a trabalhar sob qualquer forma de escravatura e, por isso, "é importante que o Governo se mantenha empenhado", frisou Fiona David, que também advogada e criminologista. Fiona David trabalhou como conselheira em vários governos e organizações das Nações Unidas para o desenvolvimento de estratégias de resposta consistentes à escravatura moderna nas regiões da Ásia/Pacífico e de África.

Escreveu, em coautoria com a investigadora Anne Gallery, o livro "The International Law of Migrant Smuglling".

160 mil escravos em Angola

Brasil e Portugal são, entre os nove países lusófonos, os Estados com menor percentagem estimada de "escravos modernos", com uma estimativa de 0,078% (161.100 pessoas) e 0,123% (12.800) da população, indica este relatório.I

O relatório analisa 167 países do mundo, entre eles oito dos nove lusófonos - São Tomé e Príncipe não foi reportado -, em que Angola surge na tabela com a maior percentagem estimada de "escravos modernos", com 0,638% da população (159.700 pessoas).

No documento da fundação criada em 2012 pelo casal filantropo australiano Andrew e Nicola Forrest, e pela filha de ambos, Grace, Portugal e Brasil trocam de posições no ranking lusófono no que diz respeito aos países que mais têm feito para combater o fenómeno, que afeta 45,8 milhões de pessoas em todo o mundo.

Neste item, Portugal está na lista de 10 países com a segunda melhor cotação, "BBB" - só a Holanda tem a cotação máxima "A" -, com o Brasil a ser cotado com "BB", seguido por Moçambique ("B"), todos muito à frente dos restantes Estados lusófonos - Angola e Guiné-Bissau (ambos com "CC), Cabo Verde ("C") e a Guiné Equatorial ("D" - igual aos piores da lista, como Eritreia, Irão e Coreia do Norte.

Sem classificação ficaram Afeganistão, Iémen, Iraque, Líbia, Somália e Síria.

No Índice, entre os lusófonos, e depois de Angola, que ocupa a pior classificação em termos percentuais (43.º lugar), segue-se a Guiné-Bissau (46.º, com uma estimativa de 11.400 "escravos modernos", o que representa 0,620% da população), Moçambique (66.º - 145.600 - 0,520%) e Cabo Verde (85.º - 2.400 - 0,453%).

A Guiné Equatorial surge depois na 127.ª posição (2.500 "escravos modernos" estimados, o que representa 0,295% da população), Timor-Leste (130.ª - 3.500 - 0,286%), Portugal (147.ª - 12.800 - 0,123%) e finalmente Brasil (151.ª - 161.100 - 0,078%).

Noutra tabela, a fundação australiana calcula também o risco de vulnerabilidade à "escravatura moderna", baseada em quatro critérios - "proteções política e civil", "direitos sociais, de saúde e económicos", "segurança pessoal" e "refugiados e conflitos" - todos de zero (a melhor possível) a 100 (a pior) pontos.

Neste quadro, Portugal é o melhor classificado entre os lusófonos, com uma média pontual dos quatro critérios de 19,27 pontos, seguido pelo Brasil (33,77 pontos), Guiné Equatorial (31,16), Cabo Verde (36,34), Timor-Leste (39,13), Angola (44,21), Moçambique (44,65) e Guiné-Bissau (48,82), numa lista liderada pela Dinamarca (17,30 pontos) e fechada pela RDCongo (70,00).


No número absoluto de pessoas consideradas como integrantes da "escravatura moderna", a Índia (18,3 milhões de indivíduos estimados), China (3,4 milhões) Paquistão (2,1 milhões) Bangladesh (1,5 milhões), Uzbequistão (1,2 milhões), Coreia do Norte (1,1 milhões) e Rússia (1,04 milhões) são os sete países acima do milhão de "escravos", embora tal resulte do facto de serem dos países mais populosos do mundo.

No lado oposto, Luxemburgo (100 pessoas), Islândia (400), Barbados (600), Nova Zelândia (800), Irlanda (800) e Noruega (900) são os países com menor estimativa de casos de escravatura moderna.

Lusa em TSF – Foto Global Imagens

TRÁFICO ILEGAL DE ARMAS DO REGIME DE OBAMA AO NARCOTRÁFICO MEXICANO



A fundação norte-americana Judicial Watch anunciou, dia 25 de maio, a liberação de documentos do Departamento de Justiça dos Estados Unidos que comprovam a persistência do amplo tráfico de armas do regime de Barack Obama que acabam nas mãos de carteis de narcotraficantes do México a fim de serem capturadas, e retornarem aos Estados Unidos.

Edu Montesanti*

O comércio ilegal de armas praticado pelo regime norte-americano se dá através doprograma denominado Operação Rápido e Furioso o qual, até março de 2011, era secreto quando, então, entrou WikiLeaks mais uma vez em cena para desespero do Império mais terrorista da história, eterno paradigma das alas reacionárias internacionais. 

Os documentos obtidos por Judicial Watch em 17 de março de 2016, requeridos junto àAgência de Controle de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos (ATF, em sua sigla em inglês) através da Lei de Acesso à Informação, revelam que entre dezembro de 2012 e março de 2016, um total de 94 armas de fogo da Operação Rápido e Furiosoforam recuperadas na Cidade do México, e 12 em diversos estados mexicanos. Determinados relatórios mexicanos apontam que tais armas, 82 metralhadoras e 12 pistolas tiveram ligação a 69 mortes. 20 dessas armas, segundo os documentos, estão envolvidas em vários assassinatos em massa no México.

De acordo com Judicial Watch, "as armas traficadas por Rápido e Furioso estão envolvidas no assassinato do funcionário da fronteira dos Estados Unidos (Border Patrol) Brian Terry e de centenas de outros inocentes no México. Relatórios anteriores ligam as armas da Operação de Obama a pelo menos 200 mortes apenas no México".

'WikiLeaks', Silêncio Conivente da Grande Mídia e Sustentação do Império Moribundo

No final de março de 2011, WikiLeaks já havia liberado ao jornal mexicano La Jornada telegramas da "Embaixada" norte-americana no México, revelando a Operação ilegal, e a hipocrisia dos oficiais norte-americanos que além de se omitir em relação ao contrabando de armas por parte do governo dos Estados Unidos ao território mexicano, acabavam culpando aos homólogos do país vizinho por uma suposta desordem e incompetência (como, aliás, sempre fazem os norte-americanos e seus lacaios das elites internacionais: culpar aos latino-americanos pelo que alegam se tratar de excesso de corrupção, de incompetência e até de "burrice"). Este cabo é uma evidência da retórica assassina dos Estados Unidos.

Pois excessiva "esperteza" é algo indiscutível entre os tomadores de decisão em Washington: os cabos emitidos pela "Missão Diplomática" dos Estados Unidos no México, liberados por WikiLeaks, revelam que oficiais mexicanos haviam reclamado, reiteradas vezes junto aos norte-americanos, que supostas medidas de Washington para controlar o tráfico de armas eram insuficientes. Após alguns anos, ainda no governo de Felipe Calderón, desistiram das advertências: eram completamente ignorados.

O que não é nenhuma surpresa, nada disso virou, jamais, notícia digna sequer de nota de pé de página na jornalada internacional. Pois os Estados Unidos, fato cada vez mais evidente na era da informação global em tempo real, bastante ajudado por WikiLeaks e Edward Snowden que a grande mídia insiste em fazer de conta que não existem, são os grandes fomentadores da violência internacional a fim de enfraquecer Estados nacionais e expandir seu domínio global.

A sobrevivência do agonizante Império tem se dado através da indústria armamentista, inundando o globo de armas seja pegando o bonde das criminosas guerras arranjadas por Tio Sam, seja no tráfico ilegal de armas, e também através do próprio narcotráfico traçado pela CIA, outra extraordinária fonte de recursos financeiros à moribunda economia norte-americana, e instrumento de sustentação das organizações terroristas criadas, financiadas e treinadas por Washington. 

*Pravda.ru

EUA: AS ELEIÇÕES PREPARAM A GUERRA




Depois de renovar o arsenal atômico, Obama provoca Moscou e Pequim. Hillary ataca Trump, o repulsivo. Mas é ela, supostamente sofisticada, que representa a hiper-militarização

John Pilger*, no Conterpunch – Outras Palavras - Tradução Vila Vudu

Há poucos anos, assisti a uma exposição popular intitulada “O Preço da Liberdade”, na venerável Smithsonian Institution em Washington. As filas de pessoas comuns, a maioria crianças que entravam como se ali fosse uma caverna de Papai Noel do revisionismo, recebiam sortimento variado de mentiras: a bomba atômica de Hiroshima e Nagasaki salvou “um milhão de vidas”; o Iraque foi “libertado [por] ataques aéreos de precisão inigualada no mundo”. O tema era indiscutivelmente heroico: só os norte-americanos pagam ou algum dia pagaram o preço da liberdade”.

A campanha presidencial de 2016 é notável, não só por causa da ascensão de Donald Trump e Bernie Sanders, mas também pela resiliência do impenetrável, duradouro silêncio sobre uma divindade assassina, autorreverenciada. Um terço dos membros da ONU já sentiram o peso do tacão norte-americano, derrubando governos, subvertendo a democracia, impondo bloqueios e sanções. A maioria dos presidentes responsável por tudo isso eram do Partido Democrata – Truman, Kennedy, Johnson, Carter, Clinton, Obama. (…)

Vejam Obama. Agora que se prepara para deixar a presidência, os elogios incansáveis já recomeçaram. Obama é “cool“. Um dos presidentes mais violentos e mortíferos, Obama deu rédea solta ao aparelho de produzir guerras do Pentágono do presidente (desacreditado) que o antecedeu. Processou mais vazadores de informações secretas (whistleblowers) – gente que arrisca a vida para dizer a verdade aos semelhantes – que qualquer outro presidente. Declarou Chelsea Manning culpada, antes de haver sequer julgamento. Hoje, Obama comanda campanha mundial de terrorismo e de assassinatos por drones, de dimensões absolutamente jamais vistas.

Em 2009, Obama prometeu ajudar a “livrar o mundo das armas atômicas” e deram-lhe o Prêmio Nobel. Nenhum presidente algum dia construiu mais ogivas nucleares que Obama. Está “modernizando” o arsenal apocalíptico cos EUA, inclusive com novas ‘mini’ bombas atômicas, cujas dimensões e tecnologia ‘inteligente’ (sic), diz um dos altos generais dos EUA, asseguram que o uso das tais bombas “deixou de ser impensável”.

James Bradley, autor do best-seller Flags of Our Fathers e filho de um dos marines que fincaram a bandeira dos EUA em Iwo Jima, disse, “[Um] Grande mito que estamos vendo em cena hoje é que Obama seria alguma espécie de sujeito ‘pacífico’, tentando livrar-se de bombas nucleares. É o maior matador nuclear de que se tem notícia. Meteu os norte-americanos numa trilha de ruína, de gastos de 1 trilhão de dólares em mais armas atômicas. Sabe-se lá por quê, as pessoas vivem nessa fantasia de que, porque Obama faz palestras vagas e ainda mais vagos discursos e faz pose para fotógrafos amigos, alguma dessas coisas teria a ver com a política real. Não. Nada têm a ver uma coisa e outra.”

No governo de Obama, está-se construindo uma segunda guerra fria. O presidente russo é o ‘malvadão’ de filme; os chineses ainda não voltaram a ser a velha caricatura sinistra com rabo de porco que lhes correspondeu no passado – quando os chineses foram banidos dos EUA –, mas os jornalistas pró-guerra já trabalham nisso.

Nem Hillary Clinton nem Bernie Sanders sequer tocaram nesses temas durante a campanha, nem remotamente. Não há perigo. Nenhum perigo ameaça sejam os EUA, seja toda a humanidade. Para os candidatos, não aconteceu o maior acúmulos de forças militares junto às fronteiras da Rússia desde a Guerra Mundial. Não aconteceu. Dia 11 de maio, a Romênia entrou em cena ‘ao vivo’, com uma base “de mísseis de defesa” da OTAN, que existe para que os EUA tenham a prioridade de um primeiro ataque diretamente contra o coração da Rússia, a segunda maior potência nuclear do mundo.

Na Ásia, o Pentágono está enviando navios, aviões e forças especiais para as Filipinas, para ameaçar a China. Os EUA já cercam a China com centenas de bases militares que desenham um arco, da Austrália até a Ásia, atravessando o Afeganistão. Para Obama, trata-se de “pivô para a Ásia”.

Consequência direta disso tudo, a China já mudou oficialmente sua política nuclear, de “nenhum primeiro ataque”, para alerta máximo, e já pôs no mar submarinos armados com armas atômicas. A escalada da guerra avança, cada vez mais rápida.

Foi Hillary Clinton quem, como secretária de Estado em 2010, elevou o tom das reivindicações sobre penhascos e barreiras de corais no Mar do Sul da China, qualificando-os como “territórios contestados” e fez disso uma questão internacional; na sequência, foi a histeria de CNN e BBC, para as quais a China estaria construindo pistas de pouso nas ilhas em disputa. Nesse jogo dela em 2015, para guerra de proporções de mamute, a Operação Talisman Sabre, os EUA treinaram ataques contra o estreito de Malacca, por onde transitam quase todo o comércio e o petróleo chineses. Nada disso foi manchete.

Hillary declarou que os EUA teriam “interesse nacional” naquelas águas asiáticas. Filipinas e Vietnã foram encorajados e subornados para que mantivessem as “demandas” e as disputas contra a China. Nos EUA, as pessoas já estão sendo adestradas para ver qualquer posição defensiva dos chineses como agressão. Vale dizer que o cenário está pronto para escalada rápida rumo à guerra. E escalada similar de provocação e propaganda está em ação também contra a Rússia.

Hillary, a “candidata mulher”, deixa por onde passa uma trilha de golpes sangrentos e morticínio: em Honduras, na Líbia (plus o assassinato do presidente da Líbia) e na Ucrânia.

A Ucrânia agora é uma espécie de parque temático da CIA, pululando de nazistas, linha de frente de guerra que está sendo construída contra a Rússia. Foi através da Ucrânia – literalmente, através daquela área de fronteira – que os nazistas de Hitler invadiram a União Soviética, que perdeu, naquela guerra, 27 milhões de pessoas. Essa catástrofe épica é presença eterna na Rússia. A campanha de Hillary à presidência recebeu dinheiro de nove das dez maiores empresas fabricantes de armas do mundo. Nenhum outro candidato sequer se aproxima desses ‘números’.

Sanders, esperança de tantos jovens norte-americanos, não é muito diferente de Clinton nesse ideário pelo qual os EUA seriam proprietários do mundo além fronteiras. Sanders apoiou o bombardeio ilegal contra a Sérvia, no governo de Bill Clinton. Apoia o terrorismo de Obama operado por drones, a incansável provocação contra a Rússia e o retorno das forças especiais (esquadrões da morte) ao Iraque. Não disse coisa alguma sobre o crescendo das ameaças à China e o risco crescente de guerra nuclear. Concorda com que Edward Snowden deve ser processado e chama Hugo Chavez – o qual, como o próprio Sanders, foi social-democrata –, de “falecido ditador comunista”. E já prometeu apoiar Clinton, se for a escolhida.

A eleição entre ou Trump ou Hillary é a velha conversa fiada de escolher alguma coisa, quando de fato não há escolha: as duas faces da moeda são a mesma face. Fazendo das minorias bode expiatório e prometendo “fazer a América novamente grande”, Trump é populista doméstico de extrema direita. Mas em todos os casos Clinton pode ser mais letal para o mundo, que Trump.

“Só Donald Trump disse coisa com coisa contra a política externa dos EUA” – escreveu Stephen Cohen, professor emérito de História Russa em Princeton e na NYU, e um dos poucos especialistas em Rússia nos EUA que falou claramente sobre o risco de guerra.

Num programa de rádio, Cohen referiu-se a questões críticas que Trump, e só ele, havia levantado. Dentre elas: por que os EUA “estão ao mesmo tempo em todos os cantos do mundo?” Qual a verdadeira missão da OTAN? Por que os EUA sempre querem mudar, à força, o regime no Iraque, Síria, Líbia, Ucrânia? Por que Washington trata Rússia e Vladimir Putin como seus inimigos figadais?

A histeria da imprensa “liberal” contra Trump só faz alimentar a fantasia de “debate livre e aberto” e de “democracia em ação”. O que ele diz sobre imigrantes e muçulmanos é grotesco, mas nem isso faz dele o deportador-em-chefe das pessoas vulneráveis para fora dos EUA: o deportador-em-chefe é Obama, não Trump. O “legado” de Obama é ter traído os negros: gerou população carcerária na qual predominam os negros, já mais numerosa que a dos gulags de Stálin.

A campanha eleitoral em curso pode não tratar de populismo, mas do que o mundo conhece como “‘esquerdismo’ à moda dos EUA” [orig.American liberalism], uma ideologia que se vê ela mesma como moderna e por isso superior e a única via “de verdade”. Os que habitam a ala direita desse “esquerdismo” à moda dos EUA assemelham-se a imperialistas cristãos do século 19, que teriam a missão, dada por Deus, de converter, cooptar ou conquistar.

Na Grã-Bretanha, é o Blairismo. Tony Blair, cristão criminoso de guerra, safou-se no processo da preparação secreta para invadir o Iraque, principalmente graças à classe política dos esquerdistas à moda dos EUA [orig. liberal political class] e porque a mídia caiu pelo tal “charme britânico” [orig. “cool Britannia“] do homem. No Guardian, o aplauso foi ensurdecedor; foi chamado de “o místico Blair”. Uma brincadeirinha conhecida como política de identidade, importada dos EUA, aproveitada para promovê-lo.

A História foi declarada acabada, as classes foram abolidas e o gênero foi promovido a feminismo; muitas mulheres foram eleitas ao Parlamento pelo Novo Trabalhismo. No primeiro dia, votaram a favor de o Parlamento cortar os benefícios para famílias de pai ou mãe solteiros (a maioria, de mães solteiras e provedoras únicas), exatamente como haviam sido instruídas a fazer. A maioria da bancada ‘feminista’ votou a favor de uma invasão que produziu 700 mil viúvas iraquianas.

Equivalente a isso nos EUA são os belicistas promovidos a politicamente corretos no New York Times, Washington Post e redes de TV que dominam o debate político. Assisti a um debate feroz na CNN sobre as infidelidades conjugais de Trump. Evidentemente, diziam lá, homem desse tipo não poderia tomar conta da Casa Branca. Nada se discutiu, nada. Nem uma palavra sobre os 80% da população dos EUA, cujos níveis de renda desabaram para níveis de 1970s. Nem uma palavra sobre o alistamento militar. A palavra que desce dos céus sobre a humanidade parece ser “tape o nariz” e vote Clinton: qualquer coisa é melhor que Trump.

Só assim será possível deter o monstro e preservar um sistema que se prepara para mais uma guerra.

* John Pilger teve sua carreira como repórter iniciada em 1958, e ao longo dos anos tornou-se famoso pelos livros e documentários que escreveu ou produziu. Especializou-se nas áreas de jornalismo investigativo e direitos humanos.

NA FRANÇA, A CLASSE TRABALHADORA (RE)VIVE?



Provocados por contra-reforma trabalhista, sindicatos paralisam portos, trens e até jornais. Que diz retomada pode dizer às lutas emancipatórias?

Milton Pinheiro – Outras Palavras

A luta dos trabalhadores franceses contra o ataque daquele Estado burguês está se consolidando como uma lição para os trabalhadores do mundo. Trata-se de uma quadra de profundos ataques ao fundo público, aos direitos sociais e trabalhistas, e de políticas neoliberais radicais que, mesmo do ponto de vista capitalista, aprofundam a crise do sistema. É uma tentativa desesperada, e vulgar, da ordem do capital, de tentar revalorizar a sua lógica a qualquer custo.

Após intenso processo de mobilização e enfrentamento com a repressão do governo da social-democracia francesa – aquela que tragicamente, em qualquer cenário de crise econômica, procura sempre os ombros da classe trabalhadora para colocar o ônus das contradições da crise sistêmica do capital – surgiu nesta quinta-feira (26/5) uma resposta poderosa. É digna da cultura política revolucionária que advém dos jacobinos da revolução francesa, dos trabalhadores da primavera dos povos de 1848, dos lutadores da Comuna de Paris e tantos outros movimentos de luta da classe trabalhadora em defesa dos seus direitos. A França não teve, nesse dia, a circulação de jornais que não publicaram o comunicado público da CGT (Confederação Geral do Trabalho). Apenas o histórico jornal L’Humanitécirculou pelas bancas do país.

A ação dos trabalhadores franceses e suas organizações de classe impediu que os grandes panfletos da burguesia francesa, que não respeitam o direito à informação pública, fossem impressos e chegassem às bancas.

Nestes últimos dias, os trabalhadores radicalizaram suas ações contra o pacote de medidas do governo da ortodoxia neoliberal de François Hollande, que ataca os direitos trabalhistas e previdenciários dos franceses que estão no mercado de trabalho, bem como da juventude que irá adentrar esse espaço da vida social. Como reação, avança uma intensa jornada de lutas com grandes manifestações políticas e culturais para impedir a catástrofe social que o capital mundial e seu consórcio francês querem impor.

O bloco de lutas dos trabalhadores tem organizado, e avançado, na mobilização social. Dezenas de milhares de trabalhadores ocuparam as ruas de Paris, cercaram com atividades culturais o monumento da República, protestaram por toda a França e têm enfrentado com determinação a repressão policial. A CGT também conseguiu o apoio dos trabalhadores do controle ferroviário e aéreo, que já paralisaram suas atividades.

A intensa jornada de lutas afirmou-se de forma vitoriosa sobre algumas das mais importantes atividades industriais do país, com a paralisação de 16 das 19 usinas nucleares e o fechamento da grande maioria das refinarias e depósitos de combustível. A escassez de combustível já atinge várias localidades da França.

O bloco de lutas promete novas ações para impedir o êxito da “reforma” trabalhista anunciada, que mais uma vez atinge a jornada de trabalho com a possibilidade de aumento de 48 até 60 horas de trabalho semanal, de acordo os interesses do patrão. O governo Hollande, através dessa contrarreforma proposta, permite total liberdade ao patronato para flexibilizar e precarizar as relações de trabalho.

Esse projeto propõe o fim do adicional de horas extras para aqueles que trabalham além das 35 horas semanais, quebra a negociação por ramo de atividade e categoria para possibilitar acordos por empresas. Fato que pode quebrar a unidade da classe e a sua capacidade de articulação e organização. No entanto, como a história das lutas sociais já comprovou, os trabalhadores franceses reagiram com grande mobilização e intensidade a este ataque que veio, mais uma vez, pelas mãos da social-democracia européia.

Lutas com ações de grande impacto têm sido feitas, a exemplo do bloqueio e fechamento do porto de Le Havre na Normandia, que atingiu fortemente o deslocamento pela ponte que conecta esse importante porto às cidades e outras localidades do país. Impediu-se, inclusive, que as forças da repressão pudessem se locomover para agir essa região. Informações também apontam que piquetes de trabalhadores atingem a Bretanha, paralisando a produção industrial na área portuária de Brest.

Com essa jornada de lutas os trabalhadores franceses nos lembram: é preciso lutar e é possível vencer. O avanço desse bloco de lutas deverá tender à derrota do governo.

A França das lutas operárias e libertárias nos avisa que as barricadas estão à vista, cabe agora aos trabalhadores do mundo levantá-las por sua emancipação.

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