Um
forte dispositivo policial, incluindo polícia a cavalo e patrulhas
cinotécnicas, impediu hoje uma manifestação que pretendia contestar, no centro
de Luanda, contra alegadas "ilegalidades no processo democrático
angolano", com denúncia de dez ativistas levados pelas forças de segurança.
A
manifestação estava agendada para as 09:00 de hoje, no largo 1.º de Maio,
prevendo uma marcha pacífica até ao palácio da Justiça, mas durante toda a
manhã, conforme a Lusa constatou no local, um forte aparato policial, com
dezenas de agentes e polícia de intervenção vedaram o acesso àquela praça
emblemática da capital angolana.
Durante
a manhã, foi igualmente visto um helicóptero das forças de segurança em
patrulhamento a baixa altitude, na mesma zona.
"Foram
levados pela polícia dez ativistas. Quatro, incluindo eu, foram, entretanto,
libertados, mas estão a bloquear-nos na igreja da Sagrada Família e não nos
deixam marchar até ao Palácio da Justiça", explicou à Lusa Albano
Bingo-Bingo, um dos promotores da manifestação agendada para hoje.
A
Lusa não conseguiu obter uma reação da Polícia Nacional até ao momento, mas foi
possível confirmar que alguns jovens foram levados pelas autoridades, quando
estavam na posse de cartazes.
Esta
manifestação foi convocada para um dia sensível em Angola, já que se cumprem hoje
40 anos sobre o 27 de maio de 1977, descrito como uma tentativa de golpe de
Estado por "fracionistas" do próprio Movimento Popular de Libertação
de Angola (MPLA), então já no poder do país recém-independente, contra o
Presidente Agostinho Neto e "bureau político" do partido.
Segundo
vários relatos, milhares terão morrido na resposta do regime angolano,
nomeadamente os dirigentes Nito Alves, então ministro da Administração Interna,
José Van-Dúnem, e a sua mulher, Sita Valles.
A
Amnistia Internacional estimou em cerca de 30 mil as vítimas mortais na
repressão que se seguiu contra os "fracionistas" ou "Nitistas",
como eram conhecidos então.
"Por
causa da ditadura implementada no país, Angola tornou-se um Estado em que o
terror vem assolando desde a independência, com a anotação preponderante desde
27 de maio de 1977, tendo-se reforçado a 21 de setembro de 1979, com a tomada
de posse do ditador José Eduardo do Santos. Angola passou a ser uma nação
mergulhada no sangue, perdendo muitos dos seus filhos", escreveram os
promotores da manifestação de hoje, na informação sobre a mesma enviada ao
Governo Provincial de Luanda.
Alegam
no mesmo documento, como motivos para o protesto, ilegalidades no processo
eleitoral em curso, que culminará com as eleições gerais de 23 de agosto, ou
ainda os "desvios de bilhões de dólares do erário público, que hora param
nas contas bancárias de amigos, simpatizantes, membros e filhos do MPLA".
PVJ
// JPF // Lusa
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