Isabel
Moreira | Expresso | opinião
Cunha.
Foi a palavra feita figura de estilo que a líder do CDS utilizou para
caracterizar a integração dos precários no Estado. Mais rigorosamente, a
expressão de Cristas foi esta: “institucionalização da cunha”.
Assunção
Cristas faz de vez em vez afirmações deste tipo. No PSD também não faltam
ataques anacrónicos ao sindicalismo.
As
afirmações são graves, ainda que não surpreendentes. Graves porque a democracia
cristã e a social-democracia usavam saber (e defender) o papel histórico e
permanente dos sindicatos numa democracia real.
O
governo anterior demonstrou que a ideologia clássica dos dois partidos
(PSD/CDS) foi substituída pela ideologia dos cortes. Cortes nos direitos dos
mais fracos e aposta ideológica numa flexibilização laboral selvagem (aqui e
ali travada pelo então odiado Tribunal Constitucional) na crença absurda
(porque desmentida pela história) de que quanto mais flexibilidade laboral,
mais empregabilidade.
Como
se viu, a receita desumana teve o resultado oposto, como tantas pessoas
advertiram, gente da área política de quem governava, e não apenas os
“empecilhos” dos sindicatos.
Agora,
na oposição, escutamos variadíssimas vezes o PSD a atacar o sindicalismo, o
mesmo é dizer a atacar a sua própria história enquanto partido, atirando-se
para um admirável mundo em que os trabalhadores devem “fazer-se à vida”.
O
CDS aderiu ao estilo e, sem pudor por ter sido coautor da precaridade, atira-se
ao programa de regularização extraordinária de vínculos precários na
administração pública e no setor empresarial do estado. Neste sistema, regulado
pela Portaria nº 150/2017, dá-se, evidentemente, um papel
fundamental aos interessados, mas também se conta com as estruturas de
representação coletiva dos trabalhadores, na medida em que estas podem conhecer
e comunicar situações de precaridade de que tenham conhecimento. Pretende-se
assim um sistema abrangente com a colaboração de todos, desde logo os que
representam os trabalhadores e as trabalhadoras.
Acontece
que para Assunção Cristas um sindicato representa um obstáculo ao seu mundo do
cada um por si cheio da sorte que calhe ao mérito com que nasça.
Por
isso, descaracteriza intencionalmente a função histórica e atual dos sindicatos
e atreve-se a dizer que este sistema de regularização dos precários é a
“institucionalização da cunha”.
É
uma afirmação extremista, triste e em bom rigor ridícula. Usada como recurso
retórico populista. Uma espécie de cunha oratória.
*Na foto: Salazar e os seus sicários nazi-fascistas ao estilo oculto de Passos, Cristas e outros desse jaez que "navegam" a coberto da democracia ainda existente em Portugal. (Pesquisa PG em Google)
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