Helena
Teixeira da Silva | Jornal de Notícias (ontem – Ao fim do dia)
No
cinema americano, os intocáveis eram os incorruptíveis. Na realidade
portuguesa, os intocáveis são aqueles em quem a Justiça raramente mexe. Ou
mexia. Mexia, o todo-poderoso presidente da EDP, deu esta terça-feira uma
conferência de imprensa de quase duas horas que se resume em duas frases: a
empresa que dirige nunca teve qualquer benefício em relação aos contratos de
apoio à produção nem no prolongamento da concessão das barragens. E portanto
ele, Mexia, constituído arguido, obviamente não se demite.
Ainda
não tinham passado meia dúzia de horas depois desta conferência de imprensa em
que António Mexia tentou explicar por que razão o presidente da EDP Renováveis,
João Manso Neto, o administrador da REN, João Conceição, e ele próprio, todos
arguidos, são inocentes no caso das rendas milionárias pagas
pelo Estado à energética, quando a Procuradoria-Geral da República (PGR)
confirmava mais três arguidos no processo: Rui Cartaxo,
presidente do Conselho de administração do Novo Banco e ex-presidente da REN,
Pedro Rezende e Jorge Machado, ambos antigos responsáveis na EDP.
A
novela seguirá nos próximos dias.
O
juízo de valor costuma ter má imprensa, porque sendo essencialmente subjetivo é
altamente falível e, portanto, perigoso. Em todo o caso, de vez quando convém
ajuizar. Porque ajuizar é, também, uma forma de distinguir o trigo do joio.
João Semedo, que desistiu esta terça-feira da corrida autárquica, no
Porto, é a prova de que os políticos não são todos iguais. Provou-o há já muito
tempo, quando esteve, quando saiu e quando regressou à política. O bloquista
explicou, em conferência de imprensa, que tomou conhecimento "há pouco
mais de uma semana, de uma forma brusca, súbita e imprevista" que tem um problema de saúde cujo tratamento é inadiável. É fácil
perceber por que razão o PS/Porto considera que o combate autárquico na cidade fica "mais pobre".
Como
ficam mais pobres todos os combates que prescindem da discussão. O deputado e
ex-ministro socialista João Soares juntou a sua voz à da eurodeputada Ana Gomes
para defender que o embaixador José Júlio Pereira Gomes deveria "renunciar
já" à nomeação para secretário-geral do Sistema de Informações da
República Portuguesa (SIRP). Em causa estará o papel por si desempenhado na
libertação de Timos em 1999, que continua envolta em muitas dúvidas. Apesar
disso, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, já veio
tentar tapar o sol com a peneira da sua opinião, dizendo que Pereira Gomes é
uma "muito boa escolha".
Uma
notícia de última hora: um sismo acabou de ser sentido no Norte do país. Segundo já
apurou o JN, o epicentro foi em Amarante mas o abalo foi sentido em vários
pontos, como Penafiel, Marco de Canaveses, Paredes, Braga, Guimarães e Ponte da
Barca. Siga o JN aqui para acompanhar os desenvolvimentos.
Para
terminar, não se esqueça que estamos em contagem decrescente para o Primavera
Sound, que arranca esta quinta-feira no Parque da Cidade, no Porto, e que é
sempre, para quem gosta de música, um dos melhores momentos do ano.
Tenha
um bom resto de dia.
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