Fragilidades
na legislação deixam a sociedade moçambicana em alerta em relação à entrada da
Exxon Mobil no setor dos hidrocarbonetos.
A
gigante petrolífera norte-americana Exxon
Mobil anunciou, na quinta-feira (09.03), que vai comprar 25% da participação da
italiana ENI no projeto Coral, na bacia do Rovuma, norte de
Moçambique.
O
Governo moçambicano anunciou, esta sexta-feira (10.03), que aguarda por uma
comunicação sobre o contrato entre a Exxon Mobil e a ENI, sobre o projeto na
Bacia do Rovuma.
A
italiana ENI vai continuar a liderar o projeto de gás natural liquefeito no
projeto Coral e todas as operações na Área 4, enquanto a Exxon vai liderar a
construção e a operação da construção da central de liquefação de gás em terra,
segundo a empresa.
Esta
transação financeira, avaliada em 2,6 mil milhões de euros, precisa de dois
meses para ser concluída e depois disso ser aprovada ou não pelo
Governo moçambicano.
Entretanto
surgem várias questões que foram levantadas a Fátima Mimbire, especialista em
recursos minerais, do Centro de Integridade Pública de Moçambique (CIP).
DW
África: As autoridades moçambicanas têm tudo acautelado, em termos de
tributação da transação financeira, para que o país não seja prejudicado, à
semelhança do que aconteceu com outras operações envolvendo multinacionais do
setor dos recursos naturais?
Fátima
Mimbire (FM): Queremos acreditar que está tudo acautelado. A grande
preocupação é como é que o Governo vai calcular as mais-valias, tendo em conta
que no passado tivemos experiências dúbias de tributação das mais-valias.
O
Código do Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Coletivas (IPRC) referia-se ao
valor de 32% de uma matéria tributável, tendo em conta o tempo em que a
companhia detém a concessão ou a licença para operar no país. Entretanto, vimos
situações em que o próprio Governo aplicou uma outra fórmula, como no caso da
Anadarko. Agora, como se vai calcular o valor a ser tributado é outra
discussão.
DW
África: Quanto mais tempo se demora a implementar o projeto, mais baixas serão
também as taxas a ser pagas pelas multinacionais, se considerarmos o
Código do IRPC. Será que a Exxon Mobil poderá usar a estratégia de ir
arrastando a implementação do projeto para tirar vantagens?
FM: Estas grandes empresas quando vão à procura de países como Moçambique é com o objetivo de aumentar o seu portefólio, com projetos pelo mundo fora, e não necessariamente com o objetivo de priorizar a implementação de projetos. Então, para nós, o ponto fundamental - em jeito de apelo ao próprio Governo - é no sentido de que sim, a transação é feita entre grandes operadoras petrolíferas no mundo, mas é preciso assegurar que o Governo reforce o posicionamento de que queremos ver o projeto a andar. E é de salientar que esses projetos têm estado a ser adiados há bastante tempo.
Houve
momentos em que acreditámos que os projetos, da ENI e Anadarko, seriam
implementados em 2013. Mas, nessa altura, iniciaram negociações com o Governo
que resultaram na aprovação de regimes específicos para as operações
petrolíferas, em 2014. Depois, em 2015, as empresas concluíram os seus estudos
para submeter ao Governo. E só em 2016 é que tivemos o primeiro projeto a ter o
plano de desenvolvimento aprovado. Portanto, estamos com mais de três anos de
atraso para aquilo que eram as expectativas inicias. É preciso reforçar que há
esse acordo entre as multinacionais, mas isso não deve, de forma alguma,
significar estar ativo e manter cativo, à espera de uma oportunidade melhor.
Mas sim continuar no ativo e avançar.
DW
África: O velho sonho dos moçambicanos de verem este projeto a andar pode ficar
em “banho maria” por algum tempo?
FM: Esperamos que não. Mas é um risco, que tem de ser muito bem acautelado pelo próprio Governo. Portanto, o Gobverno tem de ter uma mão de ferro para assegurar que as empresas não fiquem sentadas em cima dos projetos. Espero que a Exxon nos surpreenda pela positiva.
DW
África: O facto de Moçambique estar em crise financeira e económica, devido a
operações pouco transparentes, retraiu os investimentos estrangeiros e fez com
que o país queimasse a sua imagem no mercado internacional. A imagem da Exxon
Mobil pode funcionar como uma espécie de encorajamento a outros investidores?
FM: De certa forma pode ser. Mas o facto de Moçambique estar numa lista suja, digamos assim, a nível internacional, por não estar a honrar os seus compromissos, pode ser também um fator de retração, na medida que as empresas – à exceção da Exxon que tem capital próprio e capacidade para sustentar estas operações – nem sempre têm capacidade. Elas descobrem novos projetos e também são influenciáveis pelo mercado. O facto do projeto se localizar em Moçambique e o fato de Moçambique se localizar nesta lista suja de incumprimento, pode ser constrangedor e prejudicar as empresas que querem operar em Moçambique.
Nádia
Issufo – Deutsche Welle
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