Domingos
de Andrade – Jornal de Notícias, opinião
Mais
coisa, menos coisa. O Banco de Portugal tem quase 1800 funcionários. Que
recebem cinco mil euros mensais. Faça-se a média. Tudo isto peca por defeito.
Há valores acima e valores abaixo. Tem um governador, dois vice-governadores,
três administradores. Que recebem na ordem dos 14 mil euros.
É
fácil vociferar contra a instituição e ser demagógico. O que anda toda aquela
gente a fazer que não consegue sequer cumprir a missão básica de ler os sinais
para que pelo menos os portugueses possam ter confiança no regulador? Não é
bola de cristal. É trabalho de terreno.
Tendo
Carlos Costa sido inapto, para não dizer mais, incapaz de ver o que lhe passava
debaixo dos olhos pelo menos no caso BES, advogando agora que sabia mas que não
sabia tanto quanto isso, e que lhe faltavam os poderes para atuar perante o que
sabia, sendo pelo menos responsável por ter inspirado confiança nos portugueses
quando deveria ter sido cauteloso, quando é que se lhe faz luz para perceber
que se ele não faz de balão e sai, alguém fará dele balão e o esvazia?
O
governador do Banco de Portugal incomoda a Esquerda e incomoda o Governo, por
muitas profissões de fé que o primeiro-ministro faça. Foi reconduzido contra o
maior partido da Oposição. A marca de independência há muito que é ténue. E vai
representar mais um custo para o país.
É
mesmo demagogia e populismo. Mas de que outro modo se pode ler a reforma do
modelo atual de supervisão que o Governo quer fazer? Cria uma nova entidade no
topo da hierarquia, com poderes executivos e orçamento próprio, que ficará com
as principais missões do Banco de Portugal, entre as quais as de supervisão e
de resolução. Some-se-lhe agora a catrefada de peritos
"independentes" e de acólitos mais "independentes" ainda
que serão recrutados.
A
crise de credibilidade que o Banco de Portugal atravessa deve, sim, ser
aproveitada para um debate sério sobre a melhoria da supervisão financeira, a
começar na forma e no modo de nomeação e a acabar nos poderes efetivos de
intervenção.
A
criação de superestruturas só serve para diluir responsabilidades e criar
irresponsabilidade. Ah, e adivinhe quem vai pagar a conta? É populismo e
demagogia. Mas dos bons.
P.S.:
A Caixa Geral de Depósitos registou prejuízos de 1,9 mil milhões de euros.
Podia ser bem pior, escrevem uns. Uma desgraça, escrevem outros. E passamos a
esponja, submersos pela quantidade de milhões que ultrapassam a nossa
consciência do valor. Experimentem atrasar-se na prestação da casa para ver o
que sucede. Verdadeiramente, aqui, importa saber quem permitiu tamanho pesadelo
que parece não ter fim? A quem foi emprestado? Para que projetos? Com base em
que critérios? Não é para fazer julgamentos na praça pública. É para evitar que
se repita. O futuro só tem caminho se afastarmos os fantasmas.
*
Diretor-executivo
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