quarta-feira, 16 de novembro de 2016

A INDEPENDÊNCIA E A SOBERANIA, JAMAIS PODERÃO SER INTEGRALMENTE ASSUMIDAS NUMA BASE EMPÍRICA DE CONHECIMENTO!


POTENCIAR TODO O CONHECIMENTO, INTELIGÊNCIA E SABEDORIA SOBRE A VIDA, É GARANTIR A VIDA!


1 – Comecei este ano lançando o alarme para a necessidade de Angola se preocupar imediatamente com a instauração duma “Geoestratégia para um desenvolvimento sustentável”, em coordenação com o camarada Arrim Tachon que na cidade de Moçâmedes em Janeiro de 2016 assistia a uma conferência relacionando o ambiente e o ecoturismo.

Já em 2012 me havia preocupado em abordar este assunto, conforme a série “A lógica com sentido de vida”, chamando inclusive a atenção para Cuba, que com sua identidade povo-revolução havia conseguido equacionar como prioridade o cuidado para com o ambiente e para com todas as criaturas que faziam e fazem parte das espécies vivas nacionais, um esforço inteligente e geoestratégico que hoje é reconhecido como exemplo pelas instituições internacionais que reflectem sobre este tipo de assuntos tão essenciais ao homem e ao planeta.

Esta é uma preocupação muito sensível em relação à cultura da vida no planeta, que se está a tornar uma preocupação flagrante também em Angola por não atrair a atenção nacional ao nível das exigências, até por que tem implicações multifacetadas na formulação da identidade nacional, na gestão a muito longo prazo dos nossos recursos, na elaboração de programas antropologicamente adequados às imensas potencialidades existentes no território angolano, particularmente em relação ao espaço vital e à água interior, ela própria componente vital até do próprio organismo humano!

As respostas nacionais situam-se numa base de conhecimentos empíricos não integrados e os organismos do estado têm-se manifestado vocacionados de forma limitada para o aproveitamento de iniciativas que implicam investimentos incentivados a partir do exterior (como por exemplo o plano KAZA-TFCA, Área Trans Fronteiriça de Conservação do Kavango-Zambeze), que naturalmente em função dos capitais que agregam, impedem a atenção urgente em prol da planificação geoestratégica nacional em relação à fulcral região central das grandes nascentes, atirando-a para uma gaveta de esquecimento e inibição empírica e nada patriótica.
  
2 – Estando instaladas tantas instituições de ensino médio e superior por todos os recantos do país, essas instituições estão diminuídas em quase todos os quesitos de investigação necessários para se gerar o incentivo dessa potencial “Geoestratégia para um desenvolvimento sustentável”, por que os poucos trabalhos limitados que se fazem não obedecem a uma integração que tenha o estudo físico-geográfico referente à água interior no centro das atenções, o que por tabela se torna insuficiente para a abordagem antropológica nos termos da relação homem-espaço físico-ambiente!

Para que isso fosse feito, seria também prioritário o conhecimento investigativo cientificado da região central das grandes nascentes, que coincide com o centro geográfico do país, de forma a melhor equacionar a integração de disciplinas, métodos de estudo e processos de investigação, desde logo no lançamento dessa orientação “Geoestratégia para um desenvolvimento sustentável”.

Os Ministérios do Ambiente, Energia e Águas, Geologia e Minas, Educação, Saúde, Cultura e Administração do Território, deveriam formar uma unidade técnica de estudo, que seria o embrião que iria debruçar-se sobre como formular essa geoestratégia, que organismos e entidades agregar, que processos de integração se deveriam estimular como prioritários, a curto, médio, longo e muito longo prazos, mas os primeiros passos recaem necessariamente na responsabilidade do Ministério do Ambiente, algo que seria, muito bem recebido pela sua Ministra camarada Fátima Jardim, ela própria uma pessoa reconhecidamente empenhada e activista por vocação nesse tipo de assuntos.

Julgo que o Ministério do Ambiente deve elaborar estudos e propostas a fim de se controlar imediatamente cada nascente principal na região central das grandes nascentes, não esquecendo os lençóis subterrâneos de água interior, estabelecendo áreas reservadas ou mesmo parques nacionais (à semelhança por exemplo da Reserva Natural Integral do Luando, um dos principais afluentes da margem direita do rio Cuanza e fazendo parte de sua bacia), tendo em conta que há ainda espaços vitais com enorme biodiversidade a delimitar por parte desse Ministério.

3 – Nesta passagem que da minha parte marca um dos assuntos que estou em curso de abordar comemorando o 41º aniversário da independência nacional, preocupa-me as implicações da necessidade da integração dos processos inteligentes relativos ao conhecimento do território em todas as suas implicações científicas, não só para a formulação da geoestratégia indexada à expressão físico-geográfica da água interior a fim de desenvolver o país sempre com sustentabilidade, mas também para programar acções de intervenção ali onde é muito reduzida a ocupação do território pelo homem e começar a abordar questões integradas de segurança humana preventiva, tendo em conta que a água interior e a ocupação dos espaços vitais, são factores que estão intimamente associados ao surgimento de conflitos em África de há séculos a esta parte (que por seu turno foram agravados após a divisão colonial da Conferência de Berlim).

Os conflitos que integram os factores de ocupação vital do território e acesso à água interior, existem de há séculos e não é apenas uma questão que se porá no futuro, conforme pretendem fazer crer os interesses que olham África com sede de rapina e por vezes de sangue, impedindo que ela progrida no conhecimento científico do seu próprio homem e do seu próprio ambiente físico-geográfico!

Essas questões estão também intimamente associadas às necessidades de, tirando partido da paz e da harmonia, assim como das políticas de reconstrução nacional, reconciliação e reinserção social, se estabelecer um quadro inteligente de acção no âmbito da luta contra o subdesenvolvimento, dando logicamente sequência aos imensos esforços da luta de libertação em África, explorando vínculos na trilha geoestratégica que proponho!
  
4 – Todo esse tipo de abordagens integradas na “Geoestratégia para um desenvolvimento sustentável”, seriam também introdutórias nas abordagens que se devem fazer em relação aos Grandes Lagos (uma das maiores preocupações externas do camarada presidente José Eduardo dos Santos), inclusive nos termos da prevenção de conflitos.

Nos Grandes lagos, o espaço vital começa a ser cada vez menos disponível em função das pressões humanas migratórias, uma vez que a expansão de desertos (Sahara e Sahel), obriga por si à deslocação de cada vez mais comunidades.

O espaço vital e a oportunidade de acesso à água na região fulcral do continente que constitui a Região dos Grandes Lagos (Vitória, Tanganika, Malawi, entre outros e nascentes principais do Nilo, do Congo e do Zambeze) são factores intimamente associados à causa e gestação dos conflitos bem no centro geográfico de África, algo que impede a adopção de capacidades de luta contra o subdesenvolvimento, desde logo instalando uma geoestratégia de âmbito continental para um desenvolvimento sustentável.

Será impossível equacionar-se um renascimento africano, se esses factores e aspectos não integrarem vocações em prol duma ampla geoestratégia e mobilização no quadro das inteligências disponíveis nos diversos países africanos, algo que deveria ser precisamente similar àquela que se deve priorizar para o esforço patriótico angolano.

Enquanto África não conseguir conhecer-se cientificamente a si própria, o empirismo que isso provoca coloca o continente à mercê do caos, do surgimento de agrupamentos rebeldes e até do terrorismo, que não se reduz apenas aos termos de desagregação, vulnerabilização, manipulação, gestação de tensões, conflitos e guerras que têm afectado a vida continental, mas também impedem num círculo vicioso a fermentação de culturas na trilha do concerto indispensável propiciado por uma geoestratégia para o desenvolvimento sustentável de forma ampla e integrada.

Conhecer cientificamente a vida no continente por parte dos próprios africanos, é alicerçar a base que vai garantir que o homem não fique mais atolado no pântano do subdesenvolvimento crónico e histórico para onde tem sido relegado e isso é vital para um exercício saudável, pacífico e harmoniosa de todas as actividades humanas na Terra!

As políticas de paz e harmonia do presidente José Eduardo dos Santos têm tudo a ver com isso, pelo que aprofundar essa trilha é vital para Angola e para África! 

Em saudação ao 11 de Novembro de 2016. 

Imagens: Mapa de Angola e mapa de África: a água interior do continente e os espaços vitais disponíveis, são fulcrais para instalar os processos conducentes a uma geoestratégia capaz de levar Angola e o continente ao desenvolvimento sustentável, indispensável e urgente plataforma garante de vida para as futuras gerações e para a riquíssima biodiversidade angolana e continental.

“EFEITO TRUMP” DIVIDE OPINIÃO EUROPEIA



M K Bhadrakumar [*]

Os resultados das duas eleições presidenciais realizadas na Bulgária e em Moldova no sábado passado destacam que ventos de mudança atravessam as margens ocidentais da Eurásia. Em certa medida eles podem ser chamados de sinais precursores do "efeito Trump". Em ambas as eleições, candidatos "pró Rússia" venceram de maneira convincente. (ver aqui e aqui ). 

Em ambos os casos, a contestação no essencial reduziu-se à questão de saber se a Bulgária e Moldova estariam melhor afastando-se um bocado da União Europeia ou se precisariam realinhar-se com a Rússia. A resposta é clara.

O objectivo irrestrito de ser membro da UE já não é atraente para Moldova, enquanto a Bulgária parece estar cansada da sua pertença à UE. Por outro lado, a Rússia é real e está na porta ao lado. Os resultados das eleições de ontem constituem uma bofetada no prestígio da UE. Na verdade, a influência de Moscovo está a propagar-se na Europa do Leste.

Isto também é uma viragem em termos politicos para a esquerda. Em ambos os países há muito descontentamento com "reformas", corrupção desenfreada, etc. O sentimento russófilo é muito substancial e há ansiedade em promover comércio com a Rússia a fim de ultrapassar dificuldades económicas. Além disso, os partidários locais do ocidente e da UE estão desacreditados em ambos os países.

Em Moldava, apenas cerca de 30% da população considera a UE atraente, ao passo que 44% apoiariam a adesão à União Económica Eurasiática liderada por Moscovo. Curiosamente, 66% dos moldavos confiam em Vladimir Putin; em comparação, apenas 22% confiam nas palavras de Barack Obama.

Contra o pano de fundo da vitória eleitoral de Donald Trump nos EUA, será interessante observar como estas tendências irão acabar. O presidente eleito da Bulgária, Rumen Radev, apelou ao fim das sanções da UE contra a Rússia. Ele argumenta que Sófia deveria ser pragmática na sua abordagem à anexação da Crimeia pela Rússia. (Isto não obtante a longa história de lealdades divididas entre a Rússia e a Europa.)

A administração Obama na sua fase terminal esforçar-se-á por pressionar a UE a estender as sanções contra a Rússia por um período de mais seis meses além de Dezembro. Mas será que Trump seguirá as pegadas de Obama quando o problema emergir outra vez em meados do próximo ano? É improvável que ele mostre o zelo messiânico de Obama em "conter" a Rússia. Eis como o consenso da UE sobre as sanções contra a Rússia pode romper-se uma vez que muitos países na Europa ressentem-se da pressão americana e preferem restaurar laços comerciais e económicas com a Rússia.

De modo interessante, Trump pode conseguir ressonância também na Velha Europa. O líder dos trabalhistas britânicos, Jeremy Corbyn, no fim-de-semana fez um espantoso apelo a líderes ocidentais para "desmilitarizar" a fronteira entre a Europa do Leste e a Rússia ou arriscarem-se a uma Nova Guerra Fria. Ele disse que o ocidente não tinha de acumular forças junto à fronteira russa. Corbyn disse à BBC:
Tenho muitas críticas a Putin, a abusos de direitos humanos na Rússia, à militarização da sociedade. Mas penso que tem de haver um processo para tentarmos desmilitarizar a fronteira entre o que são agora os estados da NATO e a Rússia, de modo a que afastemos aquelas forças e as mantenhamos afastadas a fim de trazer alguma espécie de acomodação. Não podemos cair dentro de uma nova Guerra Fria.
Corbyn fez também uma cuidadosa sugestão de que a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, a qual inclui a Rússia, substituísse a NATO como fórum de resolução das questões na região.

Na verdade, alguma turbulência já começou em relação à segurança europeia mesmo antes de Trump conquistar o Gabinete Oval. A propósito, o primeiro-ministro checo, Bohuslav Sobotka, disse segunda-feira que declarações americanas acerca da possível instalação de um escudo global de radar anti-mísseis dos EUA na República Checa são pura ficção.

"Um radar no território checo significaria nova escalada nas relações com a Rússia. Precisamos utilizar a abertura de janela após a eleição de Donald Trump a fim de ter os Estados Unidos e a Rússia sentado a uma mesa", afirmou ele. Sobotka destacou que hoje o principal problema de segurança da Europa do Leste é por um fim à guerra na Síria.

"Os Estados Unidos têm considerável influência sobre a situação na Síria, a Rússia também tem considerável influência. Assim, é necessário utilizar isto", disse ele, acrescentando que Donald Trump pode estabelecer cooperação mais eficiente com a Rússia sobre a Síria.

Entretanto, como matéria de facto, nem Trump tomou ainda posição sobre a NATO nem vai ser fácil para ele buscar uma separação da América da aliança ocidental. Disto simplesmente, a Europa não está pronta para um futuro pós NATO. Há temor palpável em muitos quadrantes (tanto nos EUA como na Europa) de que se os EUA se retirassem da Europa a Rússia avançaria e exerceria comportamento mais afirmativo na Europa do Leste.

Num artigo neste fim-de-semana, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, fez um apelo apaixonado a Trump de que agora não é o momento de os EUA abandonarem a NATO. Ele enfaticamente mencionou a ameaça de percepções de uma Rússia "mais afirmativa". Ler a opinião publicada aqui .

A moral da história é que a opinião pública europeia permanece dividida. A Grã-Bretanha, França e Hungria recusaram-se a comparecer a uma controversa reunião na noite passada em Bruxelas, apoiada pela Alemanha, para alinhar a abordagem do bloco diante da eleição de Trump. O fosso dentro da UE sobre a votação nos EUA ficou revelado. O irrepreensível secretário dos Negócios Estrangeiros britânico, Boris Johnson, ralhou com políticos da UE dizendo-lhe para acabarem com as suas lamentações sobre Trump. ( Daily Mail )

De modo interessante, o primeiro político estrangeiro com quem Trump se encontrou após a eleição foi Nigel Farage, o populista que fez campanha pelo Brexit. 
14/Novembro/2016

[*] Antigo embaixador indiano, analista político. 

O original encontra-se em blogs.rediff.com/mkbhadrakumar/...

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ 

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