sábado, 16 de julho de 2016

Guiné-Bissau. PAIGC acusa justiça de "traição". PR elogia "importante" decisão do Supremo





Partido maioritário no Parlamento da Guiné-Bissau acusa Supremo Tribunal de traição à democracia

Domingos Simões Pereira, líder do PAIGC, partido vencedor das últimas eleições legislativas na Guiné-Bissau, acusou hoje o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) do país de ter traído a democracia ao tomar decisões contraditórias sobre a nomeação do primeiro-ministro.

Em conferência de imprensa, Simões Pereira reagiu ao acórdão do STJ que considerou constitucional o decreto do Presidente da República, José Mário Vaz, que em maio nomeou Baciro Djá como primeiro-ministro - seguindo-se em junho a nomeação do Governo.

"Como pode o mesmo tribunal, que há cerca de um ano foi tão contundente e pedagógico na sua deliberação, voltar atrás e desta feita seguir outro caminho, ignorar e até ridicularizar uma sua deliberação anterior", questionou o líder do PAIGC.

Domingos Simões Pereira considerou ainda que todos os políticos e cidadãos devem respeitar as decisões judiciais, quaisquer que sejam, pelo que o seu partido também irá aceitar o veredicto do STJ, mas alerta para a contradição assumida pelos juízes na apreciação do mesmo assunto, com os mesmos personagens.

O dirigente do PAIGC referia-se ao acórdão assumido pelo Supremo Tribunal guineense em agosto de 2015 que dizia ser inconstitucional na forma e na matéria a nomeação de Baciro Djá para primeiro-ministro.

"Se um acórdão não anula outro, eu penso que era de justiça que a própria câmara tomasse a providência de esclarecer como é que espera que as entidades respeitem essas duas postulações", observou Simões Pereira.

O líder do PAIGC afirmou que toda a interpretação feita pelos juízes para fundamentar o acórdão tornado público na sexta-feira "trai a democracia por se ancorar em tudo menos direito e justiça".

"Cada parágrafo deste acórdão dá para suspirar e bradar aos céus com a qualidade de montagens e distorções da realidade", que encerra, defendeu Domingos Simões Pereira, anunciando que o partido tomará ao nível do Parlamento.

MB // SMA - Lusa

Presidente da Guiné-Bissau considera "importante" decisão do Supremo Tribunal de Justiça

O Presidente da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, considerou hoje "importante" a decisão do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) do país ao definir como constitucional a nomeação do novo primeiro-ministro e o seu Governo.

Fazendo uso das competências de Tribunal Constitucional, que a Guiné-Bissau não tem, os juízes do STJ defenderam ser constitucional o procedimento adotado por José Mário Vaz, em maio, ao nomear Baciro Djá como primeiro-ministro.

Djá lidera um Governo a ser sustentado no Parlamento pelo segundo partido mais votado nas últimas eleições legislativas.

O PAIGC, partido vencedor das eleições realizadas em 2014, tinha solicitado ao Supremo que declarasse a inconstitucionalidade da decisão do chefe de Estado, alegando ter o direito legal de formar Governo.

Em curtas declarações no aeroporto de Bissau, antes de viajar para o Ruanda, onde vai tomar parte hoje e no domingo na cimeira de líderes da União Africana (UA), José Mário Vaz considerou importante o pronunciamento do STJ, mas também defendeu ser decisivo unir os guineenses.

"É importante, de facto, a decisão do Supremo Tribunal de Justiça, como um órgão de soberania (...), mas o mais importante hoje na Guiné-Bissau é unir o país, unir os guineenses, para que haja solidariedade entre nós", referiu.

O chefe de Estado falou numa necessidade de "entendimento entre diferentes órgãos de soberania" para que o país "ganhe realmente uma nova dinâmica rumo ao desenvolvimento".

Para o Presidente guineense, o importante para o país é o trabalho.

"Todos somos poucos para o desafio que temos pela frente: temos que nos unir para retirar o nosso país da situação difícil em que se encontra", acrescentou Vaz que disse preferir o trabalho a falar.

"Quem fala muito não tem tempo para trabalhar e quem trabalha não fala muito", defendeu o líder guineense, que vai aproveitar a cimeira em Kigali para explicar aos seus homólogos africanos o que se passa no país.

A situação política na Guiné-Bissau será um dos temas a debater na cimeira da UA, adiantou José Mário Vaz.

O ministro dos Negócios Estrangeiros guineense, Soares Sambu, já se encontra no Ruanda, tendo tomado parte das reuniões preparatórias da cimeira que, entre outros assuntos, vai debruçar-se sobre as estratégias para o combate ao HIV/SIDA no continente africano.

MB // SMA - Lusa

NAS ELEIÇÕES DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE “DÃO O BANHO” E CONSPURCAM A DEMOCRACIA



Sempre que se realizam eleições em São Tomé e Príncipe a notícia vai bater na mesma tecla ou no… “banho”. 

O banho é a forma airosa de os candidatos comprarem os votos dos eleitores. Tradição. A cumplicidade entre candidatos e eleitores é vergonhosa. Podemos dizer com toda a propriedade que aquela espécie de "banho" desvirtua e conspurca fraudulentamente o processo eleitoral e a democracia. Democracia? Que democracia?

Sempre que há eleições em São Tomé e Príncipe ficamos a saber que o candidato vencedor conseguiu comprar mais votos que os seus antagonistas porque destinou maior verba monetária para ser eleito. “Democraticamente” eleito.

As eleições presidenciais realizam-se amanhã, domingo. Que candidato presidencial despenderá de mais dinheiro vivo para comprar mais votos?  Uma corrente de sãotomenses no exterior dizem que já sabem quem é o vencedor, afirmando que vai “ser eleito PR o preferido do atual primeiro-ministro Trovoada". Os Trovoada “têm sido uns mãos largas a darem o banho.” Ficamos a saber e registamos que são uns quantos batoteiros a “darem banho” de mãos sujas. Quem dá mais?  Democracia? Que democracia? (PG)

Multibancos da capital sem dinheiro em véspera de eleições

Paulo Jorge Agostinho, enviado da agência Lusa

São Tomé, 16 jul (Lusa) - As caixas multibanco estão hoje fechadas na capital são-tomense por falta de dinheiro, na véspera das eleições presidenciais, momento tradicional de compra de votos no país.

"Ontem [sexta-feira] havia gente a sair com sacos de notas", disse à Lusa João Santana, um elemento associado a uma das mesas eleitorais do país.

Ao final do dia, muitas caixas multibanco (Dobra 24) já estavam fechadas e hoje nenhuma das que se localizam nas artérias principais da capital estavam a funcionar, constatou a Lusa no local.

O 'banho' é uma tradição da democracia são-tomense. Os eleitores estão habituados a serem pagos pelas candidaturas, explicou Filinto Costa Alegre, jurista são-tomense.

Todos os candidatos disseram à Lusa discordar do 'banho', mas a compra de votos é esperada por todas as partes.

"Sabe como é, isto é São Tomé. Toda a gente fala mal do 'banho', mas toda a gente toma banho", disse João Santana.

Candidatam-se às presidenciais são-tomenses de domingo o atual Presidente, Manuel Pinto da Costa, como independente, Evaristo Carvalho, apoiado pela Ação Democrática Independente (ADI, no poder), Maria das Neves, apoiada pelo Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe -- Partido Social-Democrata (MLSTP-PSD), o professor Manuel do Rosário e o economista Hélder Barros.

PJA (VM) // NS

Angola. VOO POR CIMA DE UM NINHO DE REVÚS – entrevista a Nuno Dala



O Folha 8 inicia hoje uma série de entrevistas sobre o que pensam os Revús. E, para começar, eis a opinião de Nuno Dala, por muitos considerado “a arma secreta do grupo”.

António Setas – Folha 8

À semelhança do que se passou com a selecção de Portugal no decorrer do Euro 2016 de Futebol, em que o herói dos vencedores lusos foi um negro da Guiné-Bissau, o Eder, por assim dizer desconhecido do público em geral e apelidado “patinho feio” entre os seus camarada da selecção, o Folha 8 escolheu o seu herói e começa nesta edição toda uma série de entrevistas com enfoque na personalidade dos membros do grupo, começando por levar à estampa nesta edição uma entrevista de um elemento pouco mediático, mas muito importante dos Revús, Nuno Dala.

De Nuno Dala, 31 anos, professor universitário, há quem diga que ele é “a arma secreta do grupo”. Iniciou uma greve de fome a 10 de Março de 2015 que durou cerca de um mês, em protesto por as autoridades lhe terem confiscado os seus bens no decorrer da sua detenção, entre ao quais Bilhete de Identidade, cartão bancário, computador, impressora, telefone, documentos e livros. Terminado o julgamento e ditada a sentença, as autoridades continuam, ainda hoje, na posse de objectos pessoais dos activistas, inclusive os seus.

(Nota: o Tribunal Supremo de Angola notificou já o juiz da causa do julgamento dos 17 Revús (a 14.07.16) para a restituição imediata dos bens arrolados ao processo. Falta obedecer, o que não é evidente em Angola)

De salientar que a obra da sua lavra, “O Pensamento Político dos Jovens Revús – Discurso e Acção”, é a primeira deste docente universitário. Foi apresentada em Lisboa no dia 27.05.2016, no Café Hollywood, na Mouraria, em interacção com a mulher em Luanda, no dia de aniversário da sua filha, Joaquina. Que tinha três semanas de vida quando ele foi encarcerado.

Folha 8 – Depois da decisão tomada para vos libertar condicionalmente, apareceram na baila mediática e mesmo em órgãos oficiais, analistas a dizer que essa decisão era uma prova cabal de que em Angola existe separação de poderes políticos. Está ou não está de acordo?

Nuno Dala – Não estou de acordo com o discurso dos analistas do regime. José Eduardo dos Santos viu-se deveras encurralado. Os grandes poderes subterrâneos colocaram-no entre a espada e a parede. A espada era demasiado afiada para ser ignorada e a parede extremamente densa e alta para o bloquear internacionalmente. Quanto à situação interna, ele viu-se pressionado perante os apelos incessantes da sociedade angolana, incluindo no seu círculo interno, para que pusesse fim à aventura iniciada em Junho de 2015. Na verdade o regime viu-se em terreno lúgubre. Deve também ficar claro que as próprias condições socioeconómicas, sociopolíticas e psicopolíticas em si não deram ao regime banditesco e ao seu chefe qualquer espaço de manobra.

F8 – Esteve encarcerado em vária prisões, que opinião tem sobre a qualidade de vida que elas proporcionaram? É assim tão mau como se divulga na imprensa privada? A comida, a água, os maus-tratos e a convivência…

ND – Tanto no Estabelecimento Prisional de Kakila, Comarca de Viana como no Hospital Prisão São Paulo, onde estive, a comida nem sequer devia ser servida a animais. A água de Kakila é a pior. É acastanhada. É péssima. Não há bibliotecas, centros culturais e desportivos para usufruto dos reclusos. O ambiente não é o de reeducação/reabilitação. É infernal. Mas, no quadro geral, sempre fomos tratados como presos especiais, o que, porém, não me impediu de enxergar a realidade.

F8 – Alguma vez sentiu que estava em perigo de morte?

ND – Sim. Isto foi durante os primeiros dias, em que as transferências da 29ª Esquadra (onde está alojada a sede do Serviço de Investigação Criminal) para outra esquadra (junto da Centralidade do Sequele) foram feitas na calada da noite e num clima de silêncio total dos agentes do SIC e do SINSE. Eu nem sequer sabia para onde ia, logo, e porque eles estavam armados até aos dentes, pensei que estava a ser levado a uma mata qualquer para ser executado.

F8 – De que maneira ficou a saber que ia ser solto?

ND – Pela TV Zimbo. Fui o primeiro dos meus 11 companheiros da Ala C a saber, através de uma “sinopse” do noticiário, o qual seria apresentado às 13.00.

F8 – Qual foi então a primeira ideia que lhe passou pela cabeça? Persiste em pensar hoje da mesma maneira?

ND – Fiquei céptico. Aliás, até achei que fosse piada de mau gosto. De qualquer modo, ficou demonstrado que era verdade. Seríamos soltos.

F8 – Vocês vão continuar a contestar, pensamos. Tem alguma coisa a dizer sobre como vai ser organizada e executada essa contestação?

ND – O activismo será mais sofisticado e desenvolvido tanto no discurso político-social como nas formas e métodos de luta.

F8 – Pensa que a sua (vossa) contestação pode levar a uma ruptura interna no seio do MPLA?

ND – Creio que já provocamos uma fissura.

F8 – E depois, se isso acontecer, a seu ver, haverá mudanças em que sentido, vira o disco e toca o mesmo, ou nova política?

ND – Caso a fissura se transforme em ruptura, prevejo uma agenda de concertação política e social.

F8 – Se a nova política vingar, vai ser como, para uma viragem para aumento da repressão ou para uma tentativa de liberalizar? E essa tentativa tem alguma chance de êxito?

ND – Certamente, desde que as diversas partes coloquem os interesses dos Angolanos em primeiro lugar.

F8 – A seu ver, se houver uma mudança de partido no poder, que destino será dado aos actuais dirigentes do governo de Angola?

ND – Defendo a reconciliação vertical e horizontal. As caças às bruxas não se compadecem com a tese do Pacto de Nação, que eu defendo há algum tempo.

Leia mais em Folha 8

Angola. “HÁ FOME INTENSA NO CUANDO CUBANGO” – Sapinala (com áudio)



O secretário provincial da UNITA no Cuando Cubango, Adriano Sapinala, afirmou que as autoridades tradicionais no país já não são independentes e que trabalham para o partido no poder.

“Lamentavelmente, as autoridades tradicionais transformaram-se em militantes do MPLA”, disse Sapinala, acrescentando que “são manipuladas pelo poder executivo”.

O secretário provincial da UNITA falava no programa “Angola Fala Só”, onde revelou que há fome intensa entre a população do Cuando Cubango.

Sapinala disse que o Cuando Cubango é a província que menos beneficiou do crescimento económico registado no país antes da crise e também aquela que menos recursos recebeu do Orçamento do Estado.

Como resultado, a província vive situações muito difíceis, por exemplo, com uma rede rodoviária de apenas 400 quilómetros que deixa muitas zonas isoladas.

Sapinala afirmou que no aspecto político há discriminação contra os cidadãos que não pertencem ao MPLA.

“O cartão de militante (do MPLA) é melhor que o Bilhete de Identidade”, disse.

Como exemplo da intolerância política, o secretário provincial da UNITA referiu-se ao ataque em Abril no Mocusso.

A UNITA, disse, "identificou os atacantes, apresentou uma queixa criminal e aguarda agora pela resposta das autoridades".

Sapinala fez notar outros ataques através do país contra militantes da UNITA e afirmou que o MPLA parece estar interessado em regressar à guerra.

O secretário provincial da UNITA disse que o seu partido nunca seguiria uma política de nepotismo e de favoritismo dos seus quadros se for Governo.

O partido do ´galo negro´, garantiu, “pode representar mudança para todos, no poder “não há quadros da UNITA, há quadros do país”.

Voz da América


Escravos modernos angolanos, morte de músicos, Rafael Marques e Rádio Despertar



Fernando Vumby, opinião

ELES MANIPULARAM O POVO DE TAL MANEIRA QUE CONSEGUIRAM TORNÁ-LO SEU ESCRAVO MODERNO CONTENTE COM A SITUAÇÃO

E isto vamos ver para crer em 2017 depois de mais um processo eleitoral esquisito, carregado de manipulações como tudo indica, onde os escravos (modernos) como sempre vão continuar aplaudindo, enquanto os iludidos de sempre pela pseudo democracia vão se curvar em nome de uma paz inexistente.

Todos os dados explorados até agora, todas as conversas de bastidores com conhecidos fardados e civis, ex-camaradas do outro tempo, assim apontam - mesmo que os problemas sociais com que os angolanos se debatem hoje venham a ser muito piores.

E tudo isto porque nem os analfabetos acomodados, os pobres de espírito e nem os ilustrados iludidos pela (democracia) musculada conseguem perceber que enquanto não se aceitar enfrentar de peito aberto este regime a mudança não deixará de ser um pesadelo.

Que venha o 2017 para vermos os rostos dos candidatos (maravilhosos). Cada um vendendo as suas promessas no jogo da compra e venda de votos dos vivos e dos mortos para dar tudo certo e iludir cada vez mais os escravos modernos (contentes) beneficiando os vigaristas e corruptos habituais...

Manos! Só mesmo quando todos nós pensarmos em nós mesmos e nos outros, verdadeiramente preocupados com o bem estar de todos os angolanos, então nesse dia a ilusão e os pesadelos acabarão e sairemos desta condição de escravos modernos.

QUEM NÃO DESCONFIA PELA FORMA COMO MORREM OS MÚSICOS ANGOLANOS QUE PONHA O DEDO NO AR

Estou curioso em saber como funciona a censura musical em Angola e quantos músicos não conotados com o regime terão pago com suas próprias vidas por não aceitarem convites para atuarem em maratonas carregadas de cerveja de borla e atos comemorativos de significado partidário?

Vou acabar por saber e não vai ser difícil como às vezes pensam e acreditam. Existem sempre fontes escritas, orais e materiais fora e dentro país. Com algum jeito e experiências acumuladas vou mesmo perseguir todas as pistas e vestígios até descobrir o muito que ainda se esconde por detrás de algumas versões postas no ar raramente não pelos próprios carrascos sobre as verdadeiras causas das mortes de alguns músicos.

Vou dar toda prioridade aquelas fontes habituais como sempre, que me garantem melhor qualidade de informações, fiéis em seus dados e pesquisando junto de coleções documentais em armários mal fechados. Acabarei mesmo por vislumbrar não apenas o impacto da ditadura eduardista em Angola, assim como as ações dos seus esquadrões da morte mascarados de movimentos espontâneos, comités de ação ou Sinfo - entre outros tantos nomes e siglas.

É o saber da existência de perseguição a músicos que não se identificam com o regime, o controle cerrado e proibição de certo tipo de música na televisão e rádios públicos que me inspira a perseguir até ao fim alguns rastos, nem por isso escondidos com sucesso como alguns acreditam estupidamente.

Nem já no tempo colonial se controlava desta maneira a circulação das músicas e dos músicos, nem havia tantos roubos encomendados de CD, exatamente na hora em que os músicos preparam a promoção dos seus álbuns como acontece hoje.

Até a participação em grandes concertos é impedida, fora e dentro do país, assim como shows em centros recreativos se o músico não tiver cartão de militante do MPLA conforme Yuri Da Cunha, D. Caetano, Matias Damásio ou Maya Coll, por exemplo. “Sem cartão nem pensar nisso”, dizia um músico anti JES/MPLA.

RAFAEL MARQUES (MAKA ANGOLA) & RÁDIO DESPERTAR: UM PROJETO DE SOLIDARIEDADE AOS REVÚS QUE MEXEU MUITO E TIROU SONOS

Ficou provado que mesmo onde o uso da violência política e policial já permitiu a construção de um Estado sem limites repressivos, nem sempre é preciso ter garras de leão para se enfrentar esse regime.

Com a libertação dos jovens (REVÙS) não podemos negar que somamos mais uma vitória, apesar de se continuar a sofrer e a morrer. A estare desaparecida muita gente. Recordo-me neste momento dos cento e tantos Lundas em defesa da liberdade, da justiça social e desta nossa luta por uma Angola melhor para todos os angolanos.

Resgatar essa história da detenção, julgamento e condenações encomendadas pela presidência da República, dos jovens (REVÙS) julgo ser necessário não só para que não se percam as conquistas fruto das lutas das suas mães, dos advogados, da sociedade portuguesa solidária e deste que foi para mim o maior sinal alguma vez dado ao regime de que a sociedade está sensibilizada, mobilizada e vai continuar a lutar de forma pacifica como ficou provado no projeto de solidariedade aos REVÚS sob organização de Rafael Marques e Rádio Despertar.

Pela informação que tenho este foi um dos projetos que mais tirou o sono e aconselhou o opressor angolano JES/MPLA a refletir muito seriamente em relação à situação e libertação dos REVÙS o mais rápido possível.

Um projeto que parecia condenado e sem pernas para andar e que de forma assustadora ganhou velocidade estrondosa e mobilizou todas as sensibilidades políticas e religiosas nacionais - como provou o número de aderências e presenças.

O regime deu conta da força e capacidade mobilizadora da Rádio Despertar e um aspeto devo considerar aqui: a pujança de Rafael Marques e o respeito misturado com medo que o regime passou a ter da consolidação cada vez mais sólida das suas iniciativas, para além da já famosa luta contra a corrupção e defesa dos Direitos dos angolanos.

O opressor angolano JES percebeu que caso não libertasse os jovens a onda de aderência e simpatia á volta de outras iniciativas de solidariedade para com os REVÚS pudesse aumentar de forma assustadora. Que talvez perdessem o controle da situação.

Prender todos os aderentes e fabricar motivos como habitualmente para os julgar e condenar coletivamente já não está a ser tarefa fácil para um JES/MPLA cada vez mais fragilizados, podres de divisões e descontentamentos internos. Ao ponto que já se desconfiar que o general fulano de tal ainda se pode se revoltar e entornar o caldo todo...

Fórum Livre Opinião & Justiça - Fernando Vumby

A TEORIA ECONÓMICA DOS 1%: COMO DESCONSTRUIR A TEORIA CONVENCIONAL



John Weeks [*]

Durante muitos anos perguntei-me porque tantas pessoas bem informadas manifestam ignorância de aspectos simples da nossa economia. Demorou décadas para perceber que a resposta a esta pergunta repousa em grande parte na resposta a uma segunda: por que estudantes da teoria económica convencional (mainstream)não sabem quase nada acerca da economia real, mas consideram-se peritos embrionários neste campo?

As respostas a estas perguntas são semelhantes e simples. Elas motivaram o meu livro. Os economistas convencionais têm tido um êxito extraordinário em doutrinar pessoas levando-as a acreditar que os trabalhos da economia são demasiado complexos para qualquer pessoa entender, excepto peritos (isto é, os próprios economistas). A economia que eles afirmam revelar-nos não existe. Eles criaram-na, a alternativa reaccionária ao mundo no qual as pessoas vivem e trabalham. Ensinar estudantes acerca desta economia imaginária impede-os, assim como o público, de entender a economia real.

A teoria económica mainstream doutrina tanto os estudantes como o público pois representa mal os mercados, propalando falsidades sistematicamente. Como parte desta doutrinação, os [economistas] convencionais capturaram a profissão, a seguir expurgaram-na de keynesianos, ricardianos, marxistas, institucionalistas e todos os outros dissidentes. A disciplina que se chama a si própria ciência económica (economics) é uma doutrina religiosa dedicada ao culto dos mercados e os seus membros são sacerdotes desta doutrina.

Economistas convencionais tipicamente descartam dissidentes como incompetentes, insuficientemente matemáticos e técnicos. Mas os incompetentes são os seguidores da doutrina convencional, sobrecarregando a profissão e o discurso público com um peso morto de inconsistências absurdas que eles apresentam como teoria. Em séculos passados astrólogos e alquimistas representaram uma barreira para o entendimento do mundo natural. Em grande parte do mesmo modo, as constantes adulterações neoclássicas da realidade impedem o entendimento das circunstâncias económicas nas quais as pessoas vivem, trabalham e sustentam-se.

Em consequência desta adulteração não há consequência política ou económica tão reaccionária ou ultrajantemente anti-social que alguns economistas convencionais não defendam e a maior parte dar-lhe-ia seu apoio tácito. Dentre os absurdos reaccionários inclui-se que discriminação de género e de raça é uma ilusão, que o desemprego é voluntário e que o sector público é ineficiente.

Os [economistas] convencionais propõem e praticam uma falsificação da teoria económica. Eles são econo-falsificadores, presos a uma fraudulenta teoria económica pseudo-científica, tal como astrólogos deturpavam o cosmos e alquimistas apregoavam o contra-senso da transubstanciação química. A ideia de que economias de mercado estão sempre e continuamente em pleno emprego subjaz à estrutura teórica destes convencionais. Todas as conclusões teóricas e políticas derivam desta premissa falaciosa. É a inexorável e indesculpável presunção do pleno emprego, contrária à realidade, que mais do que qualquer outra coisa qualifica os economistas mainstreamcomo "falsificadores". Tal como os astrólogos, alquimistas e criacionistas dizem asneiras acerca do mundo natural, os neoclássicos propõem e defendem zelosamente uma versão falsa da sociedade de mercado.

Se, depois de se apropriarem da profissão, a escola neoclássica tivesse sido conduzida ao descrédito – como aconteceria se criacionistas assumissem o comando da genética, se astrólogos fossem guindados à astronomia e alquimistas capturassem laboratórios de química – a sua ofensa classificar-se-ia como um crime intelectual menor. Contudo, eles tiveram êxito em vender o seu dogma como sabedoria incontestável para a orientação de governos. Não é sabedoria. É um vírus do intelecto que corrompe o cérebro, tornando-o incapaz de pensamento são.

Alguns críticos reclamam que economistas arrogantemente pretendem entender muito mais do que realmente entendem. Esta crítica é demasiada fraca. O mainstream afirma ter conhecimento profundo da economia, mas não entende quase nada da mesma e obscurece quase tudo. A suposição do pleno emprego serve como véu de ocultação, representando mal "o problema económico" como aquele de distribuir recursos escassos. A realidade é a oposta. O problema económico central em sociedades de mercado é gerar trabalho útil e produtivo para aqueles que o desejam. Em sociedades de mercado o trabalho é abundante, não escasso.

Grande parte da imerecida credibilidade de economistas mainstream resulta da sistemática promoção da ignorância ao longo dos últimos trinta anos por parte dos economistas neoclássicos e dos media. Entender a economia não é simples, mas não mais difícil do que entender suficientemente o sistema político para votar. As pessoas vão regularmente às cabines eleitorais e escolhem candidatos ou rejeitam-nos todos. As mesmas pessoas manifestam uma ignorância da teoria económica que as deixa incapazes de avaliar teses competidoras acerca da política pública.

Meu primeiro livro explica que relações e processos económicos podem ser entendidos pelo público geral e que a perícia apregoada pelos [economistas] convencionais é um espectáculo de enganos e encobrimentos (smoke-and-mirrors). Em linguagem não técnica reformulei então a teoria económica como deveria ser: o estudo de sociedades com recursos ociosos e como induzir o que permanece ocioso à utilização produtiva. Este foi o contexto teórico para todos os grandes economistas, desde Smith e Ricardo até Marx e Hobson e continuando até Keynes, Galbraith e Kalecki. Rejeitar o absurdo dos recursos escassos leva a uma refutação das parábolas reaccionárias dosmainstream, das quais as mais importantes são:

O desemprego resulta de altos salários e/ou de apoio demasiado generoso àqueles sem trabalho (trabalhadores causam seu próprio desemprego); 

Demasiada moeda em circulação causa inflação e é invariavelmente o resultado de despesas pública excessivas (governos causam inflação); 

A competição faz mercados eficientes e traz benefícios para todos, tanto internamente como no comércio internacional (a competição beneficia toda a gente, a regulação prejudica todos); e 

As regulações do sector públicos interferem com a livre escolha das pessoas e solapam a eficiência dos mercados (o governo é um fardo).

No meu livro mostro que estas parábolas reaccionárias derivam do mundo de fantasia do pleno emprego, não de teoria sã. Os economistas de pacotilha dão-lhes credibilidade superficial ao apresentarem pessoas como produtores e consumidores que procuram obter ganho individual. Na teoria económica do mundo real, as pessoas não são primariamente produtoras e consumidoras. As economias de mercado são sociedades de classe na qual a vasta maioria procura através de meios sociais regular, reformar e limitar o dano colateral criado pela competição de mercado. E ao assim fazer, alcançar, se possível, uma sociedade produtiva de pleno emprego apta para a vida humana. 


O original encontra-se em http://iippe.org/wp/?p=2342

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ 

CORBYN E SANDERS E A DEMOCRACIA BLOQUEADA



A ascensão de outsiders potentes, nos EUA e Grã-Bretanha, revela: desejo de superar crise da política chegou também ao centro do sistema

Paul Rosenberg – Outras Palavras - Tradução: Inês Castilho

As comparações entre Bernie Sanders e Jeremy Corbyn não são novas. Ambos são idiossincráticos, social-democratas estranhos – “velhos socialistas rabugentos”, dizem alguns – que alcançaram relevância representando pontos de vista populares abandonados pelas elites, particularmente as elites dos partidos institucionais de centro-esquerda em seus países. Ambos foram vistos como candidatos marginais quando surgiram pela primeira vez, ano passado, e as elites mal podem esperar para marginalizá-los novamente – mas isso pode não ser tão fácil, tanto por quem são quanto pelo que representam.

As similaridades começaram a funcionar primeiro quando Corbyn venceu a eleição para líder do Partido Trabalhista, naturalmente recebendo os cumprimentos de Sanders. Mais tarde, quando Sanders venceu as primárias de New Hampshire, as comparações aumentaram. Seus apoiadores, para começar, eram incrivelmente semelhantes. Havia vozes discordantes, mas as amplas correspondências eram tão espantosas que até Tony Blair foi obrigado a notá-las, mostrando sua frustração, o que levou Deborah Orr, principal comentarista do The Guardian, a responder:

Tony Blair admite estar “frustrado” pela ascensão de Jeremy Corbyn e Bernie Sanders por causa da “questão da elegibilidade”. Para ele, essas escolhas simplesmente não são pragmáticas. Não importa quão boas sejam as ideias abraçadas pelos candidatos, para Blair a questão-chave é se eles podem ou não chegar ao poder. Não que ele pense, exatamente, que Corbyn e Sanders estão cheios de excelentes ideias: “Taxas de matrícula grátis: bem, é ótimo”, diz ele. “Mas alguém vai ter de pagar por isso.”

Mas a resposta é óbvia, claro. O próprio pragmatismo parece não ser mais eficientemente pragmático. E as políticas praticadas por Blair acabaram em desastre, a despeito da suposta esperteza da conciliação promovida por ele.

O mesmo poderia ser dito do pragmatismo de Hillary Clinton. Porém, ela foi pragmática o suficiente para mover-se à esquerda em resposta a Sanders – um processo que continuou mesmo depois que foi declarada provável candidata; e que Sanders havia perdido as chances de exercer influência.

Também Corbyn estava supostamente liquidado depois do voto do Brexit. Ele sofreu um voto de desconfiança entre os membros trabalhistas do parlamento por 172 a 40. Para os parlamentares, as únicas questões colocadas eram como ele sairia, e quem o substituiria. Contudo, ao mesmo tempo a principal candidata para substituí-lo, Angela Eagle, ficou constrangida quando sua seção local do Partido Trabalhista opôs-se ao voto de desconfiança. Vale lembrar que Corbyn recebeu apoio maciço dos membros do Partido Trabalhista quando publicou uma mensagem desafiante, reafirmando seu compromisso com os princípios tradicionais do Partido Trabalhista e com seus apoiadores. Os conspiradores admitiram a derrota:

Um parlamentar veterano disse ao The Telegraph: “Acabou. Ele vai vencer facilmente num segundo turno, se estiver concorrendo — e isso é tudo o que desejamos evitar.”

Democracia! Mas que amolação!

Nos Estados Unidos, os comentaristas da elite estavam intrigados, se nãodesdenhosos, quando Sanders focou na luta por uma plataforma que refletisse seus objetivos. Mas quem presta atenção a plataformas, de qualquer maneira? Sanders viu o desprezo da elite pelo seu programa como algo que podia tornar-se uma vantagem para si. As plataformas são irrelevantes somente quando não há ninguém para levar os líderes partidários a se responsabilizar por elas. Para ter certeza de que haverá alguém, é preciso travar uma luta a seu favor – precisamente o que Sanders fez, ao sustentar seu apelo por uma revolução política. Os resultados foram impressionantes, como notou Steve Bennen:

O documento, que está disponível na íntegra, é surpreendente porsua audácia em tudo, da faculdade comunitária gratuita à expansão da Seguridade Social, à derrubada do financiamento dos partidos pelas empresas, à proibição de armas semi-automáticas eà reforma de justiça penal para revogar a Emenda Hyde, que impede o financiamento público ao aborto.

Espera-se que a campanha de Clinton volte para o centro. Mas a equipe de Sanders alterou a dinâmica – talvez permanentemente. Eles estabeleceram limites – aceitos pelo partido – que podem levar a giros à esquerda no futuro, mas não à direita. Se isso é o que já está na plataforma, as pessoas serão encorajadas a continuar pensando cada vez mais além da lógica “pragmática”.

A questão não se limita à plataforma. A própria Hillary anunciou recentemente uma mudança significativa em sua política para a educação superior, inclusive “eliminando a mensalidade em universidades públicas estaduais para famílias com renda inferior a 125 mil dólares anuais em 2021”. Embora ainda insuficiente, isso representa um avanço significativo:

Ele poderia ajudar a mudar o entendimento sobre onde está o poder. Poderia ajudar mais gente a enxergar o que o ativista e o organizador inteligente já veem: que se a sociedade fosse capaz de se organizar, talvez pudesse identificar o poder fora de onde ele é visto normalmente. Não um poder abstrato, mas o poder para mudar os termos e as condições concretas da vida cotidiana.

Isso é precisamente o que Bernie Sanders quer dizer com uma revolução política. E com todas as deficiências que se pode ainda ver no programa de Hillary, essa significativa mudança torna ainda mais poderoso o reconhecimento de Sanders.

Sim, Sanders e Corbyn são líderes improváveis, precisamente porque todas as estruturas de liderança da elite perderam o rumo, deixando um vazio que só poderia mesmo ser preenchido por estranhos improváveis. A descoordenação das elites, que proporcionou a de ambos, não desaparecerá, ainda que seja possível livrar-se de Sanders e Corbyn da uma hora para a outra. Mas o desejo das multidões por uma democracia que funcione – uma democracia que responda de fato às necessidades das pessoas – também não está desaparecendo. Esse é o significado real de Sanders e Corbyn – eles ajudaram a reacender esse desejo.

Portugal. UM PAÍS DA TRETA, POLÍTICAMENTE CORRETO



Só em Portugal é que o patriotismo bacoco se julga engrandecido por ter um ex-político que finalmente assume a sua faceta de vendedor do templo.

Paulo Baldaia – TSF, opinião

Só em Portugal é que há rodriguinhos para criticar a decisão, altamente condenável do ponto de vista ético, de Durão Barroso ir para o Goldman Sachs. Só em Portugal é que o patriotismo bacoco se julga engrandecido por ter um ex-político que finalmente assume a sua faceta de vendedor do templo. Só em Portugal é que alguém que critique Durão Barroso por aceitar ser "chairman" de um banco de investimento que ajudou a derrotar a Europa é considerado ressabiado e invejoso. Só em Portugal é que quem tem vergonha de ver um português nestas andanças é considerado um traidor.

Lá por fora, sucedem-se as críticas ao comportamento do ex-presidente da Comissão Europeia, críticas cada vez mais indignadas e cada vez mais violentas. E não, não é porque queriam lá um francês, um espanhol, um dinamarquês ou um alemão. É porque toda a gente percebe que Durão não tem os méritos que o seu séquito apregoa que tem, porque toda a gente sabe que aquilo parece o que é, uma traficância. E sabendo isso, sabem também que este é mais um prego no caixão dos burocratas de Bruxelas. Mas não são apenas eles a sofrer com esta decisão, é também Portugal que se desprestigia, quando se julga a marcar pontos.

Por cá, o Presidente diz que gosta, o primeiro-ministro cala-se e a esquerda critica. É mesmo da treta este país, que transforma uma questão ética grave num jogo entre a esquerda e a direita. Politicamente correcto é, neste caso, o mais baixo grau da política.

Portugal. Das sanções e da direita – impedir uma só leitura, impedir a união dos portugueses



Isabel Moreira – Expresso, opinião

No que toca aos efeitos de eventuais sanções impostas aos portugueses só há uma leitura: são maus.

Não é possível um “debate” ideológico sobre a simplicidade desta conclusão. Não estamos a falar de modelos de economia, de visões acerca do papel do Estado na área y ou x. Estamos numa novela cujo efeito possível é sancionar Portugal. No momento em que escrevo, ainda não sei do final da novela, mas isso é irrelevante para o que me parece ser de sublinhar.

Havendo uma só leitura no que toca aos efeitos de qualquer tipo de sanção sobre os portugueses, seria normal, por consequência, haver um único discurso sobre este momento que estamos a atravessar.

Não só seria normal, como seria o espectável do ponto de vista moral e ético. Repito: a eventual aplicação de sanções aos portugueses só tem uma leitura possível. Não há como encontrar um partido político a defender a bondade das sanções, por exemplo, para o desenvolvimento económico para o país.

Esta evidência faria esperar que as nossas circunstâncias fizessem subir os padrões morais dos líderes dos partidos à direita, no sentido de surgir claro nas portuguesas e nos portugueses uma questão mobilizadora, porque de uma evidência atroz, de uma só leitura, do domínio do político, mas também do domínio do psicológico.

Sim, também do domínio do psicológico, o que em nada contraria o domínio da política, antes o complementa, esse domínio que também salta à evidência, quando pensamos num povo que foi alvo direto da política de austeridade, política em contínuo, por mais que demonstrasse não surtir outra coisa que não afunilamento. Esse povo, composto de mulheres e homens concretos, vê quem ditou e dita essa política a ameaça-los com punições porque o governo anterior não cumpriu por décimas o limite do défice, donde castigo, donde mais sacrifício? Isto não deveria causar um sobressalto cívico?

Quando homens e mulheres a quem tudo foi pedido em nome de uma política europeia única ouvem de ministros de negócios estrangeiros de outros países e de instâncias europeias que Portugal deveria continuar “as políticas anteriores” sabem que está a ser-lhes dito, basicamente, que não têm o direito de usar o seu voto para mudar de política interna. Isto não deveria causar um sobressalto cívico?

Penso que o sobressalto existe, apesar de não ter expressão em manifestações de união espontânea ou em fenómenos do tipo.

Infelizmente, aquilo que sei que existe é a tentativa de impedir esta perceção simples por parte dos portugueses e das portuguesas: a aplicação de eventuais sanções aos portugueses é uma péssima decisão com péssimas consequências para Portugal.

É o que se vê por parte da direita portuguesa desde o início da novela das sanções. Desde Maria Luís a afirmar que se fosse ministra não haveria sanções a Cristas a afirmar que António Costa acordou tarde para o problema e que não se esforçou o suficiente para “convencer” o Ecofin.

Estes partidos que foram o governo que não cumpriu a meta exigida para não se abrir o procedimento de sanções fizeram de tudo para atrapalhar o esfoço do primeiro-ministro enquanto, ao longo de cada semana, produziam pérolas na comunicação social, como a exigência em alta voz da divulgação da carta que António Costa escreveu para defender Portugal (não fosse o PM um malandro) para ficarem desarmados quando a leram.

Desarmados, mas não calados. Continuam. Continuam, porque não interessa a um Passos Coelho já sem rumo nem a uma Assunção Cristas no desespero de ainda não ter encontrado um rumo ceder por uns dias ao interesse nacional, ceder perante a única atitude ética e moral possível neste momento: contribuir para a verdade indesmentível que devia ecoar com o esforço de todos, essa que nos devia dizer a uma só voz que a aplicação de sanções a Portugal é injusta, desigual, imoral e com consequências evidentemente negativas.

Quando a política consegue fazer isto, contribui para o tal sentir coletivo politico e psicológico perante um facto opressivo.

Terrivelmente, na questão das sanções, temos mais um exemplo de como a direita se encaminha para vestes de uma direita popular, pronta para esmagar o interesse nacional se ao voto isso for conveniente, presa ao seu passado recente de política única e pronta para estar pronta.

Turquia. “ERDOGAN NÃO É FLOR QUE SE CHEIRE”, É UM “CÚMPLICE” DO ISIS



Marisa Matias acompanhou a situação na Turquia e teceu críticas ao presidente Erdogan.

“O mundo está mesmo um lugar estranho”, comentou Marisa Matias no seu Facebook.

A eurodeputada diz ter acompanhado com “preocupação máxima” a tentativa de golpe de Estado falhada que abalou a Turquia esta noite e teme as suas consequências.

“Um golpe militar num país divido e ferido até ao tutano só nos pode fazer temer mais uma guerra que se poderá arrastar”, escreveu.

Marisa Matias não dispensou ainda uma crítica à União Europeia que se pôs “nas mãos de Erdogan para fugir às responsabilidades”.

Já o Presidente turco é alvo de comentário ainda mais recriminador. “Erdogan não é flor que se cheire, quis ser o sultão do Médio Oriente e tornou-se num ditador para com o povo curdo e um cúmplice do auto-proclamado Estado Islâmico”.

Carolina Rico – Notícias ao Minuto

POKÉMON GO: UM PROJETO SECRETO DA CIA?



Acaba de ser lançado o jogo de realidade aumentada Pokémon Go, que em poucos dias enlouqueceu milhares de usuários nos EUA e Austrália.

O jogo para celular tomou conta dos usuários, levando-los às ruas em busca destes personagens do desenho animado japonês que, usando a câmera, aparecem nas telas de seus dispositivos mas em um ambiente real.

A internet ficou lotada de testemunhos de jogadores traumatizados e obcecados com a busca, assim como de preocupações sobre os riscos que podem representar para a privacidade dos usuários.

Neste sentido, o site Infowars sugere que o jogo está vinculado à CIA.

Segundo o site, a empresa Niantic que desenvolveu o jogo foi fundada por John Hanke, que antes foi diretor da empresa de software Keyhole e recebia fundos da entidade de capital de risco In-Q-tel.

Embora a empresa seja tecnicamente independente, seu objetivo é manter a CIA equipada com os últimos desenvolvimentos da tecnologia informática e investir em "soluções tecnológicas para apoiar missões da comunidade de inteligência dos EUA".

O jogo de realidade aumentada criado pela Niantic usa as câmeras e o GPS de milhões de usuários que literalmente "escaneiam" o que ocorre ao seu redor buscando seus "Pokémons"

Segundo esta teoria, esta tecnologia pode tornar os jogadores em "sondas de vigilância" que gravam seu ambiente, inclusive dentro de suas casas, espiando onde os satélites não podem chegar, por isso conclui que tal jogo seria um projeto encoberto da CIA.


“SE ALGUÉM TEM DE ESTAR NO BANCO DOS RÉUS É TONY BLAIR”



O ex-embaixador da Iugoslávia no Reino Unido Vladeta Jankovic chama o relatório da comissão parlamentar de Chilcot de um acontecimento muito importante. Segundo Jankovic, faz tempo que a mídia britânica escreveu que Saddam Hussein não tinha armas de destruição em massa.

"Mas ganhou a propaganda de Tony Blair, ele é realmente hábil nessa área. Parece que o assessor do primeiro-ministro da Sérvia Vucic vai ter o que merece, e que seria justo, porque ele puxou o seu país para uma guerra injusta e cara, traiu os interesses nacionais e a confiança das pessoas. Se alguém tem que estar no banco dos réus, é Tony Blair", diz Jankovic.

De acordo com Jankovic, o relatório levanta a questão das relações entre Londres e Washington.

Há muito tempo que os observadores britânicos objetivos diziam que a política externa de Londres é completamente dependente dos EUA e que Blair era “um poodle" do presidente americano. O nosso interlocutor julga que seja preciso acabar com esta situação. Uma coisa é a amizade ou aliança especial, e outra bem diferente é entregar o seu próprio destino em mãos alheias, o mesmo que Blair fez, acrescentou ele.

Blair, que chamou a agressão da NATO contra a Iugoslávia de “uma batalha entre o bem e o mal, entre civilização e barbárie", foi um dos propagandistas mais ativos desta intervenção. Um analista militar e membro do parlamento sérvio, Milovan Drecun, aponta o fato que Blair está na lista dos políticos com maior responsabilidade, não apenas pelo Iraque, mas também pela Jugoslávia em 1999.

No seu tempo, Colin Powell declarou na tribuna da ONU que o regime iraquiano tinha armas de destruição em massa e que Hussein estava ligado à Al-Qaeda e a Bin Laden. Mesmo assim, ficou claro que a verdade era diferente, porque ex-agentes da CIA disseram que tinham informado o presidente norte-americano que Hussein não tinha essas armas, disse Drecun.

"Não se esqueça que durante a guerra no Iraque ganharam apenas as empresas britânicas. Há informações que no primeiro ano de reconstrução do Iraque, elas receberam 600 bilhões de dólares. Mesmo que a quantidade fosse cem vezes menor <…> é um fato que Blair, sob liderança dos EUA, destruiu um Estado soberano sem qualquer razão", continua Drecun.

Vários interlocutores da Sputnik duvidam que Blair enfrente a Justiça. "Depende da influência política das estruturas que estavam por trás da intervenção no Iraque. <…> Blair no banco dos réus seria um precedente perigoso", diz Drecun.

Sputnik/ Vladimir Fedorenko - opinião

GOLPE DE ESTADO NA TURQUIA. MAIS DE 190 MORTOS E MAIS DE MIL FERIDOS



É o mais recente balanço da tentativa de golpe de Estado na Turquia. Há, ainda, notícia de 200 militares que se renderam às autoridades.

Um novo balanço da tentativa de golpe de Estado na Turquia dá conta de mais de 190 mortos e de 1.150 feridos.

As forças leais ao Presidente turco, Recep Erdogan, abateram 104 militares revoltosos na tentativa de golpe de Estado de sexta-feira à noite na Turquia, assegurando que outros 1.563 foram detidos, indicou hoje o exército fiel ao regime.

Numa declaração à televisão oficial turca, o general Umit Dundar, chefe do Estado-Maior interino das tropas leais a Erdogan, confirmou também a morte de outras 90 pessoas - dois soldados, 41 polícias e 47 civis -, elevando para 194 o total de vítimas mortais da sublevação, entretanto abortada.

"Caíram como mártires", sublinhou Dundar, referindo-se às 90 vítimas mortais.

As últimas informações indicam, também, que 200 militares sublevados renderam-se às autoridades.

TSF com Lusa

Erdogan: Tentativa de golpe é "presente de Deus"

O Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, afirmou na última madrugada que a tentativa de golpe de Estado é como um "presente de Deus" que permitirá "limpar" o Exército.

"Este levantamento, este movimento é um grande presente de Deus para nós, porque o exército será limpo", disse, em conferência de imprensa, pouco depois de aterrar em Istambul, assegurando que os golpistas vão pagar caro pela sua "traição".

O Presidente turco culpou pelo golpe de Estado, que definiu de "traição", os apoiantes do seu arqui-inimigo, Fethullah Gülen, um imã exilado há anos nos Estados Unidos. O movimento que apoia Gülen (Hizmet) já condenou o golpe, num comunicado em que sublinha que "há mais de 40 anos que Fethullah Gulen e o Hizmet têm defendido e demonstraram o seu compromisso com a paz e a democracia".

O fundador do poderoso Movimento Gülen, com milhões de seguidores na Turquia entrou em rutura, em 2013, com Erdogan e o seu Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, no poder desde 2002), que apoiou na fase inicial da sua ascensão.

Seguiu-se uma dramática luta pelo poder e o início da repressão ao Hizmet no país -- acusado por Erdogan de pretender construir um "Estado paralelo" -- através do encerramento de dezenas de escolas e processos judiciais contra figuras políticas e militares associadas a este movimento.

"O que está a ser perpetrado é traição e rebelião. Eles vão pagar um preço elevado por este ato de traição", frisou Erdogan.

O chefe de Estado turco disse ainda que o hotel onde estava de férias, em Marmaris, estância turística na costa do Mar Egeu, foi bombardeado esta madrugada pouco depois de ter saído do edifício.

Apesar disso, Erdogan manteve o tom desafiador: "Não vamos deixar o nosso país para os ocupantes".

Aos jornalistas, no aeroporto, onde foi recebido e saudado por uma multidão, o Presidente turco disse ainda desconhecer o paradeiro do chefe de Estado-maior, o qual terá sido feito refém dos golpistas em Ancara, no seu quartel-general, segundo os meios de comunicação social.

"Há na Turquia um Governo e um presidente eleitos pelo povo, que estão no poder, e, se Deus quiser, vamos superar esta provação", afirmou, antes de felicitar os turcos por terem saído "aos milhões" para as ruas para defender a nação.

"Aqueles que apareceram com os tanques serão capturados porque esses tanques não lhes pertencem", acrescentou.

Cerca de quatro horas depois das primeiras informações, os Serviço de Inteligência Turca (MIT) anunciaram que fracassou a tentativa de golpe de Estado, mas admitindo que ainda persistem algumas bolsas de resistência por parte dos militares.

TSF com Lusa

Portugueses em Istambul fechados em casa e com medo do que vai acontecer

A TSF falou com dois portugueses em Istambul que relatam que em toda a cidade as mesquitas chamam as pessoas para a rua em apoio ao governo. "Ninguém quer uma situação destas, de pré-guerra civil".

A TSF falou há instantes com um português em Istambul que não se quis identificar, por medo de represálias. Vive no centro de Istambul e diz que a cidade está um caos.

Este português conta que há mesmo muitos apoiantes de Erdogan que seguiram o conselho do presidente e foram para a rua, onde se manifestam contra o golpe de Estado.

Quando tudo começou, este português estava na rua. Foi comprar pão e água para durar alguns dias. Conta que tem medo, que ouve tiros e está sentado no chão de casa para se abrigar das balas.

Ricardo Nunes é o outro português contactado pela TSF. Está em Istambul com a sua namorada, para um casamento, e ambos chegaram a pensar não ir por causa dos atentados, mas os amigos e as autoridades disseram-lhes que era seguro, sem que nada fizesse prever o que veio a acontecer. Quando estava a acabar de jantar, o Twitter começou a dar os primeiros sinais de que alguma coisa se passava.

Ricardo conta que, apesar dos apelos ao recolher obrigatório, o que se vê a esta hora é precisamente o contrário. Agora, Ricardo e a namorada têm viagem de regresso marcada para quinta-feira e só querem ser contactados pelo governo português e manter-se em segurança.

Nuno Guedes/Raquel de Melo – TSF – Foto: Sedat Suna/EPA


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